Os jovens moradores de favelas têm uma visão mais conservadora e crítica em relação às drogas do que a classe média. A postura é fruto da convivência diária com o tráfico, como forma pragmática de garantir a própria sobrevivência. A análise é do coordenador do Programa de Jovens em Território Vulnerável (Protejo) no Complexo da Maré, Carlos Costa.
“Eles têm uma posição muito rígida em relação às drogas. A grande maioria não aceita a descriminalização do usuário e é mais favorável à punição, tanto para usuário quanto para traficante. Além disso, acham que a flexibilização de pena para o usuário faz ele ficar mais vulnerável, porque cria uma possibilidade maior de ser usado pelos traficantes para transportar drogas”, afirmou Costa.
Ligado à ONG Viva Rio, Costa morou durante 40 anos na favela da Rocinha e atualmente é responsável pelo Protejo-Maré, que atende 500 jovens. A iniciativa faz parte do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), do Ministério da Justiça, e oferece oficinas profissionalizantes e atividades educativas, esportivas e culturais para jovens em situação vulnerável.
Segundo ele, a repulsa que a maioria das famílias de comunidades tem em relação às drogas é muito mais uma questão de sobrevivência do que uma posição cultural ou religiosa.
“O conservadorismo é menos pautado pelo posicionamento político e muito mais pelo risco, pelo medo e pela vulnerabilidade que as próprias famílias dos usuários ficam, pela ação policial ou pela retaliação de outra facção criminosa. O envolvimento com drogas na favela é perigo de vida. É literalmente o caminho da morte”, sustentou.
Entre as drogas mais devastadoras, ele citou o crack, lembrando que ele é consumido tanto na periferia quanto na classe média, mas com uma diferença: “O garoto favelado conhece a pedra de crack antes de conhecer o primeiro professor. Isso não acontece no asfalto, onde o contato com as drogas é uma questão de opção, ao contrário da favela.”
Outra diferença apontada por ele é a falta de serviços de saúde voltados à recuperação dos viciados pobres, que não dispõem de meios particulares de tratamento, como a classe média. Também a abordagem policial é diferenciada, segundo classe social.
“O Estado é ausente nas favelas em relação à prevenção às drogas. Você não tem nenhuma ajuda terapêutica. Na classe média, existem alternativas e a droga é coibida de forma diferente. A gente sabe claramente que a maior boca de fumo no Rio de Janeiro é o Posto 9 [em Ipanema], mas a relação com os usuários é diferente dos usuários da Rocinha e da Maré”, comparou.
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