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Irmã Margarida Savastano, de 88 anos, foi responsável pelo espaço durante 28 anos e cuidou de mais de duas mil pessoas |
Nos olhos da corajosa senhora de 88 anos, a ansiedade e o contentamento eram latentes. Explica-se. As dificuldades para manter, ao longo de 28 anos, um trabalho pioneiro em Minas Gerais e um dos primeiros do país – recuperação de dependentes químicos e alcoólatras – chegaram ao fim. A Fazenda Renascer, que tem à frente toda a força e bondade da irmã Margarida Savastano, ficará, agora, sob a tutela da Arquidiocese de Belo Horizonte. O convênio, por meio do qual a Igreja assume a responsabilidade pela administração e manutenção da área de 40 hectares, localizada na zona rural de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de BH, foi assinado nessa segunda-feira.
A irmã entregou sua obra nas mãos do arcebispo metropolitano, dom Walmor Oliveira de Azevedo. No momento de pôr o nome do livro de presença, foi bem clara: “Quero ser a última a assinar, pois vou escrever ‘missão cumprida’”. Missão que ela relata com orgulho. “Fui convidada para trabalhar aqui quando saí do Hospital da Baleia (na Região Leste de BH), onde estive durante 18 anos com crianças tuberculosas. Aos 60 anos de idade, uma psicóloga me chamou para trabalhar com dependentes químicos. De início, recusei, por causa do pavor e do preconceito que eu tinha”, diz. Mas, naquele tempo, ela não imaginava que escreveria uma história diferente na vida de muitas pessoas, mais exatamente para 2.257 que já se trataram na fazenda. Atualmente, a instituição recebe 23 internos, mas tem capacidade para abrigar até 80. “Foram abertas casas de recuperação por todos os lados, mas a maioria não tem estrutura realmente para tratamento. Muitas pregam ‘Jesus salva’ e pensam que não precisa de mais nada, não há um acompanhamento profissional adequado”, ressaltou. “Aqui, a maioria dos que tratam conseguem deixar o vício. Temos muita gente que nos manda cartas e e-mails contando da nova vida”, afirmou.
Irmã Margarida conta sobre o alívio em saber que a Arquidiocese vai administrar o lugar. Para ela, o convênio representa uma melhora significativa em termos de recursos financeiros e humanos. “Enfrentamos muitas dificuldades e grandes desafios, mas sinto uma alegria imensa agora. Sempre pensei que a Divina Providência chegaria na hora certa e eu não me enganei”, relatou.
Assim estará garantida a oportunidade de recuperação para muitas outras pessoas, como ocorreu com o encadernador Daniel Júnior de Souza Thomé, de 31 anos. Hoje, ele deixa a casa, com muita garra para dar os próximos passos, entre eles, fazer o vestibular para o curso de direito. “Quando cheguei, não tinha esperança de nada, mas encontrei a irmã, que me devolveu a vida. Prova de amor maior não há do que doar a vida a um irmão, como ela faz”, disse. “Hoje, creio que estou curado. Mas a doença química deve ser tratada diariamente. Se tropeçar, regride.”
OpçãoO arcebispo metropolitano, dom Walmor, disse que essa é uma prova de que a Igreja quer afirmar, cada vez mais, a opção pelos pobres, principalmente os dependentes químicos. “Nesta semana santa, escolhemos estar aqui para firmar em nosso corações o compromisso que a Arquidiocese assume de levar em frente essa obra. Queremos crescer, fortalecer e consolidar esse projeto da fazenda. É um compromisso de amor com a vida”, destacou.
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Dom Walmor Oliveira de Azevedo visitou as instalações da instituição e se comprometeu a consolidar o projeto |
O religioso afirmou que a divulgação, em todas as paróquias, das ações na fazenda ficarão a cargo do Vicariato para Ação Social e Política. A ideia é que os fiéis conheçam e também ajudem no que for possível. O trabalho da Igreja vai incluir a administração, mobilização, manutenção e convênios. “As necessidades da dependência são inadiáveis. Vamos desenvolver também mais espiritualidade, com a presença de outras pessoas. Precisaremos investir para criar condições para que o trabalho seja feito”, disse. O vicariato, por meio da Providência Nossa Senhora da Conceição, será ainda responsável pela ampliação dos convênios e de outros meios para atender os mais necessitados. A mensalidade, atualmente, é de R$ 1,3 mil.
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