Carnaval: família preserva arte de criar tambor


Cezar Romero, do A TARDE

Quando o Filhos de Gandhy passa pela avenida, o cheiro de alfazema deixado no ar, o som do agogô e o toque da percussão fazem o coração do público vibrar no ritmo dos tambores e atabaques do afoxé. No meio daquele tapete azul e branco, o coração de dois associados bate ainda de forma mais especial: Jailson de Jesus e seu filho, Jailson Júnior, sentem-se orgulhosos por produzirem, artesanalmente, muitos daqueles instrumentos percussivos.

Em casa, na Baixa do Fiscal, Antônio de Jesus, 85 anos, orgulha-se mais ainda. Foi ele quem ensinou ao seu filho e ao seu neto a profissão de tanoeiro, nome que se dá à arte que permite a fabricação das peças musicais.



Há 71 anos nesta labuta, a batida que ele vem ensinando não tem preocupação com a melodia. “Aqui todos sabem fazer, mas nenhum sabe tocar”, diz seu Antônio. O som que importa vem dos martelos, dos tornos e das ferramentas utilizadas na confecção dos instrumentos.
Hoje, são três gerações no mesmo toque: seu Antônio; Jailton, 40; Júnior, 15; e Jailson de Jesus, 41, outro filho da marcenaria. “Desde a barriga de minha mãe eu conheço isso aqui”, brinca Jailton, que é mais conhecido como Jau.

Herança - No que depender desta família, a herança percussiva está garantida. Além deles, quatro das cinco marcenarias da rua têm origem associada ao velho tanoeiro. “Ele é o pai dos mestres”, salienta Adelson Santana, 36, há 14 anos no ofício.

Para o coordenador de bateria do Filhos de Gandhy, João Paulo dos Santos, 26, os instrumentos feitos pela família de seu Antônio dão um banho nos industrializados. “Tenho atabaques feitos na oficina dele que já têm 20 anos na bateria da gente. A madeira é de qualidade superior e o ferro é maciço. Não se compara aos outros”, analisa o percussionista.

Além da magia que sentem por produzirem o som que muitos bandas e blocos executam no Carnaval, a família vibrou quando o menino Kainã Vinicius, baiano, encantou o Maracanã regendo mais de mil ritmistas das escolas de samba cariocas, na abertura do Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro em 2007. O atabaque tocado por ele foi produzido na marcenaria. “Foi a maior alegria de minha vida. Nunca senti tanto orgulho dos atabaques que eu produzo. Pense aí como é massa saber que seu trabalho está sendo transmitido pela TV e visto, praticamente, pelo mundo todo”, destaca Jau.

Apesar de muitos anos nesta lida, a marcenaria ainda tem uma administração que precisa ser mais rentável . Sem querer revelar o total dos produtos vendidos, afirmando que realmente não têm noção desse número, os artistas afirmam que é a partir do verão que as vendas são ampliadas de uma forma mais significativa.

“Vendemos também para terreiros de candomblé, para outros grupos de afoxé e para muitas pessoas que gostam de fazer um som legal”, frisou Jailson, garantido que, se depender da família, o coração do Carnaval de Salvador baterá para sempre.

Um comentário:

Anônimo disse...

quem tem o endereço e o tel dos tanoeiros?