Jovens de 15 a 24 anos são maiores vítimas do crack


Pedro Rocha Franco - Estado de Minas


O período seguinte à entrada do crack em Belo Horizonte corresponde também ao aumento da mortalidade de jovens na capital. É o que revela o estudo Os impactos do crack na saúde e na segurança pública, elaborado pelo Centro de Pesquisas em Segurança Pública da PUC Minas. Comparação entre os quinquênios de 1991 a 1995 e de 2001 a 2005 mostra que a taxa média de homicídios na faixa etária de 15 a 24 anos aumentou mais de quatro vezes, em grande parte impulsionada pela droga. Enquanto isso, o número de assassinatos envolvendo adultos com mais de 25 anos aumentou menos de três vezes no mesmo período e representa menos da metade da taxa média referente à faixa etária mais jovem.

O poder destrutivo e viciante da droga, que está por trás do alto índice de mortes dos que se envolvem com ela, representa também um atrativo para quem se aventura no tráfico. Apesar de cada pedra custar relativamente pouco, quem é dependente de crack consome avidamente porção após porção, o que acaba por aumentar o faturamento dos fornecedores. De simples consumidor, o usuário também se torna revendedor, para ter como manter o uso próprio, fechando o ciclo.

“O crack é ouro!”, diz um dos 19 traficantes entrevistados no trabalho da PUC. Ele se refere ao desespero que faz com que o usuário aumente as visitas às “bocas”. Essa frequência também desmente a crença de que o custo baixo da droga em comparação ao da cocaína e da maconha resultaria em lucro menor. Outro relato de um ex-fornecedor confirma tese da “fábrica de viciados”: “Eles (os traficantes) não se interessam em vender maconha. É barato. É mais interessante vender crack, porque é uma droga pequena, de consumo muito rápido. A pessoa vai voltar toda hora, é muito viciante”.

Segundo o coordenador da pesquisa, o especialista em segurança pública Luis Flávio Sapori, não se pode desvincular o problema da questão da saúde e é preciso que o desafio seja discutido abertamente, sem medo de enfrentar o problema. “Uma hipótese é se valer da redução de danos, o que significa, por exemplo, aplicar maconha para usuários contumazes. É preciso debater o tema”, diz.

Não bastasse o vício quase imediato provocado pela droga, traficantes misturam outros produtos à pasta-base de cocaína durante a fabricação do crack, o que representa ainda mais ameaças à saúde, como adverte a professora do curso de ciências sociais da PUC Minas e integrante do grupo de pesquisa, Regina Medeiros. “Pode-se encontrar desde água sanitária até urina”, alerta.

Arma de fogo


A pesquisa revela ainda que as armas de fogo servem com apoio para demonstração de força e intimidação dos traficantes perante os consumidores. Na mira de revólveres e metralhadoras, eles são obrigados a pagar o que devem, sob ameaça de morte. Não por acaso, o número de assassinatos com uso de armas de fogo é 3,5 vezes superior ao de crimes com outros meios. A prevalência se deu principalmente entre 1997 e 2004. De lá para cá, a entrada da PM em alguns aglomerados contribui para o combate ao tráfico, justificando também a queda registrada no índice de homicídios.

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