Cadernos e mochilas como objetos de desejo


Como quase tudo não é um conto de fadas, consumo incentivado pela publicidade acentua a desigualdade dentro da escola e faz as famílias gastarem mais

Raquel Júnia

do Rio de Janeiro (RJ)


Mochila das Princesas, borracha do Ben10, caderno do Homem Aranha. Se você já ouviu falar nestes personagens, é porque está por dentro dos desenhos animados que fazem parte do imaginário das crianças. E já que as férias terminaram, é o momento deles aparecerem não apenas na televisão, mas também nos materiais escolares. No Rio de Janeiro e em boa parte do país as férias já terminaram, e com o novo ano letivo, chega também a necessidade de material escolar para ser usado no cotidiano das escolas. No caso de muitos estudantes, é o momento de insistir para ganhar aquela mochila com o personagem preferido ou aquelas canetas que, além de escrever, soltam perfume.


As papelarias estão lotadas, muitas crianças acompanham os pais na maratona salgada da compra do material escolar no sol de 40º graus do verão carioca. As vitrines estão enfeitadas. “Tudo para você se divertir na volta às aulas”, convida uma grande loja de departamentos. O problema é que muitas famílias não têm verba suficiente para agradar os pequenos. E o material escolar que não é oferecido gratuitamente aos estudantes da rede pública de ensino – como deveria –, pelo menos não de maneira suficiente. O resultado já é conhecido: crianças frustradas por não comprar o que é visto na propaganda e diferenças sociais acentuadas na escola, até mesmo nas públicas.


Desigualdade

“A criança gosta de ter material novo, de mostrar para os colegas. Isso extrapola quando você começa a comprar junto com o material escolar objetos que não são necessários. Por exemplo, hidrocor é legal para cobrir um desenho, para treinar o controle motor, mas para que tantas cores? É para acentuar a diferença social?”, questiona a psicóloga Noeli Godoy, do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro.


Noeli, que estuda a relação da mídia com o consumo, também lida com a questão em casa, já que é mãe de quatro filhos e três estão na escola. “Os fabricantes de caderno, borracha, lápis vão querer incrementar esse material. A Faber Castell lança, por exemplo, o lápis de cor das Princesas, as meninas vão ficar doidas, porque aquelas princesas viraram referência na infância. É aí que a publicidade consegue garantir a venda e se intensifica o capitalismo e a diferença social”, explica.

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