MAYRA MALDJIAN
DE SÃO PAULO
"A primeira coisa que um moleque faz quando entra na escola é aprender a escrever o próprio nome. Não é muito diferente quando se pega um spray na mão pela primeira vez". Foi assim que Oswaldo Campos Junior, 39, mais conhecido como Juneca, começou a pichar os muros da cidade lá nos anos 80.
Artista plástico formado e grafiteiro respeitado, Juneca ganhou uma exposição no projeto n.a.u. (Núcleo de Arte Urbana), idealizado pelos proprietários do nBox, um bar itinerante feito dentro de dois contêineres marítimos em São Paulo.
"A minha marca começou a chamar a atenção e deixar as pessoas curiosas", conta. "Até a Hebe Camargo queria saber quem era o tal Juneca. Mas também fui perseguido pelo Jânio Quadros". Prefeito na época, Jânio chegou a publicar no Diário Oficial do Município a frase "Juneca vai pichar a cadeia".
Apesar da despretensão, Juneca sabia que estava fazendo história. Prova disso é a área da exposição dedicada aos recortes de jornais e vídeos de entrevistas que ele coleciona desde quando ainda era uma lenda urbana. "Não existia essa coisa de cultura urbana na época; o concreto era limpo".
Hoje, o paulistano da zona sul não picha mais. "A pichação poderia ter um direcionamento melhor", avalia. "Tem coisas legais que os adolescentes postam no Twitter, por exemplo, que poderiam ser escritas como picho. Sacadas boas, qualquer coisa que dê o recado".
Quando parou de pichar, ainda na década de 80, passou a fazer releituras de personagens de histórias em quadrinhos, como o Batman.
Na mostra do n.a.u., Juneca resgata uma de suas séries mais famosas, com retratos de rappers como 2Pac e de personalidades como Marilyn Monroe. São oito telas dispostas no segundo andar do bar-contêiner.
Essa retrospectiva também marca um novo começo na vida do grafiteiro. Ele viajou pelo mundo em busca de referências para reciclar sua arte, que já foi parar nas paredes das primeiras mostras de arte urbana do MIS (Museu da Imagem e do Som) e do Masp, em São Paulo. Ele também já expôs na França e na Espanha.
Em breve, pretende retomar o trabalho social com jovens carentes, uma de suas principais atividades desde a década de 90. "Eu procuro ensinar mais do que técnicas do grafite. Nas aulas, falo de cidadania. É uma forma de aquele jovem descobrir e desenvolver qualquer outra aptidão cultural", explica.
Para quem se interessa pelo grafite, Juneca dá as dicas: "Procure pesquisar, o mais importante é o conhecimento. Para evitar contratempos, se você não tem muita experiência, procure conversar com o dono do muro antes, explique que vai deixar o espaço muito mais bonito".
"JUNECA: UM NOME QUE VIROU ARTE"
ONDE: nBox (av. São Gabriel, 600, São Paulo, tel. 0/xx/11/7826-4789)
QUANDO: segunda a sábado, das 20h à 1h (até 5/2).
QUANTO: 1 kg de alimento não perecível ou roupas, que serão doados às vítimas das chuvas no Rio. Se quiser consumir no bar, será cobrada entrada (R$ 30 mulher e R$ 50 homem)
CLASSIFICAÇÃO: 18 anos (menores entram acompanhados dos pais)
Greg Salibian/Divulgação | ||
Grafiteiro Juneca expõe releituras de suas obras no bar-contêiner |
Greg Salibian/Divulgação | ||
Recortes de jornal e entrevistas à televisão compõem um dos ambientes da mostra |
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