Fanzines voltam a ganhar espaço no Brasil


Depois de quase ser extinto com a chegada da internet, publicação vive fase de ouro

Flávia Denise de Magalhães - Ragga
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CARLOS HAUCK/ESP. EM
Escolha cuidadosamente o material que você quer publicar

Você chega em casa, liga o computador e abre o site da sua banda preferida. Lá, você pode conversar com gente do mundo inteiro sobre o quanto vocês adoram a música e como estão animados para a chegada do segundo álbum. Enquanto discute quais serão as influências do artista, entra em um site de esportes e confere como está indo o jogo do seu time em tempo real e comenta com gente do país inteiro. Você abre mais uma aba no navegador e acessa seu Twitter para passar os melhores momentos do jogo e os insights da discussão para seus amigos mais “íntimos”, além de receber links de sites e blogs do mundo inteiro sobre as coisas que você mais gosta.


Viver na era da internet definitivamente tem suas vantagens, mas nem todas as coisas boas começaram online. Em uma época em que as revistas de circulação nacional e a TV eram a principal fonte de informações, grupos de adolescentes dos anos 70, 80 e 90 criaram uma rede para trocar indicações de bandas, filmes, quadrinhos e livros. A base dessa rede era o fanzine, uma espécie de revista, normalmente xerocada, criada, escrita, editada e distribuída entre os aficionados por informação. É essa história que conta o documentário Fanzineiros do século passado: capítulo 1, de Márcio Sno.


A rede social do fanzine não era tão simples quanto o Twitter. “As dificuldades eram muitas, mas, como não tinha internet, a gente não tinha como fazer a comparação”, explica. “Digamos que a gente ia entrevistar uma banda de Goiânia. Eles mandavam a fita demo por correio, a gente escutava e mandava perguntas por carta. Às vezes eles demoravam um mês para responder”, relata Márcio. Para ele, a grande vantagem da época é que “tudo era feito com mais calor”.


Todo mundo que fazia um zine se conhecia. Quando o material era finalmente impresso, o fanzineiro já tinha uma lista de gente que tinha mandado um zine para ele e estava esperando receber o material do cara. Cada cópia virava uma carta social (uma opção do correio, que permite que uma carta de uma página seja enviada por R$ 0,01) e assim elas rodavam o país. Lojas de vinil, fita cassete e CD também participavam no esforço da disseminação da informação. Em cima do balcão ficava o material grátis, mas muitas vezes os vendedores tinham os zines mais elaborados, às vezes impressos na gráfica, para quem tivesse interesse.


E, dessa forma, toda uma geração se comunicava. Bandas underground ganharam notoriedade, filmes que não arrecadaram nada nos cinemas faziam sucesso nas locadoras e livros eram emprestados. Isso até que a internet chegou. “Os anos 90 foram uma década paradoxal. A primeira metade foi a época em que foram produzidos mais fanzines no Brasil. Na segunda metade, os zines migraram para os blogs e os e-zines”, explica Márcio.

CARLOS HAUCK/ESP. EM
Depois da arte, o xerox: nosso fanzine ficando pronto

A VOLTA DOS FANZINES
Márcio conta que a ideia inicial era fazer um documentário para registrar depoimentos dessa geração fanzineira, mas, ao longo das filmagens, acabou extrapolando o projeto original ao perceber que a arte que ele julgava morta está retornando. “No último ano rolou um boom na fabricação de fanzines. Isso rola por três motivos. O primeiro é a nostalgia, o pessoal está querendo publicar no formato impresso para poder pegar no papel, brincar com a diagramação. O segundo é o uso do material em sala de aula. Muito professor usa o fanzine como uma forma de incentivar a escrita, fazer um projeto diferente. O terceiro é que o formato em si é bacana. Eu comparo com a volta do vinil. O prazer de pegar o disco e colocar na vitrola”, explicou Márcio.


Não faltam novos fanzines. Em fevereiro desse ano, os DJs Lola B, Carol Morena e elCabong lançaram um zine, A bolha, que acompanha uma festa mensal que eles discotecam em Salvador, na Bahia. O rocartê também é novidade na cena brasileira. Surgiu no último ano e está na segunda edição. “O problema é que hoje quem faz o zine lança um agora, e outro não sei quando. Existe uma rede, mas ela ainda está se constituindo, não é tão forte como antes. Talvez daqui a seis meses, um ano, ela possa ser comparada com o que tínhamos antes”, completa.

O SEU PRIMEIRO FANZINE
Fazer o seu primeiro fanzine é o mesmo que passar por uma espécie de iniciação. Escolher cuidadosamente o material que você quer publicar, procurar as imagens, e brincar com a diagramação são passos divertidos e importantes para quem quer entrar no meio. Confira o nosso tutorial!

ANTES DE COMEÇAR:
A. Escolha um tema. Sobre o que o seu fanzine vai falar?
B. Decida o número de páginas (8, 12, 16 etc.).
C. Escreva o texto.
D. Faça fotos ou procure imagens em revistas ou na internet.
E. Assim como as fotos, o texto deve ser impresso. Programas de edição de texto, como o Word, dividem em duas ou mais colunas. Corte a página, separando os parágrafos.

1. Dobre as páginas ao meio, como uma revista. Enumere as páginas para não se perder.

2. Com as fotos e o texto já cortados, você começa a montar o zine. Você pode usar cola ou fita crepe. Cada página pode seguir uma orientação (horizontal ou vertical), não se preocupe com regras. Só tome cuidado para não perder a ordem do texto.

3. Quando chegar ao final, lembre-se de escrever o seu contato. Você pode imprimir ou escrever com uma caneta mesmo. Isso é muito importante para que seus leitores e outros fanzineiros possam entrar em contato com você!

4. Na hora de fazer a capa, o importante é ser criativo. Se você souber desenhar, agora é a hora!

5. Desmonte o fanzine e tire xerox das páginas. Depois disso é só grampear e distribuir.

PARA SABER MAIS

ZINESCÓPIO (zinescopio.wordpress.com)
Tudo começou como uma brincadeira, mas acabou virando projeto sério. Seu criador está dedicando o seu 2011 para digitalizar todos os fanzines em sua coleção. Além disso, recebe material de gente do país inteiro e está criando uma biblioteca de zines.

1º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES (ugrapress.wordpress.com)
A ideia é que ele seja um guia completo para editores e leitores de zines. São mais de 120 resenhas, além de entrevistas e matérias sobre o mundo dos zines.


Conheça também o Blog do Eus-R – Uma alternativa para o dialogo dentro da Cultura Hip Hop e do Rap. Acesse: »» http://eusr.wordpress.com/

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