Programa federal quer aumentar número de leitos para tratamento de viciados

Especialista alerta para importância de curar também a família
Jair Amaral/EM/D.A Press
Depois de enfrentar o vício, R. hoje estuda e espera conquistar uma vaga na universidade, mas ainda sofre com as sequelas causadas pelo abuso de crack
O Ministério da Saúde anunciou que estão sendo investidos R$ 110 milhões em atendimento a usuários de crack em todo o Brasil. Segundo o ministro José Gomes Temporão, o número de leitos será ampliado em 2,5 mil hospitais gerais, com capacidade para atender até 12 mil dependentes químicos. O investimento faz parte do Plano Emergencial de Ampliação do Acesso ao Tratamento e Prevenção em Álcool e outras Drogas (Pead 2009-2010), lançado em junho, com investimentos de R$ 117,3 milhões. As ações são direcionadas aos cem maiores municípios brasileiros.

De acordo com a psicóloga especialista em dependência química Heliana Fonseca Veiga Sales, é importante também investir não apenas no tratamento de dependentes químicos, mas também na recuperação da família. “Não existe uma cura para a dependência e a possibilidade de cair em tentação é muito grande.” Segundo ela, o entorpecente é considerado devastador por causar uma dependência mais rápida. “O efeito vem em quatro segundos. Mas em no máximo 20 minutos ele passa. O dependente quer aquela sensação de volta e isso se torna uma bola de neve.”

Ela acrescenta que o crack, diferentemente de outros entorpecentes, é uma droga democrática. “Está em todas as classe sociais. O dependente químico quer saber qual é o barato, quer descobrir novos prazeres e ter nova adrenalina”, explica. Ela acredita que o consumo desenfreado da droga é reflexo da ausência de referência familiar. “Falta referência espiritual, todos estão mais materialistas. Está faltando implantar valores e isso vem de berço, de família”, destaca Heliana.

R.M.M.conta que foi criado pela irmã mais velha, pois a mãe trabalhava o dia inteiro. “Quando descobri o crack, queria ficar na rua e não voltar mais para casa. Quando eu voltava, roubava tudo para poder comprar a droga. Minha irmã chegou até a chamar a polícia”, conta.

Sintomas que durante quatro anos fizeram a cabeça de R.M.M. até o dia em que ele decidiu não fumar mais o crack. “Eu vivia em função da droga. Fazia muitas besteiras e resolvi dizer basta.” Atualmente, o rapaz se prepara para o vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais, na qual pretende cursar engenharia civil. “Mas, mesmo longe da droga há seis anos, ainda trago sequelas. O meu pensamento muitas vezes é lento, me esqueço das coisas e, ainda, não consegui ser afetivo com o próximo”, desabafa.

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