Sistema de cotas muda perfil dos universitários



Uma pesquisa divulgada em 2003 pelo IBGE, que cruzava dados econômicos e sociais, apontava que seis em cada dez estudantes de universidades públicas do Brasil pertenciam às camadas mais ricas da população. A política das cotas, no entanto, está mudando o perfil dos ingressantes no ensino superior gratuito. Pelo menos no estado. De acordo com um levantamento inédito realizado pela Universidade de Pernambuco (UPE), mais de 50% da evasão nos cursos da instituição é causado por problemas financeiros dos alunos. São universitários que, sem dinheiro para transporte e alimentação, terminam abandonando a sala de aula. Mais de 90% deles passou no vestibular através das cotas. Apesar de 60% tirar boas notas, a maioria precisa de ajuda para continuar estudando e reescrevendo a história de suas famílias: garantir o primeiro diploma da casa.

Desde o início de julho, 150 alunos de baixa renda estão recebendo uma bolsa no valor de R$ 250 por mês. O programa, desenvolvido com recursos próprios da UPE, sinaliza duas verdadesincontestáveis. A primeira é que há, de fato, maior acessibilidade à universidade pública que em décadas anteriores. A segunda é que ainda faltam políticas sociais que garantam a permanência desses jovens no ensino superior. "A maior renda per capita dos alunos que estão ganhando a bolsa é de R$ 166,66. Esses dados provam que existe uma mudança de perfil dos alunos. Até mesmo em cursos que antes eram mais elitistas, como medicina", avaliou o pró-reitor de Extensão e Cultura da UPE e criador das bolsas de permanência, Álvaro Vieira.

Dos 150 alunos que recebem o auxílio mensal, 12 estudam medicina. Entre eles está o estudante Esaú da Silva Santos, 19 anos, estudante do 2º período. A história de superação do jovem que mora na zona rural de Jaboatão dos Guararapes encantou o Brasil inteiro. Na casa onde ele mora não existe água encanada, as camas são improvisadas e a comida, às vezes, falta. Mesmo assim ele sai cedinho e anda 40 minutos para pegar um ônibus com destino à Faculdade de Ciências Médicas da UPE. "Abolsa ajuda muito a vida da gente. Com o dinheiro posso pagar alguns livros e cópias com assuntos das aulas", comentou.

"Nossa ideia é ampliar o número de contemplados. Definitivamente, o conceito de que o aluno de universidade pública chega de carrão não é regra. Temos muitos alunos carentes, que precisam do suporte da universidade para continuar seus estudos. Principalmente nos nossos câmpus do interior", afirmou o reitor da UPE, Carlos Calado. Dos 18 mil alunos matriculados nas graduações da universidade, cerca de 1 mil vivem em condições de baixa renda. O governo do estado marcou uma reunião em outubro, em que avaliará a possibilidade de aumento das bolsas e a criação de obras como casas do estudante e restaurantes universitários.

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