Brasileiro Gasta 5 Vezes Mais Água



Pesquisa revela que o maior desperdício acontece durante os banhos


Flávio Costa
No dia dedicado mundialmente à celebração da água, um alerta para quem costuma usar, sem parcimônia, este bem cada vez mais escasso: o brasileiro gasta, em média, cinco vezes mais do que a quantidade recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No país, jogam-se pelo ralo 200l por dia por pessoa, enquanto que o ideal para a OMS seria 40l diários. Quase metade é desperdiçada durante os banhos. É o que informa a pesquisa realizada nos principais centros urbanos do país pela empresa de consultoria H2C, especializada em uso racional da água.
Estima-se que 2,5% da água existente no planeta seja doce, e que deste percentual apenas cerca de um terço esteja disponível para o consumo. O Brasil detém 12% da água doce disponível no mundo, e mais da metade encontra-se em bacias da região Amazônica.
Apesar das dificuldades geográficas impostas ao abastecimento, o consultor de projetos da H2C, o engenheiro ambiental Paulo Lemos Costa, afirma que as concessionárias brasileiras não implementam políticas de incentivo do uso econômico da água e quando o fazem são campanhas pontuais. “O que vemos é iniciativas para aumentar o consumo, o que gerava mais lucro para as concessionárias, e uma sociedade civil que se acomoda diante deste quadro”.
Os mais gastadores, segundo a pesquisa, está entre os integrantes da classes abastadas. Enquanto a média soteropolitana é próxima da brasileira, cerca de 200l diários por pessoa, os mais rico chegam a usar cerca de 320l a 400l de água num só dia. Ainda assim, estão longe dos “nobres” de Brasília, que conseguem a façanha de gastar em média até mil litros de água por pessoa.
“Há hábitos arraigados de desperdício. Como deixar a torneira ligada enquanto se escova os dentes ou demorar longos minutos lavando o carro. Do outro lado temos ainda um déficit enorme de saneamento básico no país”, diz o engenheiro. Estima-se que o país tenha ainda 83 milhões de habitantes sem atendimento por rede de esgoto e 45 milhões fora da rede de distribuição de água. Em Salvador, são, pelo menos, 60 mil pessoas sem abastecimento.
Para Lemos Costa, já há no Brasil tecnologia disponível para fazer reduzir o consumo desnecessário de água potável. “No nosso sistema de abastecimento, até a água chegar às casas perde-se de 30% a 40%, enquanto a média japonesa é de 3%”. A situação ideal, segundo o engenheiro, é que as autoridades públicas lancem mão de programas racionalizadores do uso da água e estimulem, através de lei e financiamento, a compra de aparelhos.
A Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) informa, através de sua assessoria de imprensa, que faz campanhas permanentes de consumo consciente através de distribuição de cartilhas informativas em todo o estado e palestras de técnicos em escolas públicas e associações de moradores. A concessionária afirma cobrar ainda taxas progressivas para os maiores gastadores. A tarifa normal é de R$10 para dez mil litros de água consumida. Entre os 400 mil consumidores mais pobres, que estão dentro da tarifa social, o valor cobrado é de R$5,80.
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Turistas estrangeiros consomem menos
Da quantidade de água consumida numa casa brasileira, quase metade – 46% – se esvai com os demorados banhos de chuveiro que duram, em média, dez minutos. Cerca de 46% da água que é consumida numa casa é com o ato do banho. O estudante de direito Rodrigo Magalhães, 19 anos, é daqueles que “torram um sabonete a cada banho” em sua casa no Cabula. Seus banhos são homéricos e as reclamações de familiares não são suficientes para demovê-lo a ser mais rápido. Ele calcula demorar pelo menos 20 minutos debaixo do chuveiro, sem que a torneira seja desligada. “Eu sei que não deveria demorar, que a água é um bem em falta, mas eu gosto muito de tomar banho. A dor na consciência só aparece depois que acabo de sair no banheiro”, reconhece.
“A média do banho do brasileiro é de dez minutos. É quase o dobro do que de tempo do que um cidadão de qualquer país europeu”. A gerente do Laranjeiras Hostel, localizado no Centro Histórico, Patrícia Galvão, afirma que há uma notável diferença de hábitos de consumo de água entre os hóspedes brasileiros e os vindos da Europa. “Eles são bem rápidos no banho, consomem menos água”.
A turista inglesa Isobel Falk, 25, é um caso exemplar. Não costuma demorar nem “cinco minutos”, tanto no calor dos trópicos quanto sob o tempo nublado de Londres, na Inglaterra. Mas nem tudo é perfeito: “Às vezes deixo a torneira ligada enquanto escovo os dentes”, confessa Falk, que é administradora. Mas o bancário italiano Pietro Sciascia, 56 anos, que passa férias de um mês em Salvador, não concorda com a fama de econômicos dos europeus. “Vejo tanto desperdício aqui quanto vejo lá na Itália”.
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DICAS
Evite banhos demorados, menos que dez minutos de banho são o suficiente. Dez minutos de chuveiro ligado são 270l de água consumidos. Uma dica é fechar a torneira enquanto se ensaboa.
Ao escovar os dentes, fazer barba ou utilizar a pia do banheiro em geral, feche a torneira quando não for necessário. Uma torneira aberta por um minuto pode consumir até 2,5l de água.
Dê uma limpada nos restos de comida antes de lavar a louça. Depois ensaboe toda a louça e enxágüe de uma só vez.
Não lave calçada com a mangueira ligada, dê preferência ao uso de baldes quando for necessário. Na maioria das vezes não é necessário lavar a calçada, apenas uma varrida resolve.
Use a lavadora de roupas somente quando houver roupa suficiente para utilizar a capacidade máxima da máquina. Algumas máquinas oferecem a opção “meia-carga”, que deve ser usada quando não houver roupas suficiente.
Vazamentos são um dos grandes vilões no desperdício de água. Verifique todas as torneiras para ver se não há pingamentos ou se a torneira está mal fechada
Fonte: Instituto Elol
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/noticia.asp?codigo=150083

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