Guarde este nome


O guitarrista Matheus Barbosa, que completa 18 anos amanhã, é considerado por músicos experientes uma das melhores promessas da música instrumental mineira
Eduardo Tristão Girão
Beto Magalhães/EM/D.A Press
Matheus Barbosa reconhece influências do jazz norte-americano e da música do Clube da Esquina
Quem acompanha a cena instrumental belo-horizontina já se acostumou a ouvir certos nomes. A lista é longa e inclui músicos como Toninho Horta, Juarez Moreira, Chico Amaral, Weber Lopes, Neném, Enéias Xavier, Beto Lopes, Limão, Ivan Corrêa, Cléber Alves, Magno Alexandre e Mauro Rodrigues. De uns tempos para cá, outro nome começou a chamar a atenção, tanto pela novidade quanto pela unanimidade: o do guitarrista Matheus Barbosa. Prestes a completar 18 anos (seu aniversário é amanhã), esse verdadeiro garoto-prodígio foi emancipado pelos pais para sair de Ipatinga, sua cidade natal, e lutar pela carreira na capital mineira, onde chegou no fim de 2006.

“Dois anos parece ser muito tempo, mas não é. Não trabalho tanto quanto os veteranos que estão aqui a vida inteira, mas o pessoal já começa a me chamar para shows instrumentais”, comemora o jovem artista. Vencedor do prêmio BDMG Jovem Instrumentista no ano passado, atualmente ele integra os grupos do baixista Enéias Xavier e do baterista Márcio Bahia, além de tocar ocasionalmente como convidado em apresentações de gente como o saxofonista Chico Amaral e o guitarrista Beto Lopes. Batista, ele também faz parte do grupo que acompanhará a cantora gospel Mariana Valadão em seu novo trabalho, ainda inédito. Ele ainda dá aulas particulares e na escola Pro-Music.

Matheus teve a sorte de nascer numa família musical. “Meu avô e minha mãe cantam, meu pai já foi assíduo instrumentista da igreja, minhas tias todas cantam ou tocam e minha única irmã, de 12 anos, está estudando bateria”, conta o jovem artista. Com muitos violões, baixo e teclado à disposição em casa, logo começou a ganhar intimidade com as notas musicais. Seu primeiro instrumento foi uma guitarra Samick, dada pelo pai. Foi uma escola de palco muito boa “Aprendi muito em casa, basicamente como autodidata. Fui ter aulas depois de já saber tocar. Aos 11 anos, tive aula com um dos músicos mais conhecidos de Ipatinga, o guitarrista Fábio Monteiro. Admiro demais este cara”, elogia.

Progredindo rápido, aos 7 anos começou a tocar na igreja e, com 13, montou trio instrumental com músicos que tinham mais que o dobro de sua idade. “Hoje não é muito diferente. Semana passada, toquei com Beto Lopes, que é bem mais velho que eu. O mais próximo de mim é o Fred, filho do Affonsinho, de 22 anos, com quem toco de vez em quando. Fora isso, todo mundo tem 30, 40, 50 anos. Aprendo muita coisa com esses caras. Tenho um décimo da experiência deles”, reconhece. Dois anos depois, participou de festival de jazz em Ipatinga dividindo o palco com Paulinho Trumpete, e gravou seu primeiro disco, Naturalmente, incluindo composições próprias. “Quando cheguei no estúdio, o técnico perguntou se eu era o roadie”, recorda.

EMANCIPADO


O caminho para Belo Horizonte só apareceu em sua vida depois de conhecer Enéias Xavier, durante workshop que o baixista ministrou em Governador Valadares. Por pouco isso não aconteceu: “Tinha uns 12 anos, estudava em casa e não sabia nada do que estava ocorrendo em Belo Horizonte. Um amigo me chamou às 7h para ir nesse workshop, que era às 9h”. Matheus gostou tanto da experiência que passou a visitar a capital constantemente para ter aula com o músico. “Desde o início, ele me deu a maior força. Falava que eu tinha que vir para cá mesmo e de vez em quando eu participava de canjas com ele”, lembra.

Foi o próprio Enéias quem ajudou a convencer os pais de Matheus, Israel e Sandra, a deixá-lo se mudar para Belo Horizonte. “Sempre quis vir para cá, mas geralmente meus amigos saíam de casa com 17 ou 18 anos para fazer faculdade. Saí aos 15 para vir tocar e estudar música. Aí, rolava aquele estresse de mãe, preocupação normal. Meus pais sempre me apoiaram. É lógico que rolavam preocupações em relação à vida de músico, mas a minha vinda para cá foi uma questão de oportunidade, como qualquer outra profissão”, observa. A primeira temporada foi passada na casa de um primo, na Pampulha.

Para que pudesse viajar e trabalhar sem dificuldade, os pais o emanciparam. Então, além da guitarra, levava (pois a partir de amanhã não precisará mais) para os shows o documento que comprova sua situação civil. Matheus aprendeu a se virar sozinho e hoje consegue manter sua independência com o dinheiro que ganha em shows, gravações e aulas. “Mas pai é pai, não é? Às vezes ele põe um dinheiro lá no banco para mim”, confessa. Seu principal objetivo é gravar o segundo álbum e colocá-lo no mercado, já que o primeiro serviu como cartão de visitas. “O disco é legal, mas as composições foram feitas quando eu tinha 12 anos”, diz.

“Estou numa fase muito mineira, mais do que sempre fui”, conta Matheus – mestres como Milton Nascimento e Toninho Horta andam freqüentando seu aparelho de som. Um dos seus discos de cabeceira é Breezin’, do guitarrista George Benson: “Foi o disco com o qual eu me interessei pela guitarra jazzística. O disco é até meio pop, mas os solos dele são sensacionais. ‘Guitarristicamente’ falando, Benson é minha maior influência. Escuto até hoje”. Outras preferências são o multiinstrumentista Hermeto Pascoal, os guitarristas Joe Pass e Kurt Rosenwinkel e o próprio Enéias, cujo de disco de estréia, Jamba, ouviu muito na época em que era seu aluno. “A música instrumental é a que eu mais gosto de tocar, com a qual me sinto mais à vontade, mais livre”, conclui.



"Nestes 20 anos de carreira, Matheus é um dos músicos que mais me chamou a atenção. Tem a cultura técnica de um músico experiente. O timing e o fraseado dele não condizem com a idade que tem. É um prazer tocar com ele"

Lincoln Cheib, baterista

"Matheusinho foi uma grata surpresa. Chegou com aquela serenidade e abraçou a causa do nosso quarteto. Ainda tem muito a aprender, mas o talento dele é impressionante. Esse menino ainda vai dar muita alegria para o povo"

Márcio Bahia, baterista


"É um prodígio. Mostra maturidade que é difícil de ver nessa idade e que a gente demora uns 10 anos para ter. Tem energia, cabeça limpa e muita musicalidade. O que falta é experiência"

Enéias Xavier, baixista


"É um garoto especial, já nasceu com maturidade musical. Está ligado nos mais experientes e tem facilidade para captar ‘sotaques’. Quando dei aula para ele foi muito gratificante. Foi fácil demais ensinar o que ele queria aprender"

Celso Moreira, guitarrista


"Não conheço ninguém da idade dele com este talento, humildade e vontade de aprender. Está aprendendo a música boa, está no caminho certo. Improvisa e compõe bem. É um futuro grande guitarrista"

Beto Lopes, guitarrista

Nenhum comentário: