Dupla de grafiteiros transforma lixeiras em caixas acústicas na Paulista




JULIANA VILAS

Ennio Brauns/Divulgação
Della e São, na av. Paulista, antes de começarem a grafitar lixeira de concreto e transformá-la em caixa de som
Della e São, na av. Paulista, antes de começarem a grafitar lixeira de concreto e transformá-la em caixa de som

Sábado, dia 14, 9h, 10 graus. Por conta do vento gélido, a avenida Paulista parecia ainda mais fria. Para deixar as circunstâncias mais adversas, uma fina garoa compareceu.

Mas logo parou, para alívio da dupla 6emeia, formada pelos artistas plásticos Anderson Augusto, 27, o São, e Leonardo Delafuente, 28. Eles chegaram com a ideia pronta: transformar as lixeiras de concreto da avenida em caixas de som. Na mochila, rádios de pilha e fitas adesivas.

A dupla de grafiteiros costuma emprestar suas cores e seus traços a superfícies pouco convencionais: tampas de bueiros, lixeiras e postes.

"A ideia é interagir com o mobiliário da cidade, propondo um novo tipo de linguagem e colocando a arte ao alcance de todos. É bacana ver as pessoas surpresas quando passam e reparam que objetos cinzentos, que sempre estiveram ali, agora estão coloridos, com desenhos bem humorados", explica Delafuente.

À procura da lixeira perfeita, São caminhou pela calçadas puxando um carrinho com latas de tinta e pincéis, em uma caixa plástica com um adesivo da prefeitura. Só coincidência --o trabalho foi feito sem autorização. Encontrada a primeira lixeira, a ação demorou cerca de uma hora.

No final, um rádio, ligado, foi colado na parte interna da lixeira. Quem passava na calçada ou na rua ouvia, mas não conseguia descobrir facilmente de onde saía aquele som.

Pronta a obra, eles fotografam. "Faz parte do nosso trabalho lidar com esse caráter efêmero. Os desenhos desaparecem, desbotam, são cobertos por pichações. Por isso, a gente registra tudo", explicam.

Para um artista de intervenção urbana, tão adverso quanto frio e chuva é o calor. "O trabalho mais difícil que a gente fez foi sobre uma tampa de bueiro, dessas de metal. O sol estava tão forte que eu não conseguia apoiar as mãos no chão. Depois, choveu tanto que o desenho sumiu", conta São.

Já no sábado à noite, a caixa de som não ressoava mais. Alguém roubou o rádio de pilha. Previsível.

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