Dora: Dignidade resgatada


dora_alvesProjeto Meninas de Dora ajuda jovens carentes de Belo Horizonte a iniciar sua trajetória no mundo profissional. Trabalho precisa de ajuda para seguir adiante
Contribuições para o projeto:
Banco Itaú
Agência: 0573
Conta corrente: 49366-5

Por: Humberto Siqueira

Responsável pela iniciativa, Dora Alves ensina a arte do cuidado com cabelos no próprio salão e ministra oficinas em escolas públicas, faculdades, vilas e e penitenciárias
Responsável pela iniciativa, Dora Alves ensina a arte do cuidado com cabelos no próprio salão e ministra oficinas em escolas públicas, faculdades, vilas e e penitenciárias

Recordar. Eis aí um passatempo que traz alegria a Dora Alves. Ela está prestes a completar 45 anos de dedicação ao próximo e são muitos os casos de sucesso no direcionamento da vida de jovens de Belo Horizonte. Quando relembra todos aqueles que levou para dentro de sua casa, muitos ex-moradores de rua, o sorriso brota fácil no rosto de Dora, que persegue o lema de tentar ser sempre uma pessoa melhor do que no dia anterior.
O Projeto Meninas de Dora, criado por ela no Bairro São Geraldo, Região Leste da cidade, busca encaminhar profissionalmente os alunos no ramo da beleza, em especial nos cortes e tratamentos capilares. E começou meio sem querer, a partir dos exemplos dentro de casa. “Meu pai era padeiro e infelizmente morreu muito cedo, com 34 anos. Eu tinha apenas 8 anos. Mas tenho muito forte na lembrança ele encaminhando os pães dormidos para doação no Bairro 1º de Maio. Quando ele morreu, minha mãe sentiu muito e adoeceu. O Michel, que era dono da padaria, viu a situação e continuou pagando o salário que meu pai recebia para minha mãe até ela se reestabelecer. Tudo isso certamente me marcou muito”, revela.
18 DE JULHO QUARTA - FEIRA ESCOLA NAS FERIAS 207
Sem o pai e com a mãe doente, Dora teve de assumir muitas responsabilidades dentro de casa. E, ainda na infância, ajudar no sustento. Com parentes, ela aprendeu os primeiros truques para tratar os cabelos afros, nunca se importando em repassar os conhecimentos. Ela cresceu e seus conhecimentos se ampliaram, bem como a procura de alunos. Sem contar aqueles que recrutava nas ruas.
Dora nunca se importou em fazer propaganda do trabalho que faz, e já perdeu as contas de quantas pessoas ajudou. Mas o reconhecimento veio. São inúmeros prêmios, como Valores Femininos, Bom Exemplo e Cidadã do Mundo. “Faço o que posso. Mas nunca tive uma estrutura, organização. Minha vida e conta pessoal sempre se misturou com a do salão e do projeto. Isso me trouxe muitas dificuldades recentemente, com questões burocráticas. O dinheiro que ganhava no salão bancava o aprendizado de quem me procurava. Aqui também dei o primeiro emprego para vários deles. Felizmente, hoje muitos já são donos do próprio negócio”, comemora.
Meninas de Dora 0
BUSCA DE APOIO O que falta vir é apoio e patrocínio. “Como não tinha separação entre vida, profissão e voluntariado, era difícil receber verbas. Agora, estamos com tudo em ordem e precisando de ajuda. Sempre tirei do próprio bolso, mas minha mãe foi diagnosticada com Alzheimer e tenho passado dificuldades financeiras. Já estou com uma dívida de R$ 6 mil”, lamenta.
Apesar de toda a dificuldade, Dora ainda encontra tempo para oficinas em escolas públicas, faculdades, vilas e até no Complexo Penitenciário Feminino Estêvão Pinto. “As pessoas em pior condição financeira, principalmente as negras, precisam ter sua autoestima estimulada. Elas encontram muitos ‘assassinos de sonhos’, aquelas pessoas que só sabem colocá-las para baixo. “Nas escolas, por exemplo, maquiamos as meninas e promovemos um desfile afro. Elas são aplaudidas e se sentem superbem. Na penitenciária, fizemos a Rebelião do amor. Ensinamos a profissão às detentas que depois cortam o cabelo das agentes. O índice de problemas com as presas caiu muito”, garante Dora, que também ensina penteados étnicos como tranças africanas, jamaicanas, alongamentos e dreads.
Luciana Martir, ex-interna da extinta Febem, viveu nas ruas até ser beneficiada pelo projeto Meninas de de Dora. “Dora me ensinou a profissão de cabeleireira e me ajudou a enxergar a vida de outra maneira. Hoje estou saudável, feliz, cuidando dos meus filhos que estão sendo bem encaminhados na vida. Graças a Deus e ao projeto, com meu trabalho não lhes falta nada”, comemora. “Luciana passou de vítima da sociedade a protagonista das próprias transformações. Não perdi o contato com ela. Sei que ela está liderando um grupo de dança folclórica com mais de 40 jovens em sua comunidade.”
RECONHECIMENTO O trabalho de Dora já virou livro e chegou aos Estados Unidos. A obra Cabelo, corpo e identidade negra foi resultado do trabalho de doutorado na USP da professora Nilma Lino Gomes. E também despertou a curiosidade do professor Henry Lewis Gates, da Universidade de Harvard, que pesquisou políticas de inclusão racial.
Para Dora, a profissionalização é importante, mas ela vê como um caminho que encontrou para dar atenção aos alunos. “Muitos apenas precisam ser ouvidos, estimulados, encorajados. Trabalhamos o interior para ver os reflexos no exterior. Daí, mostro que podemos alcançar muitos sonhos. Basta acreditar. Conto que tinha o sonho de trabalhar com filmes e todos diziam que jamais conseguiria. Depois mostro que trabalhei com visagismo para cinema e teatro, como nos filmes Rádio favela, Vinhos de rosa e Batismo de sangue. E eles veem que realmente as coisas podem acontecer. Meu maior prêmio é ver o sucesso dos jovens, que trocam o AR15 pelo pincel e pente”, diz.
Ursula Nielsen, de 35 anos, é amiga de Dora há 12 anos. “Nos conhecemos no hospital. Eu trabalhava lá e tinha perdido todo o cabelo numa tentativa de tratamento. Dora foi fazer uma consulta e conversamos. Aí surgiu o convite de vir ao salão e me integrar ao projeto. Desde então, ajudo como posso. Só que, agora, estou sendo ajudada. Tenho um restaurante, mas quero passar a atuar também no ramo da beleza. E estou aprendendo muito dentro do projeto. Estou muito esperançosa, pois a área só faz crescer”, avalia. “Além do conhecimento, uma grande oportunidade no projeto é conhecer diferentes realidades. Vemos de tudo e aprendemos a dar maior valor à vida.”
Meninas de Dora
Parcerias com Sesc, Senac, Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para Mulheres (Cepam) e Vicariato Agostiniano Nossa Senhora da Consolação do Brasil ajudam o projeto, que no ano passado capacitou 120 pessoas. “A primeira vez que recebi uma ajuda instituicional foi em 2010, do Vicariato. Falo isso porque, com os prêmios e mídia que as Meninas de Dora recebem, as pessoas tendem a imaginar que somos uma instituição em boa situação financeira. E estamos longe disso”, lamenta.
Para fazer caixa, Dora passou a vender ingressos para a peça Pietá, dirigida por Ênio Reis. Em cartaz no Teatro Clube dos Oficiais, a encenação aborda a história de Nossa Senhora diante da vida, paixão e morte de Jesus. Os ingressos custam R$ 12 e 30% desse valor ficam para o projeto. “É a arte como instrumento para a mobilização de recursos sociais”, defende Ênio.
Asmeninasdora

Contribuições para o projeto Banco Itaú
Agência: 0573
Conta corrente: 49366-5
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