
Sabe aquele rapper mal-encarado que só fala em crime? Esquece, esse não é Flávio Renegado. Esse tem sorriso fácil. E foi sorrindo que chegou e andou pelas ruas de Heliópolis, a maior favela de São Paulo. “Aprendi que às vezes um sorriso atinge mais que uma agressão”, explica.

Renegado faz questão de ficar próximo aos músicos da roda. Observa, diverte-se com as rimas de improviso. Identifica-se com a malandragem. Os bambas o reconhecem, cumprimentam-se. Conversa com Chapinha, compositor do Samba da Vela e de sucessos do Quinteto em Branco e Preto. Cai a noite e a chuva, que o céu prometia, não cai. Ele grava um vídeo com o celular para abastecer as redes sociais.

O CD, na opinião do próprio, soa mais pop que o primeiro. O resultado se deve, em grande parte, à mudança de produtor musical, que agora é Daniel Ganjaman. Do Oiapoque a Nova York traz reggae, samba, cantiga de orixá e até uma salsa nas bases das rimas de Renegado. A diversidade rítmica, entretanto, não chega às letras, que versam sobre um único tema: o próprio autor. Narcisismo? Não, verdade. Autobiografia, talvez. “É o disco de um cara que queria conhecer o mundo. Em Minha Tribo é o mundo, quis fazer uma música mais companheira das pessoas.” Com o CD de estreia – que tem participações especiais de Aline Calixto, Julia Ribas, Max BO, Funk Buia, Cubanito e Alayo (ambos cubanos) e Meninas de Sinhá – ele rodou o País e ainda viajou para Venezuela, Cuba, França, Espanha, Inglaterra, Holanda e Austrália. Nada mal para um artista independente, que banca a própria produção. E depois corre atrás com shows, palestras e um programa de rádio.
Flávio conta que tudo começou aos 11 anos, na escola, quando viu uma apresentação de um grupo de capoeira. Aprendeu a tocar berimbau e pandeiro e fortaleceu a identidade racial. Com o dinheiro da rescisão do primeiro emprego, de office-boy, aos 18 anos, comprou um violão e hoje compõe seus raps com a ajuda do instrumento. A música de Flávio Renegado não tem um público específico. “Sempre quis fazer uma música sem fronteiras. Se ela atinge preto, branco, pobre, rico, tô feliz.” Até a mãe, dona Regina, virou fã. “Antes, não gostava muito, não. Hoje, ela acha da hora.” E já pensa no próximo CD. “Do primeiro pro segundo, quis mudar tudo. Ninguém imaginou que faria uma coisa mais pop. O próximo vou produzir sozinho.” Mas vai ser de rap? Ri: “Boa pergunta. Não sei. Não quero ser o que esperam que eu seja. Só quero ser eu.”
Por:CINTHIA GOMES – O Estado de S.Paulo
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