BH manchada de sangue


morador-de-rua-brasilA cidade está se tornando palco do horrendo massacre de moradores de rua. Nos últimos dois anos, a cifra chega a cem
Por: Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Até quando continuarão a matar moradores de rua na capital dos mineiros? Esse crime e muitos outros estão manchando de sangue a história jovem, bela e promissora desta nossa amada cidade. Belo Horizonte reúne possibilidades incontáveis para ser uma sociedade exemplar, fazendo jus à condição de centro desta terra mineira, o lugar atraente da síntese das muitas Minas que configuram um tesouro nacional: a mineiridade. Contudo, desafiadores problemas nos afligem e demandam de todos nós, do poder público especialmente, qualificação, velocidade e audácia para atingir metas mais cidadãs na constituição de uma sociedade mais justa e solidária, servidora de todos, sobretudo dos pobres.
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Como se não bastassem os desafios que nos afligem na contemporaneidade, ao se pensar a urgente necessidade de garantir moradia digna para todos, de resguardar o atendimento cidadão no âmbito da saúde pública, bem como o acesso à educação e ao mundo do trabalho, Belo Horizonte está se tornando palco do horrendo massacre de moradores de rua. Nesses últimos dois anos, a cifra chega a cem. Parafraseando o horror das destruições profetizadas por Jesus, quando a sociedade perde parâmetros éticos, tratando com descaso os problemas urgentes que afligem a vida das pessoas, é a “abominação da desolação”.
A pauta de urgências para superar esse cenário envolve muitos itens e demandas que estão exigindo de todos os cidadãos uma redobrada atenção, um sentido de realidade mais apurado e um comprometimento diuturno, que inclui tanto as pequenas ações de solidariedade como aquelas mais encorpadas pela articulação de pessoas e instituições. Abrange também os indispensáveis projetos estratégicos e sistêmicos dos governos em vista do bem comum. Nesse sentido, ao se considerar o processo construtivo da sociedade belo-horizontina, o que vale para cada cidadão desta amada terra, desafiados pela conturbada realidade das regiões metropolitanas, são as ações rápidas e eficazes, medidas urgentes para que cessem aqui as mortes de moradores de rua.
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A razão primeira é o respeito integral à dignidade de cada pessoa, merecedora de todo o cuidado e zelo, por obrigação governamental, por autenticidade de cidadania e pela força do amor que a fé verdadeira guarda. É urgente, pois, um “acordar a sociedade inteira” para este problema gravíssimo: a violência contra moradores de rua, que está manchando ainda mais de sangue a nossa história e os nossos dias. Serve de alerta o Livro do Apocalipse, abertura do quinto selo; uma referência simbólica à história da humanidade e seu destino. Conforme narra São João, os que estavam debaixo do altar, imolados, gritaram em voz forte: “Senhor santo e verdadeiro, até quando tardarás em fazer justiça, vingando o nosso sangue contra os habitantes da terra?”(Ap 6,10). Deus tem a condução da história. Todos nós seremos julgados, pelo amor a cada pessoa que gera o respeito e compromisso cidadãos. Particularmente, pelo amor que demonstrarmos pelos inocentes, pobres e indefesos.
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O tesouro da fé cristã que se mistura ao patrimônio admirável das riquezas deste chão mineiro deve renovar na sua capital e em cada recanto desta terra bendita uma vivaz, profética e inspiradora opção preferencial pelos pobres. Trata-se de um capítulo anterior, mais consistente em razões e raízes, aos projetos sociais advindos das obrigações governamentais, pois é fundamental para que sejam bem cumpridos. A opção preferencial pelos pobres nasce da fé em Jesus Cristo, incontestavelmente o grande patrimônio de nossa cultura. O Evangelho é fonte inesgotável de valores, educador da simplicidade de coração, da audácia na busca do bem e da justiça. Um caminho para incentivar ações e atitudes coerentes.
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É hora de limpar o sangue que mancha BH com o assassinato de moradores de rua. Que essa urgência inspire campanhas para que não se mergulhe uma sociedade na violência, para que não sejam configuradas realidades quase irreversíveis de insegurança e injustiça. Ainda está em tempo para que cidades iluminadas pelo sol, que desponta do alto de suas montanhas, cultivem o querer bem à dignidade de toda pessoa. Da abominação dos assassinatos deve nascer, por gestos e palavras, um tempo novo que seja para todos o “belo horizonte”.
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