
Por Walter Sebastião
(Daniel Protzner/Divulgação)

Os bailarinos Rui Moreira e Rodrigo Peres levam para o palco duas manifestações da cultura popular
Faça algum barulho é o nome do espetáculo que a Rui Moreira Cia de Danças estreia hoje na Funarte MG. O espetáculo coloca no palco o encontro de um palhaço, personagem tradicional da folia de reis, com um b-boy, dançarino de break. No decorrer do encontro, a dupla vai confrontar personalidades, mas também trocar experiências de arte e vida. Até porque o palhaço de reis é parte do imaginário do artista hip-hop. “É conversa da tradição com o mundo contemporâneo”, observa Rui Moreira, vendo no dinamismo aspecto que une os dois mundos.

“A folia e o break são danças de rua, vigorosas”, afirma Rui, indicando aspecto presente na montagem. A peça tem duração de 45 minutos e um único ato, ambientado com projeções de imagens e luz . A trilha de Gil Amâncio soma música incidental e temas africanos. Os intérpretes são Rui Moreira e Rodrigo Peres, que também respondem pela concepção e coreografias. O primeiro é um mestre da dança brasileira, que depois de passar por várias e importantes companhias vem se dedicando a longa e meditada investigação sobre a cultura afro-mineira. Rodrigo Peres, por sua vez, desde os anos 1980 se dedica a street dance, tanto especializando-se em break quanto desenvolvendo pesquisas sobre danças urbanas.

É a primeira vez que Rui faz um palhaço de folia. “É muita responsabilidade”, avisa, contando que levou anos para entender e respeitar o suficiente o personagem. O desafio, aponta, nem é a dança ser difícil – e é coreografia complexa –, mas lidar com grande quantidade de signos postos pelo personagem. O palhaço da folia, que se confunde com os reis magos, tem como função desviar o olhar de Herodes para que não veja Jesus e, assim, o Nazareno possa nascer. “Ele é um protetor da esperança que se renova com o nascimento de um avatar. E desempenhar o papel de protetor da esperança traz enorme responsabilidade”, explica Rui Moreira.
MATURIDADE Rodrigo Peres, para Rui, é bailarino de grande habilidade, destreza e sensibilidade. O parceiro, conta, apresentou a ele expansão das possibilidades da dança. “O que tenho de formação acadêmica em relação a mãos e pernas, os dançarinos de break fazem de cabeça para baixo”, observa com bom humor. Faça barulho é a estreia da Rui Moreira Cia. de Danças, nova frente de trabalho autoral e sênior, ficando a Seraquê? para trabalho com jovens. “Ver o Baryshnikov maduro é acompanhar dança cujo objetivo é a expressão artística, o arrebatamento, aspectos que estão além de tipo físico, idade e técnica”, observa Rui, destacando que se trata de qualidade comunicativa distinta da encenação movida pela energia acrobática da juventude. O bailarino considera, inclusive, que ação que destinada a valorizar o artista maduro é atitude política.
FAÇA ALGUM BARULHO

Rui Moreira Cia de Danças, de hoje a sábado, às 20h; domingo, às 19h. Até dia 27. Funarte MG, Rua Januária, 68, Floresta, R$ 10. Classificação livre. A bilheteria abre uma hora antes do espetáculo. A apresentação do grupo é parte da mostra Benjamin de Oliveira, organizada pela Cia. Burlantis, voltada para pesquisas sobre arte e negritude.
Personagens
Os Palhaços da Folia – são os personagens mais curiosos das Folias de Reis. Sempre mascarados e vestidos com roupas coloridas, seguram em suas mãos a espada ou facão de madeira, com os quais defendem a bandeira. Se houver um encontro de bandeiras, o Bastião deve defendê-la, cruzando sua espada com outros Bastiões sem dó! É o Bastião quem recolhe as ofertas, anuncia a chegada da bandeira nas casas, pergunta se o dono da casa aceita a visita, descobre as ofertas escondidas, “quebra os atrapalhos”, utilizando de gestos ou cerimoniais feitos por quem conhece a tradição.
Rodrigo Bboy – Dançarino e coreógrafo – Rodrigo Peres – aka Rodrigo Bboy – nasceu em Belo Horizonte, onde vive até hoje. Dançarino de festas de rua nos anos 80, especializou-se na dança Break e se desenvolveu nos vários estilos das danças urbanas. Parceiro criativo de Rui Moreira desde o inicio dos anos 90, faz ponte da sua corporeidade urbana com a linguagem acadêmica desenvolvendo uma cena que mistura o palco com as ruas.
edição musical – Rui Moreira
animação gráfica – Mateus Guerra e Gabriela Guerra
Concepção e coreografia – Rodrigo Peres e Rui Moreira
Iluminação – Edimar Pinto
Elenco – Rodrigo Peres e Rui Moreira
Trilha sonora – sons incidentais + Acaso são estes. (domínio popular) – Poema musicado Marília de Dirceu + Mouso Teke Soma Ye – Boubacar Traoré
Duração – 40 Minutos
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