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Compareci a um evento na condição de acompanhante e assessora da Secretária Adjunta da Secretaria da Mulher do Governo do Distrito Federal, minha companheira de lutas, camarada de Partido e amiga Valesca Leão que, naquela oportunidade, tinha a tarefa de representar o Governador do Distrito Federal.
Ao chegarmos no evento, anunciamos para as recepcionistas quem éramos e a representação de Valesca. Uma das moças, imediatamente, foi chamar o responsável pelo cerimonial do evento, para que este recebesse a representante do Governador.
O chefe do cerimonial, sorridente e simpático, como lhe cabe a função aproximou-se e, dirigindo-se a mim, cumprimentou e informou que nos encaminharia aos nosso lugares. Então, informamos a ele que era a Valesca – e não eu – a representante do Governador. Ele foi absolutamente discreto nas suas expressões e nos conduziu a nossa mesa.
Eu confesso que aquilo me incomodou. Para o chefe do cerimonial, assim como para uma grande parte da nossa sociedade, o “natural” (sic) era que eu fosse a representante do Governo do DF, pelo simples fato de Valesca ser negra.
Então, agora pela manhã, conversando sobre isso pelo MSN com Jamys Ferraz (filho de Sandro Ferraz), que também é negro, ele me relatou como este racismo sutil também se manifesta com ele, que é o responsável por uma loja e “lan house” na zona leste de Porto Alegre.
Ele me contou que é frequente chegarem vendedores, por exemplo, pedindo a ele para falarem com o responsável pela loja. Quando ele informa ser o próprio, percebe as expressões de espanto no semblante das pessoas. E, mais do que isso, algumas destas pessoas sabem que é ele apenas que cuida da loja, mas insistem em pedir para falar com algum suposto “responsável” que não seja ele.
Parece que estou vendo chifre em cabeça de cavalo, mas não é. A invisibilidade dos negros é algo revoltante. Se a pessoa negra for mulher, tanto pior. A sutileza como o racismo se manifesta, principalmente se considerarmos que no Brasil ninguém admite seu preconceito racial, é abominável.
Ninguém nasce racista, homofóbico, machista, etc. São concepções cultuadas. Precisamos parar de varrer a sujeira para debaixo do tapete e enfrentar que vivemos numa sociedade repleta de convencionalismos asquerosos, que precisam ser sobrepujados.
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