Homofobia, um fenômeno muito difundido na África


Mesmo vista do Ocidente, a homofobia que reina com frequência no Senegal pode surpreender. É preciso compreender que ela não é própria do "país da Téranga" [a cordialidade da população senegalesa]. É um fenômeno que afeta todo o continente negro. E os dirigentes políticos africanos "frequentemente sopram as brasas".

Em termos de homofobia, vários dirigentes políticos não estão imunes. O presidente de Gâmbia, Yaya Jammeh, deu no ano passado "24 horas para os homossexuais e outros criminosos deixarem o país". "Se não os contraventores terão a cabeça cortada", ele acrescentou. Não sabemos se muitos obedeceram, mas eles sabem que não são realmente apreciados nesse pequeno país que separa a Casamance do norte do Senegal.

Robert Mugabe, o velho presidente de Zimbábue, no poder desde 1980, também se especializou nas diatribes homófobas. Ele apresenta a homossexualidade como uma "doença ocidental", retomando assim uma tese muito popular na África: a ideia segundo a qual a homossexualidade teria sido "importada" pelos ocidentais para o continente negro. E que essas práticas seriam estranhas à cultura africana.

Na África, os defensores dos direitos dos homossexuais são extremamente raros. Cheikh Ibrahima Niang, professor de antropologia social na Universidade de Dacar, recentemente causou sensação no Senegal ao defender os direitos dos homossexuais. Mas ele estava bem isolado em seu país.

Ele constata até um aumento da homofobia: "Sempre houve correntes homofóbicas na sociedade senegalesa, mas elas se tornam cada vez mais fortes", ele salienta em uma entrevista dada à Agência France Presse. Esse aumento da homofobia é instrumentalizado pelos religiosos radicais, muito contentes em denunciar os "danos morais provocados pela ocidentalização da sociedade".

Desde então os homossexuais se escondem. Suas famílias e seus amigos ignoram tudo sobre sua preferência sexual. No continente, a homossexualidade é um assunto que faz muita gente se esconder.

Mesmo a "muito séria" BBC fez recentemente esta pergunta surpreendente a seus ouvintes em um programa destinado à África: "Deve-se matar os homossexuais?" Uma formulação tão chocante que sem dúvida serve para atrair audiência. E para "cativar as imaginações". Mas certamente não para fazer progredir a tolerância.

Fonte: Le Monde
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves / UOL Mídia Global

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