Panela de pressão social


lutarO luxo da Copa, confrontado à carência dos serviços públicos, foi como a gota que transborda a água do copo.
E por que só agora acontecem os protestos, vários violentos, como indagam os exegetas sociais? Primeiro, porque a campanha eleitoral pela reeleição de Dilma foi antecipada. Os governos costumam ficar mais “sensíveis” a reivindicações nestes tempos. E, segundo, porque os serviços públicos funcionam como panelas de pressão social.

Surpreender-se com a violência, atribuindo-a só à ação de vândalos infiltrados nos grupos sociais, revela ignorância sobre o cotidiano da maioria da sociedade. A agressão a funcionários de hospitais do SUS, queima de ônibus, depredação de trens, tudo isso é recorrente, com causas muito objetivas: trens sujos, lotados, que quebram com frequência; falta de vaga nas UTIs; polícia que chega batendo. Isso vem de anos, enraizando a percepção de omissão dos governantes.
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Desequilíbrio federativo
Se a reforma política, começando pelo plebiscito que a presidente propõe ao Congresso, é o meio de atender tais reclamos, e, segundo ela expressou, “ouvir as vozes das ruas e transformá-las em energia institucional”, não se sabe. Sabe-se é que o financiamento público de campanhas eleitorais (demanda do PT) e o voto distrital (tese da oposição) não resolvem coisa alguma sem a reforma administrativa do Estado, profissionalização, investimentos e competência da máquina.
Também não é um problema federal, a rigor, já que educação, saúde e segurança são servidas pelos governos regionais – os estados e os municípios. As responsabilidades entre os três níveis da Federação estão desequilibradas desde a Constituição de 1988, com os recursos concentrados na União e os serviços nas cidades. É um quadro que só se deteriora, já que o Congresso tem ampliado direitos da cidadania sem prever o financiamento do seu custeio ou jogando a despesa para o Tesouro Nacional, apesar dos déficits orçamentários da União.


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Ufanismo e os contrastes
Ainda assim, as distorções federativas, acumuladas ao autismo dos governantes, não explicam tudo o que os jovens reclamam nas ruas, descontadas as propostas ideológicas, sabidamente inviáveis, como a tarifa zero nos transportes. A pista do que ocorre está no enésimo ciclo de alta da Selic para ajustar a demanda à produção doméstica insuficiente, compensada com importações. Está aí, talvez, a razão difusa da insegurança dos jovens: a percepção de que o processo de criação de riqueza nacional vai mal, negando o ufanismo ostentado até há poucas semanas. O luxo da Copa, confrontado à carência dos serviços públicos, foi como a gota que transborda a água do copo.
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