Desarmar e civilizar a Polícia






Não parece razoável trocar a vida de um ser humano – por pior que ele seja – para evitar que um automóvel seja roubado ou que um assaltante de banco escape da perseguição policial. No entanto, casos de pessoas atingidas por "balas perdidas" disparadas por policiais nesse tipo de operações acontecem diariamente nas grandes cidades.

Ao contrário do que usualmente se pensa, o uso indiscriminado de arma, longe de aumentar, reduz a eficiência da Polícia. Em vez do planejamento, da inteligência, do aprimoramento das técnicas de investigação policial, de capacitação dos policiais, é mais fácil, mais barato, menos trabalhoso – e obviamente menos eficaz - colocar um revólver na mão deles junto com a carta branca para utilizá-lo a torto e a direito.

A predominância do espírito corporativo na apuração dos casos de morte causados por balas perdidas conduz à absolvição fácil – quase automática – dos policiais envolvidos, quando muitas vezes trata-se de manifesta imprudência ou imperícia.

A certeza da impunidade só contribui para que o policial perca o sentido da importância da vida humana – mesmo tratando-se do pior criminoso. Os "esquadrões da morte" nascem dessa aberração.

Como violência chama violência, aquilo que em tempos passados era relativamente raro, tornou-se hoje corriqueiro: criminosos alvejam policiais. Em vez de procurarem uma solução civilizada e eficiente para esse problema, as autoridades públicas preferiram a solução assassina: "diante do perigo, primeiro atire, depois verifique se se trata mesmo de um criminoso".

O pior é que, atrás dessa barbaridade, há evidentemente uma forte dose de preconceito social e racial. Não é por acaso que a grande maioria das vítimas de "balas perdidas" seja de pessoas pobres: a vida de quem mora na periferia vale menos para as classes que comandam a política brasileira.

Urge encontrar um parlamentar corajoso para apresentar um projeto de lei regulamentando o uso de arma nas ocorrências policiais. Desarmar a Polícia é melhor para a própria Polícia. Pena é que ela não sabe disso.

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