MCs invadem o asfalto em BH



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Barbara Dutra - Divulgação



“Skatista, boy, patricinha, doidinha, punk, músico e produtor, dá de tudo”. É assim que o DJ Jahnú, da festa Original Sundays, define o público que frequenta o Arcadium, onde rola o evento – aos domingos, obviamente. Na Original tem música da Jamaica. De ska a reggae, soul a funk anos 70, e muito rap. Segundo Jahnú, sons inseparáveis, que interagem, se completam e trocam influências: “Veio tudo da África. Não lembra da música ‘Punk Reggae Party’ do Bob Marley? Ele fez quando acompanhou uma turnê do Sex Pistols. Não para cantar, a convite do Sid Vicious, mesmo”.

Tudo junto e misturado. É assim que os MCs invadem o asfalto e que maninho Zona Sul também manda rima. “As visões, em termos de festa, são diferentes. Na periferia, hip hop tem mais essência e vontade. Na Zona Sul, o propósito é mais de festa”, palpita o DJ Xeréu, sócio do Jahnú na Original: “Mas a música é a mesma. Na periferia tem mais gente fazendo. Mas conheço gente da zona sul que rima e faz tão bem quanto o cara da periferia”, conclui.

O hip hop, não se esqueça, é um movimento definido por quatro elementos: bboy, grafite, DJ e MC. O MC Dusares – que é do centro de BH - lembra: “Tenho que pagar um produtor, um DJ, um estúdio para gravar um CD. Nem todo o movimento que acontece no hip hop tem recurso financeiro e se a galera está consumindo, ajuda a levantar a grana para investir na produção”. Mas, afinal, Dusares, porque a Zona Sul está indo para a balada de rap? “A galera que está colando deve estar em busca de um lugar mais alternativo. E tem a batida, que é mais frenética. É uma parada tipo gringa, que nem dos americanos, que botam um batidão e geral vai dançando”, analisa Dusares.

E a pergunta que fica é: se rola a mistura de classes, onde fica a função social da letra do MC, do protesto? “O rap é, justamente, uma forma de protesto. Então, já que tem uma mistura de classes. é bom que todos fiquem sabendo o que pega”, define Dusares. Outro MC, que também é produtor, Gurila Mangani engrossa o coro: “Depende do MC. Eu tento passar, na minha música, muito o lado espiritual. Acredito que a revolução vem de dentro”. Gurila, que é de Santa Luzia e cola com caras como Gutierrez e De Leve garante que a festa é diferente, de acordo com a locação: “Já toquei em balada de favela, festa de traficante e na Zona Sul. O público da Zona Sul está lá mais pela animação. Na favela, o público está pelo hip hop mesmo, é mais sério”, esclarece.

Marcelo Sant'Anna - Estado de Minas



Agora, saiba mais

Com a palavra, a galera que organiza as festas e o rei do rap pop mineiro, Renegado:

Major Groove

Ramiro Maia, proprietário do Major Lock, garante que a onda está rolando e não é só em BH. O hip hop já anda balançando as pistas do Rio de Janeiro e da gringa “Estava em Paris há pouco tempo e toda festa bacana que eu ia, a galera escutava hip hop”, garante.

No Major Lock, casa que bomba há anos na zona sul de BH, aos sábados, rola o Major Groove, há três anos, com o surf music como prata da casa. A pitadinha de hip hop sempre existiu, mas agora, tá mais na cara. No último sábado, rolou show com os rappers De Leve, Speed Freaks e Thales Dusares, além de um live com o trio Butijão Funk filter.

Para Ramiro, uma possível explicação da invasão geral do hip hop é a batida: “Apesar de ser uma música de protesto, teve um pouco essa evolução, de falar mais de cotidiano, de mulher... E a própria batida parece que é um pouco mesclada com o eletrônico. Teve uma mistura do hip hop puro com um pouco de eletrônico que a galera assimilou com força”, define. E ele não está sozinho nessa idéia.

Michelle Soares - Divulgação



Escoladuz

DJ Nel, que também é produtor, engrossa o coro de Ramiro apostando na batida: “Os produtores, quem faz a base e o instrumental, está procurando uma coisa mais dançante. E isso cai em boate, em festa”. Nel se juntou ao MC Papo e Alexandre Maia para fazer o sucesso do YouTube, Escoladuz.

O negócio virou sucesso em BH e no RJ e já tem até comunidade no Orkut e perfil no MySpace. E se você escutar vai rir. De protesto de MC, os Escoladuz não têm nada.

Aliás, talvez esteja mesmo na hora de deixar de lado o preconceito em cair na boca da galera: “Está acabando isso de o cara que é do rap dizer que nunca vai fazer Faustão. O rap também está ficando um pouco pop para poder sobreviver. Não dá para ficar só no underground. Ser mais pop abre a porta pra conhecer o trabalho”, garante Nel.

Renegado

Sair do underground é coisa que Renegado faz com mestria, inclusive ajudando a abrir as portas pra galera. O rapper mineiro acaba de voltar de uma turnê no Nordeste, com direito a shows em Aracaju, João Pessoa, Recife, Porto de Galinhas e Salvador, com o Pelourinho lotado. Agora, em março, o cara vai para o Sul com shows já confirmados em Curitiba e Florianópolis. Para conversar com a Ragga, ele falou de um celular no Rio de Janeiro, onde têm feito diversos shows. Se isso não é invadir a zona sul, então, pode chamar de tomar conta do país. Aliás, país é pouco pro cara que alcançou um feito inédito para os mineiros: um prêmio no Hutuz. Um não, dois. O que é raríssimo na história da premiação. Renegado faturou “revelação do ano” e “melhor site”.

Acesse a página de Renegado no MySpace

É com essa bagagem que o cara garante que as coisas não estão rolando por acaso: “O fato de o rap entrar hoje na zona sul não é coincidência. Não estão consumindo porque caiu no povo. Tem uma nova concepção de fazer com que o rap se torne parte da cultura do povo brasileiro. Por isso a gente está levando o trabalho também para a zona sul, mas não só lá. Tem o público das comunidades também. A idéia é o que sempre falo, de quebrar a fronteira entre o morro e o asfalto. A música, seja num baile ou durante um show, tem a função de aproximar as pessoas”, explica.

Renegado também concorda com DJ Nel: “No Brasil, o rap é mais uma música de protesto e reivindicação. Por isso, as pessoas dão ao rap uma cara que não dão mais para o samba hoje, nem para o rock. Ele acaba sendo pré-julgado. Mas hoje, a periferia está emancipada e o rap não pode ficar estagnado no tempo”.

Não pode e, se depender do Renegado, não vai: “O rap tem essa sacada de o pessoal estar se renovando e ocupando outros espaços. Tem uma musicalidade maior, as bases são mais dançantes, mais bem produzidas. Hoje, temos um discurso aliado à música bem feita, bem concebida, com uma verdade forte, ocupando outros espaços”, explica e evoca a galera: “Antes, no rádio, só tocava rap gringo, norte americano. Agora, os meios estão se abrindo para o rap nacional e, cabe a gente, fazer entrar. A mídia e os meios estão aqui pra serem nossos parceiros. Vamos nos aliar para fazer com que os movimentos e tendência tomem corpo e proporções”. Vambora, Renegado.

Michelle Soares - Divulgação



Clube hip hop

Mas também, não é por isso que a galera agora vai ouvir só o batidão da periferia (ou das letras engraçadinhas). O projeto Clube Hip Hop, que é organizado por Henrique Chaves - produtor de eventos e um dos proprietários da SW entretenimento – mescla elementos da música eletrônica e convida DJs internacionais, na festa que rola toda primeira sexta-feira do mês, na boate NaSala, em BH.

Henrique sabe bem o que agrada aos ouvidos da galera: “O rap com apelo social, nada de comercial, não funciona na pista. Mas há exceções. O Rapin Hood, por exemplo, gravou o Rap du bom com o Caetano Veloso e eu já entrei em carro de amiga minha onde rolava esse som no CD”.

Tanto sabe, que já mandou avisar: a day party Get Loose, que rola todo ano, em 2009, promete hip hop.

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