Ator do morro do Vidigal é novo galã de "Malhação"



Micael Borges iniciou carreira como um dos garotos "caixa-baixa" de "Cidade de Deus'
Protagonista da nova fase da novelinha da Globo, ele tem uma banda pop com Thiago Martins e Phellipe Haagensen e vai gravar CD
LAURA MATTOS



Micael Borges não tinha nem 10 anos quando entrou na fila da criançada das favelas do Rio para um teste com a equipe do filme "Cidade de Deus". Passou e ganhou o papel de um dos "caixa-baixa", grupo de garotos que roubam nos morros.

Boca de Rua



O Boca de Rua é produzido em Porto Alegre desde 1999 por meninos e meninas de rua. O Boca como é chamado é coordenado pela ONG ALICE (Agência Livre para Infância,Cidadania e Educação). Reinaldo Luiz dos Santos foi morador de rua e hoje atua no Boca como universitário. Esse jornal é inspirado em algumas idéias surgida na Inglaterra. É um dos primeiros jornais vendidos nos metrôs de Londres. Clara Glock, que é uma jornalista que trabalhou por 14 anos na editoria de Cidadania da Zero Hora, visitou Londres e teve a idéia de trazer para o Brasil a experiência. Junto com a Eliane Brum, escrevia para Zero Hora, hoje para a Revista Época, Jaime, que é um dos integrantes do Fórum de Democratização para a Comunicação, e a Rosina Duarte criaram o Boca de Rua.

O conceito de “escravo”


Kabengele Munanga, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo explica o conceito de escravo.

Workshop de Tranças



15 de FEVEREIRO de 2009
das 10 ás 13 horas
WORKSHOP DE TRANÇAS DA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS
Local:- PAULINIA / SÃO PAULO
Valor da inscrição:- R$ 30,00
Inscrições e Informações:- SALÃO HAIRLACE
fone:- (19) 3844-6134 com Elicia ou Ana
Realização:- ANTAB e EXPOAFRO BRAZIL
Apóio:- Revista Cabeleireiros.com

Aeromoça cinqüentona

"A regra discriminatória preconizando que comissários devem ser sempre jovens extrapola os céus e chega a muitos outros lugares. Há mais exemplos, como no caso de vendedores de loja de shopping"
Aparece sempre a pergunta nos mais variados ambientes: alguém já viu um enterro de anão ou uma cabeça de bacalhau? Mas há outras possíveis. Alguém já viu uma aeromoça com idade, digamos, um pouco mais avançada? Ora, aeromoça ou comissária de bordo, como se diz atualmente, é sempre nova, maquiada e com cara de quem acabou de sair do banho. Qualquer figura que fuja a esse estereótipo vai chamar a atenção.

Pois num vôo recente, havia uma chefe de cabine que, possivelmente, já quebrou a barreira dos 50. Absolutamente simpática, atenciosa e eficiente, desfilava sua experiência pelo corredor estreito do avião, chamando a atenção pelo inusitado da cena. Enfim, uma comissária de bordo com mais de 20 e poucos anos. Será que aquela companhia estava descumprindo alguma lei ou norma da aviação, ao colocar para chefiar a equipe uma mulher com mais de 40? Mesmo quem viaja muito vai se surpreender com a mulher madura atendendo graciosamente aos passageiros.

Outra coisa que chama a atenção é que os comissários de bordo nunca são os mesmos. Parece que há um número infinito de equipes viajando pelos céus. Os comissários e comissárias são sempre desconhecidos. A impressão que dá é de que as equipes são permanentemente renovadas e mudadas. São sempre jovens e sempre diferentes. Ou alguém aí se lembra de ver o mesmo comissário em diferentes vôos?

A regra discriminatória preconizando que comissários devem ser sempre jovens extrapola os céus e chega a muitos outros lugares. Há mais exemplos, como no caso de vendedores de loja de shopping. Lá nas lojas da Avenida Paraná ou Rua Caetés existem vendedores que ali estão há anos e anos. Mas em shoppings parece que a norma exige a presença de vendedores muito jovens. E fica a pergunta: onde vão parar os que ultrapassam uma barreira invisível que acaba virando uma verdadeira e cruel data de validade?

Em bancos também os atendentes são cada vez mais jovens. Onde vão parar os velhos bancários? Será que dentro dos cofres, fazendo a contabilidade do dia e os tais serviços internos, longe do público? Recolhidos ou confinados? Qual a justificativa? São mais experientes e, por isso, aproveitados em funções que exigem mais experiência? Ou é porque as rugas ficam nos fundos e, na porta da frente, só os lisos e bem passados?

Barrigas pronunciadas, rugas aprofundadas, calvas reluzentes e cabelos grisalhos não parecem combinar com certas atividades que pressupõem relacionamento com o público, mesmo que os clientes apareçam, sem preconceito, com suas barrigas pronunciadas, suas rugas aprofundadas, suas calvas reluzentes e seus cabelos grisalhos. Do lado de fora do balcão, a vida real; do lado de dentro, estereótipos de beleza. Entre eles, a pergunta que não pode calar: qual o sentido disso tudo?

Voltando à comissária cinquentona, tirando a surpresa inicial, era visível a expressão de aprovação por parte dos passageiros, inclusive porque a gentileza dela parecia muito mais natural do que o habitual nos apertados corredores de avião. É muito esquisito. Se, diferente dos passageiros, que existem de todas as idades, elas são sempre jovens, onde envelhecem as aeromoças? Deviam deixar que elas fiquem repetidas e dêem um bom dia ou boa tarde mais natural do que o ensinado nas salas de treinamento.

SUBSERVIÊNCIA


Fernando Franco - Ibirité-MG.

Ler é Preciso

Carlos Alberto Di Franco, professor de ética, doutor em comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha)
Os adolescentes são fascinados pelas ferramentas da era digital. Eles não desgrudam do celular, vivem digitando mensagens de texto, passam horas escrevendo em blogs, navegando na web ou absortos nos videogames. Para o americano Mark Bauerlein, professor da Universidade Emory, em recente entrevista, as conseqüências dessa imersão digital não são boas. Segundo Bauerlein, a nova geração de adolescentes americanos tem mais acesso à informação que qualquer outra antes dela. Mas isso não se reflete em um ganho cultural. O uso incessante dos dispositivos digitais criou um “casulo” em torno dos jovens, que só se relacionam entre si, 24 horas por dia, sete dias por semana. “A falta de contato com os adultos impede os jovens de crescer.” Ler é preciso. Jovens, e menos jovens, precisam investir em leitura e reflexão. Só assim, com discernimento e liberdade, se capacitam para conduzir a aventura da própria vida. Compartilho com você, amigo leitor, algumas obras. Espero, quem sabe, que o estimulem no ano que começa.

What were they thinking? (Harvard Business School Press, 2007). É o título do livro de Jeffrey Pfeffer, professor de Stanford e um dos mais renomados gurus da administração na atualidade. Esteve em junho no Brasil. No capítulo 3, comenta a grata impressão que lhe causou a experiência de ter sido professor visitante no IESE de Barcelona, a escola de negócios da Universidade de Navarra. “Bem na época em que saía a versão para o cinema do Da Vinci Code”, diz Pfeffer, “eu passava umas semanas no IESE Business School, escola de negócios espanhola que figura entre as líderes do mundo. O que eu encontrei lá não foi nem cilícios, nem cadáveres, nem monges albinos: foi great management. Uma escola de grande sucesso. Eu me perguntava o que é que estaria por trás desse sucesso. Descobri que havia pessoas brilhantes, bem preparadas, que poderiam ter condições econômicas mais rentáveis em outros lugares, mas havia algo que as atraía e as mantinha lá: esse algo é caring culture (cultura de atenção, cuidados, serviço às pessoas). Como eu mesmo experimentei. Minha esposa contraiu uma forte dor de ouvido por ter tido que pegar um vôo resfriada.

O diretor geral do Iese, Jordi Canals, não teve dúvida: providenciou primeiro uma consulta com um clínico geral, depois com um famoso especialista em ouvido, destacou uma funcionária de fala inglesa para acompanhar minha esposa, serviço de táxi, pagou tudo e não nos fez nenhuma pergunta. Isto era algo que não estava previsto no contrato de minha estadia no IESE e simplesmente conquistou nossa eterna gratidão. Para Canals era algo que fazia parte da missão de serviço aos membros da instituição, mesmo que fossem membros temporários, como era o nosso caso”. O livro, carregado de experiências, suscita inúmeras reflexões.

A Igreja das Revoluções (Editora Quadrante, São Paulo, 2008). Este é o último título da História da Igreja de Cristo, a monumental obra de Daniel-Rops. O autor, membro da Academia Francesa de Letras, estava trabalhando no décimo primeiro, que trataria do Concílio Vaticano II, quando faleceu, em 1965. Emérico da Gama, um editor apaixonado e autêntico artesão das letras, caprichou na qualidade da edição. A multissecular história da Igreja, intimamente relacionada com a história da civilização, é um banho de cultura e um magnífico prazer intelectual.

Deu no New York Times (Objetiva, 2008). É o fruto das experiências vividas pelo correspondente norte-americano Larry Rohter durante quase quatro décadas no Brasil. Enviado do New York Times ao país entre 1999 e 2007, o jornalista já havia desempenhado a mesma função no final da década de 70 e no começo dos anos 80 na revista Newsweek e no jornal The Washington Post. Ao longo de todos esses anos, cruzou o Brasil entrevistando de presidentes a anônimos. Só pelo jornal nova-iorquino, publicou mais de quinhentas reportagens. A todos, boa leitura e feliz 2009!

PIRÂMIDE


Classe média estaria massacrada no Brasil

De Gaulle afirmava peremptoriamente, nos anos 60, que nenhum país poderá se arvorar a ser uma potência econômica sem uma classe média forte e empreendedora

Por: Sérgio Villaça - Recife

Violência no Rio diminui



A luta contra o crime não é questão partidária, mas de política de governo

GLÁUCIO SOARES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os dados recém-divulgados sobre o decréscimo da violência no Rio de Janeiro mudam a estratégia eleitoral para os próximos pleitos. Até então, o único caso claramente exitoso era São Paulo, com uma drástica redução da criminalidade violenta que atravessou quatro administrações (e três governadores) estaduais, todos do PSDB.
Outro Estado que mostrou dados promissores, mas muito aquém de São Paulo, é Minas Gerais, que, no último quadriênio, reduziu a taxa de crescimento dos homicídios, que aumentaram mais devagar, e, nos últimos dois anos, a diminuiu.
Os crimes violentos baixaram. Como há e houve outras administrações tucanas sem bons resultados na luta contra a violência, é óbvio que não bastava ser tucano, mas a propaganda partidária sugeria que era necessário ser tucano para vencer a luta contra o crime.

Bravatas políticas
O cenário das administrações de outros partidos era negativo. Explosões de violência em Estados com administrações partidárias diferentes, como Alagoas, Bahia e Paraná. Em Pernambuco, a violência desafiou diferentes governadores, de diferentes partidos. Houve muita bravata política e poucos resultados.
A divulgação de que, nos nove primeiros meses do ano, os homicídios no Rio de Janeiro atingiram um nível muito baixo (alguns afirmando que era o mais baixo desde 1991), trouxe um brado partidário de alerta: afinal, era uma administração peemedebista, que sucedeu duas administrações catastróficas, igualmente peemedebistas, que obteve esses bons resultados.
Além da redução nos homicídios e nos furtos e roubos de automóveis, os autos de resistência (mortos pela polícia), calcanhar-de-aquiles da política de segurança do governador Sérgio Cabral, caíram um pouco em 2008, embora se mantenham num nível inaceitável. Os furtos e roubos de veículos, cujos dados são confiáveis, continuaram caindo, mas os grandes ganhos foram anteriores, nos primeiros 18 meses dessa mesma administração.

Falta de consenso
A segurança pública se transformou num tema eleitoral relevante, num momento em que poucos governadores apresentam ou apresentaram bons resultados. Ter um governador peemedebista com resultados positivos na luta contra o crime e a violência e algumas administrações tucanas com resultados negativos simplesmente demonstrou que não se trata de questão partidária, de que um partido teria know-how, bons gestores, e, os demais, não.
Não é o partido, mas as políticas de segurança adotadas pelo governador e, mais especificamente, pelo seu secretário de Segurança Pública.
As políticas adotadas no Rio de Janeiro são consideradas duras, pela maioria dos analistas sérios, e até enfrentacionistas, pelos mais críticos. Diferem das implementadas em São Paulo, cuja explicação tampouco é consensual.
Há argumentos que enfatizam o crescimento do número de presos em São Paulo, outros que enfatizam a elevação da qualidade técnica e moral da polícia, outros que apontam para a redução da coorte jovem, mais inclinada aos crimes violentos, outras ainda apregoam os ganhos educacionais e muitas mais.
Não obstante, as políticas implementadas no Rio produziram resultados, inclusive algumas focalizadas, como as usadas em favelas e outras áreas específicas, os exemplos da favela Dona Marta e da Cidade de Deus sendo os mais recentes.
O crime e a violência, elementos-chave da segurança pública, entraram no debate político para ficar. A relevância está indicada pela mídia. O fato de o debate ter atingido a mídia acarretou sua melhora.
Já não bastam citações eruditas, afirmações ideológicas ou bravatas políticas: o debate, em alguns Estados, já se faz com dados, com análises estatísticas crescentemente sofisticadas, nas quais quem afirma tem que demonstrar. São boas notícias.


GLÁUCIO SOARES é sociólogo e pesquisador do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. É autor de "Não Matarás" (FGV).

Disputa com YouTube marca posição frágil das gravadoras



Primeiro foi a MTV, depois a Apple, e agora o YouTube. O setor de música, diante da queda nas vendas de CDs, vem repetidamente tentando encontrar novas fontes de receita e tem visto seus parceiros prosperarem.



Assim, no novo campo de batalha dos vídeos online, as companhias de música estão desesperadas por evitar os erros do passado mas encontram dificuldades para negociar com um novo e poderoso parceiro na Internet.


A decisão do Warner Music Group de retirar milhares de vídeos de música do YouTube, controlado pelo Google, anunciada no sábado depois do colapso de negociações contratuais entre as duas partes, demonstra até que ponto as gravadoras podem ter de ir para ganhar influência sobre o processo.


Algumas das maiores gravadoras estão até mesmo considerando a hipótese de formar um site conjunto de vídeos musicais a fim de ampliarem seu poder de negociação, disse um executivo de música, já que a disputa entre a Warner e o YouTube destaca as limitações de confiar em parceiros externos.


Uma joint-venture como essa se assemelharia à Hulu.com, da NBC Universal e News Corp, que veicula online programas de TV e poderia incluir o YouTube como parceiro, disse o executivo, que se recusou a ter seu nome revelado porque as negociações apenas começaram.


À medida que despencam as vendas de CDs e o mercado de canções em formato digital se desacelera, as gravadoras cada vez mais consideram os vídeos online como essenciais para o crescimento de suas receitas. Mas elas não têm mão forte nas negociações de licenciamento com o YouTube, o qual, em companhia do MySpace, se tornou uma das mais importantes ferramentas para descoberta de música pelos consumidores jovens.


Ecoando o sucesso da MTV Networks ou o do iTunes, da Apple, de 2003 para cá, o YouTube em três anos se tornou o maior site de vídeos online, com mais de 100 milhões de espectadores nos Estados Unidos em outubro, de acordo com a comScore, uma empresa que mede a audiência da Web.


"A primeira coisa que as crianças fazem quando ouvem sobre uma nova banda é ir ao YouTube para saberem mais", afirmou um executivo de uma grande gravadora que pediu para não ser identificado.


A Warner, terceira maior gravadora do mundo, foi a primeira grande companhia de mídia a assinar um acordo de licenciamento com o YouTube em 2006, permitindo que o site transmitisse clipes de música de grupos e artistas como Red Hot Chili Peppers e o rapper T.I.


O acordo, que expirou meses atrás, foi assinado antes do YouTube ser comprado pelo Google.


A Warner quer mais dinheiro do YouTube pelos direitos de transmissão dos clipes, mas o YouTube tem se recusado a abandonar os termos negociados anteriormente, segundo duas fontes próximas das discussões.


A Warner obteve do YouTube menos de 1 por cento de sua receita com produtos digitais de 639 milhões de dólares no ano fiscal de 2008, segundo uma fonte próxima da companhia.


A gravadora apostava que o YouTube seria uma força publicitária significativa atualmente, mas, em vez disso, o site se concentrou mais em construir audiência que em aumentar receita.


"Eles fizeram todas essas promessas iniciais de implementar identificação de áudio enquanto no meio tempo nós perdemos receitas e eles ficaram atrás de outros competidores", disse uma pessoa próxima da Warner Music, citando a rede social MySpace e a AOL como oferecendo melhores taxas.

Fonte: Reuters


Em 10 anos, presença negra nas universidades passou de 18 para 31,5%



As políticas de ações afirmativas adotadas até agora por universidades públicas e pelo governo federal, por meio do Prouni, tiveram impacto mais simbólico que prático sobre a participação dos pretos e pardos no ensino superior. Mesmo assim, verifica-se uma trajetória crescente na última década. Em 1998, pretos e pardos eram 18% dos estudantes de graduação. Em 2007, o número já era de 31,5%.


Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) mostram que, de 2002, quando as universidades começaram a instituir programas de cotas, a 2007, a participação de pretos e pardos no ensino superior público variou 1,8 ponto percentual --passou de 36,4% dos estudantes de graduação do setor para 38,2%. De 2001 a 2002, a variação foi de 2,8 pontos percentuais.


Pretos e pardos são nomenclaturas usadas pelo IBGE para a classificação de raça/cor, a partir da autodeclaração dos entrevistados.


Na rede particular, a presença do grupo passa de 26,2% para 29,5% de 2004 a 2007. A principal ação afirmativa no setor é o Prouni, que desde 2005 concede bolsas a estudantes carentes de escola pública na proporção igual à de pretos, pardos e indígenas de cada Estado.


O baixo impacto das políticas de ação afirmativa adotadas até agora pode ser explicado pelo fato de que a maior parte dos alunos não é afetada por elas.


No Prouni, os 197 mil pretos e pardos que entraram pelo programa desde sua criação correspondem a 45% dos bolsistas. Considerando os que entraram em 2006, porém, o ingresso representou apenas 1% do total de matrículas no ensino superior.


O impacto de cotas em universidades públicas também é restrito considerando-se que três quartos dos estudantes estão em instituições privadas.


Desde 2002, segundo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 33 universidades públicas, de ao menos 250, passaram a adotar algum tipo de cota racial.


O projeto de lei que o governo quer aprovar no Congresso prevê que 50% das vagas nas federais sejam reservadas a alunos de escolas públicas, e que esse percentual seja dividido de acordo com a proporção de pretos, pardos e indígenas de cada Estado.


Mesmo se aprovada, porém, a lei terá reflexo pequeno sobre o quadro geral, embora de fato aumentem a presença de pretos e pardos nas instituições federais em que as cotas forem instituídas.


Segundo o mais recente censo do ensino superior produzido pelo Inep, com dados de 2006, as federais respondiam naquele ano por 12,4% das matrículas em todos os cursos de graduação do país.


Caso as vagas para pretos e pardos correspondessem à sua representação na população brasileira -ou seja, 49,8%-, haveria uma reserva correspondente a 3,1% das matrículas no ensino superior.


"Há todo um engodo em torno desse assunto [lei que cria cotas]", diz José Luiz Petrucelli, pesquisador do IBGE, favorável às cotas. "Mesmo se essa lei tivesse sido aprovada e estivesse sendo cumprida, ela não tem um efeito prático muito importante. Tem um efeito simbólico muito importante, por isso tanta polêmica."


Os números acendem no movimento negro uma reivindicação de cotas em todas as universidades, públicas e privadas.


Segundo frei David, da ONG Educafro, essa reivindicação é planejada para daqui a cerca de três anos, já que, na atual lista de prioridades, vêm antes a aprovação do projeto de lei pelo Senado, a criação de bolsas para os alunos cotistas conseguirem se manter nos cursos e o monitoramento do desempenho acadêmico deles, para, segundo afirma, divulgar os benefícios da política para a população como um todo. A idéia não deve encontrar apoio no Ministério da Educação.

Crescimento

Mesmo com baixo impacto de ações afirmativas, a presença dos pretos e pardos no ensino superior, contando tanto o público como o particular, tem uma trajetória crescente na última década. Em 1998, pretos e pardos eram 18% dos estudantes de graduação. Em 2007, o número já era de 31,5%.


Para Simon Schwartzman, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), a principal razão para o crescimento é o aumento de matrículas, que foi de 187% na última década.


Isso aconteceu no ensino médio. A participação dos pretos e pardos nessa etapa passou de 42% para 50,5%, aumentando o número de pessoas aptas a cursar o ensino superior.


A qualidade da educação é um fator apontado para melhorar o acesso à universidade pela população mais pobre --e, conseqüentemente, de mais pretos e pardos, geralmente associados a essa faixa econômica.


Jorge Abrahão, do Ipea, diz que, aliadas à expansão das vagas nas universidades federais que vem ocorrendo sob o governo Lula, as ações afirmativas poderão produzir um impacto maior do que o de hoje.


Fonte: Folha de S. Paulo



HPV - 72% dos homens carregam o vírus no Brasil, diz pesquisa

FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo internacional, que envolve Brasil, EUA e México, está sendo conduzido para pesquisar o HPV em 4.200 homens de 18 a 70 anos.
A previsão é que o trabalho continue até 2013, mas resultados preliminares com 1.161 homens mostram que 72% dos brasileiros têm o vírus. A média dos três países é de 65,2%.
Foi observado também que a taxa de infecção no sexo masculino se mantém com o avançar da idade, enquanto nas mulheres o pico é na faixa dos 20 anos, diminuindo com o tempo.
Trata-se do primeiro estudo multicêntrico sobre o tema a envolver o Brasil. "Há duas décadas, devido ao grande problema que é o câncer de colo de útero, a premissa era estudar o HPV em mulheres. Aprendemos que a mulher contrai o vírus do parceiro, mas as pesquisas com homens não estão amadurecidas", diz Luisa Lina Villa, diretora do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer e coordenadora do trabalho.
O fato de o homem ter o vírus não significa que ele vá desenvolver lesões. A maioria dos pacientes é assintomática, mas alguns podem ter verrugas genitais e cânceres de pênis ou no canal anal. "Estudos mostram que 50% dos pacientes com câncer de pênis têm o vírus", diz o urologista Roberto Carvalho Silva, do Centro de Referência e Treinamento em DST/AIDS do Estado de São Paulo, que faz parte da pesquisa. Além disso, o homem pode passar o vírus para a parceira. "O HPV pode ser transmitido quando a pessoa se coça ou usa objetos infectados. Mas a maior transmissão é por via sexual."

Diferenças de gênero
Uma das variáveis que serão exploradas na pesquisa é o fato de a freqüência de HPV ser semelhante em pacientes de várias idades. Uma hipótese a ser testada é se os homens têm mais dificuldade do que as mulheres para eliminar o vírus. "Quase 80% das mulheres eliminam o vírus naturalmente no segundo ano", diz Silva.
Outra diferença entre gêneros são os tipos de HPV: ao contrário delas, eles tiveram maior freqüência de tipos que não levam a câncer.
Os pesquisadores agora buscam voluntários para completar o grupo. Devem ser homens sadios, de 18 a 44 anos, moradores de São Paulo e que nunca tiveram verruga genital ou câncer genital ou anal. Eles passarão por consulta a cada seis meses. O telefone para informações é 0/xx/ 11/5549-1967.

24% das jovens têm lesão por HPV no 1º ano de vida sexual

Segundo pesquisa da Fiocruz, 36,5% delas apresentam o problema após 5 anos

Câncer de colo de útero, decorrente de lesão de HPV, é o terceiro mais comum em mulheres, depois do câncer de pele e do de mama

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo realizado no Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz, com 403 garotas mostrou que, um ano após o início da vida sexual, quase uma em cada quatro delas já apresenta lesões causadas por HPV. Em cinco anos de vida sexual, 36,5% apresentam o problema. O câncer de colo de útero, decorrente das lesões, é o terceiro mais comum em mulheres, depois do de pele e do de mama.
A pesquisa foi feita pela ginecologista Denise Monteiro, com jovens de 11 a 19 anos atendidas entre 1993 e 2006 pelo Ambulatório de Ginecologia para Adolescentes do Hospital de Jacarepaguá (RJ). As pacientes não tinham lesões cervicais no início do estudo e haviam tido a primeira relação sexual havia menos de um ano.
Os dados mostraram que, no primeiro ano de atividade sexual, 97 delas (24,1%) apresentaram lesões no colo do útero. Ao longo do estudo, 147 desenvolveram o problema.
A primeira alteração geralmente era de baixa gravidade. Em 113 pacientes, foram encontradas lesões intraepiteliais de baixo grau. Em 12 jovens, foram detectadas lesões de alto grau. Ambas lesões são precursoras de câncer cervical, mas as de alto grau têm um maior potencial oncogênico.
Nas outras 22 jovens, o exame mostrou "alteração escamosa de significado não identificado". "O exame detectou alguma anormalidade, mas não pôde definir se era lesão de baixa gravidade ou outra coisa, como inflamação", diz Monteiro.
Um dado, porém, inquietou a pesquisadora. Mesmo com exames periódicos, parte das lesões já eram de alto grau na primeira vez em que foram detectadas. "Na história natural da lesão, ela começa como de baixo grau e, com os anos, evolui. Mas não é isso que temos observado. Em muitos casos, o vírus é tão oncogênico que a lesão já surge como de alto grau. Encontramos meninas com três meses de atividade sexual que já tinham lesão de alto grau", afirma Monteiro.

Vulnerabilidade
De acordo com Ismael Guerreiro da Silva, professor de ginecologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), as mulheres mais jovens são realmente mais vulneráveis ao HPV. Um dos motivos é que o sistema imunológico ainda não conhece o vírus e, portanto, não tem imunidade contra ele.
Além disso, há um fator fisiológico. Segundo Silva, entre as mulheres que têm de 12 a 20 anos, é muito comum encontrar uma ferida ao redor do orifício externo do colo do útero chamada ectopia. Essa lesão é normal, não corresponde a nenhuma doença, mas é uma área muito sensível ao HPV.
O lado bom, afirma o ginecologista, é que, na maior parte dos casos, há uma regressão completa da lesão. Nas de alto risco, a remissão costuma ocorrer em 14 meses e, nas de baixo risco, em oito. O aparecimento de lesões é mais preocupante quando ocorre em mulheres com mais de 30 anos.

Evolução da lesão
Na pesquisa de Monteiro, em dois anos, a maioria dos casos de "alteração escamosa de significado não identificado" (91%) e das lesões de baixo grau (63,3%) e a metade das lesões de alto grau regrediram. Mas houve também casos em que a lesão progrediu: 6,1% das lesões de baixo grau, por exemplo, passaram a ser de alto grau no período de dois anos.
De modo geral, as lesões de baixo grau são apenas acompanhadas pelos médicos, que buscam controlar com antibióticos infecções concomitantes, como candidíase. Quando a lesão é de alto grau, a recomendação é a retirada do colo do útero.
Essa medida, porém, também traz outras conseqüências. Segundo Monteiro, já foi constatado que mulheres que se submeteram a esse procedimento são mais sujeitas a ter partos prematuros.
Como o estudo mostrou que parte das lesões de alto grau regride, Monteiro defende que, dependendo do caso, o ginecologista busque acompanhar como o quadro da paciente evolui, antes de retirar o colo do útero. "Mas a escolha por só acompanhar é arriscada e deve ser feita com jovens esclarecidas e sobre as quais se tenha controle."

Fatores de risco
Em uma pesquisa anterior, também com pacientes do Hospital de Jacarepaguá, Monteiro avaliou por que algumas pacientes estavam mais vulneráveis ao aparecimento de lesões causadas por HPV. Ela mensurou a presença de cada fator de risco nas jovens e constatou que, a cada ano de atividade sexual, o risco de a paciente ter a lesão praticamente dobra. A gravidez na adolescência também dobra o risco.
O cigarro e o uso da pílula anticoncepcional são também considerados fatores de risco, segundo a literatura científica. No estudo, Monteiro não encontrou essa associação. "Pode ser que o cigarro não tenha aparecido devido ao baixo tempo de exposição. Como são muito novas, elas não fumavam há muito tempo ainda", disse.
Monteiro questiona ainda a idéia de que a infecção esteja ligada à promiscuidade. "Não encontrei nenhuma associação entre as lesões e o número de parceiros sexuais. Teoricamente, quanto maior o número de parceiros, maior a chance de um deles estar infectado com o vírus, mas tudo depende de quem é o parceiro", diz ela.

Estatuto ainda desconhecido

Maioria dos idosos não sabe quais são seus direitos
Evaldo A. D%u2019Assumpção, Biotanatólogo e bioeticista, presidente da Academia Mineira de Medicina
Após sete anos de penosa tramitação no Congresso Nacional, em 1º de outubro de 2003 foi sancionada a lei 10.741, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso. Cinco anos se passaram. Pesquisa realizada em 2007 pela Fundação Perseu Abramo, de São Paulo, em parceria com o Sesc, revela que um em cada quatro brasileiros com mais de 60 anos nunca ouviu falar do Estatuto dos Idosos. E os que o conhecem dele não se beneficiam. Com 70 anos, procuro nunca abrir mão dos meus direitos de idoso e, freqüentemente, descubro o quanto as leis no Brasil, especialmente as que não trazem vantagens para as grandes empresas, são totalmente desrespeitadas. E o Estatuto do Idoso é uma delas. Dou dois exemplos. No Banco do Brasil, apesar da placa dizendo: fila única. Prioridade para idosos, gestantes e deficientes, segundo uma das caixas que interpelei, a ordem da gerente era ter caixa único para essas pessoas. Flagrante infração da lei, que determina em seu artigo 3º do estatuto exatamente o que a placa dizia e, não, a existência de um caixa diferenciado para os idosos. Em razão disso, os que se encontravam na outra fila eram rapidamente atendidos, enquanto os cinco conformados idosos aguardavam passivamente. Insatisfeito, reclamei com o vigilante e ele filosofou: “Por que o senhor não entra na fila normal?” Atitude facilmente enquadrável no artigo 4º da mesma lei, que trata das punições aos seus infratores.

O segundo caso, situação bem mais comum, é o do ônibus, em que todas as cadeiras reservadas por lei para os idosos estão ocupadas por jovens que conversam animadamente, cuidando de olhar somente para o lado das janelas, nunca para o corredor. Noutra, um rapagão finge dormir. De quando em vez abre os olhos rapidamente, só para ver se já está chegando onde vai descer. Todos ignoram os três idosos, dois deles bastante decrépitos, de pé e sem coragem para reclamar seus direitos. Ressalto: direitos, e não benefícios. Pior ainda: o trocador e o motorista, a quem cabe cuidar da ordem dentro do ônibus, fazem ouvidos de mercador aos comentários dos três, que sofrem com as curvas, as arrancadas e paradas bruscas.

A isso se somam as ridículas aposentadorias famélicas, as agressões verbais no trânsito, a total falta de respeito aos que já foram jovens, trabalharam, construíram o mundo e agora são o que os imprevidentes jovens de hoje serão amanhã. Esperemos um ano novo melhor!

Tudo parece normal, apenas parece

Gilson E. Fonseca - Consultor de empresas
O Brasil que se desenvolveu tanto em todas as áreas científicas e tecnológicas, sendo destaque em muitas delas, tem nos decepcionado com a perda de valores morais e éticos, jamais imaginada. A corrupção ocupa o 5º lugar no mundo e as principais causas são problemas crônicos como a impunidade, educação precária, grupos de oligopólios e cartéis com grande influência governamental e a política comandada por “coronéis” que são verdadeiros sanguessugas do estado. O prof. Pierre Weill, falecido recentemente, grande estudioso do comportamento e valores humanos, diante de tantos desmandos e inconseqüências, inteligentemente, utilizou-se do neologismo normose para expressar tudo aquilo que é anormal e se vê como normal. A gerência holística, tão sonhada por ele, está longe de ocorrer: Brasília não deixa. Os três poderes da república estão contaminados e as notícias recentes, como no judiciário do Espírito Santo, são estarrecedoras.

Pessoas de bem estão extremamente preocupadas e tudo terá que começar pela educação das crianças, porque mudar adultos sem princípios morais é quase impossível. A aliada seria a Justiça, mas como a impunidade está generalizada, não se pode contar com ela. Quando pensamos que nada ruim pode ocorrer, depois de determinado fato, somos surpreendidos com outros piores e, parece, também, que a sociedade se cansou tanto que entregou os pontos e pouco reage e aí está o perigo de ela ver tudo normal.

Em 1994, com a desculpa de conhecer as riquezas do país, a Receita Federal permitiu declaração de bens sem comprovação de origem e de renda. Os sonegadores ganharam a legalidade, igualmente aqueles que sempre cumpriram com suas obrigações. Agora, a Receita irá anistiar quem deve até 10 mil reais. Como a carga tributária é de cerca de 40%, provavelmente, seja a causa dessa inadimplência. Até aí é aceitável, mas, desanimador mesmo é o governo federal declarar que estuda permitir a todos que mantêm contas no exterior, não declaradas, poder repatriá-las, sem comprovação de origem, pagando apenas 8% de Imposto de Renda. A alegação é de que o país precisa dar liquidez ao mercado , pela falta de crédito que a crise internacional está gerando, e estima-se que há US$ 70 bilhões no exterior escondidos. O estrago moral não seria muito pior? A maioria a ser beneficiada é de políticos corruptos, sonegadores, contrabandistas, traficantes, doleiros e deveria é estar presa. Outro fato intrigante é que se fala quase só dos corruptos, passando a idéia de que o corruptor não comete o mesmo crime. Um hospital sempre nos inspirou o maior respeito, mas não para os formandos em medicina do Paraná, que promoveram a maior baderna, inclusive soltando foguetes dentro do pronto-socorro, na casa que será deles, sem se importar com os doentes. As evidências do estado de normose são tantas que nosso futuro está seriamente comprometido pela falta de bons exemplos, que deveriam vir de cima e as primeiras vítimas são os jovens.

Governo diz que projeto de cotas para as federais pode ajudar a mudar o quadro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O governo reconhece o fosso entre negros e brancos no ensino superior, mas está cumprindo a sua parte com o Prouni e com o envio, ao Congresso, de projeto de lei que institui reserva de vagas para negros e estudantes de escola pública nas universidades federais, diz André Lázaro, secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC.
"O governo encaminhou o projeto de lei em 2004. Se ele tivesse sido aprovado, o cenário seria mais favorável", diz. Sobre o Prouni, afirma que o programa "não reduziu brutalmente a distância [entre brancos e negros], mas brecou". O projeto sobre cotas nas federais foi aprovado na Câmara e agora deve ser apreciado no Senado antes da sanção presidencial.
Lázaro defende que, para melhorar o quadro, é preciso aumentar a qualidade do ensino público, mas diz ser essencial a existência das cotas.
"Em todas as faixas etárias, a diferença entre brancos e negros no ensino superior vem caindo de modo bem expressivo, mas essa queda será insuficiente se a gente não conseguir estimulá-la, por exemplo, com a reserva de vagas", diz.
Lázaro também ressalta que as ações afirmativas podem não ter tido impacto estatístico sobre o quadro geral, mas foram importantes para os indivíduos que, de outra maneira, não teriam acesso ao ensino superior. Desde 2005, 197 mil negros entraram no ensino superior pelo Prouni. E, segundo estudo do Ipea, cerca de 58 mil entraram por cotas nas universidades públicas que adotaram o sistema, considerando que todas as vagas tenham sido ocupadas.
Em relação à reivindicação de cotas em todas as universidades, inclusive as particulares, defendida por frei David, da ONG Educafro, o secretário se mostra reticente. "O ministério vê com muito respeito a luta do frei David, mas não tenho clareza se esse instrumento é o melhor. O modo como o MEC se relaciona com o setor privado é regulatório, mas tem que ser construído em parceria."
Para o ministro Edson Santos, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, o problema também está na ausência de uma lei que determine a adoção da reserva de vagas em todas as universidades públicas.
Ao criticar os que atacam as cotas por considerar que não se aplicam a uma sociedade miscigenada, ele aponta que as cotas em universidades irão aumentar a presença de negros nos cursos mais elitizados. "Quero desafiá-los [os críticos] a mostrar essa miscigenação em medicina, engenharia, odontologia, cursos que exigem formação integral. Se eles provarem isso, ganham esse debate." (AP)

Para gêmeos da UnB, sistema é uma "furada"


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

René de Souza, 32, negro, tentou entrar na UnB por quatro anos. "Por ter feito o ensino médio em escola pública, eu tenho o direito de fazer escola pública", diz, ao justificar o fato de somente no ano passado ter se candidatado a ingressar em uma universidade particular por meio do Prouni.
Mas também pelo programa do governo federal ele não conseguiu passar, porque, para entrar nas universidades privadas que escolheu -instituições prestigiadas de Brasília-, precisaria ter tido uma nota maior do que a que obteve no Enem.
René defende o sistema de cotas, diferentemente dos irmãos gêmeos Alan e Alex Teixeira da Cunha, 19. No ano passado, eles protagonizaram uma polêmica quando apenas um deles foi considerado negro pela UnB, que depois reviu sua decisão.
Alan, que, como seu irmão, fez escola particular, hoje estuda educação física na universidade. Diz que tirou a melhor nota entre os cotistas do curso e que seria aprovado de qualquer maneira. "Essa história mostrou que é uma furada."

Cota não altera nº de negros na universidade

Participação de pretos e pardos no ensino superior público variou 1,8 ponto percentual -passou de 36,4% dos alunos para 38,2%

Número de estudantes negros nas universidades particulares passou de 26,2% para 29,5% de 2004 a 2007; Prouni dá bolsas desde 2005

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As políticas de ações afirmativas adotadas até agora por universidades públicas e pelo governo federal, por meio do Prouni, tiveram pouco impacto sobre a participação dos pretos e pardos no ensino superior.
Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) mostram que, de 2002, quando as universidades começaram a instituir programas de cotas, a 2007, a participação de pretos e pardos no ensino superior público variou 1,8 ponto percentual -passou de 36,4% dos estudantes de graduação do setor para 38,2%. De 2001 a 2002, a variação foi de 2,8 pontos percentuais.
Pretos e pardos são nomenclaturas usadas pelo IBGE para a classificação de raça/cor, a partir da autodeclaração dos entrevistados.
Na rede particular, a presença do grupo passa de 26,2% para 29,5% de 2004 a 2007. A principal ação afirmativa no setor é o Prouni, que desde 2005 concede bolsas a estudantes carentes de escola pública na proporção igual à de pretos, pardos e indígenas de cada Estado.
O baixo impacto das políticas de ação afirmativa adotadas até agora pode ser explicado pelo fato de que a maior parte dos alunos não é afetada por elas.
No Prouni, os 197 mil pretos e pardos que entraram pelo programa desde sua criação correspondem a 45% dos bolsistas. Considerando os que entraram em 2006, porém, o ingresso representou apenas 1% do total de matrículas no ensino superior.
O impacto de cotas em universidades públicas também é restrito considerando-se que três quartos dos estudantes estão em instituições privadas.
Desde 2002, segundo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 33 universidades públicas, de ao menos 250, passaram a adotar algum tipo de cota racial.
O projeto de lei que o governo quer aprovar no Congresso prevê que 50% das vagas nas federais sejam reservadas a alunos de escolas públicas, e que esse percentual seja dividido de acordo com a proporção de pretos, pardos e indígenas de cada Estado.
Mesmo se aprovada, porém, a lei terá reflexo pequeno sobre o quadro geral, embora de fato aumentem a presença de pretos e pardos nas instituições federais em que as cotas forem instituídas.
Segundo o mais recente censo do ensino superior produzido pelo Inep, com dados de 2006, as federais respondiam naquele ano por 12,4% das matrículas em todos os cursos de graduação do país.
Caso as vagas para pretos e pardos correspondessem à sua representação na população brasileira -ou seja, 49,8%-, haveria uma reserva correspondente a 3,1% das matrículas no ensino superior.
"Há todo um engodo em torno desse assunto [lei que cria cotas]", diz José Luiz Petrucelli, pesquisador do IBGE, favorável às cotas. "Mesmo se essa lei tivesse sido aprovada e estivesse sendo cumprida, ela não tem um efeito prático muito importante. Tem um efeito simbólico muito importante, por isso tanta polêmica."
Os números acendem no movimento negro uma reivindicação de cotas em todas as universidades, públicas e privadas.
Segundo frei David, da ONG Educafro, essa reivindicação é planejada para daqui a cerca de três anos, já que, na atual lista de prioridades, vêm antes a aprovação do projeto de lei pelo Senado, a criação de bolsas para os alunos cotistas conseguirem se manter nos cursos e o monitoramento do desempenho acadêmico deles, para, segundo afirma, divulgar os benefícios da política para a população como um todo. A idéia não deve encontrar apoio no Ministério da Educação.

Crescimento
Mesmo com baixo impacto de ações afirmativas, a presença dos pretos e pardos no ensino superior, contando tanto o público como o particular, tem uma trajetória crescente na última década. Em 1998, pretos e pardos eram 18% dos estudantes de graduação. Em 2007, o número já era de 31,5%.
Para Simon Schwartzman, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), a principal razão para o crescimento é o aumento de matrículas, que foi de 187% na última década.
Isso aconteceu no ensino médio. A participação dos pretos e pardos nessa etapa passou de 42% para 50,5%, aumentando o número de pessoas aptas a cursar o ensino superior.
A qualidade da educação é um fator apontado para melhorar o acesso à universidade pela população mais pobre -e, conseqüentemente, de mais pretos e pardos, geralmente associados a essa faixa econômica.
Jorge Abrahão, do Ipea, diz que, aliadas à expansão das vagas nas universidades federais que vem ocorrendo sob o governo Lula, as ações afirmativas poderão produzir um impacto maior do que o de hoje.

Brasil comemora os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos


Entre terror estatal e supremacia branca, o Brasil comemora os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Por Jaime Amparo Alves* e João Costa Vargas**

O ano de 2008 deve terminar com novos recordes de mortes por agentes do Estado nas capitais brasileiras, marcadamente Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife. No ano dos cento e vinte anos da abolição formal da escravidão, dos vinte anos da chamada Constituição Cidadã e dos sessenta anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, nada a comemorar: o terror racial se solidifica e a morte do povo negro é, mais que nunca, condição indispensável para a garantia da paz.

Dois recentes acontecimentos dão um balanço parcial do que celebrar no sexagésimo aniversário da Declaração da ONU: o assassinato do menino Matheus Rodrigues, de oito anos, executado pela Polícia Militar, na Baixa doSapateiro, Complexo da Maré, no ultimo dia 05 de dezembro, e a absolvição, no último dia 10, do policial militar William de Paula, acusado de homicídio duplamente qualificado do menino João Roberto, de 3 anos. A lista de atrocidades nas comemorações da Declaração poderia ser mais extensa e incluir mortes anônimas ainda sem explicação, como a de LucasHungria Trindade, 16 anos, Alexandre Fraga, de 17 anos, Ricardo Matos dos Santos, de 21 anos, mortos pela polícia militar baiana em janeiro deste ano. Ou ainda a morte de sete jovens no Jaraguá (zona norte de São Paulo), em mais umadas incontáveis execuções sumárias no município.

Guilherme Pinto - ExtraA Declaração de 1948 surgiu no rastro de atrocidades da Segunda Guerra Mundial, e tinha como um de seus principais objetivos a prevenção de genocídio. Assustada com o horror de Hitler em casa, embora acostumada a exercê-lo nas suas colônias, a Europa – e os Estados Unidos – assumiu a vanguarda de proteger os direitos humanos a partir de uma carta universal que tem como pano de fundo o homem branco europeu/anglo-saxão. Como era de se esperar, o conceito abstrato e universalista de ‘direitos humanos’ não incorpora, e não poderia incorporar, as vastas populações que não se incluem na categoria do ideal humano. Os povos negros e indígenas representam a antítese do conceito e por isso estão fora do âmbito de proteção contra as políticas de terror impetradas em nome da paz. E aqui a lógica se aplica tanto no âmbito internacional, quanto nas relações internas do Estado com suas populações.

Entre todas as estratégias de genocídio do povo negro, as ações da polícia militar e civil nos morros cariocas, na periferia de São Paulo, na Grande Recife, ou no subúrbio soteropolitano são as que expõem de forma mais crua as fraturas da política de direitos humanos do Estado brasileiro. O balanço é de terror: em 2007, a Secretaria de Segurança Pública do Rio registrou 1.330 ‘autos de resistência’ seguidos de morte. Somente nos seis primeiros meses de 2008 já foram 849 mortes. Entre 1997 e 2006, oficialmente, foram assassinadas 7.244 pessoas no estado do Rio, de acordo com as organizaçoes de direitos humanos. Na Bahia, o terror não é diferente: segundo relatório da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, entre os anos de 1998 e 2004, foram assassinadas 6.308 pessoas em Salvador e região metropolitana, das quais 93% eram negras. Sob as mesmas justificativas e com as mesmas estratégias de seleção de suspeitos e execução sumária, a polícia de São Paulo matou 5.333 pessoas entre 1996 e 2006. E estes são apenas os números oficiais permitidos vir a público.

Quais os limites do Estado genocida brasileiro? Não há limites. Como se vê, a absolvição de agentes do Estado acusados pelo assassinato de crianças é sinal verde para que as políticas de extermínio sejam levadas ao seu grau-zero, com a destruição literal de corpos negros infantis com tiros de canhão e metralhadora. Nesse sentido, se o assassinato do menino João Roberto, filho da classe média, pode ser lido como atrocidade, tragédia na prática policial, o que dizer do terror racial sistematicamente vivido por tantas crianças negras nas favelas cariocas? O assassinato do menino Wesley Damião da Silva, de três anos, um dos seis mortos há um ano na operação policial no morro do Jacarezinho, na zona norte do Rio, não mereceu nenhuma linha na imprensa, muito menos explicação das autoridades públicas. O mesmo pode ser dito do assassinato de Iury Andrade da Rosa, de 12 anos, morto em maio de 2007 na operação militar que deixou 17 mortos no Complexo do Alemão. Resistência seguida de morte / auto de resistência: este é o carimbo que sela o anonimato das vítimas e o consolo aos que ficam para enterrar os corpos. Aqui está explícita a licença para invadir residências, torturar, matar suspeitos em nome da ordem. É a política da terra arrasada e do uso permanente do terror como forma de combate ao crime.

As duas máximas são: bandido bom é bandido morto, e “não se pode fazer uma omelete sem quebrar os ovos”, como nos lembra o secretário de segurança pública do Rio. Nesse sentido, se há tempos já se tornaram naturalizadas as cenas brutais de homens negros sendo metralhados por helicópteros da polícia em incursões militares, se o caveirão já se incorporou à geografia dos morros cariocas - assim como o camburão preto se incorporou à geografia do subúrbio de Salvador e Recife, e a Rota à hiperperiferia paulistana - porque a morte de crianças negras com balas no coração iria comover a classe média branca brasileira?

Cínica, dissimulada e cruel, a ‘turma do asfalto’ nega o terror racial em que vivemos. Os seus mais ilustres representantes ocupam os principais meios de comunicação para defender a insustentável tese da excepcionalidade brasileira: o Brasil, ao contrário da África do Sul e dos Estados Unidos, não segrega, nem lincha seus negros, dizem nossos neofreirianos. A verdade é que o Jim Crown brasileiro é tão perverso quanto o dos Estados Unidos, ou o sistema de apartheid da África do Sul. A excepcionalidade pode ser o fato de que se naqueles países se iniciou há décadas um sistema de reparação, por certo ainda longe de concluído, aqui o linchamento de negros em praça pública e a segregação nos morros caminham a passos largos.

No cálculo do cinismo neofreiriano está a lógica racial da sustentabilidade da supremacia branca: admitir que o sistema criminal penaliza os negros, admitir que a favela é a reatualização da senzala e admitir que raça informa a distribuição da morte prematura de homens negros no país equivaleria a aceitar a tese do genocídio negro e suas implicações políticas para os racialmente privilegiados. A política de segurança pública do nosso tempo é a política da descartabilidade do corpo negro. Estes são os princípios que orientam as políticas nazifacistas de segurança pública de Sérgio Cabral no Rio, José Serra em Sao Paulo, Jaques Wagner,em Salvador, Eduardo Campos, em Pernambuco, e, por que não, a política de Lula com sua selvagem Força Nacional de Segurança.

Portanto, se o massacre do povo negro, e da juventude negra de modo particular, é condição indispensável para a paz dos brancos, não há outra saída a não ser lutar. E é nesse contexto de lutas em que nos encontramos que se põe para nós uma questão a nosso ver essencial: re-pensar a nossa posição política em relação ao Estado. Como buscar reconhecimento de direitos de cidadania de um Estado assassino? Quais os limites do diálogo entre o movimento negro e o Estado genocída? Não seria o caso de que aceitando os termos e dialogando com o Estado o movimento negro legitima suas ações? A constatação desconcertante é a de que, em que pesem a qualidade e o ainda ínfimo número de cargos, é inédita tamanha representatividade negra nos postos do Estado. Até a polícia militar começa a falar em programa de diversidade! E a máquina não pára... o sangue negro jorra - e jorra forte - nas ruas Brasil a fora. Voltaremos ao assunto. Por hora, viva os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, viva a supremacia branca!

*Jaime Amparo Alves – é jornalista
**João Costa Vargas – é professor de antropologia na Universidade do Texas, em Austin.

Rádio e TVs são obrigados a divulgar autores das músicas



As emissoras de rádio e televisão do País são obrigadas a informar ao público os dados das músicas executadas durante a programação diária. A proposta, que visa facilitar a fiscalização de direitos autorais e valorizar os criadores das obras musicais, do deputado Ivan Valente (Psol-SP), foi aprovado na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, este mês.



Segundo o texto aprovado, os programas deverão informar o título da música, o autor da letra e da melodia, e o intérprete. No caso de músicas eruditas, a informação deverá recair sobre o autor, a nome da orquestra e do regente. Os dados podem ser veiculados antes ou após a execução.


O texto determina que as informações deverão ser prestadas até mesmo nas execuções públicas. Nesse caso específico, o desrespeito sujeita os responsáveis pelo evento a multa de 20 vezes o valor do direito autoral devido.


Os recursos arrecadados, segundo a proposta, serão revertidos para o Fundo Nacional de Cultura (FNC). Instituído pela Lei de Incentivo à Cultura, o FNC é usado para financiar projetos culturais no País.


Outro aspecto importante do projeto, apresentado pelo relator, deputado Carlos Abicalil (PT-MT), é a exigência imposta às emissoras de rádio e TV de divulgar no seu site na internet, no último dia útil de cada mês, a relação completa das músicas veiculadas durante o mês.


O projeto, que tramita em caráter conclusivo, já havia sido aprovado pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. A proposta ainda será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).


Com Agência Câmara

Escola e Esperança

Liberal só na aparência, a escola continua autoritária
Lair Mattar - Mestre em educação pela UFMG
O aumento da violência nas escolas públicas e particulares brasileiras, em geral, tem sido atribuído à omissão das famílias na educação dos filhos, quando, na verdade, pode ser conseqüência da falta de adaptação das crianças e dos jovens ao mundo. Os valores de quase toda sociedade contemporânea vinculam-se à produção e ao lucro, mas, já que a criança e o jovem não os geram, passaram a ser vistos apenas sob a ótica de consumidores. Embora vivam melhor do ponto de vista do conforto material que a tecnologia oferece e de certa liberalidade que podem ter no comportamento, as pessoas de todas as faixas etárias sentem que sua participação social restringe-se a consumir o supérfluo. O que é particularmente doloroso para quem não tem dinheiro para exercer esse papel indigno destinado aos cidadãos. Além disso, frente ao discurso amoroso das religiões, a desigualdade social é uma contradição difícil de ser compreendida pelos mais jovens, que ainda não aprenderam a lidar com a hipocrisia.

A vida verticalizou-se; não há mais casas com quintais, na periferia pobre das grandes cidades do País. A maior parte da população vive em apartamentos pequenos e em ruas barulhentas, ou em condições piores, nas favelas. Os pais e as mães precisam sair para trabalhar fora, deixando as crianças sozinhas. Fechadas em pequenos espaços, em virtude da violência, elas acabam ficando muitas horas sob o domínio da televisão, que lhes estimula o consumo. O lazer é caro para as famílias que não dispõem de recursos financeiros sequer para se alimentar, por outro lado, as mais afortunadas têm poucas opções além da ida ao shopping, nos fins de semana.

A sociedade brasileira ainda não se deu conta de que está sonegando às crianças e aos jovens outra parte da vida, que foi tão importante para as pessoas de outras gerações. Trata-se do contato com a natureza, que não pode ser substituído por qualquer outra atividade, pois é por meio dele que as pessoas conseguem transcender à dimensão meramente material da existência. A globalização produziu cidadãos alienados para o consumo de toda espécie, e fez a todos reféns. Assim, na escola, a educação, que se mostra liberal na aparência, continua, em sua essência, autoritária, pois não consegue apresentar alternativas de vida para as novas gerações. Aquelas professoras e professores que eram amados porque levavam seus alunos a querer transformar o mundo, e que inspiraram homens e mulheres que deram e ainda estão dando uma contribuição valiosa para nossa história, quase não existem mais. Quando uma menina de 11 anos escreve de Ibirité, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, para o “Papai Noel dos Correios”, desejando que ele viva mais mil anos, vem-nos o temor provocado pelo aquecimento global. Quando, porém, pede cadernos de desenho e conta, com entusiasmo, que costuma compartilhar seu material escolar com seus colegas de turma, vizinhos e primos, a chama da utopia volta a iluminar a noite do planeta.

Ele não nasceu numa manjedoura


por Michelle Amaral da Silva última modificação 19/12/2008 13:48
Colaboradores: Silvia Beatriz Adoue

Nenhuma boa estrela anunciou a chegada de Carlos, mas a mãe o recebeu, como se fosse trazido por um anjo. Um garoto comum entre todos os garotos comuns de Bauru, com uma mãe e uma irmã, como todas as mães e irmãs que lutam cada dia para manter a casa em pé com a maior decência

Nenhuma boa estrela anunciou a chegada de Carlos, mas a mãe o recebeu, como se fosse trazido por um anjo. Um garoto comum entre todos os garotos comuns de Bauru, com uma mãe e uma irmã, como todas as mães e irmãs que lutam cada dia para manter a casa em pé com a maior decência

19/12/2008


Silvia Beatriz Adoue


Ele não nasceu numa manjedoura, também não chegou aos 33 anos e nem surpreendeu os doutores do templo com a sua sabedoria. Há, porém, um par de coincidências entre os dois garotos. Para começo de conversa, os dois vieram ao mundo numa família pobre. Nenhuma boa estrela anunciou a chegada de Carlos, mas a mãe o recebeu, nove anos após o nascimento da sua filha, como se fosse trazido por um anjo. Foi um garoto comum entre todos os garotos comuns de Bauru (SP), com uma mãe e uma irmã, como todas as mães e irmãs que lutam cada dia para manter a casa em pé com a maior decência.


Mesmo que esteja num canto da sala, a máquina de costura é o coração da casa. Nela se revezam mãe e filha para pagar as contas. Aquela máquina, elas pensam, é uma bênção. Sem ela, não teriam segurado as pontas. O menino cresceu ouvindo aquele barulho intermitente como um acalanto. RRRRRRRR (silêncio) RRRRRRRR (silêncio). Não há feriado. Só param o barulho para não atrapalhar o sono dos vizinhos. Do seu quarto, era só ouvir o barulho e o Carlinhos podia adivinhar o gesto de cada uma das mulheres da casa. A irmã mais rápida, com intervalos menores. RRRR (...) RRRR (...). A mãe, mais cuidadosa, fazendo olhinho de japonês, já não enxergando. Ela sempre esquece de acender a luz. Trabalhando no escuro? Acende a luz, mãe. Nos últimos tempos, Carlos começou a ter raiva do barulho da máquina, raiva do esforço das mulheres que apenas lhes deixava tempo para comer, dormir e tomar banho. Serviço não se rejeita. A conversa, o filme, o cafuné e os planos de estudar junto, tudo que é bom ficava adiado. Ano próximo a gente volta, fazemos supletivo.


Tudo nessa casa ficava para depois. Eles tentaram, bem que tentaram. Foi bem difícil com Carlinhos. Ele não era bom pros estudos. Todo mês mudava a professora. E as que duravam mais também não tinham paciência com aquele bando de moleques. Carlinhos ia ficando para trás e a professora não reparava. A mãe também não sabia ajudá-lo com a lição. Ficou três anos na quarta série. Deu uma esticada boa de repente, os pelos crescendo nas pernas. Tinha vergonha de ficar entre as crianças menores e foi ficando cada vez mais caladão. Mais triste. Cada vez com mais raiva do barulho da máquina. Ia logo pro quarto ouvir música de fone de ouvido.


Quando era mais novinho, a máquina o fascinava. Ficava em pé observando a agulha subindo e descendo rapidão, mastigando o pano. Cuidado com a mão, Carlinhos, que você machuca. Ele ficava olhando hipnotizado. Mas, no último ano, o olho dele desviava da agulha, desviava da máquina, desviava dos olhos das mulheres da casa. Havia sangue no olho do menino. Não podia ouvir o barulho da máquina que saía pra rua. Pra onde você vai, menino? Vou co’s amigos. Esses amigos... Ele tem que fazer alguma coisa, mãe. Sem estudo, não vai conseguir emprego decente.


A mãe, Elenice, se matriculou com ele. Toda noite iam juntos pra aula e depois faziam juntos a lição de casa. Carlinhos recuperou a mãe da máquina. Era tão bom poder ser criança outra vez. Ele estava gostando, e aprendia. Mas tinha as contas pra pagar, aparecia serviço urgente. Carlinhos, vou ficar para terminar este serviço, você pega a matéria e a gente estuda junto depois. Faltou um dia e depois outro. Se a senhora não for, eu também não vou. A dona Elenice ficava agoniada, entre a espada e a parede. Como que era? Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.


O bicho comeu. Carlinhos parou de ir pra escola. E saía direto pra rua. A dona Elenice tentava segurar. Ele até tem seu quarto. Mas co’barulho da máquina nem dá pra assistir televisão. Lembra. Ela lembra daquele dia que olhou pro seu menino. Aquele menino que nenhuma estrela anunciou, mas que ela recebeu como se fosse trazido por um anjo. Olhou bem no fundo do olho do menino de sangue no olho, pra além do sangue no olho, lá no fundo. Ano próximo a gente matricula de novo. Sim, mãe. Ano próximo a gente volta. E saiu pra rua.

Naquela sexta-feira, perto do Natal, Carlinhos apareceu com uma moto. De quem é essa moto? De um colega, mãe, vamos dar uma volta na avenida e depois ele pega.


Dona Elenice olha pra trás. Pensa como as coisas chegaram até esse ponto. Uma e outra vez pergunta a si mesma como podia ter evitado. Naquela madrugada, chegaram 6 policiais batendo com força na sua porta e gritando. É um erro, pensou. Mas não, estavam atrás do Carlinhos. Cinco ficaram trancados com ele e um ficou na sala com as mulheres. Horas a fio trancafiados. Devia ser um erro. Eles iam perceber. Meu filho é um menino. Eles vão perceber. Ele só tem 15 anos. É procedimento normal, senhora. No começo, ela até confiou. Mas ouviu, entre os gritos dos policiais, os gemidos do Carlos, mais menino que nunca no mesmo quarto onde ele se deitava para ouvir música. Na estante, ainda, os cadernos de escola. A porta se abriu e viu seu filho carregado, inconsciente, para fora da casa.


No quarto, os CDs fora das caixinhas, os cadernos no chão, o fio desencapado. Na sala, a máquina de costura, agora silenciosa, sem acalantos para o menino que não nasceu na manjedoura.


Silvia Beatriz Adoue é professora da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF).

O almirante negro

MÁRIO MAGALHÃES

NADA COMO SENTENÇAS e pitacos sobre o passado para revelar cabeças e miolos do presente. Por dever de ofício, horas antes da inauguração da estátua do marinheiro de primeira classe João Cândido Felisberto, no dia 20 de novembro, indaguei à Marinha sua opinião acerca da homenagem.

O presidente da República participava do ato diante da baía de Guanabara, a mesma onde em 1910 mais de 2.000 marinheiros -boa parte negra- se sublevaram em quatro navios de guerra contra os castigos físicos que perduravam na Força, decorridos 22 anos da Abolição.
Foram mortos quatro oficiais a bordo e duas crianças em terra, quando a então capital foi bombardeada pelos rebeldes. O episódio se tornaria célebre como a Revolta da Chibata. A refrega foi determinante para o ocaso das atrocidades herdadas da escravidão.
Líder do movimento, João Cândido acabaria pouco tempo depois em cana, em uma ilhota junto com 17 companheiros. Só ele e um outro saíram vivos. O velho marinheiro morreria pobre em 1969. Aldir Blanc e João Bosco dedicaram-lhe um samba de antologia no qual foi aclamado como "Almirante Negro" -questões paralelas impuseram a mudança da letra para "Navegante Negro".
Noventa e oito anos após o levante, o Centro de Comunicação Social da Marinha respondeu que não identifica "heroísmo nas ações daquele movimento. Entretanto, nada tem a opor à colocação da estátua, desde que haja o cuidado de evitar inserções ofensivas à Força e às vítimas dos amotinados".
Por inserções ofensivas talvez se entenda a recusa ao hábito de açoitar o tronco dos marinheiros como o dos escravos nos pelourinhos décadas antes. Ainda hoje, a Marinha do Brasil ensina: tratou-se de "um triste episódio da história do país" -a Revolta da Chibata, não o cotidiano de corpos golpeados.
A Marinha, que em 1964 conheceu de perto a indisciplina militar, melhor faria se cultivasse a cautela. Enquanto Lula exaltava João Cândido e os revoltosos, a Força os condenava. Ao arrolar as atribuições do presidente, a Constituição obriga-o a "exercer o comando supremo das Forças Armadas". Chefe de um governo pusilânime diante dos militares, Lula fez que não ouviu a insubordinação.
Pior do que peitar o comandante das Forças Armadas -e as bases do Estado Democrático de Direito- é a sobrevivência de um pensamento que justifica as chibatadas, ao demonizar quem contra elas se insurgiu. A história, contudo, é implacável: enquanto a Marinha mantém a pregação anacrônica, João Cândido, feito estátua, contempla as águas da Guanabara onde um dia combateu o bom combate.


MÁRIO MAGALHÃES, repórter especial da Folha, escreve hoje excepcionalmente neste espaço.

A adoção por famílias homossexuais

Maura Angélica de Oliveira Ferreira, juíza de Direito da 1ª Vara Regional do Barreiro, especialista em Direito Público, doutoranda em Ciências Sociais e Jurídicas, professora no curso de Direito da Faculdade Metropolitana
Hoje, a adoção é totalmente regulada pelo Código Civil (CC) e podemos chamá-la de irrestrita, pois é irrevogável e estabelece vínculos absolutos de filiação entre o adotando e o adotante. Fora do CC ficaram só os casos de adoção por estrangeiros, ainda regidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Desprezaram todos os laços de consangüinidade, desvinculando-se, definitivamente, o adotado de sua família biológica, tornando-o, de forma absoluta, filho da nova família. Nada mais fez o legislador que cumprir as disposições do artigo 227 da Constituição da República de 1988.


Qualquer pessoa pode adotar isoladamente outra, bastando apenas ser maior de 18 anos e que entre ele e o adotando haja uma diferença de idade de 16 anos. A adoção só se processa por meio do Judiciário e, depois da sentença, ela se torna irrevogável, transformando o adotando em membro da família, como se biologicamente assim já o fosse. Em conseqüência, ele se torna parente não só dos adotantes, mas de todos os seus ascendentes, descendentes e colaterais, inclusive para efeitos sucessórios.

Com a existência de um Estado Democrático de Direito, a instituição “família” assumiu novos contornos: deixou de lado os valores que a constituíam e passou a se fundamentar nas relações de afeto, no interesse de vida comum, independendo até da existência de vida sexual, vez que já se admite reprodução da espécie sem sexo e sexo sem matrimônio, assim como existem pessoas ligadas pelo casamento e que optam por não ter prole, e filhos sem um dos pais.

Constatamos que o conceito de família modificou-se substancialmente. A regra não é mais a família formada por homem e mulher ligados pelo casamento e com filhos. Até mesmo a Constituição Federal cedeu a essa nova concepção de família quando criou a figura da “união estável” e concedeu o poder familiar àquele que estivesse no comando, e não ao pai de família tradicionalizado na figura do homem. Com a igualdade entre as pessoas e a proteção dos filhos até mesmo fora do casamento, este deixou de ser o pilar da família, que hoje é constituída pela união de pessoas ligadas pelo afeto, pela comunhão de vida e parceria.

Pautando-nos nessa orientação constitucional que igualou as pessoas, no princípio da dignidade da pessoa humana e daquele que proíbe qualquer discriminação, não podemos deixar de admitir que hoje existam famílias formadas por homossexuais. Porém, apesar desta evidência fática e social, as uniões entre pessoas do mesmo sexo ainda encontram resistência jurídica, que a mim se apresenta como um retrocesso sociocultural, um apego ao revogado CC, resquício de um patriarcado que não tem mais sentido.

Sendo a família constitucionalmente admitida como aquela formada pelo afeto, todas as uniões que visem à constituição de uma relação sólida, contínua e duradoura, permitindo aos seus componentes alcançar a realização pessoal, o crescimento individual, o desenvolvimento socioafetivo que os torne cidadãos melhores têm que ser admitidas como unidades familiares merecedoras da proteção estatal. Em face disso, filio-me à corrente daqueles que entendem já ser constitucionalmente protegida a união familiar entre pessoas do mesmo sexo, porque família é instrumento, e devemos proteger todas as formas de vínculos afetivos, mesmo aqueles não previstos expressamente em lei, mas que se identifiquem com o sistema constitucional.

Definido que a união entre pessoas do mesmo sexo, se presentes os requisitos da notoriedade, publicidade, coabitação e fidelidade, constitui-se em uma unidade familiar que merece receber a proteção do Estado, devemos indagar agora sobre a possibilidade de essa família homossexual adotar filhos. Quando falamos inicialmente sobre a adoção, enfatizamos o fato de que qualquer “pessoa” pode adotar. Demos ênfase à palavra pessoa porque, ilogicamente e de forma hipócrita, com preconceito, admite-se que um homossexual, isoladamente, adote um filho, mas não se permite que esse mesmo filho seja adotado também pelo parceiro sexual daquela mesma unidade familiar.

Puro preconceito, mascarado sob o manto de alguns segmentos sociais, que alertam para provável perigo de identificação entre o filho adotivo e o modelo do adotante, que por lealdade afetiva também se tornaria homossexual. Nada mais retrógrado e preconceituoso. Por menos conhecimento que tenhamos no ramo das ciências, sabemos que a criança se identifica com a função exercida pelos seus genitores, independentemente do sexo, ou seja, ela se identifica de forma masculina com aquele que exerce a função paterna e de forma feminina com quem exerça a função materna, não importando se quem as exerça seja do sexo masculino ou feminino.

A orientação sexual dos pais não é causa determinante no desenvolvimento da personalidade da criança. Será que todas as crianças educadas por famílias heterossexuais se tornam heterossexuais? Se assim fosse, de onde teriam surgido aquelas que posteriormente se decidiram pela homossexualidade? Há uma série de argumentos, sem fundamentos, a querer enfatizar a proibição da adoção por homossexuais, seja ela concomitante ou não. Chega-se até à ridícula argumentação de que não haveria como colocar no registro civil o nome de um homem como mãe ou de uma mulher como pai em caso de adoção concomitante. Nada mais fácil de resolver: bastava consignar no registro: “nome dos pais” ou “nome das mães”.

Muito mais séria do que tais discussões fúteis e discriminatórias é a situação de milhares de menores que moram nas ruas, abandonados em orfanatos ou qualquer outra instituição ou abrigo. Nenhuma instituição dessas, por mais estruturada que seja, pode oferecer aquilo que de fato necessita uma criança: amor e afeto, carinho e aconchego de família. Admitir-se a adoção por famílias homossexuais, com certeza ajudaria em muito a minimizar a questão do menor abandonado, que, com certeza passaria a ser educado com assistência material e intelectual, recebendo carga de amor, afetividade e carinho necessários e suficientes para se tornar um adulto saudável e produtivo como convém à sociedade e ao Estado.

PICHADORES

Castigo para quem suja
Ministério Público identifica vândalos que poluem a cidade e começa a aplicar punições aos integrantes das gangues que atuam principalmente na Região Centro-Sul da capital
Bernardino Furtado
Sidney Lopes/EM/D.A Press - 13/11/08
Muro do Colégio Estadual Central, no Santo Antônio, alvo dos grupos formados por adolescentes

A investigação sobre gangues de menores de idade de Belo Horizonte que usam a internet para fazer apologia da pichação, do uso de armas de fogo e de drogas começou a colher os primeiros resultados. Nos últimos dias, a Coordenadoria de Combate aos Crimes Cibernéticos do Ministério Público Estadual (MP) encaminhou ao Juizado da Infância e da Juventude quatro adolescentes, todos de classe média alta, identificados graças ao monitoramento de imagens no site de relacionamento Orkut. Três deles confessaram a autoria de pichações nos bairros Buritis e São Bento. O quarto negou ser pichador, mas admitiu que é o rapaz que aparece numa fotografia no Orkut com uma tarja nos olhos e um revólver na mão diante de um espelho rabiscado.

Segundo a promotora Vanessa Fusco, que coordena a investigação, mais oito adolescentes serão ouvidos nas próximas semanas. Ela explicou que, apesar da negativa, há provas de que o garoto da arma participou de pichação nos muros dos colégios Santo Tomás de Aquino, no São Bento, e Coração de Jesus, no Funcionários. O menor, que assina as pichações com a alcunha de ‘Shot’, e um comparsa, também ouvido pelo MP, moram em apartamentos de alto padrão no próprio Bairro São Bento, um dos mais nobres da Região Centro-Sul de Belo Horizonte.

A situação de Shot, por sinal, é a mais grave. Além de recuperar a pintura dos prédios pichados, tende a ser penalizado com multa e a obrigação de prestar serviços à comunidade por um determinado período, segundo a promotora. Isso porque ele tem uma passagem recente pela polícia. Em outubro, foi apreendido por porte ilegal de arma e passou uma noite nas dependências da Divisão de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad). O menor estava em um restaurante do São Bento com o revólver ostensivamente colocado à sua frente, sobre a mesa. Apavorados, clientes das mesas vizinhas chamaram a polícia.

Um dos rapazes ouvidos, morador do Buritis, na Região Oeste, já acertou as contas com a lei. Antes mesmo de ser levado à presença de um juiz, seus pais comprovaram ter custeado a recuperação de paredes e de muros que o garoto havia pichado nas redondezas de casa. Um colega, residente no Bairro Floresta, mas que pichava no Buritis, aguarda a audiência na Justiça para saber que medidas punitivas terá de cumprir. Segundo Vanessa Fusco, no caso das pichações no Santo Tomás de Aquino e no Coração de Jesus, o MP solicitou à direção dos colégios um orçamento da recuperação da pintura dos muros externos para estimar a extensão do dano a ser pago pelos pichadores.

Criada em junho deste ano, a Coordenadoria de Combate aos Crimes Cibernéticos armazenou cerca 300 mensagens postadas no Orkut por integrantes de grupos de pichadores. Além de textos, alguns assinados com apelidos, contêm imagens dos próprios pichadores em ação, exibição de armas de fogo, de munição, de dinheiro e de substâncias apresentadas como cocaína e maconha. A equipe da coordenadoria concluiu que há cerca de 10 gangues desse tipo em ação na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.




EDUCAÇÃO
O uso da internet pelas gangues está associado à compulsão dos jovens pichadores de dar visibilidade à própria ousadia, seja para impressionar colegas ou, principalmente, integrantes de grupos rivais. A investigação do MP descobriu que, além da pichação, a garotada resolveu exibir na rede internacional de computadores o namoro com crimes mais graves, como o assalto à mão armada.

O trabalho dos promotores de Belo Horizonte chamou a atenção da filial brasileira da Microsof, que desenvolve um trabalho de educação de jovens para o uso seguro da internet. A empresa firmou uma parceria com o MP no início deste mês para a realização de um programa de palestras sobre o tema em escolas de Belo Horizonte.

Já às vésperas do fim do ano letivo, houve tempo suficiente para um colégio particular, o Santo Tomás de Aquino, e um público, a Escola Estadual Paschoal Comanducci, no Bairro Jaqueline, na Região Norte. No Colégio do São Bento, as apresentações do diretor de assuntos jurídicos e corporativos da Microsof Brasil, Rinaldo Cesar Zangirolami, e da promotora Vanessa Fusco atraíram, além dos alunos, cerca de 50 pais.
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Roubo de donativos

Caso de Santa Catarina pede reflexão sobre a corrupção e a impunidade no Brasil
As águas deste fim de ano ainda nem terminaram e já produziram muitas tragédias, destruição e mortes em várias cidades mineiras e fluminenses, depois de ter arrasado regiões inteiras no Sul do país. Mas, até agora, nenhum desastre chocou mais do que o flagrante do furto de donativos para flagelados de Santa Catarina, praticados por voluntários e por soldados do Exército que ajudavam no socorro às vítimas da mais dramática enchente dos últimos tempos naquele estado. De repente, o país, que havia se comovido e se solidarizado com o sofrimento daquelas famílias, acompanhou revoltado pela televisão as cenas degradantes de pessoas que, embora não tenham sido atingidas pela enxurrada, subtraíram sem o menor constrangimento roupas, alimentos e objetos destinados a reduzir o sofrimento das vítimas da enchente. Um desastre moral.

Felizmente, esses aproveitadores da desgraça alheia são minoria. Mas o golpe que perpetraram não atingiu apenas os flagelados catarinenses. O assalto impõe uma reflexão sobre o tamanho do estrago que o sucesso da corrupção e a impunidade podem estar causando nos espíritos mais fracos deste país. Afinal, não têm faltado maus exemplos, oferecidos todos os dias por governantes, políticos, empresários e até magistrados que se locupletam, ora com o desvio do dinheiro público, ora com o ilícito comercial. Portanto, não se trata apenas de cobrar mais eficiência dos órgãos públicos responsáveis por receber e administrar o fruto da generosidade de milhares de brasileiros, essa sim, a virtude que melhor representa a média do nosso povo. É preciso reforçar os processos civilizadores e de transmissão de valores morais, a começar pela educação e pelo funcionamento mais ágil e eficaz da Justiça.

Se há gente roubando de quem perdeu tudo, a culpa não é só da insuficiente segurança do depósito de donativos. A coisa é muito mais grave. Na verdade, estamos falhando em construir uma sociedade fundada na ética, e não na esperteza do egoísmo; no trabalho, na honradez, e não na malandragem e na frouxidão de caráter. Que prevaleça o exemplo de Daniel Manoel da Silva, o catarinense que perdeu netos, um irmão, a casa, o trabalho e, mesmo assim, mandou devolver R$ 20 mil, esquecidos num casaco de pele que sua família recebeu em doação. "Esse dinheiro não era para mim. Não é certo usar o que não é seu", disse ele. Foi o bastante para resgatar a verdadeira índole do povo de seu estado e promover uma enchente de esperança nas pessoas de bem de todo o país.