Dia do Grafite homenageia precursor da arte estêncil no Brasil





MAYRA MALDJIAN

DE SÃO PAULO

MAYRA MALDJIAN

No início da década de 80, a metrópole paulista se tornou plataforma de uma nova expressão artística urbana.

Imagens criadas a partir de um molde vazado e tinta spray passaram a dividir muros com as pichações.

Era a "stencil art" ganhando vida e ajudando a construir a linguagem do grafite no Brasil.

Entre os anônimos que se aventuravam pelas ruas com spray na mão e mensagens transgressoras na cabeça, um nome dava a cara a tapa: Alex Vallauri.

"Ele foi o grande responsável por fazer essa passagem da escrita para a imagem", explica Celso Gitahy, grafiteiro da turma dos pioneiros.

Vallauri nasceu em 1949, na Etiópia, cresceu na Itália e viveu no Brasil, onde morreu jovem, em 1987. Em homenagem a ele, instituiu-se a data de sua morte, 27 de março, como o Dia do Grafite.

"Ele foi o pai de todo o mundo", conta Ozi, outro praticante das antigas do estêncil. "Em 81, eu fazia aula de desenho na Pinacoteca e descobri que o autor das imagens que via na rua estava lá, montando uma exposição."

CONTRACULTURA

"O estêncil traz sempre uma discussão", explica Gitahy, autor de "Pet Machine", uma série de animais com cabeça de máquina que propõe uma reflexão sobre a industrialização e a vida.

Ozi, por sua vez, mostra a banalização de ícones da cultura mundial, como Monalisa e Jesus Cristo, pintados com orelhas de Mickey.

Esses trabalhos podem ser vistos na exposição "Elemento Vazado" (leia mais abaixo), em homenagem a Alex Vallauri e ao estêncil paulista.


Moacyr Lopes Junior/Folhapress
SÃO PAULO, SP, BRASIL, 17.03.2011. O mural de estêncil arte criado pelos artistas da exposição Elemento Vazado, em cartaz na Matilha Cultural. (Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress, FOLHATEEN).
O mural colaborativo de estêncil da mostra "Elemento Vazado". No centro, a passista-caveira de Rodrigo "Chã"; veja galeria

A PRÁTICA

O estêncil é uma imagem em negativo: a parte clara forma o molde; a escura dá vazão à tinta. Papel cartão ou chapas de raio-x são normalmente utilizadas como base.

Rodrigo "Chã", outro artista da exposição, costuma aplicar estênceis em pôsteres. "É mais fácil para carregar", conta. "Como assinatura, deixo uma pomba", explica. "É uma praga urbana que se reproduz rápido, assim como a nossa arte."

ELEMENTO VAZADO

Dá para passar horas vidrado nas duas paredes da exposição "Elemento Vazado", em cartaz no espaço Matilha Cultural, em São Paulo.

De um lado, um mural colaborativo feito a 12 mãos reúne técnicas dos principais representantes da estêncil arte paulista: Ozie Celso Gitahy, ativos desde os anos 80, Daniel Melim, Rodrigo "Chã" e a dupla Alto Contraste, nomes da nova geração.

Na outra parede, fotografias e máscaras sujas de tinta transportam o visitante para os bastidores desse movimento de contra cultura nas ruas, e ainda dividem espaço com novos e "velhos" trabalhos dos cinco artistas.

Se trombar com um deles por lá, o que não é difícil, vale a pena puxar assunto. É história que não acaba mais.


Ilustrações Rodrigo Damati
UM CENÁRIO,MUITAS TÉCNICAS

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ARTE LIVRE
Rodrigo "Chã", autor do estêncil abaixo, ensina como aplicar a arte por aí:

1. Cole esta a página em uma superfície mais rígida, como papel cartão ou duplex

2. Recorte as áreas em preto, deixando sempre as "pontes" (traços em branco) como ligação

3. Use um estilete bem afiado e corte sobre uma mesa de vidro (não vai riscar a mesa de jantar, hein!)

4. Use o spray em média distância, apertando pouco para não encharcar a máscara

SEJA CONSCIENTE

1. Não cubra a sinalização de rua, como placas e semáforos

2. Jamais pinte por cima do desenho de outro artista

3. Celebre a arte livre e evite muros de residências ou de comércios que não autorizem esse tipo de intervenção


Editoria de Arte / Folhapress/Editoria de Arte / Folhapress
Stencil
Texto de :

MAYRA MALDJIAN

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