Robson Sávio Reis Souza
Filósofo, especialista em estudos de criminalidade e segurança
pública, sócio do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Filósofo, especialista em estudos de criminalidade e segurança
pública, sócio do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Um bombardeio de informações acerca de violência nas escolas toma conta do noticiário nos últimos tempos. Porém, a violência na escola não é um fenômeno novo. Há relatos desse fenômeno desde o século passado. Porém, ultimamente mudou a forma de manifestação da violência no âmbito escolar. As agressões agora são muito mais graves: homicídios, estupros e presença de armas no ambiente escolar. Os envolvidos são cada vez mais jovens e há relatos constantes do número de intrusões externas, como acertos de conta que se iniciam fora da escola. Há uma crise de autoridade e legitimidade da escola, como ocorre também em relação à família e outras instituições.
Para trabalhar as várias formas de manifestação da violência no ambiente escolar, Bernard Charlot, sociólogo francês, propõe algumas distinções. O termo violência, na escola se refere às violências que ocorrem dentro da instituição escolar mas não estão ligadas às suas atividades. São exemplos dessa violência, os roubos, invasões e acertos de contas por grupos rivais. Nesse caso, a escola é apenas um local onde a violência ocorre. A violência à escola é a violência ligada à natureza e às atividades da instituição educacional. Ela ocorre quando os alunos provocam incêndios e agridem os professores por exemplo, ou seja, a violência contra a instituição ou contra aquilo que ela representa. Por fim, há também a violência da escola, que é institucional e simbólica e se manifesta, por exemplo, na forma como a instituição escolar define os modos de composição das classes, as formas discricionárias de atribuição de notas pelos professores, etc.
É muito importante compreender que a violência está espraiada na sociabilidade moderna. Desde a violência intrafamiliar (característica da nossa sociedade patriarcal e machista), passando por várias modalidades de violências interpessoais (no trânsito, por exemplo) e aquela associada às drogas vivemos numa sociedade que naturaliza e banaliza as várias formas e manifestações da violência. Por que pensar que a escola estaria fora desse contexto? Aliás, passa a ser papel da escola tratar dessa sociabilidade violenta. Pois, fundamentalmente, a escola deveria formar cidadãos capazes de conviver com as diferenças.
A violência nos estabelecimentos escolares tem, muitas vezes, relação com desordens socioambientais. Quando se analisam as escolas com altos índices de violência, verifica-se uma situação de forte tensão. Os incidentes são produzidos nesse fundo de tensão social e escolar onde um pequeno conflito pode provocar uma explosão. As fontes de tensão podem estar ligadas às relações familiares e comunitárias. Por isso, é importante a articulação da escola e suas práticas de ensino com a sociedade em seu entorno.
Ademais, as queixas dos professores podem se transformar em discursos de vitimização. E como vítimas, os educadores se colocam num lugar de impotência frente aos problemas da violência e da aprendizagem de seus alunos. Não se trata aqui de minimizar ou negar os dilemas enfrentados pelos professores no cotidiano escolar. Eles são graves. Porém, é possível encontrar alternativas para a solução dos eventuais conflitos quando os profissionais da educação se colocam, também, como sujeitos responsáveis pelos processos educativos dos alunos e não meros transmissores de um conhecimento muitas vezes distante da realidade escolar na qual atuam.
Trabalhando de forma isolada, a escola não encontrará soluções possíveis e ainda correrá o risco de entrar num círculo vicioso de perpetuação de uma lógica criminalizante e repressiva. Os problemas da violência são complexos e nenhuma instituição sozinha poderá resolvê-los, sendo necessário um trabalho ampliado com outros segmentos sociais e governamentais. Num cenário de corresponsabilidade, deve-se analisar e enfrentar a violência como algo complexo e não apenas como um ato isolado, procurando descriminalizar os conflitos e trabalhá-los pedagogicamente.
O pior dos mundos, no entanto, é essa espetacularização da violência na escola, que serve somente para a implementação de respostas simplistas, ampliação do mercado privado da segurança, criminalização de segmentos infantojuvenis e o retorno ao velho discurso da repressão como lenitivo para o enfrentamento de um problema que demanda a responsabilização de todos os atores do processo educativo: pais, professores, diretores, comunidades, governos e especialistas.
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