“Só cotas para a universidade não resolvem o problema”

Só as cotas não resolvem porque a universidade está muito distante da maioria da população. Quem vai para a universidade são negros que estão no processo de ascensão.
Professor da Ufes, Antônio Carlos Moraes quer verba para aluno negro da educação básica.

Foto: Carlos Alberto Silva – GZ

Para Antônio Carlos, só negros em processo de ascensão chegam à universidade
Nesta terça-feira, 20 de novembro, é comemorado em todo o país o Dia da Consciência Negra. Mas, apesar da aprovação da lei que obriga as universidades federais a adotarem sistema de cotas raciais, e da intenção de implantá-las também em concursos públicos, ainda há muito o que se fazer pela população negra do Brasil. É o que defende o professor e ex-secretário de Inclusão Social da Ufes, Antônio Carlos Moraes.
Para ele, o problema do negro no Brasil não é só o acesso ao ensino superior, que para muitos continua sendo distante mesmo com a reserva de vagas, mas toda uma conjuntura e uma falta de heranças que precisa ser compensada. Ele defende, por exemplo, que os alunos negros da educação básica recebam uma remuneração do Estado para compensar a ausência de uma herança, fruto da condição de escravidão imposta a seus antepassados.
Cotas
Honestamente, acho que esse não foi um ano especial para o movimento negro por causa das cotas. O problema do negro não é o acesso à universidade. Não é por aí que vamos resolver. Quem é que faz o trabalho pesado? Quem é a maioria dos que morrem assassinados ou a maioria da população nos presídios? Só as cotas não resolvem porque a universidade está muito distante da maioria da população. Quem vai para a universidade são negros que estão no processo de ascensão.
Herança
Acho que falta uma política direta da compensação da falta de herança cultural e econômica que os negros têm. Há toda uma geração, cujos antepassados não receberam pelo seu trabalho. Não houve herança. Agora é que estão retomando isso, de valorizar a cultura negra. O Estado tinha de encontrar uma saída para esse problema. É impossível o país se desenvolver tendo uma geração toda sem herança.
Dívida
Existe sim, uma dívida social com os negros. O Estado tem que reconhecer isso, e uma das formas seria remunerar os alunos negros que estão na educação básica, atingindo o negro que é pobre, por meio de uma compensação financeira para que ele permaneça estudando. Da forma como está muita gente não consegue ver a luz no fim do túnel.
Ascensão
No Brasil e em outros países emergentes, tem-se a ideia de que para se conseguir ascensão social é preciso ter o ensino superior. Quando você sustenta esse discurso, e transforma o ensino superior em critério, ele deve ser para todos. Se o Brasil é dependente disso e é carente de mão de obra qualificada, o ensino superior deve ser para todos. A universidade não é porque a pessoa merece, mas porque o Estado precisa de mão de obra qualificada.
Conquistas
As conquistas, se a gente pode dizer que existem, vêm a partir de políticas pontuais. Para o Brasil se posicionar internacionalmente, ele precisa resolver algumas questões internas. Daí vemos o governo colocar, por exemplo, mulheres e negros nos ministérios, como forma de sinalizar que quer fazer parte desse movimento politicamente correto. Durante muito tempo o movimento negro falava sobre a escravidão. Hoje, se exalta a africanidade, a beleza da África. No entanto, o fato de negros alcançarem destaque no poder e o exercerem com competência, como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, sensibiliza mais do que outros discursos.
Luta contra violência que mata jovens negros

A 5ª Marcha Contra o Extermínio da Juventude Negra do Espírito Santo celebrará nesta terça o Dia da Consciência Negra e lembrar os jovens que foram vítimas da violência. A concentração, à 8h, será na antiga Capitania dos Portos, no Centro de Vitória.
O presidente do Fórum Estadual da Juventude Negra do Estado (Fejunes), Luiz Inácio da Silva Rocha, Lula, explica que a caminhada vai seguir até o Palácio Anchieta, onde serão fincadas cruzes para lembrar os jovens negros assassinados no Estado em 2012.
Ele ressalta que o Espírito Santo é o segundo Estado onde mais se mata jovens no Brasil, a maior parte deles negra. Lula pede mais diálogo do Governo com os movimentos negros.
Fonte:Fonte: A Gazeta
Elton Lyrio – emorati@redegazeta.com.br
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