Violência reduz expectativa de vida do jovem brasileiro

Os planos de desenvolvimento humano governamentais ou de agências de cooperação internacionais geralmente relegam as especificidades da população jovem, que apresentam obstáculos particulares tanto para conseguir inserção social como para proteger a própria vida, como no caso do Brasil. Enquanto entre as duas últimas décadas (1980-2000), a taxa global de mortalidade da população brasileira caiu de 633 em 100 mil habitantes para 573, a mesma cifra relativa ao setor jovem cresceu, no mesmo período, de 128 para 133 indivíduos.

A causa principal é a violência, que parece concentrar o impacto sobre a juventude. Dessas 133 mortes, 74 casos podem ser atribuídas a atos violentos, matando muito mais do que qualquer fator interno, como doenças. Esse número, 54% maior do que o referente à população em geral, ultrapassa a marca de 125 registros em estados como Rio de Janeiro (no sudeste brasileiro), Pernambuco (nordeste) e Roraima (norte).

A partir do reconhecimento da problemática específica dos jovens no Brasil e no mundo, em que a violência ocupa um dos papéis principais, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) está propondo o Índice de Desenvolvimento Juvenil (IDJ), que utiliza critérios similares ao do índice dedicado ao conjunto da população, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

A criação do instrumento para aferir a qualidade de vida da juventude inclui ainda considerações em forma de relatório sobre a saúde, educação e renda dessa faixa etária, baseadas no banco de dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo pode ser encomendado diretamente à seção brasileira da Unesco.

Em termos de educação, o estudo revela avanços que são atenuados por outros dados relevantes. Por exemplo, se a taxa de analfabetismo entre os jovens de 4,2% é bem maior em relação à média nacional, de 13,6%, saber ler e escrever formalmente não garante a continuidade dos estudos, pois 51,4% dos jovens não freqüentam nenhum tipo de instituição de ensino.

Na região Nordeste, isso se reflete na quantidade de anos de estudo da população jovem, de apenas seis anos, o que equivale a não ter concluído sequer o Ensino Fundamental. Por isso, somente 29,2% dos jovens do país encontram-se matriculados no Ensino Médio ou no Ensino Superior.

Se esses dados forem cruzados com variáveis como sexo, composição racial e região geográfica, haverá uma maioria relativa de mulheres escolarizadas e uma discrepância intensa em vários indicadores sociais entre negros e mestiços (os pardos do IBGE) nordestinos e a população predominantemente branca da Região Sul, que concentra os estados com maior IDJ do Brasil (Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Isso pode ser observado, principalmente, no quesito rendimentos. A renda familiar per capita dos brancos atinge dois salários mínimos, enquanto a de pretos/pardos chega a somente 0,9 salário mínimo.

Diante destes dados, a Unesco pretende, com o Índice de Desenvolvimento Juvenil, monitorar e avaliar, mediante a atualização do indicador a cada dois anos, o impacto e a incidência das políticas públicas dirigidas à juventude. Com isso, se busca estimular reformas no planejamento dedicado a este setor da população, como em relação à discriminação racial e geográfica apontada pelo estudo.

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