Rap Sem Preconceito - Grupo Julgamento


Hoje à noite, Julgamento mostra canções do disco de estréia e revela influências da bossa nova e do pop
Janaina Cunha Melo
Rejane Ayres/divulgação
O grupo Julgamento é o convidado do Projeto Stereoteca
O grupo de rap Julgamento lança No foco do caos, hoje, no teatro da Biblioteca Pública Luiz de Bessa. O show, que integra a programação do projeto Stereoteca, apresenta repertório do disco de estréia dos rappers. As bases eletrônicas são sofisticadas, ecléticas e as letras versam sobre temas variados, da crítica social a questões mais amenas, como o processo de criação dos músicos. A festa terá show de abertura do grupo Mente Fria, do Aglomerado da Serra.

Formado em 1999, o Julgamento passou por diferentes formações. Integram o grupo Roger Deff, Ricardo HD, Negro-S e Voz Khumalo (vocais), os DJs Giffoni e Tobias (picapes), Lúcio (baixo), Helton Resende (guitarra) e Gusmão (bateria). Os quatro MCs são também letristas, além dos três instrumentistas que participaram ativamente da construção do trabalho. No show, eles recebem convidados especiais como o veterano Dokttor Bhu (vocal) e Rodrigo Ianni (guitarra flamenca). “Esse disco está sendo feito há muito tempo. Demoramos pelo menos oito anos para definir repertório e finalizar as gravações. A participação dos convidados foi muito importante”, conta o MC Roger Deff.

O grupo tem material para iniciar o segundo trabalho e parte desse repertório de inéditas será apresentada hoje. Durante o processo de construção de No foco do caos, os rappers tiveram novas idéias que foram transformadas em canções. Em 2002, eles lançaram o single Fazendo o som, para divulgação em rádios comunitárias, e a partir dessa época o grupo se tornou conhecido na capital. Em 2006, o Julgamento participou da coletânea Conexão Telemig Celular, com a música Caos.

Apostando na diversidade de referências, eles revelam influências do pop internacional à bossa nova. Há 12 anos na cultura hip hop, Roger Deff defende o ecletismo como elemento importante. “Nosso grupo é misto, tem gente de várias regiões da cidade e de origens sociais diferentes. Não fazemos música para um tipo específico de público, mas para todo mundo que gosta de rap”, diz. Exploração da força de trabalho e valorização de sentimentos humanistas são a base das reflexões do grupo, que preserva a crítica, mas assume atitude positiva no discurso.

JULGAMENTO E MENTE FRIA

Teatro da Biblioteca Pública Luiz de Bessa, Praça da Liberdade, 21, Funcionários, (31) 3222-3242. Hoje, 20h30. Projeto Stereoteca. R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia-entrada).

Domésticas Negras : São Maioria Sem Carteira Assinada


O tratamento dos patrões muda com as mulheres negrasEntre as mulheres negras que são trabalhadoras domésticas, 75,6% não têm carteira assinada. Em relação às mulheres não negras, o percentual é de 69,6%. No caso dos homens, 61,9% dos negros e 54,9% dos brancos trabalham na informalidade. Os dados são de uma nota técnica que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou em relação ao Dia Nacional do Trabalhador Doméstico, comemorado neste domingo (27).


Para Solange Sanches, coordenadora da área de gênero e raça da OIT, os dados mostram que, apesar de alguns avanços, as diferenças entre homens e mulheres persistem nessa profissão.

''Mesmo em uma categoria que já é tão vulnerável e tem condições de trabalho tão precárias, ainda assim a desigualdade de gênero e raça se mantém e aparece claramente'', disse.

O relatório da OIT diz também que a formalizaçãodo trabalho doméstico cresceu 10,2% entre 2004 a 2006. Para as trabalhadoras domésticas negras, o percentual chegou a 17,2%. Segundo Sanches, esse tipo de trabalho acompanha um crescimento geral da formalização que está ocorrendo no país.

''Para que tenhamos uma situação mínima de igualdade no mercado de trabalho, é preciso corrigir com mais rapidez a situação das mulheres negras, que é apior de todas'', concluiu.

Os dados são baseados nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Agência Brasil

São Paulo : A Periferia na Virada e a Virada da Periferia



Em São Paulo, a arte vibrante das quebradas dribla o preconceito e aparece com força num dos maiores eventos culturais do país. Roteiro para o hip-hop, rap, DJs, bambas, rodas de samba, rock, punk e festivais independentes. Idéias para que uma iniciativa inovadora perdure e supere limites.

por Eleilson Leite*
Para o Le Monde Diplomatique



Neste final de semana, 26 e 27 de abril, rola, em São Paulo, mais uma Virada Cultural. A quarta edição do evento começará às 18 do sábado irá até o mesmo horário, no domingo. Ao longo de 24 horas ininterruptas, 5 mil artistas irão se apresentar, em 800 atrações. Tudo de graça e a maior parte ao ar livre. A expectativa da secretaria de Cultura do município, organizadora do mega-evento, é atrair mais de 3 milhões de pessoas, movimentando em torno de R$ 90 milhões para a cidade.


Realizada desde 2005, ainda sob governo do então prefeito José Serra, a Virada Cultural tem inspiração em eventos europeus, como a Nuit Blanche [Noite Branca] parisiense, que tem características semelhantes, uma festa noturna e agitada, que justifica a fama de Cidade Luz atribuída à capital da França. Lá, como aqui, a diversidade artística é contemplada com uma variedade de espaços de exibições, garantindo a participação de artistas pouco conhecidos ao lado de grandes estrelas do mainstream.


Não foi fácil essa curta trajetória do evento. Em 2005, tudo era novo. Havia pouco investimento e muita desconfiança. No segundo ano, o pânico rondava a cidade: a festa rolou alguns dias depois dos ataques atribuídos ao PCC, em maio de 2006. No ano passado, a confusão causada pela Polícia Militar, durante o show dos Racionais MC’s, frustou e assustou muita gente. A Virada acabou sendo conhecida nacionalmente por conta desse desastre, provocado pela insensatez de dois ou três garotos e a grosseria de todo um batalhão de soldados. Em 2008, tudo está sendo preparado para ser a consolidação de um evento que já faz parte da vida do paulistano.


Decisão absurda e preconceituosa: instalar o palco do hip-hop no espaço mais isolado do evento e cercá-lo. Ainda assim, a programação é de tirar o fôlego


Neste ano, não haverá problemas nos shows de rap. A Prefeitura está empenhada para evitar mais uma confusão. Mas não pensem que os organizadores buscaram uma melhor orientação para a atuação da Polícia Militar e Guarda Civil. A providência foi outra. O palco do hip-hop estará confinado entre as grades do Palácio das Indústrias, atual Museu da Cidade, no Parque Dom Pedro. Será o espaço mais isolado do evento. E será também o único cercado. Espero que a prefeitura tenha pelo menos limpado a área. Até a semana passada, o mato estava alto, havia muita lama e entulhos no local. A antiga Várzea do Carmo acolherá os artistas da periferia. Nesse palco só tem manos e minas. Aliás, minas não tem quase nada. Por sinal, só uma atração feminina. O velho e bom hip-hop continua muito masculino (''machista'' acho exagero ). Nesse caso, a organização tem que induzir, determinar mesmo: cota para as minas do hip-hop!


Outro fato curioso. O palco rap atende pelo nome Baile Chic, uma alusão aos bailes black dos anos 1960 e 70. A referência é bacana. O movimento hip-hop é tributário de toda aquela agitação black power que tinha nas noites de sábado, no ginásio do Palmeiras, um de seus momentos de consagração. As equipes de bailes, a mais importante das quais era a Chic Show, foram recentemente homegeadas no DVD 1000 Trutas, 1000 Tretas, do Racionais MC’s. Só espero que esse conceito dado ao palco não seja também um artifício para ''amenizar o ambiente''. Tenho minhas dúvidas, e não vou desqualificar a Virada Cultural por causa dessa eventual mancada. Mas fica aí a interrogação.


Noves fora isso, a programação está de tirar o fôlego. Nelson Triunfo lidera o primeiro bloco, das 18h às 24h de sábado, resgatando as equipes de baile. São quase trinta grupos. A maioria desconhecida do grande público, mas o Thaíde e o DJ Hum estão no meio, agitando a galera. À meia noite, a chapa pega fogo, com a banda Black Rio, que trará convidados. Será que Mano Browm aparecerá? Há uns dias, ele se apresentou com o grupo carioca num Tributo a Tim Maia. Quem sabe? Scowa e a Máfia, Bebeto, Luiz Wagner, entre outros, manterão a pista lotada durante a madrugada. Nada de hip-hop, nesse período. Será uma coincidência? Mas quando raiar o sol na manhã de domingo, o rap vai tomar conta. As 8h, sobe ao palco o Z’África Brasil, para acordar quem pegou no sono. Em seguida, vem o Xis, que anda sumido do mundo hip-hop. Na seqüência, é Rappin’ Hood quem assume o microfone e assim vai até o grand finale: Afrika Bambaataa sobe ao palco acompanhado, pela Zulu Nation Brasil. É uma dádiva. O criador do hip-hop fará uma louvação. Será uma catarse.


No Boteco dos Bambas, do Largo de Santa Cecília, três rodas de samba da comunidade. Em frente ao Páteo do Colégio, o palco dos Festivais Independentes, com rock, hard core e punk


Há outro reduto de artistas da periferia na Virada Cultural. Trata-se do Boteco de Bambas, um palco especialmente montado no Largo Santa Efigênia. A concepção deste espaço tenta criar um ambiente de botequim onde as rodas de samba recebem seus convidados. Das 12 atrações, porém, há apenas três rodas de samba de comunidade, dignas deste nome. São elas o Samba da Vela, que se apresenta às 18h do sábado; Samba da Laje, que sobe ao palco as 2h de domingo e o Pagode do Cafofo, que se apresentará às 14h do mesmo dia. Mas isso não tira o brilho da programação que está ótima. Tem Velha Guarda do Vai Vai, da Camisa Verde e Branco (convidada) e da Nenê de Vila Matilde. Os talentosos garotos do Nossa Chama terão como convidado nada menos que o Arlindo Cruz. O Osvaldinho da Cuíca será convidado do Samba da Parada Inglesa e o Quinteto em Branco e Preto encerrará o evento.


É maravilhoso, mas precisa calibrar o conceito deste espaço, se é que o objetivo é privilegiar as rodas de samba de comunidade. Primeiro, tirem o palco. Roda é no chão. Segundo, não precisa criar um ambiente de boteco. A Vela e a Laje, por exemplo, são rodas que se organizam fora de bar. Terceiro, chamem para este espaço apenas rodas de samba (estas trazem seus convidados). Se os organizadores do evento derem uma olhada na Agenda Cultural da Periferia, vão encontrar 15 delas.


Mais periferia na Virada? Tem as rodas de capoeira no Largo do Paissandu, diante da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. São 32 rodas, reunindo vinte mestres da Velha Guarda. Nessa, a organização meteu a bola num canto e o goleiro caiu no outro. Gol de placa! No palco da dança no Anhamgabaú, está marcada, às 5h30 do domingo, a apresentação dos Índios Pancararu. No Páteo do Colégio vai rolar o palco dos Festivais Independentes. Bem legal essa novidade. São trinta atrações de todas as regiões do Brasil, indicadas pela Associação Brasileira de Festivais Independentes. A perifa do Brasil estará em peso no solo piratininga, um pessoal mais rock, hard core ou punk rock, entre outras vertentes. Tem gente conhecida como os pernambucanos Mundo Livre S/A e Siba e Fuloresta. Vale a pena conferir.


A presença periférica na Virada Cultural tem ainda um outro espaço, este na própria periferia, com as atrações do CCJ – Centro Cultual da Juventude da Cachoeirinha, que por sinal está com uma programação muito fraquinha. Fiquei surpreso. Se o leitor não conhece, o CCJ é o mais importante equipamento público voltado para a cultura de periferia na cidade de São Paulo, certamente uma das mais bem sucedidas políticas públicas de juventude do Brasil. Este espaço deveria ter um grande destaque na Virada. Chama a atenção, na miúda programação, a performance de DJ’s, reservando espaço para os músicos de hip-hop. Se alguém tiver interesse, às 15h30 vai rolar o show do Supla em dupla com seu brother João Suplicy. O CCJ merecia coisa melhor.


No Kinoforum, jovens de bairros periféricos projetam seus vídeos nas escadarias do Teatro Municipal. Nos 26 CEUs, uma certa tendência a empurrar biscoito fino garganta abaixo das massas


Por fim, o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, que fará exibição dos filmes numa tela da Praça Ramos, terá um bloco de quase uma hora com dez trabalhos realizados por alunos das oficinas Kinoforum, olhar plural. Jovens de bairros periféricos como Cidade Tiradentes, Grajaú e Perus, terão oportunidade de ver seus vídeos exibidos com destaque aos pés da escadaria do Teatro Municipal. Entre uma apresentação musical e outra, pare para olhar essa telona. Você vai se surpreender.


Mas a Virada Cultural também vai à periferia. Basicamente, essa presença no subúrbio acontece com apresentações nos 26 CEUs (Centro de Educação Unificado) da cidade. Todos eles terão duas atrações musicais e uma de teatro. Salvo engano, na parte de teatro não tem ninguém da periferia. Já na música, encontrei um, e dos bons. Trata-se de Vitor Trindade, neto de Solano Trindade, que sairá do Embu das Artes para se apresentar no CEU Azul da Cor do Mar (olha que nome sugestivo para um CEU...) na Cidade AE Carvalho, Zona Leste. A programação está pouco atraente. Acho que aí a organização errou a mão. Na periferia, deveria haver grandes atrações populares, com artistas locais abrindo os espetáculos. O curioso é que a Quebrada Cultural, evento mensal da secretaria de Cultura de São Paulo é assim. Não sei porque não mantiveram a fórmula.


Vale registrar as seguintes atrações da Virada Cultural na Periferia: Almir Guineto no CEU Inácio Monteiro, Cidade Tiradentes; Edgard Scandurra no CEU Meninos no Jd. São João Clímaco; Yamandu Costa no CEU Pêra Marmelo no Jd. Santa Lucrecia; Siba e Fuloresta no CEU Perus; André Cristovam no CEU Quinta do Sol, Vila Cisper; Tribo de Jah, CEU Rosa da China, Sapopemba; Jards Macalé no CEU São Mateus; B. Negão no Parque São Rafael; Mundo Livre S/A no CEU Três Lagos, Grajaú; no CEU Vila Atlântica, no Jaraguá, tem a Banda de Pífanos de Caruaru e o grupo Língua de Trapo; Jica, Turcão e Miriam Mirah no CEU da Vila Curuçá e finalmente o grande maestro Wagner Tiso se apresentará no CEU Vila Rubi, no Grajaú. São atrações muito bacanas, sem dúvida e que valem a pena na programação periférica da Virada, mas faltou aí uma pitada de sucesso. Não. Nada de Ivete Sangalo, ou coisa do tipo. Por que não vem um DJ Marlboro, do Rio de Janeiro, ou um outro artista bacana do funk carioca? A galera na perifa se amarra no pancadão. Por que não? Que tal um show dos Racionais no Capão Redondo? Na quebrada, queria ver a PM entrar em conflito com a rapaziada. Até porque nem teria motivo. Na periferia, o que mais se deseja é a paz e o amor.


Os paulistanos têm que assumir este evento como parte da vida cultural da cidade e lutar não só por sua continuidade mas também por sua permanente melhora


A Virada Cultural terá mais uma edição de grande sucesso. Torço muito por isso. Mas tem uma coisa que me preocupa. Este ano é o último desta gestão. Em outubro tem eleição. Creio que candidato nenhum, pelo menos os sérios, abandonará a Virada, caso se eleja. Mas é bom ficar de olho. Os paulistanos têm que assumir este evento como parte da vida cultural da cidade e lutar não só por sua continuidade mas também por sua permanente melhora. Isso passa por uma abertura da organização para o diálogo com os artistas, produtores, movimentos culturais e outros segmentos. Imagino que isso exista em alguma medida, mas precisa ser ampliado. Afinal, é dinheiro público. Não há patrocinador privado. São cerca de R$ 8 milhões dos cofres da prefeitura. Precisa ter participação popular na formulação e controle social na execução.


Afinal, quem decide o que entra na programação? Poderia haver, por exemplo, uma enquete meses antes do evento, para que o público pudesse dar sugestões. Tenho certeza que pelo menos a programação dos CEUS não passa pelo critério popular. Que me desculpe o Wagner Tiso, mas se fosse pelo voto ele daria lugar, ou melhor, estaria ao lado de algum astro do funk pancadão, com umas bailarinas dançando o créu. Já imaginou?


Acabo de chegar do interior do Ceará. Conferi o que rola nas paradas de sucesso local (o som dos porta-malas dos carros, abertos nas calçadas dos bares, nas praça e ruas). Nesta Virada, não há nada próximo do que ouvi por lá. Não tem nenhuma banda de forró dessas da pesada, como Mastruz com Leite. E os grupos de pagode romântico? O povão gosta. Tirando o Almir Guineto e a Tribo de Jah, nos CEUS só tem atração “cabeça”. Será que a programação acaba sendo definida muito pelo gosto de quem a formula? Provavelmente. E aí, vai enfiar, goela abaixo da massa, seu biscoito fino? Mas não vou aqui tirar os méritos deste grande evento. Gosto dele. Gosto tanto que queria vê-lo mais abrangente e cada vez melhor.


*Eleilson Leite é colunista do Caderno Brasil de Le Monde Diplomatique.

Mais: Para ver a programação completa da Virada Cultural, acesse: http://viradacultural.org/



Nação Hip Hop Brasil Lança Campanha Vote Aos 16



Um estúdio, uma batida, três versos, dois MCs e a participação especial do Nuno Mendes, apresentador do Espaço Rap, da rádio 105fm. Toda essa “confusão” no estúdio do DJ Nenê em Pirituba, zona oeste da capital paulista, teve como propósito gravar o jingle da campanha da Nação Hip Hop Brasil para incentivar a molecada a tirar o título aos 16 anos. Em um clima bem descontraído, a gravação ocorreu no dia 16 de abril.


Os dois MCs citados não exercem apenas essas funções, aliás, são muitas ao mesmo tempo. Mano Oráculo é presidente estadual da Nação Hip Hop Brasil-SP e Solo é secretário estadual de organização da entidade.

Nuno Mendes conta o por que resolveu participar da campanha do voto aos 16. “Para mim é motivo de orgulho e satisfação participar de uma campanha desse tipo, principalmente levando em consideração que eu sou um jovem que já ultrapassou a barreira dos 40”, diverte-se.

“Brincadeira à parte, o público alvo do meu trabalho está concentrado na faixa etária que parte, principalmente, dos 15 anos de idade, então essa campanha da Nação Hip Hop Brasil é uma maneira de potencializar o grande poder dessa galera. Ou será que alguém duvida que, caso pelo menos 50% dos jovens com idade entre 16 e 17 anos tomassem a iniciativa de exercer o direito do voto, desequilibrariam ou definiriam qualquer disputa eleitoral?”, argumenta.

DJ Nenê arrumou um tempinho na sua agenda para ajudar a rapaziada a gravar o jingle e manda seu recado: “O jovem tem que votar mesmo, quem sabe um dia desses o Brasil não muda... para melhor é claro”.

A campanha

A campanha da Nação Hip Hop Brasil pelo voto aos 16 será lançada em pelo menos 20 estados brasileiros.

“Como estamos em ano eleitoral discussões políticas são freqüentes em todos os lugares, e a molecada precisa participar desse processo, entrar nessa discussão, apresentar suas idéias e escolher o rumo de sua cidade nos próximos quatro anos. A Nação resolveu incentivar os jovens a tirar o título de eleitor aos 16 anos e utilizar desse direito conquistado”, ressalta Oráculo com satisfação.

Nuno Mendes completa: “a participação numa eleição, tendo a oportunidade de ajudar a escolher seus representantes, representa o ponto mais alto dentro desse conceito de cidadania”.

A política, querendo ou não, está presente em todos os momentos da vida cotidiana, seja em casa, no trabalho, na escola, nos relacionamentos pessoais, como define Nuno “política é a arte da negociação”. Para ele o jovem precisa aprender sobre política para não se ver vítima da politicagem, “entenda-se manipulação”.

Oráculo aborda uma questão interessante e que merece reflexão. “A Nação Hip Hop Brasil defende o voto aos 16 anos, mas não a cadeia aos 16, os jovens precisam tirar o seu título para votar e cobrar dessas autoridades melhoria para a comunidade para a cidade. Normalmente as pessoas votam e nem se recordam do nome do candidato que votou para sua cidade, para seu estado e para o Brasil'', reflete.

Ele também destaca a discussão sobre a redução da amioridade penal.

''Somos contra sim a maioridade penal, afinal o jovem precisa participar da vida e da luta cotidiana pra mudança da sociedade, isso vem como incentivo pra que as pessoas tenham mais compreensão do momento em que vivemos na América Latina e neste ano no Brasil. Em ano eleitoral ande a sociedade para pra discutir política e os rumos das suas cidades, sem dúvida nenhuma, vamos estar discutindo e debatendo com a população essa questão”, agrega.

“Queremos qualidade no ensino brasileiro, não cadeia, cela, presídio, desgraça na vida de um jovem. Queremos que tenha uma reforma habitacional urgente para as pessoas que estão em condições subumanas. Queremos mais emprego e diversas outras bandeiras que podem ser levantas. Na prática é participar desse momento que o Brasil vai passar e ajudar no máximo que essas ações se reflitam em melhoria para o povo”, finaliza.

Os jovens que completarão 16 anos até o dia 5 de outubro, e quiserem votar nas eleições municipais deste ano devem comparecer ao Cartório Eleitoral ao qual pertence a rua em que reside, munido de RG original (ou Certidão de Nascimento ou Casamento) e comprovante de endereço recente até o dia 7 de maio. O título é gratuito e impresso no momento da solicitação. Mais informações ligue para 148.

Clique aqui e ouça o jingle

Fonte: www.nacaohiphopbrasil.com.br


Maioridade Penal


Kleyson Anilton Duarte Marques
, Estudante do 6º período do curso de direito do Centro Universitário Newton Paiva

No Brasil, a maioridade penal é fixada em 18 anos, ou seja, a imputabilidade inicia-se aos 18. Nossa legislação adotou o sistema biológico, ignorando o desenvolvimento mental do menor, considerando-o inimputável, mesmo tendo capacidade para entender a ilicitude do fato.

O aumento do índice de criminalidade envolvendo menores infratores traz à tona a viabilidade prática do atual modelo brasileiro. Os casos de maiores repercussões foram, sem dúvida, o assassinato dos estudantes Felipe Silva Caffé, de 19, e Liana Friedenbach, de 16, em novembro de 2003, e do menino João Hélio, de 6, em fevereiro de 2007. Caso pudessem ser enquadrados dentro do Código Penal, os assassinos responderiam por homicídio qualificado, com pena de 12 a 30 anos de prisão.

Porém, como alguns acusados são menores de 18, só podem ser responsabilizados pela Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), artigo 121, que diz: “Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos”. Não é de se espantar o tamanho da dor, revolta, sensação de impunidade e injustiça.

O filosofo e jurista Sólon, por volta de 590 a.C., tendo sido perguntado sobre a maneira mais eficaz de diminuir os crimes, disse: “Isso ocorrerá se eles causarem tanto ressentimento nas pessoas que não são vítimas dos mesmos quanto nas que são”.

Foi o que aconteceu no caso do menino João Hélio. A sociedade brasileira tomou uma conduta ética. Uma conduta ética é uma tomada de posição. Não há nada mais antiético que a indiferença, ser indiferente é banalizar a violência.

Há mais de 16 anos surgia o ECA, em substituição ao ultrapassado Código de Menores. O atual diploma representa um novo pacto político-social, que busca consolidar o Estado Democrático de Direito, priorizando a cidadania, uma das faces da CRFB de 1988.

De acordo com o artigo 112 do ECA, a medida de internação só poderá ser aplicada quando for esgotada todas as medidas específicas de proteção e todas as medidas socioeducativas.

Segundo o saudoso Nelson Hungria, uma condenação penal arruinará, talvez irremediavelmente, a existência inteira do adolescente, é preferível, sem dúvida, corrigi-lo por métodos pedagógicos, prevenindo a sua recaída no malefício.

Em 1764, na cidade de Madri, o Marquês de Beccaria, publicou o livro Dei delitti e delle pene, em que já antecipava e recomendava: “É melhor prevenir o crime do que castigar” e “É a celeridade e a certeza da pena, mais que a sua severidade, que produz a efetiva intimidação”.

Nem o CP, nem o ECA, a melhor doutrina defende a possibilidade de uma terceira via: “uma responsabilidade penal diminuída, com conseqüências diferenciadas, para os infratores jovens com idade entre 16 e 21 anos, cujas sanções devam ser cumpridas em outra espécie de estabelecimento, exclusivas para menores, com tratamento adequado, enfim, um tratamento especial”.

Mesmo não sendo recepcionado pela Constituição Federal, o artigo 50 do CPM é semelhante ao texto do Senador Demóstenes Torres e da proposta defendida por Bitencourt. No entanto, o Brasil não tem uma estrutura moral e jurídica para viabilizar tal proposta.

Nilo Batista, em Introdução crítica ao direito penal brasileiro, cita Zaffaroni, quando trata da questão da co-culpabilidade do Estado: “Reprovar com a mesma intensidade a pessoas que ocupam situações de privilégio e a outras que se acham em situação de extrema penúria é uma clara violação ao princípio da igualdade corretamente entendido”.

José Afonso da Silva destaca a responsabilidade da família. Essa, que recebe a proteção estatal, não tem só direitos, mas o grave dever, juntamente à sociedade e o Estado, de assegurar, com absoluta prioridade, os direitos fundamentais da criança e do adolescente enumerados no art. 227 da CR.

A maioria desses jovens mal sabe ler e escrever, foram criados em vilas e favelas, quase todos são negros, vítimas de um histórico de desigualdade social, preconceito e corrupção. Segundo dados da Unicef, 45% das crianças e adolescentes brasileiros são pobres.

Para Michel Foucault, o ser humano tem uma forma particular de se relacionar com aquilo que rejeita, ele interna. A internação não é o sistema mais eficiente de punir. Ao contrário, criamos uma organização terrorista dentro da própria sociedade, que tende a crescer e a se organizar. Por isso, a pena privativa de liberdade será, sempre, a ultima ratio legis, ou seja, a última saída para a indispensável manutenção da ordem jurídica.

PARA PARTICIPAR

Esta seção é aberta à participação de estudantes de direito, que podem enviar seus artigos sobre temas da área, com até 4,2 mil caracteres. Os textos devem ser enviados para o e-mail direitoejustica.em@uai.com.br, e serão escolhidos e editados após uma seleção prévia.

Drauzio Varella : Éramos Todos Negros



Até ontem, éramos todos negros. Você dirá: se gorilas e chimpanzés, nossos parentes mais chegados, também o são, e se os primeiros hominídeos nasceram justamente na África negra há 5 milhões de anos, qual a novidade? A novidade é que não me refiro a antepassados remotos, do tempo das cavernas (em que medíamos um metro de altura), mas a populações européias e asiáticas com aparência física indistinguível da atual.


Por Drauzio Varella*



Trinta anos atrás, quando as técnicas de manipulação do DNA ainda não estavam disponíveis, Luca Cavalli-Sforza, um dos grandes geneticistas do século 20, conduziu um estudo clássico com centenas de grupos étnicos espalhados pelo mundo.


Com base nas evidências genéticas encontradas e nos arquivos paleontológicos, Cavalli-Sforza concluiu que nossos avós decidiram emigrar da África para a Europa há meros 100 mil anos.


Como os deslocamentos eram feitos com grande sacrifício, só conseguiram atingir as terras geladas localizadas no norte europeu cerca de 40 mil anos atrás.


A adaptação a um continente com invernos rigorosos teve seu preço. Como o faz desde os primórdios da vida na Terra sempre que as condições ambientais mudam, a foice impiedosa da seleção natural ceifou os mais frágeis. Quem eram eles?


Filhos e netos de negros africanos, nômades, caçadores, pescadores e pastores que se alimentavam predominantemente de carne animal. Dessas fontes naturais absorviam a vitamina D, elemento essencial para construir ossos fortes, sistema imunológico eficiente e prevenir enfermidades que vão do raquitismo à osteoporose; do câncer, às infecções, ao diabetes e às complicações cardiovasculares.


Há 6.000 anos, quando a agricultura se disseminou pela Europa e fixou as famílias à terra, a dieta se tornou sobretudo vegetariana.


De um lado, essa mudança radical tornou-as menos dependentes da imprevisibilidade da caça e da pesca; de outro, ficou mais problemático o acesso às fontes de vitamina D.


Para suprir as necessidades de cálcio do esqueleto e garantir a integridade das demais funções da vitamina D, a seleção natural conferiu vantagem evolutiva aos que desenvolveram um mecanismo alternativo para obter esse micronutriente: a síntese na pele mediada pela absorção das radiações ultravioletas da luz do sol.


A dificuldade da pele negra de absorver raios ultravioletas e a necessidade de cobrir o corpo para enfrentar o frio deram origem às forças seletivas que privilegiaram a sobrevivência das crianças com menor concentração de melanina na pele.


As previsões de Cavalli-Sforza foram confirmadas por estudos científicos recentes. Na Universidade Stanford, Noah Rosemberg e Jonathan Pritchard realizaram exames de DNA em 52 grupos de habitantes da Ásia, África, Europa e Américas.


Conseguiram dividi-los em cinco grupos étnicos cujos ancestrais estiveram isolados por desertos extensos, oceanos ou montanhas intransponíveis: os africanos da região abaixo do Saara, os asiáticos do leste, os europeus e asiáticos que vivem a oeste do Himalaia, os habitantes de Nova Guiné e Melanésia e os indígenas das Américas.


Quando os autores tentaram atribuir identidade genética aos habitantes do sul da Índia, entretanto, verificaram que suas características eram comuns a europeus e a asiáticos, achado compatível com a influência desses povos na região.


Concluíram, então, que só é possível identificar indivíduos com grandes semelhanças genéticas quando descendem de populações isoladas por barreiras geográficas que impediram a miscigenação.


No ano passado, foi identificado um gene, SLC24A5, provavelmente responsável pelo aparecimento da pele branca européia.


Num estudo publicado na revista "Science", o grupo de Keith Cheng seqüenciou esse gene em europeus, asiáticos, africanos e indígenas do continente americano.


Tomando por base o número e a periodicidade das mutações ocorridas, os cálculos iniciais sugeriram que as variantes responsáveis pelo clareamento da pele estabeleceram-se nas populações européias há apenas 18 mil anos.


No entanto, como as margens de erro nessas estimativas são apreciáveis, os pesquisadores tomaram a iniciativa de seqüenciar outros genes, localizados em áreas vizinhas do genoma. Esse refinamento técnico permitiu concluir que a pele branca surgiu na Europa, num período que vai de 6.000 a 12 mil anos atrás. A você, leitor, que se orgulha da cor da própria pele (seja ela qual for), tenho apenas um conselho: não seja ridículo.


* Drauzio Varella é médico e escritor.


Texto publicado na edição deste sábado (26) da Folha de S.Paulo




Aconteceu em
27 de abril
1938 - Dia do Osvaldão

Nasce em Passa-Quatro, MG, Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão da Guerrilha do Araguaia. Será um dos guerrilheiros mais admirados pelo povo do sul do PA, pela bondade, a coragem, a pontaria. Está desaparecido desde meados de 1974.

Osvaldão. em cartaz de Jayme Leão, 1987

Ice Band e Os Sobreviventes

Moçada e Rapaziada
Se liguem no nosso trampo, é só CLICAR
Ice Band e os Sobreviventes
Rap

www.myspace.com/iceband

O ECAD e o Sistema de Arrecadação de Direitos Autorais

O sistema de arrecadação utilizado pelo ECAD vem causando dúvida ao usuário de direitos autorais. Parece-me que a consciência da necessidade de arrecadação está bem mais consolidada do que os métodos utilizados para esse fim.

O ECAD é uma associação privada constituída por lei e efetua a cobrança de direitos autorais a partir de um "Regulamento de Arrecadação", que foi aprovado por sua Assembléia Geral. Esta é composta pelas associações que formam o escritório. As associações são representantes, cada uma, de um grupo de titulares de direito. Todo sistema é calculado em UDA (Unidade de Direito Autoral), que tem o seu valor avaliado mensalmente pela reunião dessas associações.

Inicialmente, os usuários são divididos em permanentes e eventuais.

O primeiro é aquele que organiza execuções públicas de música com uma freqüência maior do que oito vezes ao mês. É o caso das rádios.

O segundo é o usuário esporádico. A partir de então os cálculos são efetuados em função de dois critérios: arrecadação de bilheteria ou parâmetro físico.

Seguindo essa tabela básica (o regulamento de arrecadação completo pode ser adquirido junto a uma das regionais do ECAD) pode-se então calcular o valor a pagar por qualquer modalidade de execução pública de obra musical.

O valor calculado pode, em alguns casos, ser enquadrado em uma das hipóteses de desconto previstas no regulamento. Tratando-se de utilização por entidade beneficente, os preços sofrerão uma redução de até 1/4 (um quarto), desde que esta comunique o ECAD com antecedência mínima de quinze dias e prove que é a beneficiada com a receita.

Quando a utilização a ser obtida se der exclusivamente com música ao vivo, os valores serão reduzidos em 1/3 (um terço), seja a cobrança efetuada com base em qualquer dos critérios (percentagem ou parâmetro físico). Existe ainda um desconto progressivo conforme categoria sócio-econômica e nível populacional, estipulados em tabela própria. No caso do meio rádio a distribuição é feita por amostragem, a partir de rádio escutas mantidas pelo ECAD.

O escritório acabou de divulgar o relatório dos dez artistas mais executados no meio Rádio (AM e FM) no ano de 2002, nesta ordem: Roberto Carlos , Djavan, Erasmo Carlos, Jorge Aragão, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elias Muniz, César Augusto, Lulu Santos e Arnaldo Saccomani.

Foi divulgado em seguida as músicas mais executadas no mesmo ano; São elas: Deixa a vida me levar - Zeca Pagodinho, Festa - Ivete Sangalo, Toque de mágica - Pedro e Thiago, Grades do coração - Grupo Revelação, Epitáfio - Titãs, Tanta Saudade - Wanessa Camargo, Cristal quebrado - Leonardo, Que nem maré - Jorge Vercillo, Abuso de poder - Jorge Aragão, Grande amor da minha vida - Vavá Fábio de Sá.


Cesnik
Advogado e sócio do escritório Azevedo, Cesnik e Salinas, especializado em direito autoral e leis de incentivo à cultura; autor dos livros "Projetos Culturais", na 4a. edição pela Editora Escrituras e "Guia do Incentivo à Cultura", pela Editora Manole.

Parecido Não é Igual


Por Eustáquio Rocha

Devemos ser contemporâneos do seculo 21 e não de passado, pois este já passou.
Mas não bastam idéias abstratas para mudar comportamentos políticos. É preciso definir o adversário e mostrar que só "NÓS" faremos melhor do que ele. Assumamos que temos outro estilo, mostremos na prática que nosso comportamento é diferente, denunciemos com convicções e coragem a mesmice, a fanfarronice e sendo caso o desvio de conduta dos donos do poder, sem esperar que só a mídia venha fazer, nós podemos e devemos participar de todo o processo .
Se assim não acontecer estaremos seguindo no rumo do Apartheid moderno que transforma o estado em casa de misericórdia e o mercado em abrigo dos bem educados, mas fique atento pois parecido não é igual. Por isso devemos estar atentos, vigilantes e conscientes dos espaços conquistados, dos avanços de nossa Cidadania para que o estado ocupe o espaço que ora está em mãos dos bandidos.

Os Novos Terroristas da Mídia


por Marcelo Salles

Poucas vezes uma reportagem a respeito do MST foi tão distorcida quanto a do Jornal Nacional da última quarta-feira. Nos dois minutos e vinte e quatro segundos da matéria busca-se a criminalização dos camponeses; para tanto, imagens e palavras são cuidadosamente articuladas para transmitir ao telespectador a idéia de que os militantes do movimento são os responsáveis por todo o medo que ronda os paraenses.
Logo na abertura da matéria, o fundo escurecido por trás do apresentador exibe a sombra de três camponeses portando ferramentas de trabalho em posições ameaçadoras, como a destruir a cerca cuidadosamente iluminada pelo departamento de arte da emissora. Quando os militantes aparecem nas imagens, estão montando o acampamento e utilizando folhas de palmeiras - naturalmente já arrancadas das árvores. Quando a matéria corta para ouvir a opinião de um empresário local, ele tem ao fundo exatamente uma folha de palmeira, só que firme no solo - vistosa e viva. O representante da Vale do Rio Doce é o que tem mais tempo para se manifestar, até gagueja e balbucia: "esses movimentos... estão [nos] impedindo de trabalhar". Em nenhum momento os representantes do MST são ouvidos, o que contraria, inclusive, as próprias regras do manual de jornalismo da Globo. Mas quando os interesses comerciais de empresas amigas estão em jogo essas regras são postas de lado.
Outro dado marcante desta reportagem é a descontextualização dos fatos. O telespectador é apenas informado que o MST “ameaça invadir a Estrada de Ferro Carajás, da Companhia Vale”, mas não se explica que esta ação direta tem uma origem: a privatização fraudulenta da empresa que era estatal. A companhia foi leiloada, em 1997, por R$ 3,3 bilhões. Valor semelhante ao lucro líquido da empresa obtido no segundo trimestre de 2005 (R$ 3,5 bi), numa clara demonstração do prejuízo causado ao patrimônio nacional. Desde então, cidadãos e cidadãs vêm promovendo manifestações políticas e ações judiciais que têm por objetivo chamar a atenção da sociedade e sensibilizar as autoridades competentes para anular o processo licitatório. Se há uma diferença brutal entre discordar de uma determinada opinião e omiti-la, este caso torna-se ainda mais grave porque não se trata de uma opinião, e sim de um fato político: a privatização da Vale é questionada na Justiça – e com grandes chances de ser revertida. Ao sonegar esta informação, a Globo comete um crime.
Com a mesmíssima parcialidade age o jornal carioca O Globo. A reportagem publicada no mesmo dia sobre o MST não deixa dúvidas quanto a posição contrária do jornal. A chamada na capa diz: “MST desafia a Justiça e volta a ameaçar a Vale”; o pequeno texto, logo abaixo, aprofunda a toada: “O MST ameaça descumprir ordem judicial e invadir novamente a ferrovia de Carajás, da Vale, no Pará. Moradores da região estão atemorizados, com a cidade cercada por mais de mil militantes do MST, a quem acusam de terrorismo”. A reportagem principal, à página 9, é acompanhada de outra de igual tamanho. Ambas ouvem apenas a versão da mineradora privatizada pelo governo tucano de FHC. Imediatamente abaixo, como a reforçar a visão policialesca, uma fotografia de um homem morto sobre o título: “Em Porto Alegre, um flagrante de homicídio”. Nenhum dos dois veículos (O Globo e JN) registrou o apoio recebido pelo MST por artistas, intelectuais e lideranças partidárias.
Esta falsa preocupação do Globo com a defesa do povo brasileiro não é de agora. O mesmo jornal que sugere que os militantes do MST são terroristas há 44 anos agiu da mesma foram quando um golpe de Estado derrubou o presidente constitucional João Goulart. Em texto editorial do dia 2 de abril de 1964, o “Globo” assinalou:
- Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas (...) para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas (...), o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições (...)
Assim como para o “Globo” os inimigos do passado eram aqueles que se insurgiam contra a ditadura que seqüestrou, torturou e matou milhares de brasileiros, hoje os terroristas são aqueles que lutam contra as multinacionais que roubam o patrimônio público, danificam o meio-ambiente e produzem graves problemas sociais. É por isso que ao interromper o fluxo de exportação de uma dessas empresas os militantes do MST acertam em cheio no sistema nervoso do capitalismo. Dotados apenas de enxadas e coragem, os sem-terra enfrentam jagunços armados, policiais e poderosos grupos de comunicação - esse coquetel que tem como objetivo massacrar o povo organizado. Os militantes do MST ensinam ao povo brasileiro: não é uma luta justa, mas é uma luta que pode ser vencida.
Por outro lado, o jornalismo dos Marinhos mais uma vez revelou seu caráter covarde e submisso. Aliou-se aos poderosos e rasgou o juramento profissional da categoria, sobretudo no seguinte trecho: "A Comunicação é uma missão social. Por isto, juro respeitar o público, combatendo todas as formas de preconceito e discriminação, valorizando os seres humanos em sua singularidade e na luta por sua dignidade".
Mas não há de ser nada. A História vai se ocupar de reservar a cada qual seu devido lugar.

Marcelo Salles é correspondente da Caros Amigos no Rio de Janeiro e editor do jornal Fazendo Media (www.fazendomedia.com).

Massacre de Eldorado dos Carajás



Velório das 19 vítimas do massacre de Eldorado dos Carajás
1996 - Dia de Eldorado
Massacre de Eldorado dos Carajás: a PM-PA assassina 19 sem-terra que bloqueavam a Rodovia PA-150. Laudo confirma que 10 foram executados a sangue frio. O procurador-geral da República responsabiliza o gov. Almir Gabriel (PSDB) pelas mortes. Até hoje, o crime permanece impune.

Racionais Mcs : 10 Anos

'Sobrevivendo no inferno', ícone dos Racionais, faz 10 anos


Ao ser lançado, há dez anos, o álbum Sobrevivendo no Inferno pôs o grupo Racionais MC's e o cenário hip-hop em evidência para o grande público. A música mais tocada do álbum a célebre Diário de um Detento, conforme lembra a matéria abaixo, do portal G1.


Capa do álbum: o hip-hop em evidência

O ano de 1997 já estava chegando ao final. São Paulo e o Brasil ainda amargavam títulos como o terceiro maior índice de homicídios das Américas e uma taxa de desemprego entre jovens da periferia que passava dos 30%. Um habitante do bairro paulistano do Capão Redondo chegava a ter 12 vezes mais chances de ser assassinado do que um morador de outra parte da cidade.

Um cenário não muito diferente do que já existia há um bom tempo, mas, em novembro daquele ano, muitos se deram conta do que realmente significavam esses números. Como se com a força de uma explosão, milhões se voltaram para um álbum chamado Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MC's.

O maior nome do hip-hop no Brasil já tinha quase dez anos de existência, estava lançando o seu terceiro disco e era largamente idolatrado na periferia de São Paulo. Mas agora era a grande mídia, acadêmicos, músicos, gente bem-nascida e desavisados que descobriam o que Mano Brown, Edy Rock, Ice Blue e KL Jay tinham para dizer.

Foi preciso o fenômeno de 200 mil discos vendidos em apenas um mês (um número que mais tarde ultrapassaria a barreira de 1 milhão) para ganharem evidência as letras sobre a rotina de violência em bairros pobres da zona sul de São Paulo, vinda da polícia ou do caminho do crime escolhido por alguns jovens dessa região.

Relato sombrio

Não havia uma embalagem bem-feita ou faixas que trariam conforto e alegria ao ouvinte, com intuito de arranjar um espaço no mercado musical de então. A capa, o título e os climas das músicas mostravam um relato sombrio da vida na periferia paulistana.

"Minha palavra vale um tiro / eu tenho muita munição / Na "queta" ou na ascensão / minha atitude vai além / e tem disposição / pro mal e pro bem / talvez eu seja um sádico / ou um anjo ou um mágico / ou juiz ou réu / um bandido do céu", cantava Mano Brown, entre coros de "aleluia" em Capítulo 4, Versículo 3, a faixa de Sobrevivendo no Inferno em que os Racionais, de fato, começavam a disparar o seu discurso.

Logo, o grupo trazia épicos como Tô Ouvindo Alguém me Chamar, com mais de 11 minutos de duração e sua narração em primeira pessoa a respeito de um homem que questiona sua vida no mundo do crime. "Agora é tarde / eu já não podia mais parar com tudo / nem tentar voltar atrás / mas no fundo, mano, eu sabia / que essa porra ia zoar a minha vida / me olhei no espelho e não reconheci / estava enloquecendo / não podia mais dormir."

A música, no entanto, que fisgou quem ainda não tinha parado para escutar os Racionais foi Diário de um Detento. Co-escrita por Josemir Prado, o Jocenir, um ex-detento do Complexo do Carandiru, a faixa conta os dias que antecederam e o próprio momento do massacre dos 111 presos, na época completados cinco anos do ocorrido, sem deixar espaço para o evento entrar em processo de esquecimento. Jocenir depois escreveria um livro sobre a experiência na cadeia.

A base climática e o clima de suspense por trás da narração de Mano Brown em mais de sete minutos de música se tornaram onipresentes em boa parte de 1998 (quando o disco realmente estourou). Mesmo com o sucesso no "mainstream", a periferia abraçou ainda mais os Racionais, e a coisa mais comum era um carro passar com Diário de um Detento no último volume.

Conhecimentos musicais

No auge da onda, o grupo colocou à prova até os conhecimentos musicais de ouvintes. O grupo começava o álbum com a letra de Jorge da Capadócia, de Jorge Ben, sobre a base de Ike's Rap II, da lenda do soul e do funk Isaac Hayes. Jornalistas descolados falavam de boca cheia que os Racionais estavam, vejam só, sampleando o sofisticado e novíssimo grupo inglês Portishead - que, na verdade, só havia usado a mesma Ike's Rap II na música Glory Box.

No resto do disco, KL Jay e o grupo mostraram sua competência em combinar discurso com atmosferas, ao usar passagens brilhantes da música black dos anos 70, com nomes clássicos como War, Edwin Starr (sua Easin' in serviu para dar o clima de Diário de um Detento), Isley Brothers e Curtis Mayfield.

Foi após Sobrevivendo no Inferno que definitivamente os Racionais ganharam exposição. Tocaram em rádios que não dedicavam espaço ao hip hop. Fizeram videoclipe e entraram na parada dos mais vistos da MTV (cuja festa de premiação foi protagonizada pelo grupo, em uma "cena" com Carlinhos Brown). Medalhões da MPB como Caetano Veloso e Chico Buarque discutiram o "fenômeno Racionais". O mercado descobriu que havia um cenário de hip-hop brasileiro e a cultura dos manos.

Hoje Mano Brown pode dizer que "não tem mais um discurso", como revelado em sua recente entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura — mas, com Sobrevivendo no Inferno, ele e o grupo deixaram sua marca como uma das mais cortantes visões do cotidiano brasileiro.





Gylberto Freyre : Foi na Senzala que se Fes a Língua Portuguesa



Por Fátima Quintas
Casa-grande & Senzala, de Gilberto Freyre, representa uma autobiografia coletiva, linguagem romanesca com semelhanças ao "roman vrai" dos irmãos Goncourt, autores de Histoire de la Société Française pendant la Révolution (1854), que defendiam a histoire sociale, no tempo em que esta não era levada a sério, na França e em outros lugares. A Edouard e Jules de Goncourt deve-se a expressão histoire intime.


Em Casa-grande & senzala, Freyre se coloca como espelho de si e da gente que vê entre rostos projetados. Sua metodologia rejeita os convencionalismos de uma era em que o positivismo de Comte referendava a ideologia de um Brasil republicano (1889). Início de século 20: os eflúvios franceses persistiam e se solidificavam na legenda cívica da bandeira - Ordem e Progresso. Mais uma vez Freyre se deparou com a incompreensão de um Brasil estampado em preto e branco, avesso a reformulações na ciência social, menos ainda na literatura científica.

O livro chocou. Os ataques expandiram-se. Da linguagem coloquial e sensual, instigante, à ousadia da "técnica inovadora". O texto era indecente, bradavam uns. O método era questionável, reforçavam os adeptos do quantitativismo. A linguagem era superlativamente literária, reclamavam os cientificistas. Trabalho inconcluso, sem arremates, finalizações.

Os ecos soavam de toda parte. E a intolerância sugeriu queimar a obra, em repúdio às idéias, ao estilo, lírico em algumas passagens e aguerrido em outras; um estilo que se respaldava em vivas metáforas, de ordem poética e de crueza ostensiva - traçado não-linear de estrutura narrativa.

Se Gilberto Freyre se definiu como escritor, a ele não faltaram preocupações com a linguagem no Brasil. Remonta ao passado para entender a gênese da nossa expressão verbal. O falar abrasileirado carrega uma mistura do popular com o erudito:

"Sucedeu, porém, que a língua portuguesa nem se entregou de todo à corrupção das senzalas, no sentido de maior espontaneidade de expressão, nem se conservou acalafetada nas salas de aula das casas-grandes sob o olhar duro dos padres-mestres. A nossa língua nacional resulta da interpenetração das duas tendências. Devemo-la tanto às mães Bentas e às tias Rosas como aos padres Gamas e aos padres Pereiras (Freyre, Casa-grande & Senzala, 2000, p. 389).

Na casa-grande, a linguagem eclodiu ditatorial, forte, autoritária, manifestação de hegemonia. O uso seco dos imperativos; a ordem; a imposição; a firmeza do mando. Na senzala - e sobremaneira entre negros do doméstico -, predominou a docilidade do falar, a dolente súplica, a delicadeza do pedido, tentativa de proteger-se, por trás de uma "muralha" lingüística, dos freqüentes autoritarismos.

O Brasil se favoreceu com a simbiose de códigos. O verbo se amoleceu na palavra invocativa da negra. O "me dê" no lugar do "dê-me". A antecipação do pronome converteu a ordem em súplica social e desmontou as confrarias lingüísticas em vigência. Um peso que permeou o cotidiano, enriquecendo as combinações da casa-grande.

Duas tendências andaram, às vezes, em trilhos paralelos, às vezes, em estradas unificadas: a do lusitano e a da africana. Uma e outra indicando posições extremadas, que se congratulavam na musicalidade do português abrasileirado. O amálgama de duas correntes opostas, uma coloquial, a outra, cerimoniosa, favoreceu a fusão de núcleos em contradição.

Da senzala advieram os ruídos da opressão, os gestos de humildade e de persuasão, tão irmanados à lógica da subalternidade. Não houve, como diria Paulo Freire, "inserção crítica". Não se detectou tomada de cons­ciência por parte do oprimido. Ocorreu uma "inserção doméstica" possibilitadora da infiltração de valores no campo privado. Não há melhor situs de atuação que o da privacidade.

Nesse átrio receptivo, tudo se dilui em mensagens invisíveis, absorvidas involuntariamente, sem reações ou decodificações mais apuradas. A negra, ao transitar nos corredores da família patriarcal, sedimentou uma simbologia de todo especial para o sistema de trocas. O estado de "imersão" evoluiu para o estado de "emersão". Os trâmites não foram abandonados; ao contrário, foram usados na dialética objetividade-subjetividade.

Abrandamentos

A negra amaciou a linguagem, deu-lhe singeleza, tempero. Tratou-a com preciosismo, retirando-lhe a fereza das palavras e o ranço antipático das expressões: "faça-me isso"; "dê-me aquilo", "diga-me o que fez". Amassou-a para acomodar sílabas refratárias à boca da criança, facilitando tons e semitons de complicada degustação. As mudanças se iniciaram pela linguagem infantil. Em tese, a criança dá melhor acolhida às rupturas de uma sociedade cristalizada em normas antigas.

A meninada bebeu o que lhe brindaram como novo arranjo léxico. Conjugação de sílabas com recursos facilitadores. Nada de severidade. Assim, as palavras chegavam aos meninos já liquefeitas. Sem espinhos, com candura e desvelo para que nhonhôs e sinhazinhas não tivessem dificuldade de pronunciar os agrestes fonemas. Quase como uma cantiga de ninar.

Veio o abrandamento: "dói" passou a "dodói", dengoso vocábulo que roga por carinho. "A ama negra fez com as palavras o mesmo que com a comida: machucou-as, tirou-lhes as espinhas, os ossos, as durezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles. (...) As Antônias ficaram Dondons, Toninhas, Totonhas; as Teresas, Tetés; os Manuéis, Nezinho, Mandus, Manés; os Franciscos, Chico, Chiquinho, Chico" (Casa-grande & Senzala, 1966, p. 356).

No Brasil colônia, o lusitano portou-se, no discurso, a referendar a herança aristocrática. A gramática foi usada como escudo de uma categoria de classes, exibindo vetores de uma fala culta, a seu modo coativa, com o intuito de ratificar os ângulos da estratificação.

No mundo da bagaceira, a língua escrita foi uma; a falada, outra. Essa dicotomia teve apoio dos jesuítas, que tentaram instituir a elite não só social, mas cultural. O fosso aumentava entre negros e brancos e entre homens e mulheres. Eram analfabetas, mesmo as arianas. A escrita denunciava diferenças da oralidade. Estabelecia-se a divisão entre os que escreviam o português europeu e o brasileiro, com vocábulos africanos e tupis.

Escrita e fala

Se a escrita proliferou na casa-grande só entre patriarcas, padres-mestres, mestres-escolas, capelães, ocupando lugar à parte, a língua falada se dividiu em fatias desiguais: a dos senhores e a dos nativos ou escravizados. A primeira, oficial; a outra, abaixo dos critérios de aceitação, embora fluente e influente na ciranda diária. As mães negras, as mucamas e o clima - um aliado - fizeram com a língua um trabalho de artesão.

O clima enlanguesceu o homem, amoleceu a linguagem e espichou o tempo em apreciável lerdeza. A lassidão do agir associou-se à linguagem, fê-la vagarosa, farta de langor. As negras, filhas do Sol, albergaram como ninguém o sentido saudável da indolência. E os ss e os rr sintetizaram o alvo mais atingido na conversão de um português autêntico para um português vívido e mutante, sem adornos e estilismos fora dos eixos socioeco­lógicos, culturais e geográficos.

O vernáculo de estufa não vingou. O hibridismo venceu o português de origem. Nem padres nem gramáticos obtiveram sucesso na imposição de indeclináveis conceitos. Cederam às pressões. Se não cederam, aceitaram-nas de mau grado, mas aceitaram-nas. A vitória recaiu na boca do povo.

Fonte: Revista Língua Portuguesa


Presença da Cultura Negra na Grande Mídia é Escassa



A presença da cultura negra nos meios de comunicação brasileiros “ainda é muito escassa” e a responsável por isso é a grande mídia, que “não expressa a cultura negra brasileira com importância e extensão”. A avaliação é do presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo. Segundo ele, além de dificultar o acesso a essa cultura, a mídia ainda promove um processo de discriminação.


O presidente da fundação cita como exemplo o tratamento dado à questão quilombola, que, segundo ele, ainda é muito restrito a um pequeno grupo de formadores de opinião.


''Uma parcela da sociedade ainda se recusa a reconhecer que este país foi escravocrata e os remanescentes dos quilombos são o espelho vivo do que foi a perseguição escravocrata no Brasil”, diz.


Segundo Araújo, há ainda a questão fundiária envolvida na luta para reconhecer as comunidades quilombolas. ''Juntou esse processo racista que ainda existe na sociedade brasileira com o conservadorismo da área fundiária, e se acaba negando o direito de acesso à terra destinado aos descendentes de quilombos'', acrescentou.


O presidente disse ainda que a cultura negra está muito inserida na sociedade brasileira, principalmente nos setores mais populares, fazendo com que a cultura negra se confunda com a cultura popular.


''As manifestações culturais não podem ter hierarquia, pois, na verdade, elas são apenas distintas. Não há a má cultura e a boa cultura, o que há são formas distintas de expressão'', diz.


Agência Brasil

França : Periferia Armada


Exasperados com os estereótipos sobre a periferia mostrados na televisão, jovens das chamadas "cités" tomam o poder midiático. Com humor ou sátira, ternura ou raiva, eles descrevem em vídeo seu cotidiano. Curtas-metragens, reportagens, documentários com cheiro de concreto, que podem ser encontrados.


Pascale Krémer / Le Monde


Reformulemos os clichês. Na periferia, os jovens não rodam só sobre a cabeça, no estilo hip-hop. Eles também rodam filmes. Médias, curtas, supercurtas metragens de ficção, mas também documentários e reportagens. Vendidos em forma de DVD, e principalmente divulgados de graça em sites da internet, que às vezes parecem verdadeiros canais de TV na Web, em videoblogs ou sites de compartilhamento como Dailymotion... Qualquer que seja a forma e o suporte final, com modos de organização variados (coletivo informal, associação, ateliê de centro cultural municipal), a criação de vídeo ferve nas periferias.


Depois do esporte, da música, da moda, a idéia de que é possível se exprimir, ganhar um reconhecimento social -e por que não?, a vida- graças ao audiovisual toma corpo. Prova disso é a oferta atual de diversos festivais de curta-metragem na França. Como o Regards Jeunes sur la Cité, do Oroleis (estrutura afiliada à Liga do Ensino): 120 curtas sobre os bairros em competição, "porque não podemos receber mais", explicam. "Mas há cada vez mais criações, cuja qualidade melhora a cada ano."


Não é preciso procurar muito para encontrar os principais motivos desse entusiasmo. As ferramentas, câmeras digitais e software de edição se democratizaram, seus preços desabaram e sua utilização foi simplificada ao extremo.


A força da imagem


Outra evidência: os jovens das periferias, como todos os outros, pertencem à geração da imagem, onipresente em seu cotidiano -televisão, videogames, internet, celulares... Ela é sua forma de expressão natural, enquanto a escrita muitas vezes os desanima. É preciso, por exemplo, entender como o coletivo En Attendant Demain [Esperando o amanhã], da periferia de Bordeaux, concebe suas engraçadas minificções: "Nós contamos situações. Improvisamos, os diálogos surgem. Filmamos. Depois transcrevemos. E depois filmamos para valer. Porque se começarmos diretamente pelo texto, isso exclui alguns jovens".


Reconquista de uma linguagem que não é a do ensino tradicional, e da qual eles captaram toda a força. Mas também trabalhos com benefícios terapêuticos para sua própria imagem, afim de contrabalançar a veiculada nas mídias. A campanha presidencial de 2002, em que a temática da insegurança foi tão presente, e sobretudo os tumultos do outono de 2005 e depois 2007, deixaram marcas. Desilusão, desconfiança no melhor dos casos, desprezo muitas vezes, ou mesmo franca hostilidade: os jovens das "cités", que têm a impressão de serem incessantemente estigmatizados, não cultivam em relação à mídia, e principalmente a televisão, os melhores sentimentos. Um deles, hoje autor de reportagens, resume, lapidar e definitivo: "O jornalista é alguém que vai contar idiotices sobre os jovens, que os trai. Como o policial".


Exasperação


Passando para trás da câmera, eles se reapropriam de sua imagem. Por que esperar uma evolução na qual não acreditam mais, quando podem criar suas próprias mídias alternativas? "Depois de 2005, dissemos chega, não deixaríamos mais que falassem da gente daquele jeito, de uma maneira prejudicial, violenta! Que a palavra devia vir de dentro", afirma Ernesto Oña, do coletivo En Attendant Demain. "Sabemos que hoje a imagem é o poder. A grande mídia. Daí a idéia de nos apoderarmos dela, de tomar o controle. É um ato político. Uma espécie de golpe!"


Omar Dawson, 29, brilhante súdito britânico, chegou à "cité" Grande Borne, em Grigny (departamento de Essonne), aos 5 anos. Depois de um diploma de comércio internacional e um ano de experiência profissional na América do Sul, ele envia 200 currículos e recebe uma única oferta, para telemarketing temporário.


"Eu não mandava foto, só meu nome e o endereço, isso dá indícios. Minha motivação para criar o site na Web veio daí. Essa dramatização do problema da insegurança em nossa periferia nos prejudica. É impensável que as pessoas façam carreira levando preconceito a toda uma população! Não negamos os problemas, mas eles não se comparam com o que foi descrito!"


A exasperação diante da mídia tradicional: é o ponto comum de todos esses jovens que se apoderam da câmera. Basta tocar no tema e surge uma chuva de críticas. Os jornalistas trabalham com pressa, não têm tempo de conversar com as pessoas, de pesquisar, não conhecem nada da periferia, só vão lá quando há confusão, servem a interesses comerciais e políticos, só se interessam pelo espetacular que pode confirmar seus preconceitos, os eternos estereótipos sobre a periferia e seus habitantes -um mundo à parte de violência, de delinqüência, de sofrimento, povoado por estupradores, traficantes, ladrões e radicais encapuzados... A ponto de usar atalhos e truques técnicos para obter a imagem e o objetivo esperados.


"Não acreditamos mais na mídia"


Cada um tem sua história, o evento detonador da tomada de poder midiático. O borbulhante Mourad Boudaoud, 21, que sonha ser ator, ou talvez diretor, e atualmente filma temas para o site Regards2banlieue, lembra-se de uma reportagem sobre um traficante em seu bairro. Em segundo plano, via-se um canal. Acontece que não há canais em sua "cité". Sadio Doucouré, uma jovem que trabalha para os Engraineurs, em Pantin (departamento de Seine-Saint-Denis), e coloca como premissa "Não acreditamos mais na mídia", conta que antes das eleições de 2002 uma jornalista da televisão pública veio ao bairro de Courtillières (Pantin).


Bandos rivais acabavam de se enfrentar na Défense (Paris). "Ela estava sob pressão. Veio a Pantin porque é perto de Paris, porque é fotogênico e não há grandes malandros que roubam as câmeras. Ela interrogou alguns garotos na saída do colégio. Evidentemente, eles estavam superanimados. Ela perguntou como eles acertavam suas diferenças. 'Passamos pelo arsenal!', fanfarronou uma menina, para ter certeza de que sairia na TV. A jornalista não insistiu, e à noite, no JT, havia um esconderijo de armas em Courtillières..." Os Engraineurs fizeram disso uma reportagem e um docu-ficção, "Sale réput" [Suja reputação], com a atriz Isabelle Carré.


É "para dominar as imagens que saem" que Sadio faz filmes hoje. "Para mostrar as coisas como são, sem negar a realidade de uma periferia de exilados, precisando de renovação, reservada às pessoas originárias da imigração. Para falar da vida simplesmente. Eu vivo na 'cité'. E não tem nada a ver com o que mostram. O problema é que depois de todas essas reportagens as pessoas têm medo de vir aqui, o que reforça a ruptura entre nós e os outros. E depois, forçosamente, as pessoas acreditam na imagem que divulgam delas. Elas se identificam."


Imagens chocantes


Omar Dawson foi marcado pela passagem pela Grande Borne de uma jornalista de um semanário de grande circulação. "Ela ficou vários meses, foi bem recebida. E no final saíram uma matéria intitulada 'Eu vivi na cidade do medo' e um livro de pura ficção. Muitas pessoas se sentiram traídas. Ela falava de crianças apavoradas que dormiam com uma faca de cozinha na mão. Uma foto em contraluz de um monte de pedras em um estacionamento em reforma se transformou em 'Certas partes de Grigny parecem devastadas pela guerra'!"


Chocado por essa encenação, Omar filma "Grignyfornia", uma comédia de 80 minutos sobre o funcionamento da mídia e seu impacto sobre os jovens da periferia. Ou como dois espertos financiam suas férias em Cuba ("Chega de passeios a Trouville com a prefeitura!") vendendo às televisões as imagens chocantes que elas adoram. Choques e guerras de gangues mais reais que as de verdade, entrevistas fraudulentas de radicais que exigem cursos de pilotagem e treinam os meninos do bairro para se atirar contra muros de patinete...


Sucesso individual


Depois, em dezembro de 2007, em um pequeno lugar emprestado pela prefeitura, com algum dinheiro da mesma e do conselho geral de Essone, Omar Dawson lança Icetream TV, um canal de TV "das culturas urbanas" na internet. "Uma TV de bairros, e não do bairro", explica. "Uma mídia participativa, para que parem de falar do nosso lugar. Quando as pessoas sabem que têm uma possibilidade de se exprimir, a coisa funciona. Um jovem que participou dos tumultos veio nos propor uma idéia de tema: como e por que começam os tumultos!"


Mourad Lakehal, sócio de Omar nessa aventura, apresentador cômico estreando na Icetream TV, sonha em "dessimplificar as coisas". "Sinceramente, não é o país dos sonhos, mas gosto muito de Grigny. Eu vejo todo um potencial, a riqueza das pessoas."


Destin Ndza também os vê, ele que produz reportagens para a Regards2banlieue. "Mudar a periferia, não vamos conseguir falando só de carros em chamas. Nesses bairros há uma energia que precisamos ecoar." Então descobrimos em todos esses sites uma série de iniciativas associativas ou empresariais felizes. Uma solidariedade entre os moradores.


Belos casos de sucesso individual. Uma verdadeira criatividade artística entre os jovens. Em suma, tantos temas positivos que, sob o fogo da crítica, as próprias mídias clássicas começam a propor. Mas o que marca nessa produção de vídeo que deveria restabelecer uma espécie de verdade sobre a periferia é o humor, o formidável sentido de autozombaria com o qual são tratadas as questões, aliás onipresentes, da discriminação e da exclusão social.


Os jovens não se apresentam obrigatoriamente como vítimas da sociedade. A autocrítica domina. "O humor é o fundo do desespero. Rimos de nossas próprias tristezas porque se não rirmos enlouquecemos. É kafkiana a vida na periferia, é de enlouquecer! E depois é melhor fazer os outros rirem do que culpá-los, isso os toca mais: já os faz entrar em nosso universo. De repente, temos algo em comum", entusiasma-se um dos fundadores do coletivo En Attendant Demain, que produz pequenos quadros cômicos da vida no bairro -onde os jovens aparecem sob uma luz pouco lisonjeira mas terrivelmente humana.


Humor e ironia


Rimos francamente desde o início desse documentário (De la Cité à la Campagne) de CitéArt, associação de Vigneux-sur-Seine (Essonne), quando os jovens instalados em um carro para ir filmar no interior percebem de repente que nenhum deles tem carteira de motorista. Ou diante do videoblog dos Shaolyn Gen-Zu (no site www.vsd.fr). Esses cinco "rappers" de Clichy-Montfermeil (Seine-Saint-Denis) se filmam em suas cansativas tribulações cotidianas para divulgar seu disco: seus atrasos patológicos ("Que horas são? Mas que horas são?", um deles se enerva, no escuro, fechado em um armário por seus colegas exasperados por tê-lo esperado demais).


A venda do CD sobre caixotes no mercado. A turnê pelas Fnac da França para colocar seu disco ("Todas as Fnac nos dizem para procurar outra Fnac. Mas, bom, a gente não sossega!"). Seu show na Festa do l'Humanité, na entrada da qual eles não conseguem convencer ninguém de que são artistas esperados. E onde se pode almoçar um menu de ostras e lagostim. "32 euros! 32 euros por camarões?"


Cúmulo da ironia: a televisão, que involuntariamente provocou todas essas novas vocações, começa a se interessar de perto por essa produção. Recentemente, a TF1 anunciou a intenção de procurar na periferia jovens roteiristas e diretores de talento. O Canal+ localizou a equipe do En Attendant Demain e encomendou três ficções de 26 minutos, que transmitirá em junho. Um belo começo de revanche para a periferia.


Fonte: Le Monde
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves / UOl Mídia Global


É Tudo Nosso - Ducument5ário Desvendo a Cena do Hip Hip

'É Tudo Nosso!', um documentário para desvendar o hip-hop


Está em circulação um DVD que, por várias razões, é o mais amplo e rico documentário já feito sobre o hip-hop. Trata-se de É Tudo Nosso! O Hip-Hop Fazendo História, produzido, escrito e dirigido por Toni C.


Toni é líder do Hip-Hop a Lápis, um Ponto de Cultura em parceria com o governo federal que, entre outras coisas, mantém uma coluna especial no Vermelho. A iniciativa já rendeu uma coletânea, também chamada Hip-Hop a Lápis, reunindo alguns desses textos publicados no portal. Agora chegou a vez de o movimento dar vida a um excepcional longa-metragem.

Lançado em outubro passado, após mais de três anos de pesquisa, gravação e edição, É Tudo Nosso! resgata a curiosa e acidentada trajetória do hip-hop no Brasil e no mundo. Dá voz aos criadores e artistas sociais de uma cultura que, cada vez mais, se espalha para além dos muros da periferia.

Além de passar pelas bases dos quatro elementos (B.Boy, DJ, grafiteiro e MC), o documentário mostra a formação de mais um item - o quinto elemento -, que conjuga conhecimento e consciência. É apenas uma primeira parte, nada superficial, de um vídeo-ensaio de pouco mais de três horas.

Toni C. também apresenta imagens e depoimentos colhidos em 21 estados do Brasil, além de Estados Unidos e países da África e da América Latina. São participações de adeptos do hip-hop - mas também de personalidades das mais diversas áreas - como Gilberto Gil (ministro da Cultura), Júlio Medaglia (maestro e arranjador), Larry Rother (ex-correspondente do New York Times no Brasil) e Danny Glover (ator).

Há cenas inéditas da união de rappers com músicos da Orquestra Sinfônica de Campinas, da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Cidade de Deus, do lançamento do filme Falcão, Meninos do Tráfico na Daslu e muito mais. O vídeo registra a atuação de lideranças como Mano Brown, Rappin Hood, MV Bill e Aliado G, sem esquecer manifestações regionais e internacionais.

É Tudo Nosso! contou com o apoio do Ministério da Cultura e foi registrado com a licença Creative Commons. Com isso, pode ser reproduzido e distribuído gratuitamente. O longa já faturou os prêmios Escola Viva e Dom Quixote de la Periferia - Cooperifa 2007, além de ter sido um dos finalistas do Prêmio Hutuz 2007.


Duas Caras de Pau - A Realidade não a Ficção



Sabe aquelas letrinhas que aparecem na abertura da novela, dizendo que se trata de uma obra de ficção? Deveria vir em letras garrafais, porque mais do que ficção, chega ser um insulto à inteligência dos telespectadores: se a Portelinha é o paraíso, ser comerciária como a personagem Maria Paula, é o sonho profissional de qualquer mulher. A novela “Duas Caras” afronta as trabalhadoras no comércio que vivem a realidade de ser mulher e ser trabalhadora.


Personagem Maria Paula

Por Sônia Corrêa

Numa conversa com minha amiga e camarada Abgail, chegamos a uma conclusão: viver na Favela Portelinha é o sonho da classe média de qualquer lugar do mundo, afinal, trata-se de uma classe que vive amedrontada pela violência. Mas, ali a “mão-visível” do todo poderoso Estado chamado Juvenal Antena, garante o que o limitado poder estatal não consegue fazer, em especial, numa das capitais brasileiras de maior incidência do tráfico e, por conseqüência, da violência urbana.


Sabe aquelas letrinhas que aparecem na abertura da novela, dizendo que se trata de uma obra de ficção? Deveria vir em letras garrafais, porque mais do que ficção, chega ser um insulto à inteligência dos telespectadores: a Portelinha é o paraíso. Mesmo que se contestem os métodos de Juvenal Antena, ele justifica da forma mais convincente, dada a ineficiência do Estado.


Poderia falar de vários aspectos da novela que demonstram isso, mas hoje, resolvi escrever sobre algo que chega doer, de tão absurdo: a personagem Maria Paula, que é comerciária, funcionária do Supermercado Extra, do Grupo Pão de Açúcar. Se a Portelinha é o paraíso, ser comerciária como a personagem, é o sonho profissional de qualquer mulher, num país que, segundo o IBGE, 1/3 das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres.


Maria Paula, que teve todo seu patrimônio roubado pelo vilão Marcone Ferraço, teve a “sorte” de arranjar emprego no Extra e dali consegue tirar seu sustento, ter seu belo apartamento numa zona de classe média-alta da capital carioca, manter seu filho numa escola particular, ter empregada doméstica e, em qualquer problema que possa haver, o seu chefe a libera, em horário de expediente, para tratar de suas questões particulares. Quem não quer ser comerciária, assim?


Pergunte a qualquer trabalhadora do comércio se sua vida é desse jeito e, por certo, se ela não se ofender, dará uma bela gargalhada, pois seria cômico, se não fosse trágico. A realidade, infelizmente, está muito distante da ficção da novela.


Funcionárias do Extra denunciam a discriminação imposta às mulheres. É o caso da empregada do Rio de Janeiro, de 28 anos, que foi admitida como operadora de caixa do Supermercado Extra em fevereiro de 2000, para trabalhar das 7h às 15h, com folga às sextas-feiras, com salário de R$ 254,21. Em maio, quatro dias depois de realizar teste de gravidez, a empregada foi demitida, sem justa causa. A jornalista Cláudia Valente, relata que a moça (felizmente) ganhou a reclamação trabalhista.


No “Google”, é possível encontrar denúncias de racismo, de invasão de áreas públicas, de desrespeito à legislação trabalhista, entre outras.


A mulher brasileira permanece vivendo situação de desigualdade, num quadro em que, apesar de representar mais de 40% da população economicamente ativa (56,6% estão no setor de serviços), elas recebem 31% a menos que os homens. Portanto, “Duas Caras” afronta as trabalhadoras no comércio, que necessitam de creches e escolas públicas para seus filhos, que pagam aluguel em vilas (que não são nenhuma Portelinha), que adoecem pela exaustão de uma jornada de trabalho excessiva, que não tem (sequer) os finais de semana para o convívio familiar e, no dia de folga, tem que dar conta da faxina, pois a empregada doméstica é ela mesma.