A pergunta é polêmica. Vale a pena fazê-la para pensar sobre a busca da felicidade pela via da ingestão de produtos com objetivo de produzir bem-estar e ou anestesiar a dor. A dor de existir é o alvo visado pelas modernas indústrias de psicofármacos, faturando alto. Mas essa busca não se resume aos medicamentos, há também o álcool e as drogas ilícitas ou proibidas.

Quem nunca tomou um remédio para dormir, para acordar, para emagrecer, para engordar, para angústia, depressão e seja lá mais para o quê? Se o mandamento do mercado moderno é ser feliz, a constante é: como enfrentar a vida? Tanto é difícil perder a vida quanto viver. Tampouco é fácil enfrentar catástrofes naturais a que estamos sujeitos e diante das quais somos apenas poeiras cósmicas, desamparados e indefesos. Igualmente há o problema da difícil convivência com outros homens a quem chamamos os próximos e que nem sempre correspondem.

Muitas drogas lícitas ou ilícitas de efeito inequívoco sobre o corpo produzem bem-estar e alívio até certo ponto. A dependência ultrapassa o bem-estar. Tornam-se uma compulsão a serviço do gozo mortífero do sujeito. As evidências são muitas: as recentes mortes de Michael Jackson, Amy Winehouse e muitos outros, o narcotráfico, a exploração de adolescentes e crianças a seu serviço, a infelicidade de tantas famílias, a destruição de tantas vidas, a corrupção na polícia.
A escolha pelas drogas e o tipo de apego que o sujeito faz com ela é variável, nem todos caem na toxicomania. Para discutir sobre isso teremos a Jornada do Centro Mineiro de Toxicomania, renomeado CAPSad – Centro de Atenção Psicossocial – álcool e drogas, depois da reforma psiquiátrica aprovada no Congresso Nacional pela Lei 10.216, assegurando a progressiva substituição dos modelos de confinamento e exclusão por serviços abertos. Há muitos problemas ainda com este modelo.

“Há clínica no CAPS” será o tema da jornada deste CAPSad. O evento, coordenado pela psicóloga Daniene Cássia dos Santos, será aberto pelo psicanalista Oscar Cirino, diretor do CAPSad, e discutirá a atenção oferecida aos usuários, a insistência em divulgar uma epidemia de uso de crack, que está longe de ser a droga mais utilizada pela população jovem ou, ainda, pelos mais pobres.
Cirino abordará também a insistência em campanhas do tipo “O crack mata”, ignorando o sujeito que busca a droga e o uso particular que faz desta; a insistência de alguns segmentos sociais em apostar nas internações compulsórias pouco ou nada efetivas (em alguns momentos a internação pode ser um recurso, mas não em qualquer circunstância, como mostram as frequentes fugas, reinternações e abandono); a gravidade se custear internações com recursos públicos; a Bolsa Crack, que sustenta fazendas precárias que não oferecem tratamento, mas sim um retorno à exclusão, à limpeza das ruas, ao afastamento dos indesejáveis dos olhos da sociedade.

O objetivo da jornada é dizer que há uma política de atenção estabelecida para esse usuário. Enfatizar que há clínica nos CAPSads: há tratamento. Desde sua instituição, em 2003, milhares de usuários foram atendidos – no CMT, desde 1985, mais de 30 mil – e muitos foram bem-sucedidos. Há uma rede de atenção em que os CAPSads se inserem (carecem de investimentos, estão muito aquém do número de unidades/população), que tenta se articular, como pode, procurando traçar um projeto terapêutico singular, de acordo com a necessidade de cada sujeito. As substâncias psicoativas existem desde que o mundo é mundo, mas elas não fazem nada por si mesmas.

22ª Jornada do Centro de Atenção Psicossocial – álcool e drogas
1º e 2 de dezembro, na Fumec, Auditório Phoenix, das 9 às 17h. Inscrições gratuitas até dia 30, somente pelo e-mail: jornadacmt2011@gmail.com. Informações: (31) 3217-9000.

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