Escolas que recebem e educam os alunos, independentemente de origem, orientação sexual ou deficiência, ensinam a todos a viver
Como as crianças não estudam porque são evangélicas ou católicas, orientais ou negras, deficientes físicas ou atletas - mas porque são gente -, a escola deveria ser um espaço de diversidade onde se aprende a conviver com as diferenças. No entanto, é comum pôr em dúvida a possibilidade de essa instituição enfrentar questões difíceis de tratar nos demais espaços sociais. Contudo, com base no que presencio em escolas, posso mostrar que isso, mais que desejável, é possível.
Um exemplo notável me chegou quando leitoras desta coluna - Paula, Daniela e Cristina - escreveram para contar sobre um trabalho com o filme Escritores da Liberdade, que elas conduziam numa unidade da rede pública de São Paulo. Ao visitá-la, fui apresentado à diretora, Cida, e ao Projeto Conviver, que mereceria também ser retratado numa obra cinematográfica. Alunos de 45 classes, seus mestres e a comunidade superaram graves conflitos e criaram um ambiente de compromisso e participação. Os exemplos eram vários: uma garota contou com candura os próprios preconceitos e como se livrou deles. Outra vivia as emoções de um pega-pega em cadeira de rodas empurrada pelo pátio. Um pai observava o filho com paralisia cerebral discutindo a injustiça na derrota do time da escola. Um grupo preparava a peça musical Kisomba para valorizar o convívio étnico-cultural. Soube depois de uma equipe de vôlei composta por afinidade na orientação sexual.
Em outra escola pública que visitei recentemente, o coordenador pedagógico, Daniel, me falou da integração de um jovem transexual que tinha sofrido discriminação em várias outras instituições. Para que fosse bem acolhido, foi decisiva a ação de um grupo de alunos experientes nesse tipo de problema. Por intermédio de Amélia, militante de causas sociais e educacionais, soube do trabalho do Projeto Purpurina, que tem apoiado outras vítimas de segregação.
Eu poderia trazer pelo menos um bom exemplo de superação, em contrapartida a cada grave incidente que vira notícia. Por isso, rejeito a ideia de que a barbárie se instalou na escola em definitivo e que enfrentá-la estaria fora de nosso alcance. Também não concordo com quem imagina que lidar com essas questões é perda de tempo ou traz prejuízo ao ensino regular. Quando se enfrenta a discriminação ou se dá o tratamento adequado a alunos com defasagem, síndromes e deficiências (como mostrado no especial Inclusão, de NOVA ESCOLA), o desempenho de todos melhora, sem contar o ganho maior que é o de conviverem solidariamente e em paz.
Entre as lições centrais, vale lembrar que aquele que reconhece o valor de alguém pelas batalhas que enfrenta, e não pelo que aparenta, jamais será preconceituoso. Da mesma forma, quem percebe que cada um de nós tem o desafio de admitir e afirmar a própria singularidade diante do mundo não faz a crueldade de humilhar alguém por causa disso. A alegria que se sente em instituições em que se respeita e se aprecia a pluralidade, como as que conheci, constitui a melhor razão para aprendermos com elas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário