Vida além da prisão

A quase totalidade da comunidade carcerária não tem formação profissional. A maioria nunca exerceu uma atividade formal e outra parcela vive do produto do crime.
Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes, a partir de dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) de dezembro de 2010, apenas 8% dos cerca de 500 mil presos no Brasil têm acesso à educação. Dado alarmante, lembrando que 64% do total de presos não chegaram a concluir o ensino fundamental. Nesse cenário, lembramos a escassez de recursos para levar ensino e atividades profissionalizantes aos presídios. Para promover a reinserção social desses detentos é imprescindível oferecer atividades e cursos de atualização que os mantenham informados e conectados com o mundo exterior, de forma a facilitar sua reinserção social quando retornarem à vida livre.

O estigma de ex-presidiário restringe a inserção no mercado de trabalho. Outro ponto difícil são as precárias instalações dos presídios, o que dificulta a execução dos programas de ressocialização. Mas as dificuldades não podem sobrepor os benefícios proporcionados aos detentos, seja ainda durante o cumprimento da pena, seja depois da saída do presídio. Ao qualificarmos um preso, estamos aumentando suas chances de posterior inserção no mercado de trabalho e socialização junto à comunidade.

Dando exemplo de geração de oportunidades, o Projeto Fred atendeu, desde 1998, mais de 6.900 presos em 28 cidades mineiras, por meio de oficinas de tapeçaria que, ao mesmo tempo em que qualificavam e ensinavam técnicas de artesanato, geravam renda para os presos pela venda externa dos tapetes. O projeto tem como objetivo gerar ocupação e renda para os detentos e suas famílias, além de combater o envolvimento dessas pessoas com a cultura carcerária, no que diz respeito ao ócio e ao uso de drogas. Buscamos por meio das oficinas o desenvolvimento da criatividade e da liberdade de expressão artística e o resgate da autoestima dos presidiários.

É nesse cenário de angústias e de falta de perspectivas e de oportunidades que a atuação dos artistas plásticos responsáveis pelas criações dos tapetes confeccionados nos presídios caracteriza-se como um recurso importante no processo de educação, de expressividade de sentimentos e de habilidades despertadas até então não conhecidas. Assim, o preso tem a oportunidade de demonstrar seu mundo, seu cotidiano, seus medos e seus tormentos. Na busca pela autoestima dessas pessoas, alcançando resultados positivos. Além de incentivar as habilidades manuais, ocupar a mente e oferecer uma oportunidade de trabalho, a ação em presídios toma proporções estéticas. E, assim, o objetivo de proporcionar uma ressocialização mais tranquila e humana aos presos pode ser alcançado. O trabalho de um educador, ao ajudar um detento ou ex-detento a construir novos valores e referenciais, faz toda a diferença na vida além da prisão.
Por: Andréa Ambrósio -Idealizadora do Projeto Sociocultural Fred
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