As Dinastias Midiáticas



Na imprensa brasileira mandam as dinastias estamentais. Os pais proprietários entregam a direção dos jornais, das revistas, das rádios e das televisões – das suas empresas – aos seus filhos, que repassam para os netos, perseverando todos no direito que se auto-atribuíram de decidir quem é e quem não é democrático, quem fala e quem não fala em nome da nação!

por Emir Sader



Assim tem sido ao longo de toda a história da imprensa no Brasil. No momento mais decisivo da história do século 20, em 1964, essas dinastias pregaram e apoiaram o golpe militar, assim como a instalação de uma longa ditadura, que mudou decisivamente os rumos do nosso país. Enquanto os militares intervinham nos poderes Judiciário e Legislativo, enquanto suspendiam todas as garantias constitucionais, enquanto fechavam todos órgãos de imprensa que discordaram do golpe e da ditadura, enquanto a maior repressão da nossa história recente se abatia sobre milhares de brasileiros presos, torturados, exilados e mortos, enquanto isso, as dinastias da imprensa mercantil se calaram sobre a repressão e apoiaram o regime militar!

Eram estes mesmos Mesquitas, Frias, Marinhos, Civitas, estes mesmos que transmitem por herança – como se fosse um bem privado – seu poder dinástico, transferindo-o para os seus filhos e netos. Os júlios, os otávios, os robertos, os victor, vão se sucedendo uns aos outros, a dinastia vai se perpetuando. Que se danem a democracia e o país, mas que se salvem as dinastias!

Mas, hoje, elas estão vendo seu poder se esvaindo pelos dedos. Conta-se que um desses herdeiros, rodando em torno da mesa da reunião do conselho editorial, herdada do pai, esbravejava irado: “onde foi que nós erramos? onde erramos?”. Estava desesperado porque a operação “mensalão” não conseguiu derrubar Lula elegendo o tucano, da sua preferência.

Se ele tivesse olhado os gráficos escondidos na sua sala, teria visto que, nos últimos dez anos, as tiragens dos jornais despencaram. A Folha de São Paulo, por exemplo, que é um dos de maior tiragem, perdeu em 10 anos, de 1997 a 2007, quase cinqüenta por cento dos seus leitores! Depois de quase ter atingido 600 mil leitores, vai fechar o ano de 2008 com menos de 300 mil! Uma queda ainda mais grave se considerarmos que, nesse período, houve crescimento demográfico, aumento do poder aquisitivo, maior interesse pela informação e elevação do índice de escolaridade dos brasileiros.

Os leitores deste jornal de direita estão entre os mais ricos da população. Noventa por cento dos seus menos de 300 mil exemplares são destinados aos leitores das classes A e B, as mesmas que não atingem dezoito por cento da população brasileira. Em outros termos, nove entre cada dez leitores do jornal pertencem aos setores de maior poder aquisitivo e suas condições de vida estão a léguas de distância das do nosso povo – esse povo que gosta do programa bolsa família, dos territórios de cidadania, da eletrificação rural, dos mini-créditos, do aumento real do salário mínimo, da elevação do emprego formal, etc.

A última e mais recente pesquisa sobre o apoio ao governo Lula, que a imprensa dinástica procurou esconder, realizada pela Sensus, revela que Lula é rejeitado por apenas treze por cento dos brasileiros! É essa ínfima minoria, cinco vezes menor do que aquela dos que apóiam o governo Lula, que povoa os editoriais dessa imprensa, suas colunas, seus painéis de cartas dos leitores! Esse é o índice da influência real que a mídia mercantil – juntando televisão, rádio, jornais, revistas, internets, blogs – tem! Apesar de todos os instrumentos monopólicos de que dispõem, apesar das campanhas diárias para dominar a opinião pública, não conseguem nada além desse pífio resultado dos treze por cento que representam!

As dinastias podem continuar a ter filhos, netos e bisnetos, mas é possível que já não dirijam jornais. Esta pode ser a última geração de jornalistas dinásticos que, talvez exatamente por isso, revelam diariamente o desespero da sua impotência, assumindo o mesmo papel que ocuparam nos anos prévios a 1964. É o mesmo desespero da direita diante da popularidade de um Getúlio e do governo Jango. Nos dois casos, só lhes restou apelar à intervenção das Forças Armadas e dos EUA, estes mesmos EUA que nunca fizeram autocrítica, nem desta nem de qualquer outra das suas intervenções contrárias à democracia da qual pretendem ser os arautos! Depois de terem pedido e apoiado o golpe militar, porque ainda acreditam que podem dizer quem é democrático e quem não é?

Fonte: Blog do Emir



Produtora da música 'Um Tapinha Não Dói' é multada


A Justiça Federal de Porto Alegre condenou a empresa Furacão 2000 Produções Artísticas ao pagamento de multa de R$500 mil pelo lançamento da música "Um Tapinha Não Dói", por entender que a letra banaliza a violência e estimula a sociedade a inferiorizar a mulher.



A decisão foi tomada pelo juiz federal substituto Adriano Vitalino dos Santos, da 7ª Vara Federal, e pode ser contestada em instâncias superiores.


A ação foi movida há sete anos pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela organização não-governamental (ONG) Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, que alegaram que a letra justifica a violência masculina a partir do comportamento sexual da mulher.


A ONG e o MPF sustentaram ainda que a liberdade de expressão não é direito absoluto e tem limitações reconhecidas pela Constituição em face do princípio da dignidade.


O juiz entendeu que houve dano moral difuso à mulher e estabeleceu a multa, que deverá ser revertida ao Fundo Federal de Defesa dos Direitos.



A “REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA” DE 64 E A FORMAÇÃO IDEOLÓGICA DAS FORÇAS ARMADAS
Marcelo Dorneles Michel
Professor de Filosofia e de Sociologia
Estamos em uma data significativa, trinta e um de março. Data que representa o vermelho do sangue de homens dignos derramado arbitrariamente por nossos militares. Isso mesmo! Pelos militares, justamente aqueles que deveriam defender a pátria brasileira. Trinta e um de março de sessenta e quatro, o dia do golpismo. Data que não deve ser apagada da memória dos brasileiros. E não deve ser esquecida para que golpismo e arbitrariedades como aquele não aconteçam jamais.
É interessante, e poucos refletem sobre isso, o perigo da formação ideológica de uma categoria que tem sob suas mãos o poder das armas. Por possuir poder dessa imensidão, é justa e prudente a neutralidade política no máximo que for possível da instituição que a exerce. Por que, então, nossos militares recebem formação direitista e conservadora dentro das academias das forças armadas? A que interesses essa formação serve?
Falo com conhecimento de causa, pois passei alguns anos nas fileiras do exército como oficial temporário. Passamos por tentativas de doutrinação a favor do pensamento político direitista conservador, a ponto de tentarem nos convencer, com convicção, dos erros intencionais cometidos pelos historiadores ao contar a história do Brasil durante o Regime Militar. É inconcebível, na caserna, alguém ousar demonstrar um mínimo de simpatia por partidos, movimentos ou pessoas ligadas a tendências populares ou progressistas.
Em uma instituição que preza a hierarquia e disciplina, e faz isso corretamente por ter a força das armas, não raramente presenciei atos de desrespeito ao chefe maior das forças armadas, o Presidente da República. Analfabeto, burro, guerrilheiro, alcoólatra e despreparado eram as formas de se referirem ao presidente Lula. Desrespeitoso foi também como o comandante de minha unidade, se referiu ao se chefe Nelson Jobim, Ministro da Defesa, ao chamá-lo de despreparado em frente aos seus oficiais, durante uma reunião com os mesmos – o famoso Bom Dia.
No Exército, descobri que não houve golpe, mas uma “revolução democrática”. Revolução que suspendeu e cassou direitos políticos, impediu os moradores de cidades consideradas estratégicas de elegerem seus prefeitos; depuseram governadores eleitos democraticamente; censuraram a imprensa; torturaram e mataram cidadãos que lutavam pela dignidade, justiça, liberdade e paz em nosso país; mantiveram presos e/ou exilados personalidades como Paulo Freire, Frei Betto, Betinho e tantos outros cidadãos que tanto contribuíram para o desenvolvimento intelectual, artístico e cultural de nossa nação. Tudo isso fez a “Revolução Democrática de 64”, que eu prefiro chamar de golpismo.
Mesmo assim o governo federal do presidente Lula, concede a esta categoria, em seus seis anos de governo, aumento de mais de 30% em seus soldos. Aumento que o ex-presidente Fernando Henrique, idolatrado por parte das forças armadas (porque outra parte ainda o achavam muito progressista), em seus mais de 8 anos de governo, não concedeu. Aliás, quais as categorias do funcionalismo público receberam aumento deste nível? Mesmo assim, os militares ridicularizam o presidente e vários de seus ministros que lutaram pela redemocratização do Brasil nos anos de pau-de-arara. Lula e seus ministros mostraram hombridade suficiente para superar os traumas de perseguidos e presos políticos tentando uma reaproximação com os militares na perspectiva do diálogo para o desenvolvimento da país. Reaproximação materializada na questão salarial e no reaparelhamento das forças armadas, que nas últimas décadas política (Sarney, Collor, Itamar e FHC) ficou renegada ao sucateamento. Os militares, por puro conservadorismo direitista e autoritarismo doentio, continuam resistentes. Insistem em ver tudo o que é popular, tudo o que vem do povo como “ameaça comunista”. O governo, segundo eles, é para ser governado somente pela elite, pois as vêem como a única capaz. Mas, afinal de contas, o que teve de bom o Brasil governado pelas elites pré-Lula? Em que ficamos melhores? Nossos sistemas de saúde e de educação são melhores que o cubano? Nossas forças armadas são melhores aparelhadas que a chinesa?
Acordem militares! Ainda há tempo de repararem o sangue de inocentes por vocês derramados entre aquele 31 de março de sessenta e quatro e a “abertura” no ano de 84. É só trabalharem para que em nosso país se faça a construção da igualdade, da dignidade, da justiça e da paz! Quem sabe se aproximem das forças populares para que um novo Brasil aconteça, já que distante destas forças vocês fracassaram.

Escolhendo Amigos


Oscar Wilde: abre aspas:

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.

Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;
e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou.

Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos,
nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Monsanto : Lado Obscuro é Revelado em Livro



Uma jornalista francesa acabou de lançar um livro e um documentário sobre a história obscura da Monsanto e sua ligação íntima com governos, cientistas e imprensa pelo mundo.

Vejam o comentário de André Trigueiro na Rádio CBN e reportagem da Carta Capital abaixo.

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CBN, 23/03/2008 - André Trigueiro
Livro sobre Monsanto revela lado obscuro da multinacional ligada a transgênicos

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Sementes do poder
CARTA CAPITAL, 20/03/2008
Christina Palmeira, de Paris
http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=9&i=475

A Monsanto produz 90% dos transgênicos plantados no mundo e é líder no mercado de sementes. Tal hegemonia coloca a multinacional norte-americana no centro do debate sobre os benefícios e os riscos do uso de grãos geneticamente modificados. Para os defensores da manipulação dos genes, a Monsanto representa o futuro promissor da "revolução verde". Para ecologistas e movimentos sociais ligados a pequenos agricultores, a empresa é a encarnação do mal.

Esse último grupo acaba de ganhar um reforço a seus argumentos. Resultados de um trabalho de três anos de investigação da jornalista francesa Marie-Monique Robin, o livro Le Monde Selon Monsanto (O Mundo Segundo a Monsanto) e o documentário homônimo são um libelo contra os produtos e o lobby da multinacional.

O trabalho cataloga ações da Monsanto para divulgar estudos científicos duvidosos de apoio às suas pesquisas e produtos, a exemplo do que fez por muitos anos a indústria do tabaco, relaciona a expansão dos grãos da empresa com suicídios de agricultores na Índia, rememora casos de contaminação pelo produto químico PCB e detalha as relações políticas da companhia que permitiram a liberação do plantio de transgênicos nos Estados Unidos. Em 2007, havia mais de 100 milhões de hectares plantados com sementes geneticamente modificadas, metade nos EUA e o restante em países emergentes como a Argentina, a China e o Brasil.

Marie-Monique Robin, renomada jornalista investigativa com 25 anos de experiência, traz depoimentos inéditos de cientistas, políticos e advogados. A obra esmiúça as relações políticas da multinacional com o governo democrata de Bill Clinton (1993-2001), e com o gabinete do ex-premier britânico Tony Blair. Entre as fontes estão ex-integrantes da Food and Drug Administration (FDA), a agência responsável pela liberação de alimentos e medicamentos nos EUA.

A repórter, filha de agricultores, viajou à Grã-Bretanha, Índia, México, Paraguai, Vietnã, Noruega e Itália para fazer as entrevistas. Antes, fez um profundo levantamento na internet e baseou sua investigação em documentos on-line para evitar possíveis processos movidos pela Monsanto. A empresa não deu entrevista à jornalista, mas, há poucas semanas, durante uma apresentação em Paris de outro documentário de Robin, uma funcionária da multinacional apareceu e avisou que a companhia seguia seus passos. Detalhe: a sede da Monsanto fica em Lyon, distante 465 quilômetros da capital francesa

Procurada por CartaCapital, a Monsanto recusou-se a comentar as acusações no livro. Uma assessora sugeriu uma visita ao site da Associação Francesa de Informação Científica, onde há artigos de cientistas com críticas ao livro de Robin. A revista, devidamente autorizada pelo autor, reproduz na página 11 trechos do artigo de um desses cientistas, Marcel Kuntz, diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica de Grenoble.

Não é de hoje, mostra o livro, que herbicidas da Monsanto causam problemas ambientais e sociais. Robin narra a história de um processo movido por moradores da pequena Anniston, no Sul dos EUA, contra a multinacional, dona de uma fábrica de PCB fechada em 1971. Conhecida no Brasil como Ascarel, a substância tóxica era usada na fabricação de transformadores e entrava na composição da tinta usada na pintura dos cascos das embarcações. Aqui foi proibida em 1981.

A Monsanto, relata a repórter, sabia dos efeitos perversos do produto desde 1937. Mas manteve a fábrica em funcionamento por mais 34 anos. Em 2002, após sete anos de briga, os moradores de Anniston ganharam uma indenização de 700 milhões de dólares. Na cidade, com menos de 20 mil habitantes, foram registrados 450 casos de crianças com uma doença motora cerebral, além de dezenas de mortes provocadas pela contaminação com o PCB. Há 42 anos, a própria Monsanto realizou um estudo com a água de Anniston: os peixes morreram em três minutos cuspindo sangue.

Robin alerta que os tentáculos da Monsanto atingem até a Casa Branca. A influência remonta aos tempos da Segunda Guerra Mundial e ao período da chamada Guerra Fria. Donald Rumsfeld, ex-secretário de Defesa do governo Bush júnior, dirigiu a divisão farmacêutica da companhia. A multinacional manteve ainda uma parceria com os militares. Em 1942, o diretor Charles Thomas e a empresa ingressaram no Projeto Manhattan, que resultou na produção da bomba atômica. O executivo encerrou a carreira na presidência da Monsanto (1951-1960).

Na Guerra do Vietnã (1959-1975), a empresa fornecia o agente laranja, cujos efeitos duram até hoje. A jornalista visitou o Museu dos Horrores da Dioxina, em Ho Chi Minh (antiga Saigon), onde se podem ver os efeitos do produto sobre fetos e recém-nascidos.

Alan Gibson, vice-presidente da associação dos veteranos norte-americanos da Guerra do Vietnã, falou à autora dos efeitos do agente laranja: "Um dia, estava lavando os pés e um pedaço de osso ficou na minha mão".

Boa parte do trabalho de Robin é dedicada a narrar as pressões sofridas por pesquisadores e funcionários de órgãos públicos que decidiram denunciar os efeitos dos produtos da empresa. É o exemplo de Cate Jenkis, química da EPA, a agência ambiental dos Estados Unidos.

Em 1990, Jenkis fez um relatório sobre os efeitos da dioxina, o que lhe valeu a transferência para um posto burocrático. Graças à denúncia da pesquisadora, a lei americana mudou e passou a conceder auxílio a ex-combatentes do Vietnã. Após longa batalha judicial, Jenkis foi reintegrada ao antigo posto.

Há também o relato de Richard Burroughs, funcionário da FDA encarregado de avaliar o hormônio de crescimento bovino da Monsanto. Burroughs diz ter comprovado os efeitos nocivos do hormônio para a saúde de homens e animais e constatou que, com o gado debilitado, os pecuaristas usavam altas doses de antibióticos. Resultado: o leite acabava contaminado. Burroughs, conta a jornalista, foi demitido. Mas um estudo recente revela que a taxa de câncer no seio entre as norte-americanas com mais de 50 anos cresceu 55,3% entre 1994, ano do lançamento do hormônio nos Estados Unidos, e 2002.

Segundo Robin, a liberação das sementes transgênicas nos Estados Unidos foi resultado do forte lobby da empresa na Casa Branca, principalmente durante o governo Clinton. Uma das "coincidências": quem elaborou, na FDA, a regulamentação dos grãos geneticamente modificados foi Michael Taylor, que nos anos 90 fora um dos vice-presidentes da Monsanto..

A repórter se detém sobre o "princípio da equivalência em substância", conceito fundamental para regulamentação dos transgênicos em todo o mundo. A fórmula estabelece que os componentes dos alimentos de uma planta transgênica serão os mesmos ou similares aos encontrados nos alimentos "convencionais".

Robin encontrou-se com Dan Glickman, que foi secretário de Estado da Agricultura do governo Clinton, responsável pela autorização dos transgênicos nos EUA. Glickman confessou, em 2006, ter mudado de posição e admitiu ter sido pressionado após sugerir que as companhias realizassem testes suplementares sobre os transgênicos. As críticas vieram dos colegas da área de comércio exterior.

Houve pressões, segundo o livro, também no Reino Unido. O cientista Arpad Pusztai, funcionário do Instituto Rowett, um dos mais renomados da Grã-Bretanha, teria sido punido após divulgar resultados controversos sobre alimentos transgênicos. Em 1998, Pusztai deu uma entrevista à rede de tevê BBC. Perguntado se comeria batatas transgênicas, disparou: "Não. Como um cientista que trabalha ativamente neste setor, considero que não é justo tomar os cidadãos britânicos por cobaias". Após a entrevista, o contrato de Pusztai foi suspenso, sua equipe dissolvida, os documentos e computadores confiscados. Pusztai também foi proibido de falar com a imprensa. No artigo reproduzido à página 11, Kuntz afirma que o cientista perdeu o emprego por não apresentar resultados consistentes que embasassem as declarações à imprensa.

Pusztai afirma que só compreendeu a situação, em 1999, ao saber que assessores do governo britânico haviam ligado para a direção do instituto no dia da sua demissão. Em 2003, Robert Orsko, ex-integrante do Instituto Rowett, teria confirmado que a "Monsanto tinha ligado para Bill Clinton, que, em seguida, ligou para Tony Blair". E assim o cientista perdeu o emprego.

Nas viagens por países emergentes, Robin colheu histórias de falta de controle no plantio de transgênicos e prejuízos a pequenos agricultores. No México, na Argentina e no Brasil, plantações de soja e milho convencionais acabaram contaminadas por transgênicos, o que forçou, como no caso brasileiro, a liberação do uso das sementes da Monsanto (que fatura com os royalties).

De acordo com a jornalista, o uso da soja Roundup Ready (RR), muito utilizada no Brasil e na Argentina, acrescenta outro ganho à Monsanto, ao provocar o aumento do uso do herbicida Roundup. Na era pré-RR, a Argentina consumia 1 milhão de litros de glifosato, volume que saltou para 150 milhões em 2005. De lá para cá, a empresa suprimiu os descontos na comercialização do pesticida, aumentando seus lucros.

Um dos ícones do drama social dos transgênicos, diz o livro, é a Índia. Entre junho de 2005 (data da introdução do algodão transgênico Bt no estado indiano de Maharashtra) e dezembro de 2006, 1.280 agricultores se mataram. Um suicídio a cada oito horas. A maioria por não conseguir bancar os custos com o plantio de grãos geneticamente modificados.

Robin relata a tragédia desses agricultores, que, durante séculos, semearam seus campos e agora se vêm às voltas com a compra de sementes, adubos e pesticidas, num círculo vicioso que termina em muitos casos na ingestão de um frasco de Roundup.

A jornalista descreve ainda o que diz ser o poder da Monsanto sobre a mídia internacional. Cita, entre outros, os casos dos jornalistas norte-americanos Jane Akre e Steve Wilson, duramente sancionados por terem realizado, em 1996, um documentário sobre o hormônio do crescimento. No país da democracia, a dupla se transformou em símbolo da censura.

Os cientistas, conta o livro, são frequentemente "cooptados" pela gigante norte-americana. Entre os "vendidos" está o renomado cancerologista Richard Doll, reconhecido por trabalhos que auxiliaram no combate à indústria do tabaco. Doll faleceu em 2005. No ano seguinte, o jornal britânico The Guardian revelou que durante 20 anos o pesquisador trabalhou para a Monsanto. Sua tarefa, com remuneração diária de 1,5 mil dólares, era a de redigir artigos provando que o meio ambiente tem uma função limitada na progressão das doenças. Foi um intenso arquiteto do "mundo mágico" da Monsanto.

Brasil - O desrespeito à vida humana por membros da Igreja Católica Romana


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Ivone Gebara *

Adital - Se a Igreja Católica Romana continuar a educar os seus fiéis através de comportamentos de choque tais como os que estão acontecendo no Rio de Janeiro em relação ao aborto, estará incentivando a franca decadência dos costumes e a violência cultural.

Já imaginaram que daqui a pouco poderemos ter estátuas de pedófilos, e talvez alguns deles vestidos de batina expressando gestos de sexo explícito com crianças. Alguém de bom senso seria capaz de pensar que essas eventuais obras de plástico, fabricadas em série, expostas nos altares ou apresentadas no rito penitencial educariam os membros da Igreja e outros a não usar as crianças para suas fantasias sexuais? Ou talvez, poderiam apresentar slides com cenas de violência doméstica focalizando nas figuras masculinas que têm mutilado centenas de mulheres anualmente no Brasil. Poderiam até carregar nas cores e focalizar especialmente as cenas de sangue derramado. Acreditariam acaso estar educando os fiéis a combater a violência contra as mulheres?

A imaginação não me falta para tentar apresentar as mais diversas cenas, analogias e associações em relação ao caso atual dos embriões, aliás, de falso tamanho, expostos nos altares de algumas igrejas do Rio de Janeiro.

Sinto tristeza e vergonha que tenhamos chegado a este ponto. Sinto tristeza e vergonha dos comportamentos retrógrados da maior parte da hierarquia católica romana que não compreendeu os gestos de vida de Jesus de Nazaré e não aprendeu dos efeitos negativos dos comportamentos fascistas e ditatoriais que a Igreja teve ao longo de sua história em relação à ciência, às diferentes culturas e às mulheres. Sinto tristeza e vergonha da insensibilidade com que se trata um problema de saúde pública e da maneira como se usam os textos bíblicos descontextualizados para justificar posturas de um grupo como se fossem posturas da Igreja.

Como entender que o bispo auxiliar do Rio de Janeiro, D. Antonio Augusto Dias Duarte afirme que a imagem do feto é singela e que a Igreja tem o direito de conscientizar a população? Por que não apresenta então os retratos das milhares de mulheres que morreram por abortos mal feitos. As imagens das mulheres mortas seriam menos singelas? Seriam impuras? Seriam acaso menos conscientizadoras?

Justificar estas ações de violência cultural, acobertadas pelo lema da Campanha da Fraternidade "Escolhe, pois a Vida" é ambíguo, contraditório e até certo ponto de má fé. Supõe que a hierarquia toda poderosa da Igreja, sem acolher um consenso mínimo entre a diversidade dos fiéis, visto que não acolhe as várias pesquisas de opinião pública e nem as reflexões de muitas mulheres, é capaz de afirmar o que é o melhor para as vidas humanas. Usa de sua autoridade e privilégio para fazer valer suas posições em desrespeito a um pluralismo real, necessário e salutar. Acredita com isso defender a vida sem pensar que a vida em geral não se defende de forma geral. Cada um de nós escolhe as vidas que vai defender de forma prioritária e as formas de defendê-las. Cada um de nós tem que arcar com a dose de contradição inerente a qualquer escolha. A instituição eclesiástica não foge à regra e, portanto está faz a mesma coisa. Fica claro quem defende em primeiro lugar. Por isso, vale a pergunta: por que o embrião e não a mulher? Não estaríamos ainda vivendo no mundo dos princípios abstratos, dos mitos de pureza sem conexão com a vida real? Estas e muitas outras perguntas são convites ao pensamento diante dos problemas reais de nosso tempo.

Como a Igreja hierárquica sempre fez e continua fazendo quando seus fiéis se desviam das normas que estabeleceu, creio que, o mínimo que se poderia esperar, é que não só o bispo D. Antonio Augusto, mas também, os padres e conselhos paroquiais que acolheram sua diretiva sejam considerados cúmplices do mesmo crime de violência cultural e de desrespeito simbólico aos corpos humanos. O mínimo que a presidência da CNBB deveria fazer é alertá-los e instá-los a retirar imediatamente de suas Igrejas os embriões de plástico. Além disso, se possível, convidá-los a pedir perdão publicamente por esse ato de terrorismo religioso, especialmente contra as mulheres e as crianças.

No caso dos embriões de plástico expostos nas igrejas do Rio não se trata de respeito às opiniões da Igreja ou à autonomia de cada diocese. Dar e respeitar opiniões inclui um limite ético. Estas ações vão além desses limites. A Igreja sempre usou do direito de opinar sobre várias questões sociais e, sobretudo ultimamente. Nesse caso particular como em outros semelhantes, que têm acontecido, trata-se de uma usurpação de poder, trata-se de uma instrumentalização das consciências, trata-se de uma violência praticada, sobretudo num momento em que os fiéis se reúnem para uma celebração da memória da vida de Jesus de Nazaré. Mais uma vez o desejo de poder, de influir nas decisões do Estado, de acreditar que seus princípios e suas propostas são as melhores para a vida em sociedade fortalece uma visão retrógrada do cristianismo e uma visão contraria ao pluralismo social. Além disso, distancia a Igreja Católica Romana de um possível discipulado entre iguais e da urgência de diálogo a partir das dores concretas de corpos concretos.

O que está acontecendo é vergonhoso e totalmente ilegítimo. AGUARDAMOS MEDIDAS DAS AUTORIDADES ECLESIÁSTICAS assim como uma reação mais contundente dos FIÉIS e dos movimentos sociais. Não podemos mais aceitar que a ignorância disfarçada em fé, o autoritarismo disfarçado em serviço e a intransigência obscurantista disfarçada em educação conscientizadora tenham a última palavra nas comunidades cristãs. Em vez de usar a expressão "Escolhe, pois a vida" como álibi para manter sua luta contra o aborto terapêutico, poderiam simplesmente convidar os fiéis a respeitar as escolhas diferentes ajudando-os na construção de relações para além dos dogmatismos e sectarismos religiosos.

18 de março de 2008.

* Teóloga

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Teatro : Atividade Caiu Com a Lei de Incentivos


O teatro no Brasil celebra o seu dia internacional unido na insatisfação quanto aos mecanismos de financiamento e dividido quanto às possíveis soluções desses impasses. Entre as soluções, tramita no Congresso um projeto de lei que cria a Secretaria Nacional de Teatro para apressar o fluxo de pedidos de financiamento via renúncia fiscal, que seria ainda mais facilitado por mecanismo semelhante à Lei do Audiovisual, que permite o abatimento de até 125% (sic) sobre o valor financiado.

Por Celso Frateschi e Juca Ferreira, na Folha de S.Paulo



Seguindo a máxima de que não devemos propor o novo sem entender o velho, sob o risco de o novo já nascer envelhecido, sugerimos a análise da eficiência e da eficácia dos mecanismos vigentes, uma vez que a nova proposta baseia-se nos mesmos princípios da Lei Rouanet, que todos querem mudar.

O principal objetivo da Lei Rouanet é estimular a economia da cultura, proporcionando aos cidadãos brasileiros maior acesso à cultura produzida em nosso país. No entanto, antes da lei, as temporadas de nossos espetáculos tinham de seis a oito seções semanais. Hoje são duas a três seções por semana. Por que percebemos essa radical redução?

Muitos alegam que não há mais público para longas temporadas. Se isso é verdade, como parece, é mais um motivo para questionarmos o mecanismo atual. Ao cabo de quase duas décadas de aplicação da Lei Rouanet, a atividade teatral diminuiu, pelo menos em termos relativos. O número de produções cresceu, mas elas estão cada vez mais concentradas na região Sudeste. Como explicar o aparente paradoxo?

Quase todos os recursos da Lei Rouanet para o teatro são aplicados na montagem do espetáculo e na manutenção de uma temporada cada vez mais curta. Por quê? Não seria porque o empresário, que visa o lucro -e é natural que seja assim-, foi induzido a produzir cada vez mais montagens, ao perceber que o seu lucro não vem da bilheteria, o que seria desejável numa economia saudável, mas está embutido no processo de produção?

Se a razão de ser do espetáculo não é mais o público, que sentido pode existir nesse teatro?

O teatro movimenta um número cada vez maior de recursos da Lei Rouanet: R$ 44.376.571 em 2000 e R$ 107.967.652 em 2007. O preço do ingresso é cada vez mais caro, chegando a custar um salário mínimo -e aí chegamos no limite de um espetáculo, financiado com dinheiro do cidadão, ter o ingresso mais caro que o salário de quem o subsidia.

Pode-se alegar que o teatro não se auto-sustenta economicamente e que sempre precisará de subsídios.

Um exemplo de que isso nem sempre é verdade é o caso de um proponente que, em cinco anos, captou mais de R$ 40 milhões. As montagens foram sucessos retumbantes e geraram lucros significativos. Não obstante, a companhia sempre requisitava, a cada montagem, mais recursos. O último pedido, negado pelo Conselho Nacional de Incentivo Cultural, chegava a R$ 27 milhões.

Isso sugere que o teatro pode dar lucro e que tal lucro pode estar sendo aplicado em outros setores da economia. Recentemente um empresário teatral carioca disse ao jornal O Globo que "o teatro é um ótimo negócio". O teatro, ao menos para alguns, não é inviável economicamente.

Com a Lei Rouanet, os orçamentos públicos para a área de cultura escassearam, com exceção do federal e de raros casos estaduais e municipais. A distorção chega ao ponto de TVs públicas, orquestras sinfônicas, o Sistema S e até a Funarte precisarem se utilizar da Lei Rouanet.

Alguns produtores argumentam que os mecanismos vigentes protegem a produção dos humores do orçamento público, mas os valores aprovados para captação crescem ano a ano, e os valores captados, que dependem dos orçamentos das empresas, tiveram uma queda em 2007.

O teatro não é apenas uma atividade econômica. É uma forma de expressão e de construção de conhecimento, que engrandece o cidadão na sua humanidade e sociabilidade. É uma arte pública e possui na sua própria essência o ato político da cidadania. É um exercício de liberdade que expõe, pela representação, o homem em suas relações, num ato ao mesmo tempo individual e coletivo.

Comemoramos o Dia Internacional do Teatro com velhas angústias e velhas e novas esperanças, mas com ânimo renovado para o debate e para a busca de soluções mais estruturantes para a atividade, que atendam o teatro não apenas como atividade econômica, mas também na sua dimensão simbólica e, principalmente, como direito do cidadão.


Greves no ABC de 79 a 80 - Filme Será Relançado



Em 1979, a greve dos metalúrgicos interrompe a produção das fábricas do ABC, na Grande São Paulo. A intervenção do governo federal tenta derrubar o movimento, mas em 1980 outra greve surge. A repressão policial é a alternativa encontrada pelo governo militar para dizimar a greve. Os diretores do sindicato são presos e processados. Hoje, algumas dessas pessoas ocupam cargos importantes no governo, inclusive o da Presidência da República.


Essa é a história contada no documentário Linha de Montagem, do cineasta Renato Tapajós, produzido em 79/80, pela produtora Tapiri Cinematográfica, e lançado nos cinemas em 1983. O longa-metragem foi restaurado e será relançado no festival "É Tudo Verdade", no próximo dia 29 de março, no Rio de Janeiro, e no dia 2 de abril, em São Paulo. Após essas exibições haverá um debate com Tapajós. No dia 4 de abril, haverá ainda uma outra exibição em São Paulo, mas sem debate.

Inicialmente filmado em 16mm, o filme recebeu verba da Petrobras e passou por um processo de restauração digital, que resultou em novas cópias em 35mm. O lançamento no É Tudo Verdade será a primeira exibição pública 25 anos após o lançamento original.

Segundo Tapajós, o documentário retrata um período importante na história do país. “O filme mostra mais do que a transição da ditadura para a democracia. Mostra, sobretudo, o surgimento de forças e personagens que iriam ser determinantes pelas décadas seguintes”, diz o diretor.

E ainda completa: “o quê nasceu em São Bernardo em 79/80 chegou a Brasília nas eleições de 2002. O filme flagra esse nascimento, registra o momento em que as novas forças estão sendo criadas”.

O diretor está negociando com distribuidoras o lançamento em salas de cinema e em DVD.

O DVD terá extras composto por entrevista com Tapajós, além de um bate-papo entre o diretor, o diretor de fotografia Zetas Malzoni e o montador Roberto Gervitz e ainda um especial sobre o processo de restauração.

Serviço

Exibição no Rio de Janeiro:

Dia 29 de março, às 20h, no Instituto Moreira Sales, localizado na Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea.

Exibição em São Paulo:

Dia 02 de abril, às 19h, na Cinemateca Brasileira, localizada no Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino.

Dia 04 de abril, às 17h, no Centro Cultural Banco do Brasil, localizado na Rua Álvares Penteado, 112, Centro.

A exibição é gratuita e aberta ao público. Chegar com uma hora de antecedência para retirar ingresso.

Ficha técnica

Linha de Montagem

Gênero: documentário
Formato: 35 mm
Duração: 90 minutos
Ano de produção: 1979/1980
Ano do lançamento original: 1983
Ano de relançamento: 2008
Direção: Renato Tapajós
Direção de fotografia e Câmera: Zetas Malzoni
Música: Chico Buarque de Hollanda
Montagem: Roberto Gervitz
Narração: Othon Bastos


Metamorfose - Primeiro Evento


Ola companheiros e companheiras
E com muinto prazer que o metamorfose crew esta convidando a tod@s para o nosso primeiro evento que será realizado no dia 6 de abril (domingo)
apartir das 9h da manha
com varias atrações :
Debates – Exposições (Artesanato e Grafite)- Sorteio de Brindes- T rança Afro( feita na hora).
Shows com:
• Negras Ativas;
• Ideologia Feminina;
• Rosy (VSD);
• Impacto Feminino;
• Real Mina;
• Remanescentes;
• Fernanda (APR);
• Frutos Periféricos;
• Déboras;
• Banca Atitude de Mulher;
E outr@s Mc´s convidados.
DJ: Lelé CDJ: Dany
Grafite :
• Fabi;
• Daisla;
• Liw;
• Ana.
Exposição de telas de vári@s grafiteir@s.
B.giri´s
• Grupo Gálatas 5.
Dança :
• Grupo de Dança Afro: Calanga e Valeria ( Odum Orixás);
• Black white boys.
Local : centro Cultural São Bernardo (R. Edna Quintel, nº320- são Bernardo
OBS: terá dois ônibus pra levar a galera saindo da praça das estação:
Horários um as 8h e outro saindo as 11h do mesmo local (praça das estação ).

Brasileiro Gasta 5 Vezes Mais Água



Pesquisa revela que o maior desperdício acontece durante os banhos


Flávio Costa

Aos Guerreiros e Guerreiras das Periférias do Brasil - Hip Hop



Aos guerreiros e guerreiras das periferias do Brasil

Um salve a todos os guerreiros e guerreiras das periferias do Brasil. É com muito orgulho que represento a cultura de rua, esta que a muitos anos tem defendido os direitos de milhares de jovens cidadãos do mundo. Então, é neste contexto que este humilde colunista sempre expressou suas idéias e dividiu as informações com a rapa, neste sentido faço uma breve reflexão no que diz respeito ao ativismo do movimento hip-hop.

O que é preciso ser feito para avançarmos ?

O jovem das periferias e dos grandes centros vêem na cultura hip-hop uma forma de expressar seus anseios e descobrir suas virtudes através de seus elementos, ou seja, a dança, a música e ou as artes plásticas. Esta evolução constante se da a partir do momento que as necessidades humanas exigem de cada ser, seja ele desenvolvedor da ação ou até mesmo um simpatizante, a busca constante do conhecimento este sim é o elemento crucial para elevação intelectual.



Como podemos adquirir e multiplicar o conhecimento?


É simples, os músicos do hip-hop, o DJ, o Produtor, estes pesquizam o Universo musical, para que através de sampler’s, colagens, timbres, loopings, lançamentos e raridades, desenvolva uma produção e ou uma boa discotecagem.
O rapper e o b.boyng estes devem buscar na leitura e no contemporâneo as influências e a essência através da história, e baseando-se em fatos reais, podendo assim fazer suas criticas com coerência.

Parece simples vendo por este exemplo do hip-hop, mas não é tão simples assim.

Preste atenção: Temos grandes dificuldade para nos organizar e nos reunir, buscar a compreensão muitas vezes exige muita doação, e isto é em particular de cada um, é preciso querer crescer intelectualmente. Esta é uma das virtudes que nos permite interagir de forma mais direta e contundente em meio a sociedade, participar das discussões e decisões são as formas mais rápidas e democráticas para buscarmos a transformação social e a inclusão do povo pobre, por isso é necessário que todo o cidadão que entenda que de alguma forma esta sendo excluído do processo se integre na luta das massas menos favorecidas, colocando-se a disposição da construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

O que em décadas passadas era apenas um sonho, gravar um disco, produzir seu próprio trabalho, hoje já é nossa realidade, a era digital facilita e habilita o jovem para que ele seja o agente de cada etapa da emancipação da juventude. A necessidade de se expressar faz com que o homem busque seus próprios meios de comunicação. Eu em particular utilizo este meio jornalístico não somente como um mecanismo, mas também como um alimento imprescindível a sobrevivência e a luta da juventude brasileira.

Whyte Jay é MC, morador de Viamão, Rio Grande do Sul.


Barreiro Urgente - Ocupação Camilo Torres



Ocupação Camilo Torres

Mais um passo rumo

à vitória final...

A Ocupação que leva o nome do padre colombiano que lutou e morreu em combate pela libertação dos pobres de seu país vai ter uma Páscoa cheia de festa e alegria. Hoje, dia 18 de março, o juízo da 10ª Vara Cível negou o pedido liminar de reintegração de posse contra os ocupantes da Camilo Torres.

O suposto proprietário não pode provar que possuía posse do terreno que hoje é o lar de 116 famílias organizadas pelo movimento popular. A comprovação da posse é requisito fundamental para a concessão da liminar e, graças ao empenho dos amigos da Defensoria Pública Estadual de Direitos Humanos, foi possível rebater as falsas alegações do autor que jamais deu função social ao terreno ocupado pelos sem-casa.

O caso agora vai ser apreciado pelo Tribunal de Justiça, em segunda instancia, mas as famílias estão confiantes de que a humanidade e a justiça irão triunfar sobre a ganância e o poder!

Desde já convidamos a todos(as) os(as) amigos(as) e apoiadores(as) da Camilo Torres para o nosso Arraiá Temporão no dia 06 de abril, domingo, a partir do meio dia, na rua em frente à Ocupação (vide endereço abaixo). Teremos dança de quadrilha, roda de samba, hip hop, comidas típicas, celebração ecumênica e muita festa!

Contamos com sua solidariedade com a nossa causa que, em última instância, é a luta por um país mais justo e igualitário.

"Onde caiu Camilo nasceu uma cruz,
porém não de madeira, e sim de luz"
Victor Jará

· Histórico da Ocupação Camilo Torres

No dia 16 de fevereiro, um dia após a data em que recordamos a morte em combate do padre-guerrilheiro Camilo Torres, mais de 80 famílias sem-teto, num ato de coragem e rebeldia, ocuparam um terreno abandonado na Região do Barreiro e resistiram mais de três horas às pressões da Polícia Militar. As famílias não se intimidaram com o helicóptero da PM pousado no meio do terreno ocupado e nem com as armas de forte calibre apontadas em sua direção. Antes pelo contrário, os policiais tiveram que se retirar sob os gritos de palavras de ordem e cantoria festiva...

Hoje somos 116 famílias na Ocupação e ainda existe uma lista com mais de 150 famílias sem-casa que não puderam ser contempladas no terreno por falta de espaço.

O terreno ocupado estava abandonado há mais de 20 anos, sendo cenário de práticas delituosas e armazenamento de lixo e entulho. A propriedade do imóvel era da empresa CODEMIG que tem o Estado de Minas Gerais como acionista majoritário e foi transmitida para o particular em 1992, sob a condição de ser empreendida atividade industrial no local, o que jamais foi feito.

Importante acrescentar que a venda do terreno, que possui valor venal superior a R$ 250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil reais), conforme guia de IPTU, foi feita pelo valor irrisório de R$ 15.000,00 (quinze mil reais)! Um crime contra o patrimônio público cometido pelo Estado de Minas Gerais! Vamos notificar ao Ministério Público sobre este fato que, por si só, justifica uma Ação de Improbidade Administrativa.

A Prefeitura de Belo Horizonte, por sua vez, mostrou sua verdadeira face quando montou um forte aparato policial para despejar parte das famílias que estavam numa fração do terreno que lhe pertence. A ação foi arbitrária e ilegal, pois não havia mandado judicial que legitimasse o despejo. Em resposta, as famílias da ocupação fizeram uma marcha de 7 km rumo à Regional Barreiro para repudiar a truculência e a hipocrisia da PBH que trata os sem-teto como caso de polícia. O Secretário-adjunto de Habitação, Sr. Carlos Medeiros, mais uma vez, simplesmente disse que não pode fazer nada...

Mesmo vivendo nesse quadro de incertezas, somado às situações difíceis por causa do sol quente sobre as barracas de lona preta e as fortes chuvas que sempre alagam o terreno, nada desanima as famílias que finalmente puderam comemorar a primeira conquista! Mas sabemos que a vitória final ainda não está ganha e que o inimigo não irá desistir facilmente...

De qualquer maneira, continuamos firmes na luta, resistindo contra todas

as adversidades, junto com os movimentos populares que lutam por

fazer valer a vida humana, que deve ser muito mais valorizada

do que o dinheiro e a especulação imobiliária!

Nossas reivindicações

1) Desapropriação imediata do terreno ocupado, destinando-o para moradia popular;

2) Revisão do Plano Diretor do município com a participação dos movimentos;

3) Implementação do Estatuto das Cidades (Lei n° 10.257/01) no Município, com destaque para os instrumentos que proporciona uma reforma urbana descente (IPTU progressivo no tempo e no espaço, lei de preempção e outros);

4) Aprovação do projeto de lei que destina 1% do ICMS do Estado para o Fundo Estadual de Habitação;

5) Reforma Urbana ampla, geral e irrestrita, que onere a especulação imobiliária e priorize o atendimento da população de baixa renda;

6) Construção emergencial, pela Prefeitura municipal de BH, de 2.000 casas/ano – em contraposição à irrisória quantia oferecida de apenas 300 unidades/ano – mediante inclusive utilização dos recursos previstos no PAC, cerca de R$ 106,3 bilhões para moradia popular;

7) Fim da política de criminalização dos movimentos sociais conduzida pelo governo estadual e municipal.

Necessitamos do apoio de pessoas, entidades e movimentos sociais comprometidos com a causa dos oprimidos para fortalecer a luta por uma cidade que cumpra sua função social, por uma cidade da maioria e pela maioria, por uma cidade em que caibam todos e todas!!!

· Visite a Ocupação Camilo Torres. Endereço: Av. Perimetral nº 450 Vila Santa Rita BH / MG

· Contatos:

Lacerda Santos (31) 9708-4830 / Joviano Mayer (31) 8652-4783

- Associação de Sem Casa da Vila Santa Rita -

- Brigadas Populares -


FARC - Sem Idealogia


Jornalista brasileiro diz que cobertura midiática é desfavorável às Farc

Ana Luiza Moulatlet
Portal Imprensa
A precisão daquele momento ficará na vida do jornalista Jacques Gomes Filho para sempre. Afinal, ele foi um dos últimos jornalistas a entrevistar Raúl Reyes, porta-voz das Farc e considerado o número dois da guerrilha. A negociação para o encontro no meio da selva demorou quatro meses, e foi bem-sucedida porque o correspondente na América Latina para o SBT é brasileiro e provou que "foge dos estereótipos da mídia". "O fato de ser brasileiro contribuiu muito para conseguir essa entrevista, pois nosso país está à parte do conflito; sem dúvida somos interlocutores", diz o jornalista.
As três noites passadas no meio da floresta, em meio a adversidades - como o fato de ter encontrado o exército colombiano e fugido por quatro dias para despistá-lo - não o deixou com medo. "Acho que pelo fato de ser jornalista estrangeiro, os guerrilheiros cuidavam muito bem de mim, com medo de que acontecesse algo e tivesse uma repercussão negativa".
A cordialidade de Reyes também não o fez pensar em seqüestro. Para Gomes Filho, a imagem que ficou do comandante foi a de um homem ressentido, que sabia ter perdido algo infinito: "Ele sabia que as Farc perderam a oportunidade histórica de chegar ao poder".
Portal IMPRENSA - Como foi seu encontro com Raul Reyes, guerrilheiro considerado o número dois das Farc?
Jacques Gomes Filho - Eu fui um dos últimos jornalistas que teve oportunidade de entrar no acampamento das Farc. Foi em novembro do ano passado, e logo depois o presidente venezuelano, Hugo Chávez, rompeu com a Colômbia. Sei que era uma região muito próxima da fronteira com o Equador. Mas na hora e local combinados, em vez de guerrilheiros, encontrei o exército colombiano, sinal claro de que eles estavam em uma situação de conflito. Por conta disso, fiquei quatro dias indo de uma casa a outra, uma forma de tentar despistar a inteligência colombiana. Um dia, numa das casas em que eu estava, apareceu um casal enlameado, que me levou de barco, numa viagem que durou três horas. Ainda passei a noite em uma outra casa, e fui levado por uma guerrilheira até o acampamento em que estava Reyes, no meio da selva.
IMPRENSA - Como foi a negociação para conseguir a entrevista?
Gomes Filho - Foram quatro meses de negociação, eles mostravam a todo momento que não tinham pressa nenhuma. Durante esse período, o secretariado internacional das Farc fez contato em Buenos Aires comigo para saber o que eu queria, que tipo de enfoque eu iria dar, se iria fugir dos estereótipos que a mídia costuma seguir quando cobre as Farc. Eu acho que meu mérito foi conseguir o contato no tom certo, na hora certa.
IMPRENSA - O fato de você ser um jornalista brasileiro ajudou na negociação?
Gomes Filho - Com certeza. O Brasil está à parte do conflito, sem dúvida somos interlocutores, a própria pessoa com quem eu mantive contato durante os quatro meses antes da entrevista me disse isso. Eu consegui falar com as Farc num momento em que eles estavam em campanha, que queriam aparecer, e o Brasil está fora da zona de conflito. Inclusive foi um dos argumentos que usei, o Brasil até pode ter uma liderança sul-americana discutível, mas a gente está fora do conflito.
IMPRENSA - Como as Farc enxergam a mídia brasileira?
Gomes Filho - Reyes foi a única pessoa autorizada a falar, não é a toa que ele é porta-voz, ele tinha interesse em falar. Não conversei com outros guerrilheiros, mas dentro de um discurso radical que eles entram, acho um erro generalizarem e falarem que a mídia compra o que o governo colombiano fala. Para mim, a cobertura midiática é desfavorável a eles, e o que Reyes fez foi uma crítica generalizada aos meios de comunicação mundiais. Um frase que ele falava é que o governo colombiano diz o que quer, e que essas opiniões repercutem.
IMPRENSA - Como foi a entrevista com ele?
Gomes Filho - Ele escolheu a hora de falar. Reyes tem uma agenda disciplinada, tem atitudes militares. Quando acordava é que resolvia o que ia fazer. Mas durante os quatro dias que fiquei no acampamento, ele evitava um contato mais prolongado, gostava de falar de amenidades. Minha barraca era muito próxima à dele, então conversávamos sobre amenidades. Durante a entrevista ele me respondeu tudo, todos os assuntos. Fiz perguntas sobre minas terrestres, ligações com narcotráfico, seqüestros com fins políticos. Não teve uma pergunta que ele não respondeu. Ele me deu quase três horas e meia de entrevista.
IMPRENSA - Você teve medo de ser seqüestrado?
Gomes Filho - Acho que pelo fato de ser jornalista estrangeiro, eles cuidavam muito bem de mim, com medo de que acontecesse algo e tivesse uma repercussão negativa. Por todo o tempo que durou o contato, não tive medo de ser seqüestrado, até porque eles me deixaram muito claro que queriam falar, eles também sabem "usar a imprensa". Não tive medo do seqüestro, sou brasileiro, pacífico, ficava a todo tempo pensando que interesse eles poderiam ter em um brasileiro. Se eu fosse de outro país, acho que nem tentaria a entrevista. Meu maior medo era o mesmo medo deles: em um momento que eles estavam fazendo política, campanhas, meu receio era ser monitorado pela inteligência colombiana.
IMPRENSA - Eles tinham receio de serem atacados, alguma expectativa de que isso acontecesse?
Gomes Filho - Eles estavam preparados para o ataque a todo o momento, era algo como uma paranóia sadia, tudo que os guerrilheiros faziam era orquestrado. Depois do primeiro tiro, eles já sabiam para que lado cada um deveria correr, o que deveriam fazer, e acabaram passado essa segurança pra mim. Eu achava que seria muito azar acontecer algo comigo lá; Reyes estava morando há 30 anos na selva. E pouco tempo depois ele foi morto muito próximo do lugar que nos encontramos. Mas eles sabiam que estavam numa guerra, e ele me dizia que a crueldade faz parte da guerra. Na entrevista ele falou: "A crueldade do governo a gente combate com crueldade". Para as Farc, "morrer em combate não é novidade".
IMPRENSA - A sua percepção sobre as Farc mudou?
Gomes Filho - Apesar das Farc ter uma ação consolidada, eu percebi que eles têm menos ideologias do que parece, por mais que o discurso das Farc seja esse, tem uma conotação desatualizada. Achei tudo insensato, obsoleto, fora de propósito, nunca acreditei que eles fossem chegar ao poder por meio das armas, como Reyes acreditava. Hoje não tenho tanta certeza se há uma luta ideológica.
IMPRENSA - O que foi que Raul Reyes te disse que mais te marcou?
Gomes Filho - Na minha última pergunta para ele, eu pedi que ele fizesse um resumo dos 43 anos de Farc, o que tinha sido melhor e o que era pior. Ele me disse que o melhor foi as Farc ter surgido, e o pior erro foi não ter chegado a poder. Eu senti que essa resposta foi uma espécie de lamento de ter perdido a oportunidade histórica, porque movimentos parecidos na Nicarágua, em Cuba, chegaram ao poder. Hoje, ao lembrar desse lamento, a primeira coisa que me vem à cabeça é a razão da guerra. Hoje parece que é um bom negócio apenas para o inimigo das Farc, que é o governo colombiano, que ganha bilhões de dólares para combater a guerrilha.

Metamorfose


Televisão e Pública e Democracia


Muniz Sodré: Televisão pública e democracia


Foi bastante significativa a presença de artistas, produtores culturais, ONGs de comunicação e membros da Federação Nacional dos Jornalistas no plenário do Senado, em apoio à aprovação da medida provisória que criou a TV Brasil. É que esse apoio pode ser conotado como índice de um consenso extragovernamental sobre a necessidade de uma rede de TV pública no país.

Por Muniz Sodré, no Observatório da Imprensa



Dissenso é também importante, claro. Dele vive a democracia, que é virtualmente o poder das diferenças. Mas na base de todo sistema democrático deve existir um mínimo de acordo sobre questões que possam ser consideradas de interesse coletivo. O problema, então, é determinar o grau de pertinência político-cultural de uma rede pública de televisão na sociedade brasileira.

Não é preciso uma grande pesquisa para se saber que a opinião da maioria dos dirigentes do setor privado é francamente negativa. Do ponto de vista das empresas de mídia, a visão é clara: o êxito de uma programação televisiva se mede pelo tamanho da audiência. É o ângulo mercadológico ou quantitativista que tem guiado até agora o império da teledifusão.

Ninguém contesta o acerto dessa fórmula na dita livre competição do mercado de bens culturais, mas também nenhuma consciência sincera é capaz de negar o fato de que daí não nasce um compromisso efetivo com a cidadania (motivação histórica da imprensa ocidental), nem com causas sociais. Seu real compromisso é com o balanço contábil da empresa.

"Patologias da comunicação"

Por isso vale considerar argumentos - ainda que "acadêmicos" ou irrealistas à luz do mercado -, como os do pensador alemão Jürgen Habermas, que vê os meios de comunicação como dispositivos indispensáveis à construção de uma democracia deliberativa.

Ele faz uma distinção entre o modelo deliberativo de democracia e os modelos liberais e republicanos, sustentando que "a busca cooperativa, por parte de cidadãos deliberantes, de soluções para problemas políticos, toma o lugar da agregação preferencial de cidadãos privados (modelo liberal) ou a autodeterminação coletiva (modelo republicano) de uma nação eticamente interpretada".

Nesse desejado modelo deliberativo, são os processos comunicativos de demanda que entram em jogo se as decisões políticas e as linhas de ação governamental pretendem obter legitimidade. É preciso, assim, haver inclusão e iguais oportunidades para que os cidadãos participem de mecanismos deliberativos que sejam públicos, transparentes e baseados em expectativas de resultados razoáveis.

Para Habermas, os principais obstáculos à concretização do modelo deliberativo são as "patologias da comunicação política", que operam contra os processos transparentes de argumentação, enfraquecem a confiança entre os interlocutores e minam a legitimação dos processos e dos resultados deliberativos.

Oportunidade histórica

Evidentemente, as "patologias" estão ligadas ao controle empresarial dos meios de comunicação, assim como ao fato de que a mídia, como intelectual coletivo das classes dirigentes, está estreitamente associada aos interesses particulares de grupos econômicos e elites políticas. Esta é, na verdade, uma velha discussão para a qual nunca se chegou a uma conclusão satisfatória.

O que se observa na realidade é o crescente desenvolvimento tecnológico das telecomunicações e dos artefatos de estocagem de dados, acompanhado pelo agigantamento do controle empresarial sobre os fluxos sociais de comunicação.

Por mais que se dê aos "sujeitos de acesso" no espaço cibernético a liberdade individual de uso (correspondência eletrônica, consulta de arquivos, edição de blogs, etc.), a coisa muda de figura quando se trata da repercussão das posições minoritárias no espaço público.

Daí, a oportunidade histórica de uma rede televisiva que se constitua efetivamente como um canal de ressonância das vozes silenciadas pela estridência das organizações comerciais de mídia.

O lugar e o papel dos meios

Não há naturalmente nenhum modelo pronto e acabado para a realização de um projeto dessa ordem. Reproduzir modelos externos bem-sucedidos, como o da BBC (British Broadcasting Corporation), é desaconselhável ou inviável num panorama social de baixos índices de alfabetização.

Será necessário pesquisar um caminho próprio, para o qual é imprescindível o concurso de universidades, comunidades, prefeituras, governos estaduais e ministérios afinados com a educação e a cultura.

Não é impossível que do mero processo de busca surjam decisões culturais importantes, como a de relativizar a importância dos grandes números de audiência - fator que orienta os conteúdos das redes comerciais - em favor de critérios "transitivos", estimuladores de ações educativas e culturais no espaço real e concreto da vida social.

Independente de seu eventual êxito "televisivo" stricto sensu, a criação da TV Brasil pode representar uma oportunidade histórica para que se repense o lugar e o papel dos meios de comunicação na sociedade democrática por vir.


Ajardinar A Esperança


AJARDINAR A ESPERANÇA

por Frei Betto

Você pensa que eu também não tenho vontade de mandar tudo às favas? Pensa que não me invade esse sentimento de frustração, essa amargura oca, essa acidez na boca da alma? Sim, tem hora que me canso de ficar carregando ladeira acima essa pesada pedra de uma esperança esburacada. E a única coisa que me passa pela cabeça é embriagar-me de alienação e ficar na varanda do apartamento, contemplando silenciosamente a cidade lá embaixo, miríades cristais reluzindo impessoais, anônimos, indiferentes ao meu estupor.

É muito frustrante semear esperanças. São grãos miúdos, delicados, quase invisíveis, ora plantados no caminho acidentado, ora num coração angustiado, sempre no terreno árido da pobreza insolente. E depois vem o árduo trabalho de regar todos os dias, ver emergir o primeiro broto, um fiasco de verde aflorando sobre a ter ra negra, e a gente é tomado por esse sentimento feminino do querer cuidar e começa então a acreditar que a primavera existe.
A esperança é um pássaro em vôo permanente. Segue adiante e acima de nossos olhos, flutua sob o céu azul, não se lhe opõe nenhuma barreira. É assim em tudo aquilo que se nutre de esperança: o amor, a educação de um filho, o sonho de um mundo melhor.

A política sempre foi alvo predileto da esperança, desde os tempos bíblicos. No Antigo Testamento, aparece no passado (Jardim do Éden), no futuro (a Terra Prometida) e no presente (a confiança nas promessas de Javé). Os profetas sabiam ajardinar a esperança.

A esperança política é uma fênix. Sempre a renascer das cinzas. Foi assim no milenarismo monárquico medieval, na Revolução Francesa, na União Soviética. Foi assim também com Tancredo Neves, visto como um novo Moisés que também não pisou a Terra Prometida. Agora as denúncias de corrupção fazem o pássaro cessar o vôo em pleno ar. Ele não pousa. Fica lá em cima empalhado por nossas miragens utópicas, enquanto uma dor dilacera-nos por dentro.

Então minha memória resgata o horror. Primeiro, os gritos. A pele toda se arrepia. Se eu fosse surdo, veria apenas o rosto esgarçado numa máscara de terror. Mas meus ouvidos se entopem dos berros estridentes. O corpo eriça-se. Não sou eu, nem a minha razão que o comanda. É o instinto animal, primevo, que vem lá de baixo da escala zoológica e agora se manifesta nessa reação de bicho acuado por uma ameaça próxima. Não há saída. Da sala de tortura, saio morto ou quebrado. A outra alternativa é mais assombrosa. A de sair irremediavelmente sonegado em minha identidade, mercadejando a informação em troca de uma sobrevivência indigna.

Ele abaixa o tom de voz e tenta vencer-me pelo aliciamento. Diz pausadamente que não tenho escapatória. E devo contar com a sua compreensão. Mas a sua paciência tem limites... tem limites... até que meu silêncio detona a explosão. Nele a fera racional irrompe em gestos calculados e começa a tortura.
Mas essa não é a única modalidade de tortura. Há outras, tão ou mais terríveis, porque escarafuncham a alma, ferem fundo o espírito, arrancam o que o coração guarda, deixando-o miseravelmente vazio. É a dor de ver um projeto adulterado pela ambição desmedida, a sede de poder, o pragmatismo inescrupuloso, essa esperteza tão pusilânime que acaba por engolir o esperto, como a cobra morde o próprio rabo.

Um sonho se tece de mil fios delicados, até que um dia a imagem se transporta da mente à realidade. Talvez não se saiba aonde exatamente se pretende chegar. É como no amor, os sentimentos criam vínculos sem que se saiba ou se possa adivinhar o porvir. Sabe-se contudo por onde não ir. Como no poema de José Régio, "não sei por onde vou, / não sei para onde vou, / sei que não vou por aí!" Não vou pelas vias que conduzem os passos do inimigo. Não trilharei os caminhos sombrios, tortuosos, da corrupção, da sonegação, da falcatrua e da negociata.

Um corrupto é o resultado de pequenas infidelidades. Ele não se faz senão através de detalhes que se lhe acumulam na alma: levar vantagem num negócio, apropriar-se de um bem aparentemente insignificante, trair a confiança alheia. Não é o dinheiro que destrói a sua moral. É a ganância, a arrogância, a convicção de que é mais esperto que os demais.

Não há ética sem humildade, saber ser do tamanho que se é, nem maior nem menor do que ninguém. E sustentar a esperança na certeza de que só haverá colheita se desde agora se cuidar, delicada e anonimamente, da semeadura.

O Conto da Dívida Externa



O governo de Lula tem no seu dom de iludir uma de suas maiores virtudes, ou melhor, características.

Também, pudera. Tendo chegado ao governo em 2003, com todo o simbolismo de ter saído do seio do povo, e da classe operária, à frente de um partido de lutas e denúncias contra a direita e o neoliberalismo, e - ao “chegar lá” – ter adotado como linha de governo as exigências de banqueiros e corporações transnacionais, além de ter escolhido como aliados preferenciais as figuras mais espúrias da política nacional, somente com muito ilusionismo – e um enorme grau de indigência e oportunismo da “esquerda” que o apóia – seria possível continuar a se apresentar como um político com um mínimo de credibilidade.

A última pérola de sua triste obra é a versão da dívida externa zerada. A partir do fato de as reservas internacionais do país – o total de moeda estrangeira conversível, aceita no mercado internacional - terem superado o montante da dívida externa, pública e privada, em títulos, criou-se a versão fantasiosa da superação do problema do endividamento externo.

Por que se trata de uma ilusão, mentira ou manipulação, essa versão? Porque o endividamento externo no Brasil de hoje, governado por Lula, assumiu características muito mais complexas do que há 20 ou 30 anos.

O endividamento externo de hoje – do Brasil escancarado financeiramente à livre movimentação cambial de empresas estrangeiras e nacionais – não pode ser aferido apenas a partir da dívida externa formal, em títulos e contratos do governo e de empresas privadas. A dívida externa – junto aos agentes econômicos estrangeiros e somente passível de ser saldada com moeda conversível – deve ser avaliada em conjunto com a situação da dívida interna em títulos públicos, a chamada dívida mobiliária federal. Isto se dá por força do fato de ser hoje extremamente viável a troca de títulos da dívida externa por papéis da dívida pública do Tesouro brasileiro. Não somente viável, como especialmente lucrativo para os credores desses papéis, é bom que se diga, além de extremamente prejudicial para as finanças públicas.

A coisa vem funcionando, no governo Lula, beneficiário da calmaria e alta liquidez do mercado financeiro internacional nos últimos anos, da seguinte forma. Houve um fortalecimento expressivo da formação de reservas internacionais pelo Brasil, em decorrência dos saldos comerciais obtidos pela alta de preços – puxada pelo crescimento da demanda mundial de commodities – de produtos com forte peso nas nossas exportações, e também pelo fato da taxa básica de juros brasileira – que garante a remuneração dos títulos públicos – ser muito elevada em relação ao praticado por outros países. Isto faz com que haja um interesse muito grande dos investidores externos em negócios com os papéis da dívida pública brasileira. Alimenta também uma ciranda financeira muito nociva para o nosso endividamento: como há um diferencial muito grande nas taxas cobradas por empréstimos no exterior em relação à taxa brasileira, torna-se um excelente negócio – para grandes investidores, para grandes empresas, tanto nacionais quanto estrangeiras – captar recursos no exterior, a taxas mais baixas, e aplicar esses recursos, a taxas mais elevadas, na dívida pública interna. Mais “interessante” ainda: o governo Lula isentou os fundos institucionais estrangeiros, que venham a aplicar recursos em títulos públicos, do imposto de renda sobre os rendimentos auferidos. Com isso, aumentou em muito a entrada de recursos em moeda forte no país – moeda conversível – fazendo com que as nossas reservas dessem um salto expressivo. Porém, é importante a lembrança de que o custo financeiro dessa formação de reservas é elevadíssimo. Estamos remunerando os credores dessa nossa dívida em cerca de 12% ao ano, fazendo com que a carga de juros que temos de pagar aos detentores desses títulos seja crescente e impagável. É essa carga de juros que faz com que a dívida interna em títulos cresça sem parar, ultrapassando hoje a cifra de R$ 1,3 trilhão. É também essa carga de juros que inviabiliza o orçamento público, enquanto uma fonte de recursos para a melhoria da máquina pública e para a realização de investimentos na infra-estrutura e nas políticas sociais.

Com a expressiva entrada de dólares no país, e a conseqüente valorização do real frente à moeda norte-americana, tornou-se um bom negócio para as empresas privadas anteciparem os seus pagamentos de dívidas acumuladas em moeda estrangeira, ao mesmo tempo em que esse acúmulo de reservas, para o Estado brasileiro, passa a ter um custo elevadíssimo.

Além de tudo, em termos de compromissos externos que temos de pagar com moeda forte, o passivo externo do país ultrapassa em muito os pagamentos relativos à dívida externa.

Há de se assinalar que esse processo gerado pela política econômica tem as suas conseqüências no plano produtivo. Com essa abertura financeira sem limites à ação do capital estrangeiro, estamos assistindo a uma acelerada desnacionalização do nosso parque produtivo. De uma forma crescente, o PIB brasileiro é formado por empresas cujos acionistas principais são estrangeiros. Com isso, os lucros e dividendos dessa produção são transferidos ao exterior, para a remuneração dos controladores dessas empresas. Ao mesmo tempo, a permanente entrada de dólares na economia brasileira, valoriza o real em relação ao dólar, barateando importações e tornando nossas exportações menos competitivas.

Com isso, os resultados das nossas contas externas já começam a apresentar uma inflexão importante, em relação aos últimos anos, quando tivemos um superávit no resultado da chamada conta-corrente do balanço de pagamentos do país. O balanço de pagamentos nada mais é que a contabilidade de todas as transações do país no mercado internacional, em moeda conversível, sejam elas de natureza financeira, comercial ou de serviço. O resultado da conta corrente é relativo ao balanço de todas as transações de comércio (exportações e importações) e de serviços (pagamento de juros; remessa de lucros e dividendos; pagamento de royalties; despesas com viagens internacionais).

Agora, em janeiro desse ano, acumulamos, nos últimos 12 meses anteriores, um déficit – o primeiro desde 2003 – de US$ 1,169 bilhão. O que está ocorrendo é que o saldo comercial do país diminui, ao mesmo tempo em que remessas de lucros, despesas com viagens e pagamento de royalties se elevam rapidamente. Com isso, o próprio Banco Central já estima que voltaremos a apresentar um déficit nas transações correntes do país, neste ano de 2008, em torno de US$ 4 bilhões.

Os dirigentes do governo, bem como os seus porta-vozes na “imprensa livre” brasileira, sabem muito bem o que acontece e as conseqüências financeiras dessa opção em curso, mas preferem destilar otimismo com os resultados da economia, até porque, convenhamos, no meio dessa turma tem muita gente ganhando dinheiro, beneficiando-se de cargos públicos, utilizando-se de informações privilegiadas para os seus negócios e ficando em paz com o sistema financeiro e as grandes empresas beneficiárias da ciranda financeira e da desnacionalização do parque produtivo nacional.

Dá-se o nome de governabilidade para essa impostura.

Paulo Passarinho é economista.