Alcoolismo, problema de saúde pública

 
Com certeza, os graves problemas sociais, doenças e tragédias generalizadas decorrentes do uso abusivo do álcool precisam ser reavaliados para que todas as instituições envolvidas na prevenção, desde a família e escolas, até a regulamentação de políticas públicas rígidas, sejam competente e urgentemente cumpridas para enfrentar o principal problema de saúde pública do Brasil: o alcoolismo.

Como o crack e outras drogas terríveis, o álcool está contaminando e viciando cada vez mais os nossos jovens, causando grandes tragédias. Como droga lícita e extremamente perigosa, nossas crianças começam a beber álcool por volta dos 12 anos. Há certa omissão da família na vigilância do consumo; as propagandas abusivas e apelativas circulam em todos os horários na TV e toda a mídia associando a droga à felicidade e prazer; menores compram e consomem álcool livremente e a Lei Seca não funciona de forma eficaz. Resultado: faltam políticas públicas eficazes para conter o grave quadro e os dados do consumo são assustadores e mostrados por especialistas em muitas pesquisas.

Ronaldo Laranjeira e Nino Meloni, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apontam em 2011 que o alcoolismo é o principal problema de saúde pública no Brasil. Isso é gravíssimo. Mais de 10% de toda a mortalidade ocorrida no país é consequência do consumo excessivo de álcool. Dados recentes do Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas, da Unifesp, mostram que 22 milhões de homens abusam do álcool, 16 milhões são dependentes do álcool e 12 milhões são alcoólatras – um aumento de 30% em 10 anos; 8 milhões das mulheres abusam do álcool e 5 milhões são alcoólatras – aumento de 50% em 10 anos. Cerca de 30 milhões de brasileiros são bebedores de risco. Segundo a Associação Brasileira de Alcoolismo, cerca de 5% dos trabalhadores são alcoólatras comprometendo o Produto Interno Bruto (PIB). Dados de 2011 da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que os brasileiros consomem 18,5 litros de álcool puro por ano. Álcool associado ao volante é de altíssimo risco. Sandra Pillon, da Universidade de São Paulo, mostra que 72% dos carreteiros ingerem bebidas alcoólicas e 51% deles fazem uso abusivo. Os bafômetros acusam dados alarmantes nos motoristas comuns com muitas mortes e tragédias diariamente.

As doenças decorrentes do álcool são terríveis. E os sofrimentos e custos? Entre 2002 e 2006, o Sistema Único de Saúde (SUS) gastou mais de 40 milhões no tratamento de dependentes e procedimentos hospitalares. E hoje quanto se gasta? Urge que o governo e Ministério da Saúde pesquisem em 2011 os números das tragédias sociais nos registros policiais e os custos nos hospitais pelas ocorrências ligadas ao consumo excessivo de álcool para justificar políticas públicas. É preciso rever com urgência a legislação nacional pertinente às apelativas propagandas de bebidas, especialmente cervejas. Impossível que qualquer política funcione de forma eficaz com esse bombardeio de cenas e apelações até sensuais, induzindo milhões de jovens ao consumo. No artigo “Propaganda de álcool e associação ao consumo de cerveja por adolescentes”, publicado em junho na Revista da Saúde Pública, Roberta Farias, da Unifesp, mostra que jovens de São Paulo se identificam com o marketing da indústria de bebidas. Há depoimentos como “as festas que eu frequento se parecem com as dos comerciais”. A noção de fidelidade à marca, exposta constantemente nas propagandas de cerveja, também foi descrita como de impacto essencial para a ingestão de álcool precocemente. Inegável a responsabilidade da mídia e das propagandas na indução ao consumo do álcool no Brasil. Os impostos recolhidos compensam as grandes tragédias sociais e os altos custos hospitalares decorrentes do excessivo consumo de álcool?

Projeto de proibição de propagandas de bebidas em certos horários na TV como o proposto pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde em 2008 precisa ser aprovado. Mais que isso: certos conteúdos e cenas das propagandas também precisam ser proibidos. Estampar nos rótulos fotos de doenças e tragédias associadas a exemplo da campanha do tabaco. Álcool tratado como droga. Importante que governo e sociedade civil atentem para os graves danos dessa terrível droga e lutem contra os interesses da indústria de bebidas. Com certeza, os graves problemas sociais, doenças e tragédias generalizadas decorrentes do uso abusivo do álcool precisam ser reavaliados para que todas as instituições envolvidas na prevenção, desde a família e escolas, até a regulamentação de políticas públicas rígidas, sejam competente e urgentemente cumpridas para enfrentar o principal problema de saúde pública do Brasil: o alcoolismo.
Por: Vivina do C. Rios Balbino – Psicóloga, mestre em Educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil
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