O Hip-Hop e a crise mundial



Entrevistado: - Eu estava tentando explicar para o povo (boys) o por quê do rap, claro eles não entenderam.


(...) Repórter: - O contrário também é verdadeiro? (...) Você consegue entender a bolsa de valores, o dólar, essa parada toda?


Entrevistado: - Meu, eu vou falar uma coisa pra você. Se pra entender a periferia já é meio complicado, entender isso aí é pior ainda.”


... Uma pausa para reflexão...



Esta é uma transcrição de um trecho do documentário “É Tudo Nosso!”, de Toni C. Mais que uma simples entrevista, é uma oportunidade de entendermos a importância do conhecimento. É imprescindível a reflexão: Como ser ‘Tudo Nosso’ se não sabemos o que nos oprime? Como modificar um sistema se não conhecemos como ele opera?

O conhecimento é o nosso quinto elemento, os demais são insuficientes se não conhecemos a história e o presente do hip hop, da sua quebrada, do Brasil e do mundo. Na economia capitalista, a informação é o que liga. Muita gente ganha dinheiro devido à nossa falta de informação sobre a administração financeira e os mercados de capitais.

Não raro vemos no jornal que o mercado financeiro estava tranqüilo, agitado ou nervoso. O mercado é sentimental! Tratado pela mídia como se tivesse vida própria, acaba-se ocultando que o mercado é formado de pessoas de pele e osso, celular e gravata. São os investidores financeiros.

Esses investidores ganham a vida vendendo títulos mais caro que compraram, não produzindo um único produto. A raça mais cruel dos investidores são os especuladores, aqueles com cinco celulares ao mesmo tempo fazendo caça predatória ao lucro. Parasitas sugando as Economias do mundo todo. O mesmo que o homem faz com a natureza em que vive.

O assunto do momento é a Crise Econômica Mundial. Enquanto a elite está discutindo a crise, nós, os verdadeiros prejudicados, nem sabemos realmente o que é essa tal crise. Somos os verdadeiros prejudicados porque quando a economia vai mal, as indústrias, para diminuir os produtos encalhados, demitem os funcionários da produção, aqueles que recebem os menores salários. Elas não cortam os altos salários nem reduzem custos com administração. O lucro é concentrado, mas o prejuízo é repartido.

Há um conceito interessante: se em uma determinada indústria somarmos todos os salários dos funcionários, inclusive um bom salário para os donos, teremos uma quantia menor que a receita da empresa. e vão parar no bolso dos donos, embutido nos lucros. Isso é o que Marx chamou de mais-valia. Em outras palavras, mais-valia é o dinheiro furtado dos trabalhadores que não recebem toda a sua parte daquilo que produziu.

Mas o que importa saber se a bolsa de valores caiu ou subiu? Meu sonho é que o jornal falasse da taxa de analfabetismo com a mesma freqüência que dos índices da bolsa. Enquanto isso não acontece, vamos conhecer a bolsa.

A Bolsa de Valores é o local em que se compra e vende títulos, seja títulos de ações, moedas ou outros tipos. Nela, conseguimos ver como anda a economia, pois os investidores financeiros são os mais avessos a riscos (exceto a raça especulador).

Quando a bolsa cai, “fecha em baixa”, o cenário para a economia está mal, e quando ela sobe, quer dizer que a expectativa para a economia melhorou.

Títulos de ações são papéis de valores potenciais que geram dinheiro sem terem sido criadas por dinheiro ou produto. Em português claro, é uma criação de riquezas forçadas, dando valores a papéis. Os títulos não possuem lastros porque valem bem mais que as instalações da padaria. O próprio dinheiro é um papel que tem valor potencial apenas, ele em si vale somente o custo da fabricação da nota.

O fato de se forçar a geração de valores causa um colapso quando se quer dinheiro de verdade, pois estes não existem até então, o que gera as crises econômicas. Ou seja, essa forçação de barra (de ouro?) cria-se bolhas especulativas que, de quando em quando, estouram. Acontece hoje uma crise de 29 por semana, mas não produzem os mesmos estragos porque os bancos centrais do mundo inteiro intervêm.
A crise atual é uma dessas bolhas especulativas que os bancos centrais do mundo todo não estão conseguindo manter intacta. Tem como principal causa direta o mercado imobiliário dos Estados Unidos. Os bancos americanos, durante juros baixos, criaram facilidades de crédito e títulos de imóveis baseado em hipotecas. Para conter a inflação, os juros foram aumentados, tornando as hipotecas difíceis de serem pagas, gerando inadimplência.

Os bancos perderam duas vezes, primeiro pela inadimplência das imobiliárias que não tinham como pagar porque não recebiam hipotecas, e segundo pela própria perda de valor dos títulos baseados em hipotecas. Imobiliárias quebraram e levaram para o buraco junto os bancos. Tudo rezado pelos sacerdotes especuladores dentro dos templos financeiros.

A falta de dinheiro em bancos causa diminuição generalizada de empréstimos e investimentos, criando demanda por dinheiro real, o que diminui o valor das ações e a quantidade de dinheiro disponível do mundo todo. Com isso, as indústrias passam a vender menos, e corta primeiramente na produção, gerando desemprego, como já vimos.

Se cada um se informar melhor, não restam dúvidas que o país será bem menos desigual. Ignorar a economia e a política é o que nos torna, oprimidos e excluídos, mesmo com nossa riqueza cultural e moral. E torna o Brasil em paraíso para investidores do mundo todo.

Somos o movimento do oprimido. Para que tenhamos êxito em nossa caminhada, é necessário saber onde pisamos e em que lugar o mundo chegou, para podermos pegar um caminho melhor. Temos que unir os conhecimentos, envolver com o coração, destrinchar com o cérebro, gritar as soluções e lutar por elas. Aí sim, É Tudo Nosso!

André Ebner é membro da Nação Hip-Hop Brasil de Ribeirão Preto - SP.



Pais integrados à escola


Professor defende pais integrados à escola


Geraldo Edson Gonçalves (Edinho) - Paracatu-MG

“A escola hoje é um instrumento, principal, primordial. Para funcionar, precisa de três pilares: ela própria, a família e os professores. Não podemos, no mundo globalizado, esquecer que são muitas as fontes de informação e que a família precisa definir sua proposta pedagógica – um passo importante. Precisa decidir qual a formação desejada para seus filhos e escolher a escola que também tenha uma proposta na mesma direção, para que possam falar a mesma linguagem, filtrando o que de bom há para assimilar dos meios de comunicação. É preciso haver sintonia entre a proposta da família e a proposta da escola. Por quê? A proposta da família deve se unificar com a da escola. Só que esta tem alguns deveres com o aluno e a família continua com os deveres com o filho, duas coisas diferentes que deságuam no mesmo córrego, com a família acaba sendo também o aluno. Ela tem que participar da vida da escola do aluno, não pode deixar de participar, sendo isso muito importante para o sucesso do aluno; tem que ir à escola, não por obrigação, mas para contribuir prazerosamente e para ajudar a enriquecer o currículo, colaborando naquilo que as coisas possam se desviar do leito correto: a escola com suas atribuições e a família com outras. Contudo, as duas têm que sentar e andar juntas. A escola trabalha os valores – do respeito, do limite, da assiduidade e todas as proposições de boas maneiras, de solidariedade, de justiça e de paz – na sua proposta e a família, também. A escola tem que falar desses princípios, a família também. A família não pode mais deixar de dar o exemplo para seu filho. Se a escola fala de uma proposta, a família deve fazê-lo da mesma proposta, querer que essa proposta seja vital. É importante perceber que se educa pelo exemplo. Você não pode dizer uma coisa, ou a escola dizer uma coisa para o seu filho, e você fazer exatamente o contrário. Pede a ele para não jogar papel no chão, e ele joga. Às vezes, manda praticar a leitura e ele não lê, manda ir à missa e ele não vai. Insiste que o filho faça a primeira comunhão, mas o pai nunca foi à missa, nunca levou o seu filho à igreja. O ideal seria se ele, os irmãos, a mãe, fossem à missa, porque aquele exemplo vale mais que o curso de primeira comunhão que ele fez. A escola precisa ter um ambiente saudável, com as pessoas responsáveis pela instituição presentes nela, os pais também, para que tudo seja visto não de forma isolada, mas de uma forma humana. Há que se buscar uma solução viável para trazer a comunidade e a família para a vida escolar; instituírem-se eleições para a escolha de diretores, como ocorre nas escolas estaduais, para que a comunidade participe diretamente na escolha de quem vai lidar com a educação de seus filhos. Por sua vez, valores são valores em qualquer lugar, dentro ou fora da escola; diferentemente, não dá certo. Não existe isso. Então, família é o sustentáculo, a base de tudo; a escola é o meio e o instrumento. Formar um aluno é trabalhoso demais, e ninguém tem regra infalível para isso. Não tem pai bom, nem escola boa; juntos é que construímos o aluno para a vida. Não é fácil, mas mais difícil será se as famílias permanecerem à margem dos problemas que afligem o
ambiente escolar.”

MCs duelam debaixo do viaduto de Santa Tereza

Walter Sebastião - EM Cultura

aumentar fonte diminuir fonte imprimir
Pedro David/Esp. EM
Pedro Valentim divulga a cultura do rap em BH
É confronto amigável, em versos, de personagens importantes da cultura hip-hop: os MCs. A sigla quer dizer mestre de cerimônias – poeta, animador e voz oficial do movimento que mescla poesia e ritmo. Com novidades: em vez de xingamentos, como ocorre nos campeonatos tradicionais, os participantes vão improvisar sobre temas sorteados na hora, sugeridos pelo público ou pela organização. O primeiro Duelo de conhecimento vai rolar hoje, a partir das 20h30, debaixo do viaduto de Santa Tereza, em frente à Serraria Souza Pinto. Interessados podem se inscrever lá mesmo.

“O mais divertido é observar a velocidade de raciocínio e a capacidade de improvisar as rimas”, conta Pedro Valentim, de 25 anos, o MC PDR. Cada participante tem 45 segundos para exibir sua perícia. “Essa arte cobra agilidade, concentração, malícia e principalmente carisma para conquistar a plateia. Se o participante é antenado, conhece o assunto apresentado”, completa.

PDR esclarece: o MC é “personagem clássico” da cultura hip-hop, “a linha de frente do movimento”. Usa a voz para transmitir mensagens, informações e fazer a mediação entre artistas e o público. Pedro Valentim compara os MCs aos repentistas, que, de pandeiro na mão, encantam o público com seus versos.

Se alguns MCs trabalham com intuição e alma, outros são fãs de literatura. Mas o essencial é ter feeling. “Depois, é ato de coragem louvável alguém subir no palco, pegar o microfone e falar coisas que não trouxe escritas de casa”, completa. O coletivo Família de Rua, promotor do evento, vem fazendo duelos desde 2007.

Pedro Valentim explica que, mesmo quando o duelo tem formato mais agressivo, os participantes confraternizam depois da disputa. O grupo do qual ele faz parte quer virar associação para incentivar a arte de rua. “É nossa contribuição para a vida cultural de Belo Horizonte, mas sem sisudez. A cultura hip hop nasceu no meio do povo e é do povo”, conclui o MC.

DUELO DE CONHECIMENTO
Rap, improvisação, intervenções de grafite, roda de b-boys. Hoje, a partir das 20h30, debaixo do viaduto de Santa Tereza. Entrada franca.

SEPARAÇÃO


Dinheiro de sobra, problemas maiores


Gilson de Paula - Belo Horizonte

“Deus, quando criou o homem, o fez com duas naturezas: física e espiritual. A alma é a parte física do ser humano em sua configuração psicológica; a outra é o espírito, que é imortal. Ao morrer, a alma se desintegra e o espírito, não. Os bens materiais pertencem ao físico, portanto, o homem – seja rico ou pobre – nada leva ao morrer. Tudo que fica pertencerá a seus herdeiros. Com relação a um casal riquíssimo e que está em litígio para se divorciar, o que emperra a ação judicial é justamente a imensa fortuna que o casal acumulou. Ambos desejam a separação, mas cada qual quer uma parte maior das posses. Sabemos que uma ação judicial desse porte é demorada, levando talvez cinco, 10 ou 20 anos. Então fica a sugestão para uma solução imediata: que a mulher, valendo-se de valentia, sensatez e pragmatismo, se disponha a receber uma boa quantia em dinheiro, que lhe permita desfrutar de uma vida tranquila e de padrão que tem habituado até o presente, deixando o marido com seus bilhões de reais. É bom lembrar que a pessoa, para ser feliz, não precisa ser bilionária. Assim, o caso seria encerrado rapidamente, evitando as demoradas e desgastantes pendengas jurídicas.”

Uma outra mídia é possível (e necessária)



O Fórum Social Mundial começa com o Fórum Mundial de Mídia Livre. Nesta segunda, dois painéis e outras atividades põem em debate os meios de comunicação e, mais importante, discutem a construção de meios alternativos de comunicação. Será isto possível? É como perguntar se um outro mundo é possível. Talvez um outro mundo seja mesmo possível, mas, com certeza, não o será sem uma outra mídia necessária.

Por Marcos Dantas*, na Carta Maior



Nas dimensões sociais e espaciais em que vivemos hoje, neste mundo em que somos afetados, instantaneamente, tanto pelo que acontece em nosso bairro, quanto por uma guerra em alguma região aparentemente distante como Gaza ou Chechênia, a realidade que nos chega é aquela que nos chega pela mídia. Aquilo que aconteceu, aconteceu porque foi noticiado no jornal, na TV ou no rádio. Se não foi noticiado, não aconteceu.

Significa dizer, boa parte de nosso conhecimento do mundo, boa parte do modo como pensamos, é moldado pela mídia. No limite, a mídia decide o que devemos pensar, sobre o que devemos pensar e como devemos pensar o mundo. Pensar uma outra organização de sociedade, alternativa a esta ordem capitalista que aí está, poderá ser quase impossível, se o mundo que vemos, lemos e ouvimos através da mídia, parece ser um mundo sem alternativas...

Daí a importância da construção de uma mídia alternativa, de uma mídia livre dos compromissos políticos e econômicos da mídia hegemônica, de uma mídia livre para discutir e disseminar a idéia de que um outro mundo é possível.

A base social para a construção dessa mídia é o próprio movimento popular. Na medida em que os mais diversos segmentos da sociedade se organizam em defesa dos seus interesses e se mobilizam para viabilizar suas plataformas políticas e culturais, é natural que eles queiram verbalizar suas demandas e propostas.

Através da rede mundial de computadores e graças ao barateamento generalizado dos meios de reprodução das idéias, o movimento popular não precisa mais depender de custosos equipamentos e instalações para colocar suas propostas em debate na sociedade.

O jornal ou revista impressos podem ainda serem veículos importantes, mas não são mais os únicos. Blogues, sítios de internet, rádios de baixa potência (comunitárias), até mesmo canais de TV, sem falar das listas de discussão em rede ou simples panfletagens digitais (spans) já se tornaram poderosos meios de divulgação de idéias alternativas e de mobilização política.

Através deles, o agendamento do que pensar, sobre o que pensar e como pensar ditado pela mídia hegemônica, pode ser contraditado por uma agenda alternativa, isto é, por uma nova proposta a respeito do que deve ser prioritário para ser pensado e sobre como deve ser pensado.

O FML que, nesta segunda, realiza o seu primeiro fórum mundial, nasceu com essa proposta e pôde assim nascer porque foi construído por organizações e entidades jornalísticas ou não, comprometidas com a construção dessa agenda alternativa e popular. Parte de seus construtores são jornalistas e estão engajados na produção, edição e veiculação de publicações jornalísticas. Parte deles porém não são propriamente jornalistas, mas são comunicadores vinculados ao movimento popular que estão também muito engajados na produção, edição e veiculação de publicações (impressas ou eletrônicas) que discutam a agenda de interesse do movimento popular.

Não raro, esses comunicadores demonstram muito mais competência e sensibilidade para perceber e elaborar essa agenda, do que os profissionais do ramo. Trata-se de uma competência e sensibilidade nascida da vivência real com os problemas da injustiça, da exploração, da exclusão.

O I FMML discutirá a construção dessa nova mídia e, também, claro, não poderá deixar de discutir as responsabilidades da mídia hegemônica na construção da crise econômica e social na qual fomos mergulhados pela especulação financeira e por seu arautos neo-liberais. Era uma crise anunciada. Alguns analistas insuspeitos já diziam, há anos, que ela logo viria.

Fatos só agora revelados, ainda assim a conta-gotas, mostravam que a prosperidade neoliberal não passava de fachada. Essa imprensa que não dava voz aos críticos, essa mídia que não corria atrás de informações perturbadoras, são tão responsáveis por essa crise quanto os especuladores de Wall Street ou da Bovespa. Alimentaram a ilusão. A sociedade não pode agora inocentá-las.

É de se esperar que o FSM, em Belém, defina alguns pontos essenciais de agenda para a reconstrução da sociedade, dada a crise. O I FSML deverá definir os caminhos para dar às propostas do FSM, a mais ampla divulgação possível pelo mundo a fora.

* Marcos Dantas é professor de Comunicação Social da PUC-Rio, doutor em Engenharia de Produção pela COPP-UFRJ e autor de A Lógica do Capital-Informação (Ed. Contraponto)



Em defesa da sociedade

Querem tampar o sol com a peneira opaca da demagogia
É assustadora a crescente onda de assaltos que atinge toda a sociedade brasileira. E exatamente por isso – pela sua extensão e profundidade – o problema extrapola a simples e burocrática tentativa de solução por meio das tradicionais providências legais e policiais.

Qualquer um percebe que estamos em autêntica guerra urbana, pois os marginais se associam em verdadeiras instituições criminosas, as chamadas quadrilhas e por meio delas, ameaçam, roubam, matam e se estruturam em organizações de defesa de seus interesses inconfessáveis e de ataque à sociedade desprotegida.

Se assim é – se estamos em plena guerra urbana – as soluções deveriam ser emergenciais, ainda que ultrapassando os limites impostos pela legislação atual. E se esta legislação cerceia ou limita as providências do poder público, que se promova, com urgência, a reformulação das leis, dando à polícia e ao judiciário instrumentos mais eficazes no combate aos marginais.

Vivemos um período de anormal desestruturação social, que exige, por isso mesmo, medidas igualmente anormais para conter a onda de crimes que nos ameaça.

A atual crise nos faz lembrar a época do gangsterismo americano. Uma simples Lei Seca ainda mais incentivou o crime organizado, que só se extinguiu com extremas medidas da promotoria pública.

Nem se diga que os tempos são outros, que outra é a nossa realidade, e que o crime organizado é resultado de um mundo de opressão e injustiças. Isso é tampar o sol com a peneira, a peneira opaca da demagogia e do engodo de falsas libertações.

Antes que este país se transforme em uma enorme escola nacional do crime, salvemos o que tanto nos custou construir, restabelecendo a ordem que falece e os direitos humanos – estes, sim, os mais legítimos direitos humanos – que fundamentam a estrutura da sociedade moderna.

A consciência negra no contexto latino americano


A consciência negra, no território latino, exprime e expressa a relação desigual de poder frente à lógica de crise permanente instituída pelo capital contra o trabalho

Roberta Traspadini

Foto: Douglas Diego

A consciência negra no recorte de classe

Em meio à atual crise do capitalismo e sua forma de propagação no continente latino, a classe que vive do trabalho deveria parar no mês de novembro, para discutir em profundidade, os temas advindos da consciência negra, frente à inconsciência da barbárie geral do capital contra o trabalho.

Na América Latina, vivem, ou melhor, sobrevivem, segundo os relatórios de pesquisa da cepal, aprox. 120 milhões de homens e mulheres afro-descendentes. Destes, 76 milhões são brasileiros, 10 milhões são colombianos, 9 milhões são mexicanos, 2,5 milhões venezuelanos, e os outros 22,5 milhões se distribuem nos demais países do continente.

Na lógica da dominação burguesa este grupo étnico-racial, conta com uma condição histórica singular no nosso continente: a de ser herdeiro da invasão e deslocamento territorial-continental a que foi submetido, para cumprir em terras longínquas às suas, com os desígnios da exploração européia, reproduzida e ampliada na conquista-saqueio da América. Lógica que utiliza a diversidade e a diferença como violenta forma de manifestação de seus históricos conteúdos de escravização e neo-colonização.

Estamos falando de uma visível forma de dominação que objetiva tornar invisíveis diferenças centrais na sua lógica de exercício do poder. Estamos falando da invisibilidade centrada na diferença da cor da pele. Estamos falando da invisibilidade da cor da pele mesclada com o gênero. Isto é, da invisibilidade da população negra, e dentro desta de mulheres negras, frente à geral opressão-exploração vivida por muitos trabalhadores/as. Estamos falando da intencional invisibilidade dada pelo capital aos sujeitos produtores do próprio e reprodutores do alheio que se tornaram ao longo do tempo, negros e negras latino-americanos.

As consciências expressas na consciência negra:

A consciência negra, no território latino, exprime e expressa a relação desigual de poder frente à lógica de crise permanente instituída pelo capital contra o trabalho. As crises de realização do capital evidenciam as permanentes, mas sempre inconclusas conformações dos pactos de poder contra o trabalho. O que permanece, em meio às múltiplas crises, é a sujeição de parte expressiva da população latina à condução econômica-política-ideológica dos donos do capital que atuam no continente em sua aliança com os Estados (trans)Nacionais.

Frente a isto, alguns elementos chaves, comuns, como classe que devem estar contidos no debate a partir da histórica condição de negros e negras no continente latino, são:

A consciência negra sobre a histórica disputa de classe, em meio à brutal dominação burguesa. A consciência negra sobre a exploração do trabalho pelo capital que, aparenta superar a diferença, mas que, em essência, a utiliza como critério de disputa dentro do mundo do trabalho, para sua realização, a partir de uma redução ainda maior dos salários pagos aos negros e negras do continente. A consciência negra sobre a opressão, na dominação, européia e nacional, na conformação do poder e do pacto político executado ao longo dos últimos 500 anos no continente, um poder que continua sendo branco, rico e masculino. A consciência negra sobre a diferença cultural excludente, onde cultura se mistura com pacto de poder e a indústria dita as normas e as condutas do dever ser de cada época. A consciência negra sobre a organização para a libertação da opressão e exploração, via formação política, educação popular e consolidação de instrumentos políticos de disputa e superação da atual lógica de poder. A consciência negra sobre a esperança diurna, essa que, ao se sonhar acordado, desperta, coletivamente para uma ação rumo à realização de um projeto de fato democrático, com a necessária socialização dos meios de produção, a partir da consolidação de um instrumento político de classe.

A capoeira: pedagogia do exemplo da consciência negra

Uma das mais expressivas formas culturais negras propagadas no continente latino é a capoeira. Essa arte expressa muitas contradições. Mas ao longo da história explicita a rebeldia de contestando a ordem vigente, instituir no canto, ora oculto, ora público, sua condição e a necessidade de superação. A capoeira ganha o continente e globaliza a lógica da rebeldia, da consciência negra frente à exploração e opressão.

Através da capoeira, seus mestres narram, com seus pontos de vistas sobre a história, tanto a opressão quanto a luta pela libertação vivenciada por eles e seus antepassados, em cada período histórico no continente. Estes negros e negras narram, ao mesmo tempo, a condição da consciência de muitos negros analfabetos formais, pois não tiveram acesso à escola, que são políticos negros alfabetizados, mestres alforriados detentores desta arte. A cultura oral, a manifestação às divindades negras, o canto e a musicalização manifestos na capoeira, explicitam que o outro processo global só é possível se a lógica de dominação estiver para além do capital.

A capoeira está em toda América Latina. Está em outros continentes. E por mais que seja praticada por brancos, mestiços e negros, sua raiz manifesta em toda sua expressão, a histórica consciência negra. Por isso, como ferramenta de classe, a capoeira explicita que a formação política, a partir de vários processos pedagógicos diferenciados no nosso continente, conta com a história oral como elemento de recuperação da memória histórica de luta dos povos de nossa América.

Naturalmente, no espaço contraditório da produção do novo em meio à reprodução do velho a capoeira, como outras artes em disputa, está cheia de tensões e de confusas ações apropriadas pelo capital. Mas dentro destas tensões se encontram universos fantásticos de produção, através do corpo, de superação da condição de opressão-exploração-sujeição.

O instrumento político de classe e a consciência negra:

A consciência negra coletiva em nossa América, manifesta a ação política de uma formação que tem na classe sua referência, mas joga para ela o diálogo da diversidade que por anos foi ocultada dentro de uma mesma lógica de reprodução que tenta revolucionar mas reproduz mecanismos de invisibilidade do ser.

Por isso e muito mais, o mês de novembro é central, dado o legado de Zumbi e seus pares, para a reflexão dos lutadores e lutadoras latinos, a partir da tomada de consciência sobre a histórica condição de negros e negras do continente. Consciência que aprende na coletividade a riqueza das aprendizagens particulares. Mas que só se sustenta se tiver claro um instrumento político que, a partir da formação, articule um novo projeto popular para o Brasil e para nossa América.

Em meio à atual crise da hegemonia americana e de seus pares no continente, o permanente é a mudança. E a mudança não ocorre a partir da figura de um sujeito no poder já instituído a partir da cor de sua pele. Em especial quando sua lógica de pensar e agir não se contrapõe à histórica herança de dominação e preconceito desenvolvidos no continente. A mudança não virá do norte tão ao norte, dentro das rígidas estruturas de poder do capital. A mudança está ao sul, logo abaixo. Parte dos territórios autônomos zapatistas e demais regiões camponesas, negras e indígenas mexicanas e vai se mesclando com as demais terras latinas, ainda mais ao sul do nosso continente, tecendo a real teia da projeção do novo.

A mudança se expressa pela capacidade dos povos latinos se organizarem para a consolidação de uma outra lógica de poder, de um outro pacto político de Nação, de um outro sentido de trabalho e de realização para além do capital. A mudança parte da capacidade dos povos latinos executarem o poder popular, a partir da projeção de seus instrumentos políticos: negros/as, índias/os, camponeses/camponesas aliados aos trabalhadores e trabalhadoras das cidades, que no formal e no informal produzem sua sobrevivência, que não lhes permite, na lógica atual, viver.

Roberta Traspadini é educadora e economista

As cores da África-Brasil


por Michelle Amaral da Silva última modificação 25/11/2008 15:02
Colaboradores: Augusto Juncal

Pedi dois copos. Enchi o meu de cerveja, e deixei o outro vazio junto à garrafa. Não demorou muito para que um jovem se aproximasse da minha mesa

Pedi dois copos. Enchi o meu de cerveja, e deixei o outro vazio junto à garrafa. Não demorou muito para que um jovem se aproximasse da minha mesa

Augusto Juncal

Atravessando uma ponte sobre um esgoto, cruzando uma larga avenida confusa de carro e de gente, sob um sol quente que nuvem nenhuma amenizava, do outro lado da avenida eu avistei o começo de Thokozo. Só mesmo um olhar atento, de corte de navalha, para delinear com clareza cirúrgica, e de claridade de céu africano, a confusão da avenida que passava paralela à Thokozo, e a própria confusão do township aglomerada na sua porta de entrada.


Sua porta de entrada era um imenso portão metafísico que sinalizava: você está entrando no township de Thokozo. Talvez seja bem-vindo. Talvez não. Depende de quem você seja e do que você quer aqui. Nesse twonship não há pacotes turísticos. Se é isso que você procura, dirija-se a Soweto. Hambakahle.


Towship, uma intradução. Uma condição humana materializada em... bairro? aglomeração? gueto? favela? periferia? cidade-satélite? campo de concentração? De quem? Dos brancos? Dos capitalistas? Dos brancos e capitalistas? Dos negros e capitalistas? De quem? Township é uma intradução porque é cidade-satélite, é periferia, é favela, é gueto, é holocausto. E se é preciso buscar as causas, as conseqüências estão ali. Sem esforço nenhum para a percepção. Mesmo para as mais embotadas.


Passei por aquele imenso portão, portão para iniciados, com a segurança de quem está com o passaporte carimbado com visto de entrada. Sibusiso era meu passaporte com visto de entrada. Negro e morador local. Com ele entrei. Havia outros motivos, outras razões para minha segurança. Uma confiança em algo que havia em mim, que naquele momento me era obscuro. E que ainda não tenho identificado. Que ainda é negativo de foto não revelada.

Quando entramos em Thokozo havia muita música. Vários bares, várias músicas. Em um deles identifiquei Zola. Noutro, Hip Hop Pantsula. Tuks. E em outro, o gospel da Rebecca. Pensei no Brasil. Vivemos num país onde a mídia tenta banalizar todas as coisas: a política, a sensualidade, a sexualidade, o afeto, os sentidos diários da vida.


Einstein explica

De São Paulo a Johannesburg tudo me pareceu a mesma realidade reproduzido-se a si mesma. Mas os townships eram novas realidades que começava a conhecer. Estava em Thokozo, e, incrível, estava em Guaianazes. Poderia estar. Como sou do muito pequeno e seleto grupo que sai da universidade contemporâneo de Einstein e não mais de Newton, aceitei, sem problemas a possibilidade de meu corpo único, ocupar dois espaços ao mesmo tempo. Mas claro, nada se repete. Nem o Sol, nem a miséria. Todas as misérias são una, e são cada uma, uma.


Debaixo daquele Sol e diante daquela expressão da pobreza, eu me perguntei: “Como é possível uma militância política divorciada dos códigos simbólicos, presentes todo o tempo nos cotidianos?”.


A vivência nos centros e nos bairros periféricos de nossas cidades, debaixo dos viadutos e dentro de guetos, revelam-me imagens que antes eu nunca vi. Não poderia ver. Imagens do abandono e da fome que transcendem o corpo físico e o texto específico dos atores. Será que a questão é só a falta de dinheiro ou de trabalho? Será que são esses itens que movem um povo a revolucionar sociedades como as nossas?


Penso que a exclusão social, se é que posso usar essa expressão sem a explicar, sugere outras condições humanas, que estão dentro dos sentimentos, dos gestos, do ser e estar na vida desprovida. Estes contatos diários com o lixo, os cheiros que exalam dos esgotos, a angústia da sobrevivência, os medos de não amanhecer, enfim... parecem inscrever formas de sentir no mundo não só desprovido, mas sem qualquer alento, sem qualquer esperança. A única maneira de estar vivo é na alegria, na criatividade da alegria... e aí a mídia pega pesado... e de todos os lados. Por que vamos acreditar na contaminação, se a nós é dado perceber um cotidiano de modo subjetivo? E a maioria dos militantes de esquerda? ... Que tão-pouco se conhecem a si mesmos? Pouco se miram ou fingem em si (sem o saber), um outro personagem, fora, externo ao seu, para explicar, para representar, uma condição que nem sempre “conhece”, ou não a sente...de um Outro?...Talvez por esta razão estejam cansados, ausentes, entregues.


Meandros próprios

Vou me aprofundando ruas adentro e vou pensando: “Quem vive em São Paulo pode viver em qualquer cidade do mundo”. Inverdade! “Quem anda com uma certa segurança de si em Capão Redondo, Jardim Elba, Glicério, e Gato Preto, não tem porque temer as ruas de Johannesburg. Nem dos townships.” Inverdade! Os acúmulos da miséria têm meandros próprios de culturas e materialização local que uma mente forasteira pode não perceber. Não sentir.


Em São Paulo, a pobreza faz privado um espaço que é público. Sempre que passo muito próximo a um morador de rua, tenho a desconcertante impressão que estou entrando numa casa sem ser convidado. Mas eu, ali, em Thokozo, queria fazer público um espaço que era privado. Queria fazer minhas, as ruas para as quais eu era estranho. E pior que estranho, um branco para eles.


Thokozo e todos os townhips de África do Sul eram dos negros. Deles somente. Eram espaços privados. E eu queria me apropriar deles. Não. Na verdade queria ser apropriado por eles.


Manifestei meu desejo por uma cerveja bem gelada. Sibusiso me deixou na casa de sua irmã. Uma irmã de pouco e curto inglês. O inglês era uma condição sócio-educacional. Às vezes, tinha a impressão de que entendia o que ela me falava em zulu. E respondia. Muitas vezes, acertei na reposta.


Uma cerveja, please

Meu amigo me deixou em casa e foi visitar uma velha tia. Quis ficar e quis tomar cerveja. “Você não pode sair só. Se quiser tomar uma cerveja, minha irmã vai com você. Você compra e volta para beber aqui em casa. Não quero que você sofra nenhuma agressão verbal. Ou mesmo física.” Disse e foi na direção da casa de sua tia, sua irmã foi arrumar o quarto em que eu ia dormir, e eu fugi para o barzinho mais próximo.


Andei por duas, três ruas, seguido por olhares que não soube identificar. Mapeei quatro ou cinco botecos. Escolhi o mais cheio de pessoas e de música. Entrei. Pedi uma Castle no balcão. Um balcão protegido por grades. Todos os bares eram assim: te serviam por trás de grades. Apenas um espaço aberto para a passagem do dinheiro e da cerveja. “Uma Castle, please.” Não tinha. “Heinenken? No. Eu quero south african beer.” “Ah! Hansa.” “South african?”, perguntei. “South african.” “Ok. Hansa.”, então. Ele trouxe, me cobrou e eu pedi dois copos. “Ngiyabonga”, agradeci dizendo obrigado em zulu. Ele respondeu e sorriu. Me sentei, enchi o meu copo, e deixei o outro vazio junto à garrafa.


Não demorou muito para que um jovem se aproximasse da minha mesa. De pé, com seu copo de cerveja na mão, falou pra mim. Eu não entendi. Mas vi a agressividade do seu tom, e seus olhos quase imóveis, fixos sobre mim. O rapaz do balcão intercedeu falando alguma coisa que também me escapou dos sentidos. Senti que chamava o outro à atenção. O rapaz à minha frente respondeu pra ele, e tornou a me falar. Todos no bar olhavam. Posso ter um problema sério agora, pensei enquanto mantinha meu olhar firme no olho do rapaz. “Igama Iami ngu Augusto. Ngubami igama lakho?” (Meu nome é Augusto. Qual o seu?). Senti um vacilo de confusão no olhar. Não dei tempo e estendi a mão, dizendo: “Unjani?” (Como você está?). Seu olhar era menos inquisidor, e até vislumbrei, com um pouco de esforço, um sorriso zulu no fundo de suas pupilas negras, para as quais eu olhava intensamente.


Sem me responder e sem me estender a mão, perguntou: “Uphumaphi?” (De onde você é?). “Brasil”. E ele falou mais. Mas minha cota de zulu tinha acabado. Tinha na manga apenas mais uma frase para uma urgência e fui logo desembolsando ela: “Ngisagala ukufunda isiZulu. I speak isiPortuguese and isiEnglish.” (Apenas comecei a aprender zulu. Falo português e inglês). Soltei meu melhor sorriso. Agora sim, seu olhar tinha vacilado bastante. Era a hora do golpe final: “I don't undersand what you said. But if you are inviting me to drink a beer with you, let me invite you to drink a beer with me” (Não entendi o que você falou, mas se você me estiver convidando com uma cerveja, deixa eu convidar você com uma).


Enchi o copo vazio, que aguardava sua hora. Ele recebeu o copo. “Brasil? Ronaldinho!”. Bati a mão no peito da camisa que vestia e disse: “Ronaldinho no! Corinthians!”. E aqui começou uma amizade construída a partir da desconfiança e em segundos. Tinha agora um novo carimbo no meu passaporte: “Augusto, Igama Iami ngu Bhekithemba”. Disse e me estendeu sua mão imensamente negra. Estendi-lhe, outra vez, minha mão marrom. Da cor do apartheid do meu país.


Augusto Juncal é integrante da torcida organizada Gaviões da Fiel e do Coletivo de Projetos Internacionais do MST.


PARA ENTENDER

Township – Durante o apartheid racial da África do Sul, townships eram cidades-dormitório da periferia onde moravam negros e negras. Para ir trabalhar nas grandes cidades, precisavam “passe”. Com o fim do apartheid racial, permaneceu o apartheid econômico e social. Hoje as negras e os negros pobres continuam a viver nos townships.


Zola, Hip Hop Pantsula, Tuks e Rebecca são músicos sul-africanos

Aposentados têm prejuízos de 105% com reajuste


Daqui a uma semana, quando o reajuste de 12,05% elevar o salário mínimo de R$ 415 para R$ 465, os benefícios de aposentados e pensionistas do INSS que ganham acima do piso previdenciário terão acumulado prejuízos de 105,20%, com perda da metade do valor desde 1991, quando, por lei, os reajustes passaram a ser diferenciados para os dois grupos de segurados.

O cálculo da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Volta Redonda considerou, desde aquele ano, o mesmo valor de mínimo para as duas categorias, aplicou os índices distintos e demonstrou que o piso desse grupo seria de R$ 226,62 no dia 1º de fevereiro - com a correção de 6,22%, prevista em orçamento. Fala-se que, internamente, o governo discute e tenta chegar a 7%, mas a equipe econômica tem sido dura. Ao ser pressionado por dirigentes de centrais sindicais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que "tentaria" um índice maior para o grupo que ganha mais.

A política de correção dos benefícios foi duramente atacada ontem, em eventos por todo o País. Segurados do Rio de Janeiro lotaram caravanas para ir ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, nas comemorações do Dia Nacional do Aposentado e da Previdência Social (24 de janeiro), em ato marcado por protestos e reivindicações de recuperação das perdas.

Em São Paulo, o Sindicato de Aposentados e Pensionistas da Força Sindical organizou uma festa, em padrão semelhante ao que as centrais promovem no Dia do Trabalho. Os aposentados de hoje são os sindicalistas que marcaram os anos 80 e que projetaram nomes como o de Lula na cena política. "O governo Lula não cumpriu o seu compromisso com os aposentados. Todos os anos, milhares de aposentados e pensionistas caem para a faixa do salário mínimo após o reajuste. Em um ano, só fomos recebidos uma vez pelo atual ministro da Previdência, José Pimentel. Há dinheiro para bancos, construtoras, montadoras, mas não para os reajustes dos aposentados", atacou o presidente do sindicato, João Batista Inocentini, destacando que a falta de negociação não condiz com o passado sindicalista de Lula e do ministro.

A presidente da Faaperj, do Rio, Yedda Gaspar, definiu a política como covarde: "vamos protestar, apesar de todas as manobras do governo, como a que retirou de pauta o Projeto de Lei nº 1, do senador Paulo Paim (PT-RS), que trata do reajuste único, no dia 18 de dezembro, antes do recesso parlamentar. Em 1990, eu ganhava o teto, que atualmente está em R$ 3.038. Mas agora ganho R$ 1.570. Não é justo, porque não há déficit na Seguridade Social. O dinheiro que pagaria o reajuste dos benefícios é desviado para outros fins. Nós, aposentados, estamos pagando a dívida pública".

Estudo da Associação Nacional de Fiscais da Previdência Social (Anfip) descreve a evolução do superávit (resultado positivo, na compensação entre arrecadação e despesas) da Seguridade Social, com e sem a Desvinculação das Receitas da União (DRU), recurso que permite remanejar 20% do orçamento carimbado para outras áreas. O último dado fechado, de 2007, confronta R$ 60,9 bilhões contra R$ 21,8 bilhões, com a DRU. Pelas contas do governo, o reajuste único elevaria a despesa do INSS, por ano, em R$ 6,5 bilhões.

No olho da rua


Luiz Neves da Silveira: No olho da rua

O Hip-Hop como expressão cultural


A história do surgimento do hip-hop no Brasil (e nos EUA) denotam seu caráter de cultura de resistência, ou seja, afirma a autenticidade de um movimento proveniente da periferia que, assim como o samba, aos pouco é legitimado pela mídia.



Batizados de DJ, rapper, break e grafite, esses são os elementos do hip-hop, uma manifestação de origem norte-americana que chegou ao Brasil no começo da década de 1980 e encontrou por aqui um terreno fértil para se desenvolver. Inicialmente despercebido pela maioria do público, o movimento caiu nas graças da juventude das periferias das grandes cidades, que virou tudo pelo avesso e criou uma expressão com cara e alma brasileiras.

A situação é considerada uma verdadeira heresia pelos puristas, defensores da idéia de que o hip-hop deve preservar o estilo difundido pelos americanos, apenas adequando-se à língua e à realidade social de cada país.

O rapper capixaba Renegrado Jorge, um dos mais antigos membros do movimento local, acredita que “se a gente deixa, daqui a um dia a capoeira vai se misturar também com o rock metal. Daqui a pouco vai se misturar congo com balé e a originalidade vai desaparecer”.

Mas os liberais relembram que a própria origem do movimento foi o cruzamento da arte urbana dos Estados Unidos com componentes da tradição cultural do Caribe, mais especificamente a dança de Porto Rico e o som da Jamaica, de onde vários artistas emigraram para Nova York nos anos 60. Além desse argumento, os que defendem a abertura destacam que no mundo globalizado, onde todas – ou quase todas – as culturas se entrelaçam, é natural que a expansão do hip-hop faça com que ele influencie e seja influenciado. Um dos que encaram a coisa assim é justamente um dos precursores do movimento no país, o dançarino Nelson Triunfo. “Muitos dos que se dizem radicais são na verdade pessoas limitadas que não percebem que a cultura do mundo todo já está fundida”.

“A cultura hip hop é uma cultura já mundial, a gente não poderia ficar de fora, e a gente tem um material humano legal, que é um povo criativo, a gente tem gente excluída e a gente tem uma cultura, uma industria cultural muito forte no Brasil, então eu acho que tinha que pegar.”


(Jorge Nascimento – professor do Departamento de Letras da UFES)

As culturas marginais, como o samba, surgem primeiro nas periferias, no ambiente das “fábricas”, onde pessoas cansadas do modo de vida sem perspectiva e das imposições da sociedade, no qual sua posição social já está marcada, vêem na manifestação cultural a fuga, um lugar onde elas podem ser elas mesmas.
Como sugere Armand Mattelart e Erik Neveu os sistemas de valores de uma cultura, ou seja, as representações que eles encerram levam a estimular processos de resistência. Para o professor de Literatura Brasileira da UFES Jorge Nascimento “o mais interessante é ver a garotada querendo rediscutir as verdades que são colocadas pela mídia”.

O discurso característico dos integrantes deste grupo trata-se, ao mesmo tempo, de uma declaração de independência, de intenção de mudança, de uma recusa ao anonimato e a um estatuto subordinado.

Embora o cunho de resistência ao sistema esteja impregnado, não há como negar a vontade de ascensão social de quem vive pela arte, mesmo que seja o hip-hop. “Pra viver bem de música, poder ter uma vida decente. Poder ter a sua casa legal, e tal. Sustentar a minha filha que eu tenho também, eu tô pra dizer que tá caminhando”, diz o rapper J3, pois viver de música é difícil.

Mesmo Renegrado Jorge sonha com a melhora de vida por meio do seu rap. “E eu vivo através do hip-hop, pago meu aluguel, sustendo meus filhos e sempre comprando uma parada diferente, sempre produzindo um som. E vou vivendo do hip-hop. Pra ver se um dia compro até um Opala melhor”.

Já DJ Gorinho, que desde os 13 anos toca para juntar dinheiro e comprar novos discos para sua coleção, ao indicar a agulha G-80 como boa e barata, diz não poder comprar uma de 400 reais. “Um dia será que eu vou poder comprar uma agulha de 400 reais? Quem sabe?”, indagou.

A vontade de viver melhor por meio de sua produção intelectual pode ser o fim da autenticidade, da resistência, se o conteúdo das letras do rap, por exemplo, perder o cunho contestador. Por outro lado, grupos como o Racionais MC’s vendem centenas de discos, mesmo estando fora do mainstream das grandes gravadoras multinacionais, assim, não se pode dizer que eles “venderam a alma” para o mercado. Na verdade, vão de encontro, segundo Micael Herschmann, “ao poder burocrático-empresarial sobre o indivíduo, sobre a sociedade e sobre o próprio Estado, o qual, por sua vez, vai se apoiar na promoção do crescimento econômico e do consumo, tomados como fins em si mesmos”.

As letras das músicas dos Racionais é um exemplo típico de literatura popular, na qual o povo é emissor e receptor da mensagem, mesmo sabendo que, em tempos da poderosa indústria cultural, o povo é quem compra CDs (mesmo que pirata). Mano Brown diz não se preocupar com a classe média: ''Eu me preocupo é com o favelado. Se você se preocupar com classe média, ou você vai começar a xingar muito, pra querer ofender, ou vai querer analisar, pra ver se os caras compram mais''. Na fala transparece a intenção de centrar a mensagem da vida suburbana aos manos. Há o projeto pedagógico de educar os irmãos, ou seja, realizar atividades culturais nas classes populares para que para eles mesmos comecem a se interrogar acerca das funções que assumem perante a dominação social.

E para falar de diferença temos que falar de identidade, conceito discutível em tempos de globalização. Ver grupos musicais fazerem sucesso fora do caminho dos “jabas” e da pasteurização nos é estranho, pois somos levados a supervalorizar a visão de uma produção cultural como resposta explícita as claras expectativas de classes ou de grupos de consumidores. Para um produtor ser produto neste tipo de raciocínio o objeto de ser moldado para ser facilmente vendido às massas. Um produto deve ser igual ao outro.

Transformar algo em produto consumível é deixá-lo atraente. O que vai vender mais: o disco de um “negão” com letras sobre desigualdade social ou Eminem, por exemplo, com um rap “engraçadinho”?

Os sujeitos envolvidos no assunto deste artigo são, antes de qualquer coisa, pessoas comuns. Claro ressalvando suas individualidades. Mas o que tratamos são suas perspectivas comuns acerca do seu objetivo de vida – ter sua arte reconhecida para, um dia, ter condições de vida melhor. É exatamente aí que os Estudos Culturais entram. A tal resistência nada mais é do que o rompimento de um de um regime, no qual é imposto um modo de consumo.

Os integrantes do hip-hop não querem comprar idéias prontas, idéias que não são as deles. Há a necessidade de produzir algo para o seu próprio consumo. É necessário colocar a cara a tapa sem a necessidade de obter sucesso. Mas a aceitação faz parte do objetivo de qualquer tipo de arte, mesmo que não declarado. O artista quer aplausos, quer reconhecimento. O grande problema, em relação aos Estudos Culturais, é que a legitimação da mídia destrói a originalidade.

O MC, o DJ, o B.Boy o Grafiteiro e os produtores, para ganharem a vida com o hip-hop devem deixar sua arte perder identidade e ganhar dinheiro, ou manter o discurso periférico e serem mandados para o olho da rua pelo patrão capital?

Quem são:
J3 – músico que enveredava pelo universo do rock’n’roll e resolveu fazer rap após morar nos EUA. Por mesclar eletrônica e rap, a qualidade de sua música é considerada desvirtuada por puristas do hip-hop.

Renegrado Jorge – De origem periférica, ele é um dos primeiros rappers de Vitória. Negativista em relação a mistura de ritmos no rap. Seu programa de rádio, Universo Hip-Hop, que vai ao ar domingo, das 18 às 21 horas, na rádio Universitária 104,7 FM, é o mais antigo do gênero na Grande Vitória.

Dj Gordinho – pratica o oficio de DJ desde os 13 anos. Hoje com 29 dorme no chão do seu quarto, pois os discos comprados durantes os anos ocupam todo o espaço do quarto. Já tocou em bandas como Salvação, Bomba Relógio e J3, além de discotecar em boates e festas de hip-hop.

Jorge Nascimento – professor de Literatura Brasileira do Departamento de Letras da UFES.

Bibliografia:
MAttelart, Armand; Neveu, Erik; Marcionilo; Marcos. “Introdução aos estudos culturais”. Parábola Editorial. São Paulo: 2004.

Rocha, Janaína; Domenich, Mirella; Casseano, Patrícia. “Hip Hop – A Pereféria Grita”. Editora Fundação Perseu Abramo. São Paulo: 2001.

C., Toni (org.). “Hip Hop a lápis”. Editora Anita Garibaldi. São Paulo: 2006.

Herschmann, Micael. “O Funk e o Hip-Hop invadem a Cena”. Editora UFRJ. Rio de Janeiro: 2000.



MST, 25 anos: Ocupar, resistir e produzir





A questão agrária no Brasil, onde predomina o monopólio das terras e os latifúndios improdutivos, tem origem na própria formação da nação brasileira. A medida que a estrutura econômica do país foi evoluindo, e ficando mais complexa, os conflitos entre trabalhadores rurais e proprietários de terras também foram se ampliando. De outro lado, a crescente miséria e desemprego foram gerando um exército de pessoas despossuídas e sem perspectiva de sobrevivência.

Nesse contexto, com o advento da redemocratização, o surgimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, há 25 anos, foi um marco na luta para alterar esse panorama. Rapidamente o MST se espalhou pelo campo, organizando dezenas de milhares de pessoas na luta pela Reforma Agrária, um dos pilares essenciais para a transformação e democratização da sociedade brasileira.

As ocupações de latifúndios improdutivos e as implantações de assentamentos foram, sem nenhuma dúvida, estopim para que o governo agilizasse os processo de desapropriação de latifúndios. Infelizmente esse não foi um processo pacífico, foi resultado de inúmeros enfrentamentos, da morte de dezenas de militantes da causa da Reforma Agrária e da prisão de dirigentes do MST.

É provável que na escalada da criminalização dos movimentos sociais vista no auge da aplicação do neoliberalismo no Brasil, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, o MST tenha sido uma das organizações mais atingidas pela repressão do Estado.

O alcance das lutas pela terra foram além da questão específica da Reforma Agrária, contribuíram na denúncia do neoliberalismo. Nesses 25 anos o MST tem contribuído com outras lutas, fortalecendo a pauta política de outros setores do movimento social brasileiro.

Para avançarmos decididamente na construção de uma alternativa política, econômica, social e cultural no Brasil, em que se avance no rumo de uma política nacional de desenvolvimento, com soberania, distribuição de renda e justiça social, a união dos movimentos sociais e o surgimento de outras organizações combatentes como o MST tem papel estratégico.

Como lembra Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB, nestes 25 anos o “MST também se destacou no caminho da unificação dos movimentos sociais no país e em toda a América Latina, pela soberania nacional, pela Reforma Agrária, e 0por uma verdadeira alternativa civilizacional avançada em nossa terra.” Por tudo isso, é uma data de luta que precisa ser comemorada por todos os democratas e progressistas.


Compulsão à citação





Escrito por Gabriel Perissé

Há pessoas que precisam apoiar-se em citações o tempo todo. Alguns trazem esse hábito do berço... O pai citador transmite ao descendente essa mania — filho de peixe, peixinho é. Citações de provérbios, ou citações mais requintadas. Quando não lembra a citação, o citador sofre, sabendo, porém, como dizia Oscar Wilde, que "as nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os outros"...

O citador vive entre aspas, coleciona as palavras alheias com reverência. Não teme a recriminação daqueles que, citando algum pensador, repetem: "Quem cita os outros jamais desenvolve suas próprias ideias".

E daí? Mais vale uma citação na mão do que repetir, sem saber, e de modo menos genial, o pensamento que outros já formularam com exatidão. Quem cita pensa também. Citando com a consciência alerta, pensarei ao lado de grandes pensadores. Por exemplo, ao lado de Leonardo da Vinci, que escreveu: "Quem pouco pensa, muito erra." Não seria o caso de admitir que quem cita muito... muito acerta?

E tem mais. O citador compulsivo nunca está sozinho. Dentro dele dialogam centenas de pessoas, com frases redondas, aforismos intrigantes. O citador é um solitário acompanhadíssimo. Dizia isso com outras palavras, sem desconfiar que se referia ao citador, o poeta Carlos Drummond de Andrade: "A solidão gera inúmeros companheiros em nós mesmos."

Solitário, ensimesmado, o citador adora dicionários de citações. Passa horas em convívio intenso com centenas de pessoas que disseram algo relevante, mais ou menos inteiradas do poder de suas palavras. Montaigne mencionava os "doutores pela ciência alheia", mas talvez seja de fato impossível chegar ao "doutorado" de outro modo. Só Deus prescinde de citações, e todas as que Ele faz são citações por Ele mesmo inventadas!

A mania de citar, à medida que aprofunda suas raízes na mente do citador, transforma o citador num pensador original. Seu talento consiste em aplicar em contextos diferentes as frases que nasceram em diferentes lugares e tempos. "Por toda a minha vida eu vou te amar" perderá suas aspas na declaração de amor que o citador fizer com a paixão que o primeiro poeta jamais teve.

Citar é aceitar que alguém foi feliz em dizer algo que eu não disse antes. Mas é também aceitar outro fato. Ao citar tantos outros, poderei talvez, distraidamente, criar minhas próprias frases. Frases que, no futuro, outro citador compulsivo salvará do esquecimento.

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.

Website: http://www.perisse.com.br/

A má abolição

Hoje um estudo clássico, "A Integração do Negro na Sociedade de Classes", de Florestan Fernandes, atacou o mito da democracia racial


ANTONIO RISÉRIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

É impossível pensar o Brasil sem pensar a escravidão. O escravismo teve, entre nós, praticamente a idade que o país tem hoje. Durou quase 400 anos, num país com pouco mais de meio milênio de existência. Enraizou-se em toda a nossa extensão territorial. E deu às nossas vidas formas, práticas e sentidos singulares.
Como se não bastasse, nossa formação histórica aconteceu pelo encontro de povos escravistas. E escravistas fomos todos -senhores e escravos (palmarinos escravizavam; negros forros compravam cativos etc.)- até meados do século 19, quando se configurou o movimento abolicionista. Foi aí, pela primeira vez em nossa história, que o sistema escravista em si foi colocado em questão.
Daí a profundeza das marcas que a escravidão gravou na vida brasileira. A onipresença da herança escravista. Desse ponto de vista, aliás, a produção intelectual brasileira surpreende. E de forma desconcertante, que mereceria ser analisada com vagar.

Freyre e Florestan
É certo que nossa historiografia produziu um rio de livros sobre a escravidão. Mas o tema escasseia nos ensaios de interpretação social da vida brasileira. Não foram muitos os que seguiram o exemplo de [Joaquim] Nabuco. Este, como André Rebouças, se concentrou no exame da escravidão e, ao mesmo tempo, na formulação de um projeto de futuro, propondo uma reforma geral da sociedade, de modo que o ex-escravo nela pudesse ingressar como cidadão pleno.
É nesse campo que surgem Gilberto Freyre [1900-87] e Florestan Fernandes [1920-95]. Freyre, o mais ousado e inovador dos pensadores sociais que o Brasil produziu. Florestan, espírito ao mesmo tempo desbravador e meticuloso, mestre do rigor sociológico. Freyre, em "Casa-Grande & Senzala", concentrando-se na escravidão.
Florestan, esquadrinhando a outra ponta do arco nabuquiano: o ingresso do descendente de escravos na "ordem social competitiva" -não como o cidadão do sonho de Nabuco, mas como expressão crua da subcidadania, formando a ralé de uma São Paulo em tenso e intenso processo de expansão e transformação. Esse é o tema de "A Integração do Negro na Sociedade de Classes", livro de meados da década de 1960, cujo primeiro volume agora se relança. Um clássico? Sim. Florestan quer nos mostrar, em seu estudo, como "o povo emerge" na história brasileira. E o faz por meio do preto e do mulato "porque foi este contingente populacional que teve o pior ponto de partida para a integração ao regime social que se formou ao longo da ordem social escravocrata e senhorial e do desenvolvimento posterior do capitalismo no Brasil". É assim que nos fala do destino do liberto na transição da ordem escravocrata à ordem competitiva -para então examinar as profundas consequências materiais, políticas, sociais e culturais desse processo. E identifica, no abandono do liberto naquele momento de transição, a base da exclusão social das massas negromestiças na moderna sociedade brasileira. Mas, ao buscar as causas últimas dessa marginalização, vai encontrá-las num compósito que independe da cor da pele.
À época da abolição, o Estado e a igreja, assim como os senhores ou já ex-senhores, entregaram os libertos à própria sorte. No campo, eles não tinham terras para cultivar. Na cidade, não recebiam educação, nem instrução técnica necessária para se engajar no novo mundo produtivo.
Foi assim que ex-escravos e descendentes de escravos chegaram ao século 20. Não apenas em estado de pobreza ou de miséria, mas, sobretudo, sem os instrumentos indispensáveis à superação de tal situação. Vale dizer, condenados ao subproletariado urbano, num contexto de inadaptação e anomia. Ainda segundo Florestan, ao encarar essa realidade e combater o preconceito, pretos e mulatos davam uma resposta a dois dilemas sociais que definiam o atraso do Brasil como sociedade moderna.

Interesse histórico
Por fim, Florestan faz sua célebre crítica da ideologia da democracia racial, que acabaria se convertendo no cerne da oposição da esquerda acadêmica à obra de Freyre -uma disputa de poder, no espaço intelectual brasileiro, que ainda está para ser estudada.
Hoje, a crítica de Florestan tem interesse principalmente histórico. Ninguém mais, no país, acha que vive numa democracia racial. De outra parte, o buraco é mais embaixo. Não somos uma democracia racial, mas podemos vir a ser. Florestan dizia que aquela ideologia era manipulada em razão dos interesses da classe dirigente.
Mas que, se caísse nas mãos de pretos e mulatos e estes dispusessem de autonomia social, poderia se transformar em "fator de democratização" da riqueza, da cultura e do poder.


ANTONIO RISÉRIO é poeta e antropólogo, autor de "Oriki Orixá" (Perspectiva) e "A Utopia Brasileira e os Movimentos Negros" (ed. 34).

A INTEGRAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE DE CLASSES (vol. 1)
Autor: Florestan Fernandes
Editora: Globo (tel. 0/xx/11/3767-7000)
Quanto: R$ 65 (440 págs.)

Veja se é do seu interesse.

ARTISTAS
Até 3 de fevereiro estão abertas as inscrições para os editais dos projetos Terças Musicais e ocupação da Galeria Renato Almeida em 2009. Serão selecionados oito artistas plásticos e oito músicos interessados em divulgar seu trabalho no Centro Cultural Pró-Música. As propostas e os currículos encaminhados serão avaliados por uma comissão julgadora, que divulgará o resultado da seleção em 25 de fevereiro. O edital está disponível no site www.promusica.org.br. Informações: (32) 3215-3951.

Um Forte Abraço!

Especialistas divergem sobre cotas raciais na educação



BRASÍLIA - A aprovação de uma política de cotas na área de Educação pela Câmara dos Deputados, em novembro passado, não foi suficiente para acabar com a polêmica sobre o assunto. O Projeto de Lei 73/99 foi aprovado em votação simbólica, depois de um acordo entre os líderes, mas deputados, pesquisadores, professores e alunos discordam sobre as cotas de ingresso nas universidades e escolas técnicas federais.

A proposta voltou para o Senado por causa da inclusão, pelos deputados, de critérios econômicos para a seleção dos alunos, e ainda está em análise pelos senadores da Comissão de Constituição e Justiça. A Câmara aprovou o projeto em 20 de novembro passado, Dia da Consciência Negra.

Cotas sociais

O texto aprovado determina que 50% das vagas das instituições federais sejam destinadas a alunos provenientes da escola pública. Dessas vagas, 50% serão preenchidas por estudantes de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo (R$ 622,50) por pessoa. Além das cotas sociais, a proposta exige que as vagas sejam destinadas a negros, pardos e indígenas em proporção igual a dessas populações no total de habitantes de cada estado.

O texto estabelece ainda que a seleção dos alunos que terão direito ao ingresso na universidade por meio das cotas será feita a partir de um coeficiente de rendimento, obtido pelo cálculo da média aritmética das notas ou menções recebidas pelos alunos durante o Ensino Médio. As instituições privadas de ensino superior também poderão adotar as cotas para ingresso dos alunos.

Caráter paliativo

Para o sociólogo Demétrio Magnoli, que é contrário ao projeto, são aceitáveis apenas cotas provisórias para os alunos da escola pública. Segundo ele, isso deve ser feito em caráter emergencial, por causa da disparidade atual entre a qualidade do ensino público e privado. Entretanto, o sociólogo afirma que somente o investimento na melhoria da qualidade da escola pública e a ampliação no número de vagas das universidades públicas podem democratizar o acesso ao ensino superior.

Sobre as cotas raciais, ele considera que elas representam a "introdução do conceito de raça na lei, um conceito que não existe na biologia, mas que pode ser incluído na legislação por motivos políticos". Magnoli teme que a inclusão do conceito de raça na legislação possa estimular "processos de ódio racial de massa".

Desigualdade histórica

Já o antropólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB) José Jorge de Carvalho considera as cotas raciais necessárias para corrigir a desigualdade histórica entre brancos e negros no Brasil. "As cotas são necessárias porque os negros no Brasil são 48% da população. Enquanto isso, o número de professores negros na universidade pública não chega a 1%. Ou seja, nós vivemos uma realidade de exclusão que é, provavelmente, uma das mais severas do planeta."

Para Carvalho, as cotas sociais não alteram o perfil racial da desigualdade brasileira e, por isso, cada um dos aspectos precisa ser tratado separadamente. "Mesmo entre os pobres, leva vantagem quem é branco", afirma. O professor ressalta que, mesmo que sejam aprovadas, as cotas incidirão apenas sobre 3% das vagas do ensino superior.

Na opinião de Carvalho, o sistema atual não será corrigido se as condições não forem modificadas. "Pelas projeções, mesmo com as cotas, levaremos 60 anos para alcançar um patamar igualitário", afirma. Além disso, ele destaca que as cotas não deixam de lado a meritocracia do acesso ao ensino superior, porque há poucas vagas em disputa. "As vagas não podem é ser plutocráticas como agora, ou seja, não podem estar ao alcance somente de quem tem dinheiro e pode pagar um cursinho."

Ódio à escravidão moveu idéias de Darwin



Um novo livro sobre Charles Darwin diz que um ódio passional à escravidão foi fundamental para que ele desenvolvesse a sua teoria evolucionista. A teoria foi contra a suposição de muitos à época de que negros e brancos eram de diferentes espécies.


Darwin's Sacred Cause (A Causa Sagrada de Darwin) é um dos primeiros entre as dezenas de trabalhos sobre o cientista do século 19 que deverão ser lançadas em 2009 — ano do bicentenário de seu nascimento e quando se completam 150 anos da publicação do revolucionário A Origem das Espécies. Os autores do livro, Adrian Desmond e James Moore, também acreditam que ele será dos mais polêmicos.

A obra explora o que os dois chamam de humanitarismo de Darwin — e contesta a noção de que suas conclusões tenham sido resultado apenas da busca científica. "Deve haver razões para ele ter chegado a imagens da origem comum da evolução quando não havia precedentes para tanto na zoologia de seu tempo", disse Desmond à Reuters. "Isso vem do antiescravagismo."

"Ninguém duvida que as ilhas Galápagos, os tentilhões, as preguiças gigantes e as tartarugas gigantes tenham sido absolutamente fundamentais para seus pontos de vista e para o que ele estava interessado", agrega Desmond. “Mas é preciso observar um certo princípio norteador. Cada navio levava mais de um naturalista naqueles tempos. Por que nenhum deles chegou a essa idéia da origem comum, ainda que a maioria deles tivesse exatamente a mesma evidência?"

Moore disse que o livro não pretendia simplificar o argumento para "sou contra a escravidão, portanto sou evolucionista". E acrescentou: "Esse não é um argumento reducionista. Estamos ressaltando que era preciso que Darwin acreditasse em uma 'ciência da fraternidade' para ver a origem comum. Não podemos descobrir de onde mais ele teria tirado isso."

Desmond e Moore voltam ao naturalista 18 anos após lançarem Darwin — a aclamada biografia do homem que chegou à conclusão de que todas as espécies evoluíram de ancestrais comuns. Como o próprio cientista sabia, suas teorias foram revolucionárias. Ele derrubou os humanos de seu pedestal ao sugerir que compartilhamos ancestrais com macacos e lesmas, acabou com as pesquisas científicas sugerindo que brancos eram de uma espécie superior aos negros e contestou suposições criacionistas.

Desmond e Moore argumentam que o seu ponto de vista é importante porque mostra que Darwin foi movido por desejos e necessidades humanas. A tese dos autores renova as luzes sobre trabalhos atacados até hoje por serem considerados moralmente subversivos.

Da Redação, com informações da Reuters

Cidades Partidas

Geraldo Magela Teixeira, Reitor do Centro Universitário UNA
A administração das grandes cidades brasileiras deverá sempre estar atenta a uma realidade pungente. São cidades partidas, a população mais opulenta vive encastelada nos condomínios cercados e protegidos pelo medo de uma violência quase generalizada. Parte da população vive nos vastos bairros de classe média ou mesmo na chamada “nova classe média”. Outra parte da população, bem numerosa, se concentra em favelas e grandes conglomerados, quase sempre em condições ínfimas de vida, com tantas famílias desestruturadas onde imperam o tráfico e a violência. Essa realidade deve ocupar a mente e os corações dos administradores na formulação das políticas públicas e, de modo especial, nos planos educacionais. Diante das dificuldades de oferecer uma educação homogênea para todas as crianças, prefeitos e governadores nas últimas décadas implantaram generosos e criativos programas para os pobres, infelizmente, de pouco êxito. Assim surgiram as escolas de tempo integral, os famosos Cieps de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, até a escola integrada de Belo Horizonte. Surge agora uma experiência diferenciada em São Paulo. É uma tentativa de copiar em parceria com os institutos Itaú Social e Fernand Braudel uma experiência em curso em Nova York desde 2001. Espero que o governo de São Paulo esteja fazendo as necessárias adequações, pois a proposta no Brasil esbarra em ordenamentos legais e possíveis conflitos na área sindical.

Tentemos um resumo das principais alterações feitas em Nova York. As escolas mais problemáticas também lá se situam nas regiões mais pobres, de modo especial, na vasta região do Queens. As inovações são importantes. A primeira delas um substancial aumento salarial para os professores e estímulos para os que moram próximo ao local de trabalho. Só isso já atraiu para o projeto profissionais qualificados de todo o país. Ampliaram-se as atribuições dos diretores, que passaram a gerir recursos, elaborar currículos, afastar professores faltosos ou desmotivados, selecionar seus docentes e serviços de apoio. Cada escola tem uma equipe de apoio educacional e equipes de segurança, sobretudo para os pontos de tensão em corredores e escadarias.

Foram criados mecanismos de avaliação dos diretores, com admoestação aos mais fracos e eventual afastamento caso não se recuperem. Os candidatos a diretor são treinados por outros mais experientes na chamada Academia de liderança. A rede escolar de Nova York começou a recrutar jovens talentos recém-formados para lecionar as matérias mais difíceis. Os alunos passaram a ser testados quatro vezes por ano e as famílias convocadas quase semanalmente para integrar o projeto das escolas. Resultado: diminuiu a violência, aumentou o aproveitamento escolar; reduziu-se o número de alunos com a idade inadequada à série que frequentam.

Não sei se a experiência será implantada integralmente em todas as áreas de risco de São Paulo. É que educação tem um preço alto e os administradores não querem ou não podem pagar salários compatíveis com a função e muito menos com os riscos. Tanto que o teto salarial dos professores tornado lei aguarda um pronunciamento definitivo do Supremo Tribunal Federal, arguido de inconstitucionalidade pelos estados. Continua letra morta o aumento a 1/3 da carga horária a ser paga pelo trabalho extraclasse. Ouço de autoridades e até de educadores que o salário não é o elemento que mais motiva os professores. Se não é, me expliquem por que estão vazios os cursos particulares de formação de professores. Se o salário mal dá para pagar a faculdade particular, o que levará os nossos jovens a escolher uma carreira tão sublime? Sabemos que a falta de feijão não sustenta os mais lindos sonhos, nem desvairados amores.

IBGE: renda cresce, mas mulher e negro ganham menos



Agencia Estado

O mercado de trabalho metropolitano registrou aumento na ocupação e no rendimento e queda na taxa de desemprego desde o início do governo Lula, mas as mulheres e os negros ainda ganham menos, segundo estudo divulgado hoje pelo IBGE. O levantamento mostra a evolução desde 2003, quando a taxa média anual de desemprego chegou a 12,3%, até o ano passado, que apresentou taxa de 7,9%.

A taxa média de desemprego de 2002, ano em que teve início a nova série da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, não é utilizada como comparação porque os dados daquele ano só levam em conta o período de março a dezembro. Na média dos meses de março a dezembro, a taxa de 2002 foi de 11,7%.

O estudo mostra também que o número de desocupados caiu 29,4% em seis anos, passando de 2,6 milhões de desempregados nas seis regiões na média de 2003 para 1,9 milhão, em média, no ano passado. No que diz respeito ao número de empregos gerados, houve um aumento de 3 milhões de vagas, passando de 18,7 milhões de ocupados em 2003 para 21,7 milhões na média do ano passado.

No que diz respeito ao rendimento médio real dos trabalhadores, houve aumento de 11,3% de 2003 a 2008, mas não foi o suficiente para recuperar as perdas dos dois primeiros anos do governo Lula. Em 2003, a renda média foi de R$ 1.132,13, chegando a R$ 1.260,74 na média do ano passado. Porém, em 2002, levando-se em conta os dados disponíveis de março a dezembro, a renda média chegava a R$ 1.284,50.

Apesar dos avanços ocorridos nos últimos seis anos, em 2008 as mulheres ainda ganhavam apenas 70% dos salários dos homens nas seis regiões, enquanto o rendimento dos negros e pardos ainda era metade do dos brancos.


Congresso Nacional aprova regulamentação da profissão de DJ



O projeto de lei que regulamenta a profissão de DJ foi aprovado pelo Congresso e deve ser publicado no Diário Oficial no próximo mês de março. O Projeto de Lei do Senado nº 740 é de autoria do senador Romeu Tuma (PTB-SP) e, através dele, a figura do DJ é incorporada na categoria de Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversão.


Segundo o texto, o projeto aplica-se a lei àqueles que, previamente inscritos no Ministério do Trabalho e Emprego, tiverem seu serviço esses profissionais para a realização de espetáculos, eventos, festas, comícios, programas, produções ou mensagens publicitárias.

Para seu registro, os profissionais devem possuir diploma de curso profissionalizante e atestado de capacitação profissional fornecido pelo sindicato representativo da categoria. O modelo de contrato de trabalho será definido pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Os eventos realizados com a utilização de profissionais estrangeiros deverão ter a participação de, pelo menos, 70% de profissionais nacionais.

O surgirmento de Djs

Um disc jockey (DJ ou dee jay) é um artista profissional que seleciona e roda as mais diferentes composições, previamente gravadas para um determinado público alvo, trabalhando seu conteúdo e diversificando seu trabalho em radiodifusão em frequência modulada (FM), pistas de dança de bailes, clubes, boates e danceterias.

O termo disc jockey foi primeiramente utilizado para descrever a figura do locutor de rádio que introduziam e tocavam discos de gramofone, posteriormente, o long play, mais tarde compact disc laser (CD) e atualmente, empregam o uso do mp3. O nome foi logo encurtado para DJ.

Hoje, diante dos numerosos fatores envolvidos, incluindo a composição escolhida, o tipo de público alvo, a lista de canções, o meio e o desenvolvimento da manipulação do som, há diferentes tipos de DJs, sendo que nem todos usam na verdade discos, alguns podem tocar com CDs, outros com laptop (emulando com softwares), entre outros meios. Há também aqueles que mixam sons e vídeos (VJs), mesclando seu conteúdo ao trabalho desenvolvido no momento da apresentação musical. Há, no entanto, uma vasta gama de denominações para classificar o termo DJ.

Djs e o rock and roll

No rádio, os DJs contribuíram para a consolidação do movimento rock and roll à partir da segunda metade dos anos cinquenta, como a maior manifestação cultural da juventude do século 20. Nomes de artistas tão díspares como Elvis Presley e The Beatles, não teriam alcançado o estrelato não fosse o empenho dos DJs originais.

Com o advento da discoteca em meados dos anos setenta, os DJs também ganharam fama fora do rádio e foram para as pistas de dança. Nas pistas, os DJs que atuaram até o meio da década de 1990 utilizavam apenas discos de vinil em suas apresentações. Em que pese o fato de já existirem CDs antes disso, não haviam equipamentos que permitissem o sincronismo da música entrante com a música em execução (ajuste do pitch para posterior mixagem). A forma como esta ação de mixagem é realizada, aliás, é o principal diferencial entre os profissionais desta área.

Um DJ tem a percepção musical de saber quais composições possuem velocidades (mensuradas em batidas por minuto) próximas ou iguais, de forma que uma alteração em um ou dois por cento da velocidade permite com que o compasso das mesmas seja sincronizado e mixado, e o público não consiga notar que uma faixa está acabando e outra está iniciando, pois as duas faixas estão no mesmo ritmo, métrica e velocidade.

Tecnologia e música

DJs das décadas de 1980 e 1990 sincronizavam a composição mixada (entrante) regulando a velocidade do prato do toca-discos, com o cuidado de fazer com que a agulha não escapasse do sulco do vinil (que na prática faz com que a música "pule") e também com que o timbre da voz da música não ficasse, por demais, alterada com a velocidade muito alta ou muito baixa do prato.

Esta alteração da velocidade era possível em toca-discos que possuem o botão chamado pitch. O toca-disco mais famoso, nesta época, era o Technics SL-1200 MK-2, que até hoje é vendido e procurado por profissionais e amantes do vinil pela robustez e força que o seu motor de tracção directa apresenta.

Após a popularização do CD, fabricantes como Pioneer, Technics e Numark desenvolveram aparelhos do tipo CD player com recursos próprios para DJ. Conhecidos como CDJs, possuem botões especiais para alteração de pitch, de retorno da faixa, de marcação de ponto (efeito cue) e looping.

O timbre da música passou a ser controlado (opcionalmente) por um acionador específico, normalmente conhecido como Master Tempo. Com este recurso, mesmo que a composição esteja extremamente acelerada (ou desacelerada), o timbre da voz, teclados, guitarras, etc. é mantido, driblando de certa forma a capacidade de percepção do público, em notar que determinado som está tocando em velocidade diferente da normal.

O DJ é, no fim das contas, um animador de eventos. Este deve conhecer canções o suficiente para saber como e quando mixá-las, deve sentir a vibração do público que o está ouvindo, e saber mudar um estilo na hora certa, para que a pista não esvazie. Deve ser o mais eclético possível, ou deixar bastante claro ao seu público e ao seu contratante qual é seu estilo ou tendência. Existem DJ especializados em raves. Outros, que se dedicam a canções que já fizeram sucesso a oito, dez ou vinte anos atrás.


Da redação, com agências