Frederico Haikal/Jornal Hoje em Dia
A Polícia Militar voltou a ocupar o conjunto de favelas nesta segunda-feira
Ministério Público acompanha investigação
sobre mortes em favela de Belo Horizonte
Duas pessoas foram mortas na madrugada de durante uma ação da PM
O Ministério Público Estadual, a Assembleia Legislativa e a Defensoria Pública de Minas Gerais vão acompanhar as investigações das polícias Civil e Militar sobre a morte de duas pessoas no aglomerado do Cafezal, na região centro-sul de Belo Horizonte. O caso fez com que moradores dessem início a uma série de protestos com veículos incendiados e barricadas no final de semana, que levaram a confrontos da comunidade com integrantes da Polícia Militar na noite de domingo (20). Na próxima terça-feira (22), uma comissão formada por integrantes dos três órgãos irá à favela, a maior da capital, para ouvir testemunhas.
O auxiliar de enfermagem Renilson Veriano da Silva, de 39 anos, e seu sobrinho, o dançarino Jeferson Coelho da Silva, de 17, foram mortos na madrugada do último sábado (19) durante uma ação da PM. Os policiais militares alegaram que eles estavam com um grupo de cerca de 20 pessoas, parte delas fardada, que teria recebido a polícia a tiros. Todos os outros suspeitos teriam fugido. Moradores da comunidade, porém, afirmam que a versão é uma farsa e que a dupla não tinha envolvimento com crimes. A corporação instaurou um inquérito policial militar para apurar o caso, que também é investigado pela Polícia Civil.
Segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado estadual Durval Ângelo (PT), uma testemunha negou a versão da Polícia Militar.
- Uma pessoa que viu o crime e já foi ouvida no inquérito da Polícia Civil afirmou que foi uma execução. Não houve essa história de grupo fardado.
Ele e outros parlamentares se reuniram com moradores da favela nesta segunda-feira (21) e combinaram uma visita ao local na terça-feira (22), acompanhados do promotor Rodrigo Filgueiras, da Promotoria de Defesa dos Direitos Humanos. Cerca de 300 manifestantes foram até a Assembleia em passeata por algumas das principais vias da capital.
Ainda no sábado, moradores já haviam incendiado dois ônibus no aglomerado, que fica em área nobre da cidade. No domingo, a PM reforçou o policiamento em pontos estratégicos da favela, para evitar novas manifestações. Porém, após o enterro das vítimas, moradores que se reuniram na praça do Cardoso, na Vila Marçola, começaram a atirar pedras em viaturas. Um dos policiais deu um tiro para cima e teve início um confronto. Um micro-ônibus e dois outros veículos foram incendiados.
Os manifestantes ficaram ainda mais revoltados após uma criança de cinco anos ser ferida por estilhaços de uma bomba de efeito moral e expulsaram os policiais a pedradas. A PM reforçou o contingente no local com homens da tropa de choque, que deram vários tiros com balas de borracha para tentar dispersar a multidão. Três homens, incluindo um cinegrafista, ficaram feridos e ao menos outros três foram presos.
Os confrontos continuaram em outros pontos do aglomerado até o fim da noite. A PM ocupou novamente o local na manhã desta segunda-feira, mas uma série de protestos voltou a marcar o dia na favela, incluindo por parte dos colegas da escola na qual Jeferson estudava, que não funcionou.
Em evento em Sergipe, na tarde desta segunda, o governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia (PSDB), determinou a apuração "imediata e minuciosa dos fatos lamentáveis" ocorridos na favela. Pouco depois, o secretário de Estado de Defesa Social, Lafayette Andrada, manteve a versão da PM e disse que os militares foram "mal recebidos" na comunidade. Mas ressaltou que o caso será apurado com acompanhamento do MPE para que "haja isenção nas investigações". Segundo Andrada, o sargento e os três soldados envolvidos nas mortes tiveram as armas apreendidas, foram afastados das ruas e vão fazer apenas trabalhos burocráticos durante o andamento da apuração.
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