Educar agora para garantir o amanhã

Vincent Defourny*

Construir sociedades sustentáveis, justas e éticas, que garantam qualidade de vida e proteção ao meio ambiente para as atuais e as futuras gerações, é sem dúvida um dos desafios mais urgentes do nosso tempo. Relatórios como o do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, que alertam para o agravamento de problemas ambientais tais como o aquecimento global, os furacões, tornados e maremotos e as ondas de calor e frio, revelam os efeitos devastadores da ação do homem sobre o meio ambiente. Chamam a atenção para o fato inequívoco de que, a despeito das conquistas já alcançadas na área ambiental, é preciso agir mais rapidamente para conter os impactos ainda maiores que poderão advir da falta de uma consciência individual e coletiva em torno do desenvolvimento sustentável.

Nesse contexto, a educação vem adquirindo, cada dia mais, um papel central e decisivo para promover a tomada de consciência sobre a nossa realidade global e provocar uma reflexão a respeito do tipo de relação que os homens estão estabelecendo entre si e com a natureza e quais os problemas decorrentes de suas ações. Com a criação do conceito de Educação para o Desenvolvimento Sustentável, o mundo deu um importante passo no sentido de implementar ações educativas que dêem oportunidades a todos de aprender os valores, as atitudes e os modos de vida exigidos para uma transformação positiva da sociedade, capaz de assegurar o futuro da humanidade.

A fim de colocar a educação para o desenvolvimento sustentável como uma das mais altas prioridades mundiais, as Nações Unidas vêm empreendendo significativos esforços nas últimas décadas. Já em 1968, a UNESCO organizou a primeira conferência intergovernamental sobre o meio ambiente e o desenvolvimento, a partir da qual foi criado o Programa O Homem e a Biosfera (MAB). Na Rio 92, a Agenda 21 ressaltou o papel fundamental da educação para se alcançar um desenvolvimento com respeito ao meio ambiente. Em 2002, em Joanesburgo, além de reafirmar os aspectos educacionais dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e do Marco de Ação de Dacar do Programa Educação para Todos, a Conferência propôs a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, que foi proclamada em seguida pela Assembléia Geral das Nações Unidas para o período entre 2005 e 2014.

O objetivo global da Década, coordenada pela UNESCO, é integrar os valores inerentes ao desenvolvimento sustentável em todos os aspectos da aprendizagem com o intuito de fomentar mudanças de comportamento que permitam construir uma sociedade sustentável. Além de valorizar o papel fundamental da educação e da aprendizagem, a Década tem como objetivos: facilitar a criação de redes e contatos entre todos os envolvidos no programa de Educação para o Desenvolvimento Sustentável; fornecer oportunidades para aperfeiçoar e promover o conceito; promover a melhoria da qualidade do ensino ambiental e desenvolver estratégias em todos os níveis, visando o seu fortalecimento.

O programa não se limita ao aspecto do meio ambiente. Apresenta ainda como áreas principais a sociedade e a economia, tendo a cultura como dimensão de base. Isto porque valores, diversidade, conhecimento, linguagens e visão mundial associados à cultura influenciam fortemente o modo de abordar os distintos aspectos da educação para o desenvolvimento sustentável em cada país. O plano inclui também as importantes dimensões oferecidas pelos direitos humanos, pela paz e segurança humana, igualdade de gênero, diversidade cultural e compreensão intercultural, saúde, HIV/Aids, governabilidade, recursos naturais, mudanças climáticas, desenvolvimento rural, urbanização sustentável, prevenção de desastres naturais, redução da pobreza, responsabilidade e deveres das empresas.

O Brasil, por ser um país com grande diversidade cultural, ambiental e social e por ter um forte trabalho de educação ambiental, vem dando importante contribuição na implementação de ações da Década. Um dos exemplos é o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), desenvolvido pelo governo brasileiro em parceria com a UNESCO e que tem como uma de suas linhas de ação a cooperação internacional com países africanos de língua portuguesa, entre eles Angola e Moçambique. Pode-se destacar ainda o projeto Gênesis, que utiliza imagens produzidas pelo fotógrafo Sebastião Salgado para, entre outras ações, capacitar formadores em educação ambiental nas escolas.

Ações deste tipo, que devem ser empreendidas, de maneira permanente, por todos os indivíduos, governos, instituições e comunidades, ajudam aos poucos a concretizar o sonho de uma sociedade sustentável. Fazem lembrar as palavras do Diretor-Geral da UNESCO, Koichiro Matsuura: “nosso maior desafio nesse novo século é tomar uma idéia que pode soar abstrata – o desenvolvimento sustentável – e transformá-la em realidade para todas as pessoas do mundo. A Década nos dá a oportunidade de trabalharmos juntos – interdependentemente – para aprendermos a construir um mundo melhor”.

*Vincent Defourny é Representante da UNESCO no Brasil a.i. (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)

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