Criada nos Estados Unidos, a dança urbana conquista os brasileiros e invade a TV e os palcos. Grupos de BH chamam a atenção no Duelo de MCs, debaixo do viaduto e na agenda do VAC
Por:Mariana Peixoto
Encontro dos dançarinos Black-A, Victor, Eduardo Sô e Fabrício, embaixo do viaduto Santa Tereza, no Centro de BH (Fotos: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Para o senso comum, é tudo dança de rua. Porém, quem é do meio deixa bem claro: as danças urbanas, que tiveram seu ponto de partida nos clubes, abrangem universo muito maior que o breaking, sua porção mais conhecida e um dos pilares do hip-hop. Presente no Brasil desde o início dos anos 1980, ela é vista hoje em diferentes palcos. Ganhou até um reality show:Vai dançar?, no canal pago Multishow, que elegerá o melhor b-boy do país. Em Belo Horizonte, na última sexta-feira do mês, o já tradicional Duelo de MCs, no Viaduto Santa Tereza, reúne b-boys e b-girls (ou break boys e break girls).
Ao longo das próximas semanas, vários dançarinos serão vistos na programação do Verão Arte Contemporânea (VAC), em BH. Seja em formato de espetáculo (Meráki, da Companhia Fusion de Danças Urbanas), seja como encontro mais despretensioso (Tarde especial de dança, com a Família de Rua, responsável pelo Duelo de MCs, que promoverá batalha de b-boys no viaduto). Fora dessa agenda, vários deles vão se encontrar hoje à tarde, na Savassi, para a primeira edição do projeto Hip-hop brothers.
Um dos “pais” da atual geração de dançarinos de BH é Eduardo Sô, de 45 anos. Mineiro como o próprio “sobrenome” indica, ele descobriu a dança urbana em 1983, numa sessão do filme Flashdance. Sô admite: na época, ele e os amigos copiavam o que viam em videoclipes. Ao longo do tempo, o mineiro ampliou sua pesquisa (viveu 15 anos em São Paulo, onde integrou grupos de dança; retornou há dois a BH). “Só ficou no meio quem entendeu a mensagem”, diz ele, curador da batalha de b-boys do VAC.
“O breaking é o mais forte no Brasil”, afirma Sô, que, no entanto, apresenta outra série de gêneros: locking, boogaloo, wacking são algumas delas. A origem também diverge: há danças californianas e as nova-iorquinas. “A mídia empacotou tudo como se fosse breakdance”, esclarece ele. O início, efetivamente, se deu em clubes do Bronx com o DJ Kool Herc. O ano, 1973. “Ele colocava nas festas música funk, que tinha estourado na época. Os dançarinos esperavam a parte instrumental e, naquele momento, faziam alguns passos. O DJ começou a perceber que teria de aumentar a parte instrumental de 10 segundos para um, três e até cinco minutos.” Esses “breakbeats” deram origem ao estilo.
Mesmo que esteja no meio da dança desde a adolescência, Fabrício, de 33 anos, integrante da Spin Force Crew, diz que ainda há muito o que aprender. Num espaço no Bairro Ribeiro de Abreu, ele dá aula de dança três vezes por semana para garotos participantes de projetos sociais. “Somos como uma companhia de balé tradicional”, afirma. Como o breaking usa muito o chão – tanto para pés quanto braços –, Fabrício considera o estilo o mais difícil. “Você tem que aliar técnica à questão rítmica”, explica.
É bem diferente do popping ou boogaloo, que não usa o chão e tem um quê de “ilusionismo” (dependendo do passo, tem-se a sensação de que o corpo do dançarino é todo mole, sem as juntas). Com 20 anos de experiência, Black A, integrante da Cia. Liberdade (de ideologia cristã), começou a dançar sem saber identificar estilos. “Só depois de estudar vi que o que considerava locking era boogaloo”, diz ele. Já Victor, de 27 anos, integrante da Cia. Fusion, mistura house e hip-hop dance em suas coreografias. “Esses outros estilos acabam enriquecendo a própria dança”, conclui.
Estilo Boogaloo, por Eduardo Sô (Túlio Santos/EM/D.A Press)
Estilo Boogaloo, por Eduardo Sô
>>> Danças urbanas
Estilos
» B.boying/Breaking – Estilo mais conhecido, foi criado em Nova York. Os passos são realizados no chão.
» Locking – Criado em Los Angeles no início dos anos 1970 por Don Campbell. O dançarino se chama locker.
» Wacking/Punking – Também criada
em Los Angeles, em meados dos anos 1970,
é considerada por muitos como “filha”
do locking.
» Popping/Boogaloo – O nome se refere a seu criador, Boogaloo Sam, que inventou o estilo em 1976 em Fresno, na Califórnia.
» House – A house music nasceu em Chicago, em 1980. A dança vem de Nova York.
» Hip-hop dance – Surgiu em meados dos anos 1980 com a explosão da cultura hip-hop.
>>> Onde ver
NA RUA
» Hip-Hop Brothers
Hoje, a partir das 15h, na Status, Rua Pernambuco, 1.150, Savassi.
NO VAC
» Material de Zion
Show dos MCs Monge e Matéria Prima. Entre os convidados estão Spin Force Crew. Dia 26, às 21h, no Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: R$ 14 e R$ 7 (meia).
» Meráki
Espetáculo da Cia. Fusion. 1º e 2 de fevereiro,
às 21h, no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna (Avenida Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras). Ingressos: R$ 14 e R$ 7 (meia).
» Família de Rua apresenta
Tarde especial de danças
Com vários b-boys. 3 de fevereiro, a partir das 14h, no Viaduto Santa Tereza. Entrada franca.
Victor mostra o Footwork-house (Túlio Santos/EM/D.A Press)
NA TV
No ar desde novembro no canal pago Multishow, Vai dançar? promove a competição entre 24 b-boys. Em 13 episódios, o reality show, produzido pela Conspiração e apresentado por Dani Suzuki, vai escolher o melhor b-boy do país. O vencedor levará prêmio de R$ 20 mil. O programa já chegou à fase final e é exibido às sextas-feiras, às 21h30.
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