Desagregação familiar e criminalidade





Escrito por Claudionor Mendonça dos Santos

Há muito se discutem os fatores criminógenos em razão da incessante violência que vem assustando a sociedade.

Dentre os inúmeros fatores, destaca-se aquele que aponta para o desmoronamento da família, entendida como união de dois seres humanos, com projeto de vida em comum e que permita a ambos crescimento pessoal e superação das dificuldades que advirão certamente. Tendo como objetivo também um processo educacional, o papel parental costuma ser atendido com a óbvia divisão entre os papéis materno e paterno, sendo o primeiro centrado na nutrição, acalanto, enquanto o outro secularmente se revela como proteção em relação à mulher e à prole, surgindo como provedor das necessidades básicas do núcleo familiar.

Entretanto, as transformações sociais exigem mudanças radicais, com intercâmbio de funções, e os casais, aturdidos com as modificações, não conseguem superar as dificuldades, provocando insatisfações e críticas recíprocas, refletindo diretamente na educação da prole com as conhecidas conseqüências que deságuam, em regra, na criminalidade.

O conflito familiar, com a somatória de insatisfações, provoca desatenções constantes, em prejuízo do processo de educação, fator que aliado ao tabu do "é proibido proibir" faz com que os pais se descuidem da tarefa educativa, identificando-se, ambos, com o papel de meros supridores das carências materiais. Entrega-se a tarefa de educação à televisão, vídeo game, Internet.

É colocado no ostracismo o dever eminentemente ético que impõe aos pais o papel de educadores, prescindindo-se de pais travestidos de amigos que, em momento algum, podem abdicar da tarefa educativa, com outorga a terceiros. Já se disse que pais são educadores, orientadores e não predominantemente amigos, não sendo desejável, contudo, que sejam inimigos.

Nota-se inquietante crescimento da criminalidade na camada jovem da sociedade, em busca da satisfação de bens de ordem material, mas também se vislumbra nesse setor uma carência afetiva que empurra o adolescente para a compensação através da droga. Num encadeamento diabólico, percorre-se perigoso itinerário até a criminalidade mais violenta, consistente num primeiro momento, no furto, direcionando-se para o roubo, normalmente em busca do numerário necessário para a aquisição da droga, passando muitas vezes pelo caminho da prostituição.

Anestesiada pelo comodismo e pela hipocrisia, a sociedade finge não notar, fechando os olhos para a situação, às vezes bem próxima, agindo feito avestruz com o rosto enterrado na areia, esquecendo-se, porém, de que a areia esquenta, tornando-se, em razão disso, insuportável, tal e qual a onda de violência.

Claudionor Mendonça dos Santos é Promotor de Justiça e Associado do Movimento do Ministério Público Democrático.


Nenhum comentário: