Cotas para negros: avanço ou retrocesso?


Essa lei de cotas é a negação da miscigenação, uma verdadeira manipulação das estatísticas, escondendo sérios problemas sociais, apenas dividindo nossa nação em duas cores. Essa lei lamentavelmente promoverá o ódio racial. E quem é contra essa lei absurda é imediatamente classificado de ser da elite branca. Cotas no Brasil, se houver, deveriam ser para proteger os pobres, marginalizados, os excluídos, sejam eles negros ou não.

Por: Alexandre Brígido de Alvarenga Pedras – Advogado, diretor do Instituto dos
Advogados de Minas Gerais (Iamg)
O sistema de cotas raciais surgiu nos Estados Unidos, em 1961, sob a presidência de John Kennedy, como uma forma de ação afirmativa voltada para combater os danos causados pelas leis segregacionistas que vigoraram entre 1896 e 1954, as quais impediam que os negros frequentassem a mesma escola que os brancos. No final dos anos 1970, a Suprema Corte Americana declarou inconstitucionais as cotas para negros e outras minorias. O juiz Anthony Kennedy, em seu voto sobre as ações afirmativas, disse: “Preferências raciais, quando corroboradas pelo Estado, podem ser a mais segregacionista das políticas, com o potencial de destruir a confiança na Constituição e na ideia de igualdade”.

Nossa Constituição elenca, entre outros, como princípio e objetivo fundamentais, no artigo 3°, IV: “Promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Apesar da clareza constitucional, a presidente Dilma Rousseff (PT) resolveu sancionar a Lei das Cotas.
De acordo com a Lei das Cotas, a reserva de vagas nas universidades e escolas técnicas ocorrerá por curso e turno. As vagas serão preenchidas prioritariamente por negros, pardos e indígenas, segundo a proporção dessas populações no estado onde está localizada a instituição divulgada pelo censo do IBGE de 2010. Do total de vagas disponíveis para cotistas, 50% serão destinados a alunos da rede pública cujas famílias têm renda de até um salário mínimo e meio (atuais R$ 933) per capita.
Para acesso às universidades pela cota, o candidato deverá ter cursado todo o ensino médio na rede pública. Para ingresso nos institutos e centros federais de educação tecnológica, a base é o ensino fundamental. As instituições terão até 2016 para se adequar, mas devem destinar 12,5% do total de vagas para as cotas a cada ano.
Critica Arnaldo Jabor: “Debaixo de uma aparente proteção, corremos o perigo de ver aprovado um conceito que transforma a nação em bicolor, não mais mulatos, não mais o racismo difuso que se dilui e disfarça atrás das divisões de classe, mas um racismo explícito, criado artificialmente no Congresso Nacional e no Senado, um racismo que, uma vez legitimado o negro, vai ocultar injustiças concretas, numa real marginalização dos pobres no Brasil. Essa lei vai acirrar sentimentos de descriminalização racial piorando o problema”.

O jornalista Ali Kamel escreveu um livro importante, em que seu título resume muito o que penso: Não somos racistas – uma reação aos que querem nos transformar em uma nação bicolor. Esse jornalista percebeu que essa malfadada política de cotas divide o Brasil em duas cores eliminando todas as nuances e características de miscigenação. Nessa divisão entre brancos e não brancos, todos os não brancos são considerados negros. Ou seja, o mulato, mameluco, caboclo e toda a diversidade do nosso país resumem-se em uma política barata de cotas, passando a serem todos apenas brancos ou negros. Pior, numa nação de brancos e negros, onde os brancos oprimem os negros.
Essa lei de cotas é a negação da miscigenação, uma verdadeira manipulação das estatísticas, escondendo sérios problemas sociais, apenas dividindo nossa nação em duas cores. Essa lei lamentavelmente promoverá o ódio racial. E quem é contra essa lei absurda é imediatamente classificado de ser da elite branca. Cotas no Brasil, se houver, deveriam ser para proteger os pobres, marginalizados, os excluídos, sejam eles negros ou não.
Diz o grande Ives Gandra Martins: “Hoje, tenho eu a impressão de que o ‘cidadão comum e branco’ é agressivamente discriminado pelas autoridades e pela legislação infraconstitucional, a favor de outros cidadãos, desde que sejam índios, afrodescendentes, homossexuais ou se autodeclarem pertencentes a minorias submetidas a possíveis preconceitos”.
Assim é que, se um branco, um índio e um afrodescendente tiverem a mesma nota em um vestibular, pouco acima da linha de corte para ingresso nas universidades, e as vagas forem limitadas, o branco será excluído, de imediato, a favor de um deles! Em igualdade de condições, o branco é um cidadão inferior e deve ser discriminado, apesar da Lei Maior.
O jurista Ives Gandra vai além. Segundo ele, o sistema de cotas é inconstitucional, porque fere o princípio fundamental de igualdade entre os cidadãos: “É uma discriminação às avessas, em que o branco não tem direito a uma vaga mesmo se sua pontuação for maior. Reconheço que o preconceito existe, mas a política afirmativa não deve ser feita no ensino superior, e sim no de base”.
É justamente no ensino público que reside outra crítica à reserva de vagas. Ao adotar a medida, que não gera custos para os cofres públicos, o governo pode deixar para segundo plano o problema da educação. Segundo Magnoli, as cotas produzem um efeito estatístico positivo, ao aumentar o número de negros nas universidades, mas não acabam com a exclusão.

O conceito de igualdade está deturpado. O que deve ser igual é o direito às oportunidades, nunca o direito a resultados. O acesso à universidade deve ser o resultado de uma conquista; a conquista de conhecimentos. Ter acesso à universidade por ter cursado escola pública é atropelar o direito de quem sabe mais por ter cursado escola particular. O assunto é, portanto, estritamente de falta de oportunidades. Ou o poder público melhora o ensino em suas escolas ou que financie os que não podem pagar o ensino privado. Aí haverá igualdade de oportunidades.
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2 comentários:

Unknown disse...

Com certeza um avanço. Ações Afirmativas faz parte de um longo debate, nacional e internacional, para procurar resolver um fosso profundo das desigualdades raciais, nos paises. As cotas são mecanismos de ações afirmativas, que facilitaria no processo de reduzir essas desigualdades. No Brasil, inicia o debate há muitos anos. Desde o final da escravidão, com a assinatura da Lei Aurea. Mas só nos últimos anos (mais de 15 anos), o debate tem se fortalecido e ampliado em todos setores da sociedade brasileira. Chegando finalmente no STF, que concluiu , com votação de 10 x zero, pela constitucionalidade das cotas.

Anônimo disse...

Para que servem as cotas? Minha opinião já causou algumas polêmicas, mas é minha, e vou continuar com ela até que me provem o contrário, e acreditem, não acho que isso seja possível. Uma pessoa negra é inteligente, sábia, esperta e exatamente igual a outra com pele clara. Cotas servem apenas para ativar o preoconceito racial, porém muita gente ainda não percebeu.

O que houve com os princípios da igualdade? Quando uma pessoa negra faz a prova de vestibular concorrendo com pessoas brancas, a primeira pussui exatamente a mesma possibilidade de aprovação em relação a segunda. E porque não pussuiria? Ela é diferente por ter a cor da pele escura? sim apenas escura. Ter a pele escura, não é ser diferente. Definitivamente é algo que nunca vai me convencer.

Parte da minha família é negra e tenho ORGULHO de fazer parte dela. não somos diferentes, e não vejo motivos para dar prioridade a minha mãe (por ser negra) e não priorizar meu pai (com pele clara). Fico me perguntando qual a finalidade disso. Se queremos pôr fim ao racismo porque ele tem que ser alimentado oficialmente? São muitas perguntas que não me deixa conformar.

Algumas pessoas alegam que as cotas servem para priorizar o que poderia ser tirado do negro (direitos). Se uma pessoa branca passa na vaga de emprego com a mesma pontuação de uma pessoa negra, a branca pode ser escolhida (apenas pelo tom da pele). Essas mesmas pessoas também argumentam que, se não fossem as cotas, o negro teria espaço reduzido na sociedade.