É hora de ouvir as ruas


7265_527194677341196_1398166846_nA falta de reivindicações concretas torna praticamente inviável o ir e vir próprio dos acertos coletivos.São dificuldades que precisam ser contornadas para evitar confrontos de final imprevisível e indesejado. O importante é que os governantes não desqualifiquem o movimento.
É hora de ouvir as ruas A serenidade é, mais do que nunca, indispensável

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Dialogar com representantes dos milhares de brasileiros que tomaram as ruas é a reação que se esperava para aplacar um descontentamento generalizado. Não será tarefa fácil. O primeiro obstáculo a enfrentar é a inexperiência. Havia duas décadas que não se observavam no país protestos em massa com a magnitude dos atuais.
Depois das Diretas Já, que exigiam a devolução ao povo do direito de eleger os governamentes pelo voto direto e secreto; e do Fora, Collor, que demandava a saída do presidente envolvido em denúncias de corrupção, as grandes manifestações desapareceram do cenário nacional. Nesse meio-tempo, pequenas concentrações claramente identificadas davam o recado desse ou daquele grupo. Passado o evento, a vida voltava à normalidade.
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Além da máquina de negociação desazeitada, os governos se veem à frente de situação inédita. A capacidade de mobilização das redes sociais deixa as rédeas do protesto sem controle. Ondas de pessoas — vindas ninguém sabe de onde nem sob o comando de quem — se dirigem ao local programado e formam multidão em curto espaço de tempo. Nem todos são movidos pelo mesmo interesse.
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Nas insatisfações difusas reside o segundo obstáculo a ser enfrentado. Com quem negociar? Sem que tenham sido convocadas por sindicato, partido (embora não faltem agremiações que tentam se passar por promotoras do movimento), entidade de classe ou instituição similar, as manifestações não têm líderes com poder de firmar acordos em nome dos participantes. Não só. A falta de reivindicações concretas torna praticamente inviável o ir e vir próprio dos acertos coletivos.
São dificuldades que precisam ser contornadas para evitar confrontos de final imprevisível e indesejado. O importante é que os governantes não desqualifiquem o movimento. Se tantas pessoas em diferentes unidades da Federação vão às ruas demonstrar descontentamento, algo as move. No primeiro momento, foi o aumento de R$ 0,20 no preço das passagens de ônibus em São Paulo. O anúncio veio em hora delicada na qual os brasileiros sentem no bolso a alta do custo de vida.
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Por trás do acréscimo está o transporte público caro e de má qualidade, que em todas as grandes cidades obriga o trabalhador a acordar mais cedo, viajar apertado, enfrentar congestionamentos e, não raro, ficar no meio do caminho por falta de manutenção dos veículos. Mesmo sem o acréscimo, a tarifa é exorbitante para a contrapartida que oferece. Outros maus serviços também motivam as concentrações. Violência e saúde encabeçam a lista.
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Protestos são livres e bem-vindos na democracia. Mas têm limites que precisam ser observados pelos diferentes atores. Manifestantes têm o direito de defender ideias e levantar bandeiras desde que pacificamente. Não manifestantes necessitam ter assegurada a liberdade de ir e vir. A polícia deve manter a ordem sem violência. O Brasil e o mundo vivem realidade incontrolável com o poder da internet e suas redes sociais. Impõe-se encontrar formas de conviver com ela. Sem dúvida é hora de ouvir o que dizem as ruas, mas elas devem respeitar o direito de quem está fora delas. Das partes bem-intencionadas a hora exige mais diálogo que agressão, mais serenidade que rompante.
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