Cor sobre concreto » Obras hiper-realistas chamam atenção em Belo Horizonte


Nilo Zack - EusR 0 “Não importa o que os outros vão fazer. Importa o que eu faço. O meu papel é pintar. O que vai acontecer com o grafite depois já é consequência”, resume.
Trabalhos de Nilo Zack, espalhadas por vários bairros da capital mineira, ajudam a dar mais sensibilidade e poesia à fria arquitetura urbana da metrópole.
Por:Carolina Braga

Cara de paslhaço... Pinta de palhaçoNilo Zack - EusR 04

Figura mais conhecida de Nilo Zack, o palhaço divide o mural com criação da grafiteira Lídia Viber, na Rua Guaicurus
Costumava ser um simples quarto de entulho, desses que a prefeitura usa para armazenar vassouras e carrinhos de limpeza. Mas o pequeno espaço situado na esquina da Avenida Francisco Sales com Rua Grão Pará, no Bairro Funcionários, acabou virando mais que isso. E não é só lá. Na esquina da Rua Guaicurus com a São Paulo, o mesmo menino-palhaço também garante colorido diferente à antiga zona boêmia.
Nilo Zack - EusR 0E
Pouco a pouco, o semblante às vezes triste, às vezes sapeca do garoto de boca vermelha e pintinha no nariz aparece para transformar em galeria a céu aberto muros e espaços convencionais da arquitetura urbana. Só em Belo Horizonte, são pelo menos 16. Em Portugal, precisamente em Covilhã, o mesmo rosto marca presença no muro de uma das escolas da cidade. O toque de arte em meio ao concreto é obra do grafiteiro mineiro Nilo Zack. Aos 26 anos, ele tem chamado a atenção pela originalidade do traço e alta qualidade da pintura.
Estudante de cinema de animação na UFMG, a história de Nilo é exemplo clássico da combinação de talento, força de vontade e muita dedicação. Criado no Bairro Taquaril, Zona Leste de Belo Horizonte, desde criança demonstrou interesse pelo desenho. Aos 12, começou a dar vazão aos primeiros traços como pichador. Não demorou muito a se tornar monitor das oficinas de grafite ministradas na periferia da capital.
Os trabalhos iniciais eram coerentes com o passado até que, em 2009, assim que entrou para a faculdade, Nilo mudou radicalmente não só o tema de interesse como a maneira de pensar a própria arte. “Fiquei meio de saco cheio de comunicar só para um tipo de público”, diz. Em parceria com os artistas do coletivo Ctor 9, em especial a também grafiteira Lídia Viber, abraçou o hiper-realismo como estética.
A série dos palhaços foi motivada por um trabalho de escola. A partir de uma foto que Lídia fez quando o sobrinho de Nilo, Juan Manuel, tinha 3 anos, ele resolveu mudar de rota e pintar a imagem. “Desenhei a foto no papel e pensei: ‘Consigo pintar isto’. Tentei e ficou igualzinho. Trabalho melhor com uma lata de spray do que com lápis de cor”, brinca.
Nilo Zack - EusR 04

Foi só pintar o primeiro que os comentários elogiosos pipocaram. Dos arredores do Taquaril, Zack fez sua arte circular por Contagem, região hospitalar de BH, além dos bairros Anchieta, Lourdes, Horto, Padre Eustáquio. O trabalho é totalmente voluntário e independente. Nilo tira do próprio bolso a verba para comprar as 15 latas de spray, cerca de R$ 240 por obra, necessárias para fazer cada palhaço de cerca de dois metros de altura. O tempo de dedicação a cada um varia entre oito e 12 horas.
Tatuagem
Apesar de ser a grande paixão, o grafite ainda não paga todas as contas do artista. Para manter a própria atividade, Nilo tem organizado exposições com versões de seus palhaços para galerias convencionais, aceita encomendas de arte em parede, além da labuta como tatuador. “O que interessa é a visão do artista. Não importa se é na pele, se é com caneta, lápis, tinta ou giz. O êxito depende 90% do que está cabeça, 5% na mão e os outros 5% na ferramenta que se usa”, ensina.
Quando pensa no que anda fazendo pelas ruas da cidade, Zack se identifica com as ideias do grafiteiro espanhol Belin. “Esta era do grafite é tão incrível que engloba todas as artes e ainda tem coisa nova. Tem grafiteiro realista, impressionista, expressionista, abstracionista. Estou dentro disso porque o grafite não sou eu, não é o Belin, não é a Lídia. É uma coisa muito maior”, propõe.
“Meu papel é pintar”
Nilo Zack - EusR 02Nilo Zack viveu experiência radical no ano passado. Primeiro pintou um dos palhaços em construção abandonada, na Avenida Antônio Carlos. Era época da campanha política e um dos candidatos fez o “favor” de desrespeitar o trabalho, colando cartazes por cima. O ato repercutiu negativamente na internet, o que levou o político a financiar uma nova versão do palhaço. Nilo refez, mas, infelizmente, cerca de um mês depois a Prefeitura de Belo Horizonte demoliu tudo. “Não importa o que os outros vão fazer. Importa o que eu faço. O meu papel é pintar. O que vai acontecer com o grafite depois já é consequência”, resume. A história está registrada no vídeo “Nos bastidores do graffite, disponível no YouTube”.
Veja + Imagens dos trabalhos de Zack e Viber:
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Nilo Zack - EusR 0B
Nilo Zack - EusR 0C
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Nilo Zack - EusR 01
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Nilo Zack - EusR 02
Nilo Zack - EusR 03
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Viber e Zack 02
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Viber e Zack
Viber
*Veja também vídeos de + Trabalhos e intervenções de Zack e Viber no YouTube:
http://www.youtube.com/watch?v=JmxWx1PKhrU



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