COMPORTAMENTO
Contra o machismo
Mulheres que se dedicam ao movimento hip hop organizam evento, no domingo, para divulgar a presença feminina no gênero. Estão previstos shows, debates e apresentações de dançarinas
Janaina Cunha Melo
Renato Weil/EM
Lauana Nara, Kiti Dias, Lana Black e Zaika dos Santos organizam o evento Metamorfose, no São Bernardo

A primeira crew de hip hop feminino estréia domingo, no Centro Cultural São Bernardo, reunindo MCs, b-girls e grafiteiras. Elas organizaram o encontro Metamorfose, com debate e shows que confirmam o aumento da participação das mulheres no gênero e a importância desse envolvimento para a cena belo-horizontina. A maior parte das convidadas integra grupos há pouco mais de dois anos e faz parte de uma geração que recusa a idéia de que hip hop é seara masculina.

“Existe um machismo oculto e velado, presente em todos os eventos, que faz das meninas uma exceção, embora haja muitos trabalhos relevantes. Queremos discutir essa situação e convidamos todos, inclusive os homens, para participarem da festa”, convoca Lauana Nara Chantal de Castro, 23 anos, rapper do grupo Negras Ativas e estudante de serviço social.

Crew é um coletivo, uma espécie de organização informal que trabalha em equipe por objetivos comuns. Ainda não há registro de iniciativas desse porte no estado, e a intenção das artistas é promover diversas ações além do Metamorfose. O primeiro encontro aberto, com mostra de todos os elementos da cultura hip hop, representa o início de projeto mais amplo. O evento começa com mesa de debates composta por Vanessa Beco, do grupo Negras Ativas, MC Russo, do grupo APR, e Hosana, militante da Marcha Mundial de Mulheres. Eles discutirão a inserção da mulher no mercado de trabalho e o machismo, dentro e fora do movimento hip hop.

Lauana Castro explica que a participação da comunidade é imprescindível, assim como o envolvimento dos homens no projeto. De acordo com ela, Metamorfose indica mudança de comportamento em busca de nova forma de conhecer, reconhecer e afirmar a realidade. “Estamos propondo um novo conceito do papel da mulher na cultura, mostrando a emancipação feminina dentro do hip hop”, diz. Também participam do evento o grupo de dança afro Calanga e Valéria, do Odum Orixás. Também foram programadas exposição de telas e atividades de grafite ao vivo.

MÉRITO O evento pretende conscientizar produtores de eventos de que os grupos femininos têm o mesmo potencial dos masculinos. O preconceito é notado nas programações, que, muitas vezes, sequer pensam em convocar as artistas. “Temos que ser convidadas pelo mérito da nossa produção. Apesar de contarmos com muitos parceiros, que estimulam o nosso trabalho, há ainda quem pense que mulher só pode atuar como backing vocal”.

O aumento do número de grupos, argumenta Lauana, indica que as mulheres estão tomando consciência da importante contribuição que oferecem ao hip hop. Produções como o filme e a série Antônia, afirma ela, podem favorecer o encorajamento das artistas. “A mídia pode contribuir como uma espécie de incentivo, mas isso não é tudo. O fato é que, cada vez mais, as meninas freqüentam as festas, produzem, criam e acreditam no que têm para dizer e na força de seu trabalho”.

Além das MCs, o evento terá participação de outras mulheres, integrantes de movimentos sociais e populares. Para estruturar o Metamorfose, elas tiveram o apoio de entidades e coletivos como o Hip Hop Chama, Nós Pega e Faz, Cellos, Comacom, site Hip Hop Minas, Conselho da Mulher e Xeque Mate, entre outros.

METAMORFOSE

Centro Cultural São Bernardo, Rua Edna Quintel, 320, São Bernardo, (31) 8441-4430. Domingo, às 9h (debates) e às 14h (shows). Entrada franca.

PROGRAMAÇÃO

9h: Mesa de debate

14h: Shows com Negras Ativas, Ideologia Feminina, Rosy (VSD), Impacto Feminino, Real Mina, Remanescentes, Fernanda (APR), Frutos Periféricos, Déboras, Banca Atitude de Mulher e MCs convidadas. DJ Lelé e CDJ Dany.

Grafite: Fabi, Daisla, Liw, Ana.B-girls : Grupo Gálatas 5.

Dança: Calanga e Valéria (Odum Orixás); Black White Boys

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