Grafite também é ferramenta social

Grafite não é apenas uma forma de se manifestar. Atraente para os jovens, a arte de rua também pode ser uma importante ferramenta na reintegração de crianças e adolescentes na sociedade. 

José Eduardo Martins

Nas principais capitais do Brasil, algumas entidades utilizam as técnicas do spray e dos pinceis para atrair jovens de periferia. Desde 2000 atuando em São Paulo, a Agência Quixote Spray Arte desenvolveu um programa de educação para o trabalho por meio do grafite. A ideia faz parte do Projeto Quixote, fundado em 1996 por clínicos da UNIFESP.
Neste projeto, os adolescentes carentes participam de um programa que inclui o desenvolvimento pessoal e o aprendizado de competências básicas para o trabalho e geração de renda. Esses ensinamentos são aplicados em obras de arte que podem ser comercializadas e, de maneira inovadora, o grafite acaba se tornando uma fonte de renda para os jovens e para suas famílias.
Bancos, escolas de artes, editoras e empresas estão entre os que já contrataram a Agência Quixote Spray Arte para trabalhar os grafites com os jovens. Além dos muros, os alunos ainda têm a oportunidade de pintar desenhos exclusivos em camisetas, que são comercializados em parceria com a Associação Lua Nova.
A Agência ainda oferece serviços de grafite interno (para a decoração de ambientes), performance ao vivo dos artistas em eventos, ilustração para camisetas e bonés, paineis, banners, cartões de natal, cursos e workshops. A renda arrecadada é revertida para a geração de recursos da própria Agência, que não tem fins lucrativos.

Mosaico e pintura
Outra opção para os querem deixar sua marca nos muros é o mosaico. A ONG Instituto Esporte e Educação ensina a técnica no Jardim São Luiz, na zona Sul da capital paulista. “As crianças aprendem um pouco de arte. Sempre unimos os mosaicos a temas relacionados à história ou poesia”, diz Alan Leão, professor do Instituto, que desenvolveu trabalhos em muros e fachadas da região.
Também existem projetos que atuam com a metodologia do grafite fora do estado de São Paulo. Em Paracambi, no Rio de Janeiro, o projeto Sou Kpaz – desenvolvido pela Secretaria de Trabalho, Habitação e Ação Social – se tornou referência. Trata-se de um curso com duração de seis meses com duas aulas semanais que ensinam técnicas de desenho e pintura por meio do grafite para 60 crianças e jovens carentes.
Cadê o incentivo?
Em São Paulo, os grafiteiros profissionais reclamam do pequeno número de oficinas que contam com o apoio da atual prefeitura. De acordo com os principais nomes da arte de rua, a quantidade de trabalhos sociais nos últimos anos diminuiu.
“Precisamos de mais incentivo. Às vezes, ministramos oficinas em ONGs, na FEBEM e ultimamente isso não tem acontecido. A prefeitura não apóia o nosso trabalho”, disse Oswaldo Júnior, o Juneca, um dos precursores do grafite no Brasil.
Mesmo sem se considerar um exemplo, Juneca, que começou como pichador para depois iniciar no grafite, acredita que a arte pode ser uma boa maneira de tirar as crianças da rua.
“Acho ótimos os trabalhos sociais. Já ministrei cursos para mais de 5 mil alunos, entre oficinas em escolas, FEBEM e outras entidades. Todos os que passaram pelas aulas aprenderam alguma coisa e fizeram trabalhos legais”, conta Juneca, que é formado em artes plásticas e já expôs fora do Brasil. “Queria que em todo o país fossem feitas oficinas”, completa.
Anote:
Projeto Quixote
Produtos à disposição na Micasa (R. Estados Unidos, 2109 – São Paulo)
Instituto Esporte e Educação
Sou Kpaz
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