Adolescentes consomem álcool cada vez mais cedo

do clipping da Andi
Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, a psicóloga Rosely Sayão, apresenta dados de uma pesquisa que aponta o álcool como a droga mais usada por adolescentes. O consumo vem aumentando, principalmente entre os mais novos e entre as meninas. Hoje quase metade dos jovens com idade entre 12 e 17 anos já ingeriu bebida alcoólica, enquanto na década de oitenta, o consumo iniciava-se entre os 16 e 17 anos.
O uso constante também tem crescido entre pessoas com menos de 18 anos. Rosely levanta hipóteses com o intuito de sugerir possíveis causas dessa precocidade. A primeira delas relaciona o uso cotidiano da bebida alcoólica a um estilo de vida desejado pelos jovens (popularidade, alegria, beleza e outros) aliado à permissão dos pais. Segundo a psicóloga, muitos adultos acreditam que oferecer bebida aos filhos em casa é uma atitude aconselhável e dão festas para os adolescentes nas quais permitem bebidas, por exemplo.
Outro alerta é sobre a lei que proíbe a venda de bebida alcoólica para menores de 18 anos, que não é respeitada. Muitos estabelecimentos comerciais as vendem sem pedir documentos aos jovens e muitos adultos aceitam o pedido deles para passar a bebida em sua compra.
Ainda de acordo com Rosely, os jovens bebem, entre outros motivos, porque o álcool provoca euforia, desinibição e destrava os mais tímidos. Entretanto, afeta a coordenação motora, os reflexos e o sono, além de interferir na percepção do que o jovem considera certo e errado. Ela afirma que “os mesmos pais que ensinam o filho a beber não o ensinam sobre os cuidados que podem reduzir seus efeitos, como alimentar-se bem antes, não misturar diferentes tipos de bebida e ingerir muita água”.
Fonte: Folha de S. Paulo (SP), Rosely Sayão – 26/02/2009

Religiosa é ameaçada por denunciar pedofilia no Pará





A irmã Henriqueta Cavalcante, coordenadora da Regional Norte 2 da CNBB (Pará e Amapá), recebeu ameaças de morte por telefone, de acordo com notícia divulgada no dia 24/03/09 pela Comissão de Justiça e Paz (CJP). O motivo seria sua atuação junto à CPI que apura denúncias de pedofilia no estado do Pará.

As ameaças foram divulgadas pelos jornais O Globo, do Rio de Janeiro (RJ) e o Liberal, de Belém (PA), com destaque para o trabalho de apuração que está sendo feito pela Polícia Civil.

A Regional da CNBB disse que a Igreja do Pará não vai se intimidar com as ameaças e continuará trabalhando em favor das causas sociais e humanas. A Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), organismo vinculado à CNBB, em Brasília, afirmou, por meio do secretário-adjunto Daniel Seidel, que está em permanente contato com as autoridades para que sejam tomadas as devidas providências, e também faz contato diário com a irmã Henriqueta Cavalcante, com as autoridades locais como a governadora do Pará, a Assembleia Legislativa do estado, o Congresso Nacional e o Ministério da Justiça .

Fonte: site do CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)

Pesquisa revela que os pais são os principais algozes nos casos de maus-tratos



do clipping da Andi
De acordo com dados reunidos entre janeiro de 1999 e janeiro de 2009 pelo Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (Sipia), do Ministério da Justiça e do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), pais e mães figuram entre os principais violadores dos direitos de crianças e adolescentes no Brasil. A mãe aparece em primeiro lugar, em 228.443 denúncias e o pai em 198.614. Já o padrasto figura em 17.376 casos e a madrasta em 4.020.


O Sipia recebe informações de vários Conselhos Tutelares de 21 estados e do Distrito Federal. Pesquisa do Laboratório de Estudos da Criança (Lacri), da Universidade de São Paulo (USP), revela a ocorrência de mais de 160 mil casos de maus-tratos a meninos e meninas entre 1996 e 2007 em todo o País. Além disso, aponta a existência de uma cultura do silêncio, principalmente na classe média, que limita novas denúncias. "Quanto maior o poder aquisitivo da família, mais velada fica a violência doméstica contra crianças e adolescentes. Quando se mora num apartamento de classe média, a prática de denúncia não existe. Quando há denúncia, é a escola que encaminha", explicou a conselheira tutelar de São Bernardo do Campo, na região do ABC, Vera Lúcia de Oliveira.
Na capital paulista, conforme informações desse estudo, pelo menos 307 meninas e meninos morreram vítimas de violência doméstica entre 2000 e 2007. Em números absolutos, foram assassinados no Brasil 8.700 crianças e jovens de zero a 19 anos em 2005, segundo o Ministério da Saúde. Em 1995, eram 5.638 assassinatos. "Qualquer suspeita tem de ser denunciada, senão pode virar óbito", avisa Lígia Vezzaro Caravieri, do Centro Regional de Atenção aos Maus-Tratos na Infância (Crami).
Fonte: O Estado de São Paulo (SP) – 17/02/2009


- Clique aqui para conferir a pesquisa

Castigo contra filhos resulta em perda do Poder Familiar



Do clipping da Andi

Antes conhecido como Pátrio Poder, o Poder Familiar é a responsabilidade que o pai e a mãe têm sobre a criação dos filhos. A perda desse poder exige uma longa discussão nos tribunais e pode ocorrer em casos bastante específicos. A aplicação de um castigo moderado é suficiente para justificar um processo de suspensão ou destituição do poder familiar. Segundo a promotora da Vara da Infância e da Juventude de Londrina, Édina Maria de Paula, os casos de violência extrema contra os filhos são resultado da falta de autoridade dos pais e da punição justamente no momento em que estão com raiva.

''O pai e a mãe têm que ter pulso firme e impor limites. A criança precisa conviver com um padrão linear de comportamento. Mas os pais não podem agredir o filho, principalmente para descontar a raiva na criança. A distância entre o tapa e a agressão física criminosa é uma cortina de fumaça'', ressalta. O termo Pátrio Poder foi instituído pelo Código Civil de 1916. Com a reforma do Código, em 2002, passou a se chamar Poder Familiar.

A suspensão ou destituição pode ser requisitada tanto por algum parente quanto pelo Ministério Público e pelo Conselho Tutelar, em casos de abandono e prática de atos contrários à moral e aos bons costumes. O amplo direito de defesa dos pais é uma parte do trâmite do processo de destituição de poder familiar, que pode arrastar-se por até cinco anos. O destino da vítima é definido pelo juiz, e, caso a sentença seja favorável à destituição, a criança ou adolescente pode ir morar na casa de algum familiar próximo, que queira cuidar dele, ou em um abrigo.

Fonte: Folha de Londrina (PR), Fernando Rocha Faro , 28/01/2009

Parto é a primeira causa de internação de adolescentes no Brasil



do clipping da Andi
Segundo pesquisas divulgadas pelo Ministério da Saúde e pela Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), entre 1986 e 1996, dobrou o número de jovens que tiveram sua primeira relação sexual entre os 15 e os 19 anos.
Enquanto o número médio de filhos de mulheres adultas vem caindo há décadas, a taxa de fecundidade entre adolescentes está em crescimento constante. Anualmente, 14 milhões de adolescentes no mundo tornam-se mães e 10% dos abortos realizados são praticados por mulheres entre 15 e 19 anos.
No Brasil, o parto é a primeira causa de internação de adolescentes no sistema público de saúde. Em 2002, 18% das jovens com menos de 15 anos já tinham pelo menos um filho e de cada dez mulheres que hoje têm filhos, duas são adolescentes.
Os especialistas em adolescência alertam, de 1,1 milhão de meninas de 15 a 19 anos que dão à luz a cada ano no Brasil, cerca de 25% já são mães. O mais preocupante é que essas adolescentes afirmam que voltaram a engravidar sem querer. Ao contrário do que se imagina, isso não ocorre apenas entre as camadas sociais mais pobres.
Muitas jovens de classe média também integram o universo das grávidas reincidentes. Um misto de falta de informação e inconsequência é o principal motivo. Outra explicação aponta que os jovens são muito imediatistas. Ante a possibilidade de fazer sexo, sobretudo quando esperaram muito por isso, não pensam nas consequências: valem-se do desejo imediato, ignorando os resultados.
Fonte: Diário da Manhã (GO), Paulo Arantes – 17/01/2009

HPV: 25% das adolescentes que fazem sexo têm o vírus



do clipping da Andi
Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, informa que uma em cada quatro adolescentes sexualmente ativas está contaminada pelo HPV, um vírus transmitido durante o ato sexual que pode causar câncer de colo de útero. O vírus foi detectado em meninas que tinham iniciado a vida sexual há apenas um ano. A porcentagem de infectadas sobe para 40%, quando chegam a cinco anos de atividade sexual.
Segundo o ginecologista Otto Baptista, as adolescentes estão iniciando sua vida sexual muito cedo, sem proteção e com uma grande variedade de parceiros. Como a doença demora a se manifestar, a pessoa continua a ter relações, multiplicando os casos. No Brasil, estima-se que 3% das mulheres infectadas pelo vírus HPV poderão desenvolver câncer de colo uterino. "Isso depende muito do estado imunológico do paciente. Algumas vezes, a doença só se manifesta na gravidez, mas a menina continua infectando os parceiros", ressalta o médico.
A infecção ataca a pele e as mucosas e pode causar corrimento e verrugas na região vaginal que podem demorar anos para aparecer, quando a doença já estiver muito grave. O tratamento é dolorido. É preciso usar ácidos e fazer cauterização, uma espécie de choque quente. Em estágio avançado é preciso amputar o colo do útero ou até retirar o órgão, o que leva à infertilidade.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de colo do útero é responsável por aproximadamente quatro mil mortes por ano no País. O tratamento é caro e demorado, composto por três doses de vacina que deve ser tomada em intervalos de seis meses. Elas custam R$ 400,00 cada uma e o uso é restrito a mulheres entre nove e 26 anos de idade, grupo no qual a eficácia do medicamento já foi comprovada.
Fonte: A Gazeta (ES), Elaine Vieira – 14/01/2009

Guarda compartilhada minimiza traumas e sofrimento



do clipping da Andi
Os pais não precisarão mais entrar na Justiça para decidir quem ficará com a guarda definitiva do filho. A Lei 11.698, sancionada em agosto de 2008, cria a guarda compartilhada dos filhos de pais separados. A tutela, que é opcional, poderá ser fixada por escolha do pai e da mãe ou por determinação judicial. Antes, só existia a guarda unilateral. Ou seja, o filho ficava apenas com um dos pais, que decidia sobre a vida da criança.
Com a nova lei, a grande vantagem é que o sofrimento da criança para decidir com quem ficar será menos traumático. Segundo o psicólogo Cristiano Antunes da Silva, a lei anterior poderia eximir um dos genitores de acompanhar o desenvolvimento e, sobretudo, a educação do filho. Quem está separado e enfrenta problemas com a guarda unilateral pode recorrer ao juiz em busca da guarda compartilhada.
Na nova guarda, o pai e a mãe passam a dividir direitos e deveres relativos aos filhos e às decisões sobre a rotina da criança ou do adolescente. Definição da escola e de viagens, por exemplo, passa a ser conjunta. O tempo que o filho passará com cada um dos pais será decidido entre eles.
Fonte: Diário da Manhã (GO) – 05/01

Saúde mental e crianças e adolescentes em situação de rua



Maria Cláudia Baima

“Saúde mental e criança e adolescente em situação de rua” foi o tema da palestra do Professor Doutor Walter Ferreira de Oliveira, da Universidade Federal de Santa Catarina, durante o I Fórum Regional Criança e Adolescente em Situação de Rua e Trabalho Infantil – Experiências, Perspectivas e Desafios, que aconteceu nos dias 4, 5 e 7 de agosto, na Câmara Municipal de São Vicente, São Paulo.

O Professor começou sua palestra citando uma frase do psiquiatra inglês Ronald David Laing: “toda vez que nasce uma criança renasce a possibilidade de perdão” e outra frase do educador Paulo Freire: “temos que ser impacientemente pacientes”. Segundo ele, a essência desses pensamentos é bem oportuna para os profissionais que lidam com saúde mental de crianças e adolescentes em situação de rua e/ou de trabalho infantil, pois problemas complexos exigem soluções complexas.

Ao afirmar que cada criança e/ou adolescente é uma vida única e deve ser entendida e tratada como tal, o Professor Walter Oliveira convida a platéia a se perguntar se a psiquiatria é o canal certo para resolver problemas mentais. Será que é o único canal?

De acordo com Oliveira, na lógica da psiquiatria as pessoas com doença mental não têm cura. “Hoje, o grande movimento da saúde mental é desconstruir essa lógica antiga. Saúde mental está contida em um contexto muito mais amplo que o canal da psiquiatria, que só prescreve medicação e internação. Saúde mental hoje é um movimento social de cidadãos que entendem a amplitude desse contexto”, diz ele.

Sabemos que as instituições psiquiátricas no Brasil seguem, historicamente, o paradigma da exclusão. Esse é, segundo o palestrante, o paradigma da chamada escola de “higiene mental” do começo do século XX, cujas idéias se afinam com o conceito de eugenia, ou seja, da raça pura, na qual o anormal é visto como doença, como perigoso. Mas hoje, diz ele, o tema predominante da saúde mental moderna é a auto-estima da pessoa.

Para o Professor, o perigo que corremos no atendimento de crianças e adolescentes é nos limitarmos à visão clínica. E isso, no Brasil, segundo Oliveira, é mais perigoso pois ainda não temos campos de estudo nessa área. “Nos Estados Unidos, por exemplo, existe o campo de estudo sobre o desenvolvimento da juventude. O mesmo acontece na Holanda, na Espanha. Precisamos criar campos de saber que fujam dessa lógica de diagnóstico, medicação, tratamento com internação e encontrar a lógica da subjetividade capaz de olhar, de fato, para o outro”, afirma.

Os perigos dessa visão clínica são, na opinião do palestrante, a atitude de ver o outro não como pessoa, mas como doente, e assim passar a acreditar que essa pessoa é irrecuperável, improdutiva e perigosa. “Os profissionais que atuam somente com essa visão clínica agem como controladores sociais para atender ao clamor da exclusão que emana da sociedade”, diz Oliveira.

Para concluir sua fala o Professor recorre a Edgar Morin quando ele diz que “o fortalecimento das comunidades é nossa única saída. E questiona: “quem somos nós? Somos cidadãos que podem sentir orgulho da nossa nação? Somos orgulhosos da forma com que cuidamos das crianças?”

Deixando essas questões para reflexão individual, o palestrante lembra um pensamento presente na cultura africana: “criar uma criança é algo que depende de toda a comunidade”.

Confira a apresentação:

“Saúde mental e criança e adolescente em situação de rua”,

obs: o texto acima foi adaptado da palestra proferida no I Fórum Regional Criança e Adolescente em Situação de Rua e Trabalho Infantil, dia 07/08/09, na Câmara Municipal de São Vicente, SP.

Câmara proíbe demissão de marido ou companheiro de grávida por um ano

do clipping da Andi
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados (CCJ) aprovou no dia 4 de dezembro projeto de autoria do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que proíbe as empresas de demitir funcionário cuja mulher ou companheira esteja grávida. Essa estabilidade provisória deve durar 12 meses e começará a contar a partir da concepção da criança. A proposta foi criticada por empresários. Entretanto, segundo Chinaglia, para quem vive de salário, é muito pobre, não tem recursos guardados ou boa condição financeira, o projeto é vital para o bem-estar da família.
“Uma demissão do marido causa abalo emocional que pode afetar a saúde da mulher e do feto”, justifica. Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou a proposta inoportuna, pois agrega mais um risco associado à legislação trabalhista, com reflexos negativos sobre a gestão de empresas e pode gerar efeitos colaterais indesejados e até mesmo inibir a geração de empregos.

Impunidade protege quem abusa sexualmente de crianças e adolescentes



Gilberto Costa
Da Agência Brasil

No dia 26 de novembro do ano passado, Vera Maria depôs encapuzada na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Maranhão, que investiga casos de abuso sexual infantojuvenil e práticas de pedofilia no estado. Ela tenta obter na Justiça o direito a uma pensão para o filho que teve há 12 anos, quando ainda era adolescente, mas que não foi registrado pelo pai, hoje prefeito de uma cidade do interior do estado.

Vera diz que já procurou a Justiça na comarca de sua região e na capital, São Luís, mas não conseguiu sequer que uma intimação fosse entregue ao político. “Na época, ele estava sem mandato e o oficial de Justiça alegou não saber o endereço”, conta. Ela espera, agora, que a CPI pressione o político a fazer o exame de DNA.

A impunidade de autoridades e pessoas bem posicionadas socialmente foi um dos principais motivos para a instalação, em outubro do ano passado, da CPI – a segunda no estado que investiga casos de abuso sexual infantojuvenil e de pedofilia. A primeira comissão a apurar esse tipo de crime foi concluída em 23 de abril de 2004.

“Nós temos uma absolvição grande no estado”, afirma a presidente da CPI, Eliziane Gama (PPS-MA). Segundo a deputada, a impunidade protege prefeitos, advogados, funcionários públicos professores e empresários.

Contra isso, a maranhense Francisca do Carmo luta para que o caso de sua filha adolescente não caia em esquecimento. Há cerca de dois anos, a menina foi levada depois da aula, com duas colegas, para um motel em São Luís por um advogado conhecido na cidade. Para a surpresa da mãe, o processo foi arquivado pela Justiça “por falta de prova”. Ela relatou à CPI do estado, no entanto, que a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente não chegou sequer a tomar o depoimento de todos envolvidos.

Para o promotor de Justiça da Infância e Juventude de São Luís, Márcio Thadeu Silva Marques, o país avançou muito na legislação que visa a coibir e punir o abuso sexual. “Hoje qualquer ato sexual com menores de 14 anos é crime, com pena de oito a 15 anos [de prisão].”

O promotor acredita, porém, que ainda exista uma “cultura jurídica que precisa ser modificada”. Ele citou decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) favorável a dois réus de Campo Grande (MS) que fizeram programas com adolescentes e foram absolvidos porque, segundo a decisão, elas eram “prostitutas reconhecidas”.

O promotor também avalia que a impunidade também ocorre por causa do foro privilegiado ao qual as autoridades têm direito em tribunais. A mesma opinião tem o presidente da Associação de Magistrados Brasileiros (AMB), Mozart Valadares Pires.

“O que se verifica é que o foro privilegiado se transforma em um mecanismo de impunidade. Os tribunais superiores não têm a tradição da instrução processual, do colhimento de provas”, assinala defendendo o fim da prerrogativa.

Para o representante da Comissão da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ariel de Castro Alves, “a imagem da impunidade é verdadeira e notória”.

Segundo ele, há “pouquíssimas” delegacias da criança e do adolescente e delegacias especializadas com policiais preparados para fazer investigação sobre abuso sexual.

Além da impunidade, outro fator que dificulta a responsabilização em casos de violência sexual contra crianças é a falta de estrutura especializada na polícia e também no Judiciário para a produção de provas.

“Esse sentimento [de impunidade] tem um pouco de informação equivocada para quem não conhece o procedimento de apuração”, pondera a promotora de Justiça em Santa Catarina Helen Sanches.

“Crimes de violência sexual são crimes que têm uma dificuldade de prova muito grande, esse crime não é praticado na presença de testemunhas, normalmente não deixa vestígios”, completa a promotora, que também é primeira-secretária da Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude (ABMP).

O juiz da 5ª Vara Criminal de Brasília Márcio Evangelista Ferreira Silva também acredita que a falta de provas leva à absolvição. Segundo ele, os tribunais dão muito valor à palavra da vítima, “mas tem que vir acompanhada de provas”, avalia o magistrado.

“Quando a gente fala em combate à impunidade temos que pensar a nossa polícia investigativa, no sentido de que sejam buscados outros elementos de prova [como os exames de DNA], para que as pessoas que têm conhecimento dos fatos e a própria vítima tenham segurança para denunciar”, reforça a promotora Helen Sanches.

*Os nomes de crianças e adolescentes que sofreram violências sexuais e de seus parentes foram trocados

Cidadania: modo de usar


Todos reclamamos dos políticos, da corrupção insidiosa e sistêmica. Reclamamos da mídia "conservadora e golpista" (como nos ensina, diuturnamente, Paulo Henrique Amorim no seu imperdível Conversa Afiada). Reclamamos da já intolerável violência urbana, da crescente precariedade e descaso para com a saúde pública e a educação. Reclamamos do real sobrevalorizado, da taxa de juros que não cai com a celeridade necessária ao desenvolvimento da nação - alô, alô, turma do Banco Central! Dessa vez a Selic tem que ser reduzida em, pelo menos, 0,75%, pois 0,50% já é dado como favas contadas até pela ortodoxia do deus mercado e seus súditos fiéis. Reclamamos e reclamamos, ainda bem que reclamamos - e com razão - de muitas coisas.

O problema é que, quase sempre, reclamamos apenas numa espécie de resmungo, num solilóquio inaudível. Reclamamos nas conversas de boteco, junto aos nossos iguais. Reclamamos junto aos ouvidos, quase sempre desinteressados, do nosso vizinho ou colega de trabalho. É preciso amplificar essa reclamação. Reclamar mais, de diversos modos e em variados meios (ou mídias). Mais que isso: se reclamar é preciso, agir, mais ainda, é essencial. Porém, fica sempre a questão: como agir? Como ir além do mero queixume? Como exercer, em sua plenitude, a cidadania? Uma vez que mal temos tempo para cuidar dos nossos problemas, que já são tão complexos e numerosos? Temos que pagar as nossas contas, educar nossos filhos. Temos que viver enfim. Ou melhor, sobreviver.

Em primeiro lugar, e isso é essencial, devemos deixar a preguiça um pouco de lado e ler mais, nos informar mais e melhor - até para reclamar há que se ter consistência/solidez nos argumentos. Ler livros, sim, na medida do possível (que tal um a cada dois ou três meses?). Ler livros, não só jornais, revistas e sites ou blogs - mas não deixar de ler jornais, revistas, sites e blogs (e, destes dois últimos meios, tirar proveito da interatividade e soltar a voz e o verbo).

Sim, é necessário fazer esse "sacrifício" do exercício da leitura, já que ler implica também em esforço, paciência, dedicação e... sacrifício - seja de tempo, recursos ou de outras tarefas possivelmente mais cômodas ou aprazíveis. Um pouco de disciplina e sacrifício não faz mal a ninguém, ao contrário, ajuda a moldar o caráter - isso serve para monges, sacerdotes e homens santos, mas serve também para reles mortais e pecadores como nós.

Porém, esclareça-se, devemos ir além das fontes fáceis, óbvias de informação e notícias. Aquelas que nos são oferecidas, quase como num processo de osmose, hipnose e massificação, pelos grandes veículos da mídia (todos já - não à toa - em franca decadência, registre-se). Veículos como a Folha, o "Estadão", o Globo, a revista Veja, a TV Globo etc, todos pertencentes às oligarquias parasitas que floresceram e fizeram fortuna à época da ditadura militar, devem ser evitados, para que não se fique com a consciência pesada e aprisionada em uma bem urdida teia de mentira e manipulação. É preciso buscar fontes alternativas e variadas de informação - sim, é fundamental o exercício da pluralidade e do contraditório. Ler opiniões diversas, divergentes, conflitantes: à esquerda e à direita.

Aqui vai uma dica essencial ao exercício da cidadania: desligue o aparelho de TV. Só o ligue para assistir filmes, no DVD ou no videocassete, ou programas jornalísticos/educativos. Mas o mais prudente é mesmo deixar o aparelho desligado. Já existem estudos sérios, de renomados intelectuais e especialistas, que apontam a televisão como um agente destruidor de neurônios e sinapses - assim como o álcool e outras drogas.

Sabe-se que os homens e mulheres de hoje passam quase que a totalidade do seu tempo livre assistindo a novelas e programas de auditório na TV. Isto é extremamente nocivo à saúde mental das pessoas: o cérebro desses indivíduos está encolhendo numa velocidade impressionante. A falta de leitura, associada à completa e excessiva imersão nas imagens e raios luminosos aprazíveis da televisão, causa perda progressiva da memória e da capacidade cognitiva: é o que se chama hoje de "aleijão cognitivo". Portanto, desligar a TV é, também, ação essencial na busca pela cidadania. Além de ser, decerto, gesto primeiro na busca da boa saúde mental.

Apesar de todos os muitos problemas, ainda por resolver, ao ritmo e embalo de toda essa nossa "reclamação cidadã", o Brasil está mudando - e mudando para melhor. Observem as mais que perceptíveis melhoras na Economia: seguidos recordes de saldos na Balança Comercial, agora sobejamente superavitária; o crescimento do PIB entre 4% e 5% neste ano e projetado para os próximos; os principais indicadores macroeconômicos favoráveis; os mais de R$120 bilhões de reservas; a inflação baixa; o aumento dos investimentos; a expansão da massa salarial e o crescimento do número de contratações de trabalhadores com carteira assinada; os avanços no combate à corrupção e na implantação de políticas públicas voltadas ao atendimento das necessidades das classes menos assistidas.

Pequenos e significativos passos estão sendo dados para, enfim - até que enfim! -, sairmos do fim do poço, do fim do buraco em que fomos jogados ao final do governo FHC (sim, é inegável que nossa vexatória dívida social é secular, ou, no mínimo, vem de muitas décadas, mas, e isso é do conhecimento de todos, conhecemos o fim do poço mesmo, os "ínferos", no governo de Fernando Henrique Cardoso).

O Brasil está mudando. Precisamos, todos enfim, além de reclamar - reclamar sempre que necessário, claro - falar disso por aí: o Brasil está mudando! Espalhar essa boa nova. E que essa boa nova, como uma onda, se espalhe e contagie a todos com sua alvissareira, benfazeja e entusiástica mensagem: O Brasil está mudando!

Os professores, nas salas de aula (nas escolas e Universidades); os padres e pastores, em suas igrejas e templos; os militantes, nos movimentos sociais; os sindicalistas, em seus sindicatos; os escritores, em suas palestras e artigos; os músicos, em seus shows devem falar aos homens de bem: o Brasil está mudando! Muito ainda há por se fazer, mas está mudando. E mudando, em vários aspectos. Esforços estão sendo feitos no sentido de distribuir, um pouco que seja, e paulatinamente, a riqueza. Os corruptos e corruptores estão sendo processados e presos, para assim se coibir a sangria de recursos públicos, escassos por natureza (estima-se que cerca de R$40 bilhões/ano escorrem pelo ralo imundo da corrupção). Alguns figurões encararam algema e camburão, e foram recolhidos ao xilindró (mesmo que a prisão seja, ou tenha sido, apenas temporária ou preventiva, vá lá).

Precisamos fazer, nós todos, a nossa parte e ajudar/colaborar nessa mudança, para que ela se espalhe realmente na ação cidadã de cada um e seja definitiva. Como? Cada um à sua maneira, e dentro do seu papel ou profissão - por mais singelo(a) que seja o papel ou a profissão. Sim, precisamos mudar também! Nós mesmos! Precisamos, em primeiro lugar, tornarmo-nos cidadãos.

Ler mais, debater mais, participar mais, fiscalizar mais, exigir mais - e, por fim, agir. E assim cobrar, com conseqüência, com competência e voz ativa (e audível), melhorias nos serviços de saúde e educação públicas (notadamente nos estados e municípios, mas também da União); (re)clamar por mais segurança nas pequenas e grandes cidades; participar ativamente de sindicatos ou associações de classe; ou mesmo, na condição de servidor público, ajudar a fiscalizar as empresas públicas e seus gestores, denunciando ao Ministério Público a má utilização de recursos públicos e casos suspeitos de corrupção.

O Brasil está mudando! Mude também, junto com ele! Seja cidadão!

(*) Texto originalmente publicado na Agência Carta Maior.

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Ilustração: Táia Rocha
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> Lula Miranda, 41, é poeta e cronista. Natural de Salvador (BA), mas vive na cidade de São Paulo há 15 anos. Cursou Economia (UCSal) e Letras (UFBa e USP). Foi um dos expoentes da poesia marginal na Bahia na década de 1980. Atualmente colabora com veículos da imprensa alternativa, como os sites da revista Caros Amigos e da Agência Carta Maior. É secretário de Formação e Cidadania do Sindicato dos Trabalhadores em Editoras de São Paulo. Contato: poetalulamiranda@yahoo.com.br.

A história de um outro Luiz, também filho do Brasil


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Olhos que vivenciaram a tortura psicológica e física. Olhos que sofreram com o abuso sexual, preconceito e a miséria. Olhos que sentiram fome. Olhos que ainda têm fome. Fome de uma sociedade mais justa e solidária. Este olhar sonhador pertence ao jovem Luiz Roberto Lima, 35 anos, estudante de jornalismo e coordenador do Diretório Acadêmico de Comunicação da PUC-Campinas. Luiz foi um dos quatro selecionados para o concurso mundial de fotografia “Humanizando o Desenvolvimento”, promovido pelo Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que selecionou 50 imagens de 27 países.

Participaram do concurso fotógrafos profissionais e membros da sociedade civil. O conteúdo enviado foi avaliado por representantes do IPC-IG, do Programa de Voluntários das Nações Unidas (UNV) e um fotógrafo profissional. Os olhos que já presenciaram o pior das mazelas sociais, hoje, registram por meio da lente fotográfica a realidade, rumo à construção de um mundo melhor. Militante de direitos humanos, Luiz explicou que o objetivo da foto, feita em 2009 em uma oficina de meio ambiente no distrito de Sousas, em Campinas, foi mostrar exemplos de superação social.

Já no 3º ano de jornalismo na PUC, Luiz é bolsista do Prouni e carrega uma história de luta e sobrevivência. Abandonado pela mãe na maternidade, ele cresceu em um orfanato, onde sofreu todos os tipos de violência possíveis. “Tinha muitos afazeres domésticos, como cuidar dos menores. Passava a noite inteira acordado, pois se os bebês chorassem, eu apanhava muito. Qualquer travessura era motivo para ficarmos sem comida. Muitas vezes, cheguei a comer pasta de dente, mesmo com uma dispensa enorme cheia de comida que, inclusive, chegava a estragar, mas eles não nos deixavam comer”, contou.

foto_onuFoto do jovem Luiz Roberto Lima premiada pela Onu.

Entre espancamentos, assédio moral e fome, Luiz não foi imune ao preconceito, já que é negro. “O fato de ser negro pesava muito. Eu pedia a Deus para ser branco e assim ser adotado para libertar-me daquela situação. Apanhava feito um condenado, por motivos banais. Nós não podíamos contar para visitas, pois as surras eram piores”, relatou Luiz lembrando que seu apelido era “Negrinho do Pastoreio” e, por este motivo, simplesmente pelo fato de ser negro, recebia surras homéricas, assim como outros companheiros negros.

Além de negar comida e espancá-lo, as pessoas responsáveis pela instituição que o acolheu também surravam os bebês, segundo Luiz. “Quando as crianças de berço choravam muito, as tias pressionavam a cabecinha delas contra o berço. Na hora do banho, batiam muito. As crianças viviam marcadas. Lembro-me de um menino negro, chamado Jorginho, ele tinha um ano e meio aproximadamente. Ele chorava muito e quanto mais chorava, mais apanhava. O menino, coitado, só queria ficar no meu colo. Ele me via e chorava. Às vezes, a tia me fazia passar a noite inteira com ele no colo e não podia dormir”, declarou.

Mesmo com inúmeras doações à instituição, as crianças e os jovens não recebiam nada. De acordo com Luiz, sua principal memória do Natal era quando uma fábrica de brinquedos fazia uma imensa doação e as crianças nunca chegavam a ver os tais presentes. “Num determinado Natal aprontamos alguma coisa. Era comum no final de ano, algumas famílias nos levarem para suas casas, mas neste ano, devido a alguma travessura, passamos todos nós lá, com fome, vendo a caseira comemorando com a família e todos muito bem arrumados”, denunciou.

E o Luiz cresceu

Aos 11 anos, Luiz foi transferido para uma instituição para adolescentes. O menino sonhava que poderia viver melhor, pelo menos com mais tranquilidade e sem surras, mas não foi bem esse quadro que ele encontrou. “Diálogo era o da porrada. Era como se fosse um quartel, com as regras mais arcaicas que podiam existir, baseada na submissão e violência. Tinha um cara que cuidava da gente, chamado Benê, negro também. Ele era o mais violento batia com murros e pontapés. Era um ambiente de medo, revolta. Parecia um caldeirão com todos os ingredientes presentes, prontos pra explodir”, ele contou.

Mesmo com o corpo dolorido de violência e a alma castigada pela injustiça, Luiz alimenta um sonho: o de conhecer sua mãe. “Desde criança olho para as mulheres negras que encontro imaginando como seria minha mãe e, assim, meu olhar foi envelhecendo com as dificuldades para encontrar minha verdadeira família, mas a esperança ainda persiste em mim”.

Aos 16 anos, ainda sem perspectiva de adoção, Luiz pediu emancipação e foi morar em uma pensão. No entanto, pouco tempo depois, ele perdeu o emprego e foi morar na rua. “Aí que realmente eu vi o que era sofrer. Descobri que a violência, o abuso sexual sofrido na primeira instituição não chegavam perto do que era a rua – nua e crua”, revelou.

De acordo com levantamento feito pelo Ministério de Desenvolvimento Social, há uma predominância masculina (82%) entre as pessoas em situação de rua. A maior parte, 53%, situa-se na faixa etária de 25 a 44 anos. Nesta população, 30% se declararam negros, índice bem acima da média nacional, que é de 6,2%. Já o percentual dos que se consideram brancos é de 29,5% (esse índice é de 54% entre o conjunto dos brasileiros) . “Conheci alguns “menores de rua” e comecei a acompanhá-los. Tentei furtar pra comer, mas não dava certo, eu não conseguia, diferenciava- me, dos demais. Alguns dos meninos e homens de ruas mais velhos, diziam que a rua não era pra mim. Na verdade, a rua não é pra ninguém”, alertou Luiz.

belem1“O preconceito marcou a história de Luiz, também filho do Brasil”.

Depois de passar três anos em situação de rua, Luiz começou a viver com a solidariedade das pessoas que lhe ofereciam abrigo, comida e ajuda. Começava a construir uma nova vida e, desta vez com o apoio de amigos e companheiros.

Outro fato que revelou o preconceito aconteceu em um shopping center de São Paulo. “Comecei a trabalhar e já podia comprar minhas roupas de marca, que é o sonho de jovens da periferia. Fui com um amigo comprar o tão sonhado tênis. Mas como paguei à vista o vendedor, achou que eu era bandido e avisou o setor de segurança. Fui algemado pelo segurança em uma cadeira e comecei a levar tapa na cara, com um revólver apontado pra minha cara. O interessante é que meu amigo, branco, não apanhou. Eu gritava e o segurança pegou dois fios ligado na tomada e passou a dar choque, querendo saber do resto do dinheiro, querendo saber de que quadrilha eu era”, disse Luiz lembrando que todos os seus documentos estavam certos e não havia qualquer indício para que o acusassem. “As ameaças eram cruéis, a ponto de ele dizer que ia me penetrar com cabo de vassoura. Para minha sorte, chegou um chefe de segurança do turno da noite, e perguntou o que estava acontecendo, o segurança relatou e eu relatei”. Foi nesse momento que o rapaz foi liberado.

Após este episódio traumático, Luiz resolveu entrar em um supletivo e em um cursinho, momento em que passou no Curso de Ciências da Educação da UERJ, logo depois transferiu para Ciências Sociais. “O cursinho foi fundamental na minha trajetória, pois ele era alternativo, então me deu uma base socialista, de esquerda. Lá aprendi música, teatro, poesia, arte e esperança. Esperança para uma nova vida”. Sem dinheiro, ele resolveu arriscar e iniciou sua faculdade. Inicialmente, conquistou uma bolsa-auxílio, mas o governo da época (Garotinho) cortou o benefício e Luiz teve de abandonar no 3º ano e retornar à Campinas. “Procurei um emprego na cidade e fui trabalhar num call center. Fiquei um ano sem estudar e depois entrei na Puc para fazer Direito pelo Prouni. Fiz um ano e mudei para o Jornalismo”.

E foi como estudante de jornalismo que Luiz transformou seu olhar estético e crítico em visão de mundo. “Acredito que a revolução se faz no cotidiano. A construção de um mundo melhor, de um Brasil mais justo e mais igualitário se faz todos os dias e o jornalismo tem um papel fundamental na consolidação da democracia”, concluiu Luiz que caminha pelas esquinas de Campinas com máquinas fotográficas emprestadas, com passos pesados da vida, mas braços prontos para a construção de um mundo melhor.

A menina e o arcebispo





“Qual a atitude mais certa: matar duas vidas em prol da integridade da menina ou deixar a gravidez acontecer na esperança de tanto a menina quantos os gêmeos sobreviverem? Pelo que estou acompanhando, o risco de morte, segundo os médicos, seria apenas da menina, ou seja, se não abortasse, duas vidas seriam salvas e não o contrário. Ainda defendo o descontentamento da Igreja Católica”. O texto acima pode ser encontrado entre um dos mais de 90 comentários que esta coluna recebeu a respeito do artigo sobre o aborto da menina de nove anos, de Alagoinhas, Pernambuco. O assunto foi o mais controverso da semana. A excomunhão da mãe da garota e dos profissionais de saúde envolvidos no procedimento médico escandalizou o País, muitos brasileiros fizeram questão de expressar sua revolta através de cartas aos jornais e sites de notícias. Mas não faltou, mesmo entre os leitores de CartaCapital, quem justificasse a posição de D.Eduardo Cardoso Sobrinho. O texto acima sintetizou bem esta linha de pensamento. Segundo ela, era preferível arriscar (“apenas”) a vida da menina na esperança de serem colocadas mais duas vidas neste belíssimo e justo mundo. 2X1, duas vidas contra uma. Se não fossem gêmeos seria 1X1, mas mesmo assim o raciocínio prevaleceria, pois trabalharia com a hipótese de mãe e filho sobreviverem. Esses leitores não se comoveram com o fato de a menina ter sido estuprada desde os seis anos, pesar 33 quilos, ter 1,36 m de altura, estar anêmica e desnutrida e, nessas condições, correndo o risco de ter o parto prematuro e também ser vítima de eclâmpsia (é a maior causa de morte materna do Brasil, uma convulsão decorrente de hipertensão). Conhecendo estas condições, eu pensei que não fosse possível que um exemplar de homo sapiens, além do arcebispo, continuasse se opondo ao aborto. Enganei-me O Direito Canônico e o leitor que me escreveu são claros: só Deus pode tirar a vida de alguém e os dois fetos de 15 semanas já eram filhos de Deus. Discussão encerrada, segundo o leitor e vários outros comentários recebidos. A Igreja Católica diz isso, sempre disse, sempre vai dizer. Quem estiver de acordo siga, quem não estiver, saia. Ou não entre. D. Cardoso apenas teria cumprido sua obrigação, excomungando “automaticamente” a mãe e os médicos. De agora em diante, eles isentados pelo Código Penal brasileiro, não podem casar na Igreja, serem crismados, nem batizados. Só se “se arrependerem” do crime que perpetraram. Os dados de um estudo de Recife mostram que um de cada três casos de menores de 14 anos grávidas é oriundo de violência doméstica, dados revelados pela revista Época. O triste é que este caso ficou célebre no País, não por conta da tragédia que é expressa por estes números reveladores de nossa miséria. O caso tomou vulto exatamente por conta da reação, para muita gente inacreditável, do arcebispo de Olinda e Recife. Dias depois, a CNBB, Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, sustentou a posição do arcebispo e nenhum superior seu se posicionou pela revogação das excomunhões. O chefe do Departamento do Conselho Pontifício para a Família do Vaticano, Gianfranco Grieco, confirmou a posição de d.Cardoso. No mundo da política, louve-se o presidente Lula, que se colocou clara e prontamente em defesa dos médicos e da mãe e, como católico que é, questionou a posição da Igreja. Não fiquei sabendo de pronunciamentos de governadores e prefeitos. No final de semana o caso já tinha saído das páginas dos jornais e da tela da Globo, Fantástico incluído. Hoje, 9 de março, um dia depois do Dia Internacional da Mulher, o assunto maior é o gol do Ronaldo contra o Palmeiras. O secundário é a crise econômica internacional. A vida segue. Em dois meses tivemos 4.700 denúncias oficiais sobre abusos a crianças no Brasil. 31% delas referiam-se a violência sexual. Portanto, 1457 casos em 60 dias. Ou 24 por dia. Mantida esta proporção no mês de março, teríamos em nove dias, 216 casos contabilizados oficialmente (reitero o “oficialmente”). Quantos semelhantes ao da menina subnutrida e anônima de Alagoinhas? Quantos foram do conhecimento da Igreja Católica? Em quais ela se posicionou? Vinte e quatro casos de violência sexual contra crianças por dia no Brasil. Um por hora.

Texto: Fonte: Celso Marcondes/Carta Capital

A Classe "C" vai ao paraíso!


"Casamento na Roça", de P


Os resultados estão aí, brotando do fundo da sociedade brasileira: entre 2003 e 2005, 27 milhões de pessoas mudaram de patamar social no Brasil, ascendendo para uma condição social superior, mais digna e mais humana. Também a desigualdade regional foi atacada e recuou nos últimos cinco anos. O Nordeste cresceu a um ritmo “chinês” atingindo 7.7% ao ano. Mesmo sofrendo os efeitos da crise, o país foi capaz de oferecer oportunidades e esperança de vida melhor para 91 milhões de brasileiros. O artigo é de Francisco Carlos Teixeira.

Francisco Carlos Teixeira*

“Vejam essa maravilha de cenário

É um episódio relicário

Que o artista num sonho genial

Escolheu para este Carnaval”

(Aquarela Brasileira, Silas de Oliveira, Império Serrano, 1964).

A Fundação Getúlio Vargas (Rio), através do seu Centro de Políticas Sociais, publicou uma recente pesquisa na qual vemos a chamada classe “C” – aquelas pessoas cujos lares recebem entre R$ 1.115 e R$ 4.807 por mês – tornarem-se 49.22% do total da população brasileira. Houve, na verdade, um salto fantástico: em 2003 eram 37.56% da população, passando em 2008, para 49.22% do total de brasileiros. Podemos acreditar que não fosse a crise econômica mundial de 2008/09 este coeficiente seria bem mais alto.

A luta contra as desigualdades

Qual o verdadeiro significado destes números? Simples e direto: a desigualdade social foi, em cinco anos, reduzida drasticamente. Mesmo com um crescimento baixo, mesmo sofrendo os efeitos da crise (nem ”marolinha”, nem tsumani!) o país foi capaz de oferecer oportunidades e esperança de vida melhor para 91 milhões de brasileiros. Para tornar mais claro o impacto podemos citar um jornal que não pode ser, de forma alguma, considerado “chapa-branca”, O GLOBO: “... essa migração em massas alterou o rumo da divisão historicamente desigual do bolo no Brasil...”.

Desde os anos '30, do século XX, quando a Questão Social deixou de ser caso de polícia e virou desafio do Estado, a discussão sobre os métodos de sanar as justiças sociais tem sido o centro do debate político no país. Durante os anos '30, de 1930 até 1945, Getúlio Vargas acreditou que o autoritarismo político, a repressão, e um jogo dual entre patrões e trabalhadores seriam o suficiente para alterar a injusta divisão social do país. Foram dados, então, passos enormes, se comparamos com o imobilismo e a repressão vigente na República Velha (1889-1930). Justiça do Trabalho, sindicalismo oficial, CLT forma passos de refundação da Questão Social no Brasil. Porém, o autoritarismo político, a perseguição da esquerda não varguista e o atrelamento ao Estado constituíam o lado quase oculto da “dádiva” varguista.

Após a estagnação de Dutra – de quem Pablo Neruda disse ter “ojos de cerdo” – voltou-se, ainda com Vargas, agora entre 1951-1954, para um modelo mais descomprimido de distribuição social. Ainda aí o Estado foi o agente básico da justiça social, estabelecendo o salário mínimo como referência de justiça (o então ministro do trabalho, Joao Goulart, dará um aumento de 100% do mínimo, despertando a ira da classe patronal. No Primeiro de Maio daquele fatídico ano de 1954 o salário mínimo era descongelado, para horror das associações patronais. Abriu-se aí a crise cujo desfecho será um tiro solitário num dos salões do Palácio do Catete, em agosto de 1954.

1954 contra 1964

Com um tiro no peito, Getulio adiou em 10 anos o golpe da UDN: os políticos de direita do país, cansados de perder as eleições e a escolha popular, e com calos nos dedos de tanto bater à porta dos quartéis (expressão do amigo, Marco Aurélio Garcia!) foram enfim atendidos. Deu-se, então, o Estado Novo da UDN. Uma “santa aliança”, quer dizer bendita pela Igreja organizada nas “Marchas da Família com Deus pela Liberdade ( ou seria pela Propriedade?)”, entre empresários, mídia, classe média (assustada, com a maré montante de um jovem proletariado urbano).

Desde 1964, todos se reuniram em torno da ditadura civil-militar (não podemos esquecer a participação, o apoio civil – os governadores eleitos do Rio, São Paulo e Minas Gerais eram as lideranças do Golpe - e das entidades ditas “de classe”, quer dizer patronais) ao regime que durou de 1964 até 1985.

Mesmo aí, as classes patronais ficaram insatisfeitas com os rumos da Questão Social: os sindicatos dos trabalhadores estavam amordaçados, suas direções presas, exiladas ou ainda pior... Arrocho salarial, reforma regressiva da CLT, fim da liberdade de expressão, etc... eram as marcas do novo regime. Mas, após o surto liberal – Roberto Campos, ex-embaixador nos EUA, assumiu o ministério do Planejamento e em nome do combate à inflação reduziu drasticamente os direitos dos trabalhadores! – os próprios militares foram tomados de uma febre nacionalista e desenvolvimentista.

Malgrado a repressão, brutal entre 1969 e 1978, anos de chumbo, anos de terror (onde mais uma vez os civis tiveram um papel central, como na Operação Oban), vários setores da ação do Estado foram fortalecidos e alguns programas sociais foram montados, tais como o Estatuto da Terra (1964 ) e o Funrural (1967). Trata-se, é claro, de medidas preventivas, visando esvaziar o movimento social, e não a fim de atendê-lo. Contudo, mesmo isso, migalhas da mesa do “Milagre Brasileiro”, era demais para as “classes patronais”.

Democratização e Imobilismo

Pegando carona, de forma imoral, posto que só elas lucrassem com a ditadura, estes mesmos setores embarcaram na luta pela democratização. Inscreveram, aí, ao lado das exigências básicas da população, uma enorme lista de ações que deveriam reduzir o Estado, transformá-lo em Estado Mínimo. Acusavam os militares de “estatismo”. Eram dados os exemplos de Thatcher ou Reagan, os teóricos da chamada Escola de Chicago, the chicago's boys, para “consertar” o país. Um país que nunca dera escola às suas crianças, onde a fome batia à porta de milhões (salve, salve, Betinho!), onde faltava água limpa e esgoto corrente, deveria ter seu Estado reduzido ao mínimo.

As exigências (neo)liberais, em tal contexto, assemelham-se, nos países pobres, ao genocídio puro e simples. O Consenso de Washington seria, em verdade, economizar em escolas, em merenda escolar, em estradas, em hospitais para, em fim, pagarmos a dívida sem risco para os fundos de pensões norte-americanos e europeus. Nossa elite aplaudiu. Aplaudiu a maior transferência de renda regressiva da história, canalizando o fruto do trabalho dos povos do hemisfério sul para as economias centrais do capitalismo.

Contudo o projeto de modernização autoritária e regressiva faliu. Deu-se a crise do petróleo. A crise da dívida externa. A crise dos preços das commodities – da re-inteiração da condição colonial. O movimento social, autônomo desde as greves do ABC, em 1980, fortemente ancorado numa opinião pública exigente e crítica baniu, em um final melancólico, o regime autoritário.

Esperanças e Frustrações

A redemocratização trouxe grandes esperanças. Principalmente a idéia generosa que os direitos cívicos não mais se resumiam em votar e ser votado, em poder exprimir sua crítica presa na garganta, em gritar o grito daqueles desde sempre sem voz. A redemocratização do Brasil, no início dos anos '80 do século XX – bem como de toda a América do Sul – exigia os direitos cívicos básicos e muito mais. Cidadania era, então, um conceito expandido, alargado para abranger educação, saúde, moradia, transporte e, mais além, igualdade social, racial, de gênero e de opção sexual.

Contudo, desde a reunião da Assembléia Nacional Constituinte, a direita tradicional e a nova direita liberal uniram-se, no chamado “Centrão”, para paralisar as reformas necessárias. E aí vivemos anos seguidos de incompetência – governos Sarney, Collor e Itamar – somados aos anos de reformas regressivas, na Era FHC. Esta se inicia, no próprio discurso de posse do Presidente FHC, prometendo encerrar a “Era Vargas”. Ora, o que seria a “Era Vargas”? Tratava-se, em verdade, de impor o Estado Mínimo, aceitar a captura do Estado pelos interesses privados, acobertados pela instituição de agências reguladoras, a ameaça de um Banco Central dito “independente” (mas, constituído de personagens saídos e chegados da grande banca) e a total ausência de qualquer política pública de desenvolvimento, emprego ou trabalho. O fundamentalismo monetário, o medo pânico de destruir uma arquitetura de controle da inflação tão frágil que qualquer solavanco de crescimento do PIB poderia derrubar o Plano Real. Era como o médico que para extinguir a febre mata o paciente. Acreditava-se que o país, para controlar a inflação, não poderia crescer. Inflação ou crescimento: este era o falso dilema do liberalismo.

Rompendo com o passado

A vitória do Partido dos Trabalhadores veio exatamente romper, como no caso do nó górdio, o dilema. A questão é: como crescer, como erradicar a desigualdade social, sem inflação? O papel do Estado como condutor do processo, a criação de políticas corretivas das desigualdades sociais e regionais, bem como olhar o povo como cidadão, e não como mão de obra fácil e disponível, eis a resposta proposta desde 2003. Tudo isso recusando o autoritarismo e o paternalismo. Não se tratava de “encerrar a Era Vargas”. Tratava-se de ir mais além!

Os resultados estão aí, brotando do fundo da sociedade brasileira: entre 2003 e 2005, 27 milhões de pessoas mudaram de patamar social no Brasil, ascendendo para uma condição social superior, mais digna e mais humana. São novos consumidores, que exigem seus direitos sociais expandidos: “... os anos 2000 permitiram ao [novo] consumidor não só comprar, mas escolher o produto com que mais se idêntica” (O GLOBO, 7/02/2010). Também a desigualdade regional foi atacada e recuou nos últimos cinco anos: segundo Marcelo Néri, o Nordeste – aquele mesmo Nordeste de personagens como Baleia, de Graciliano Ramos ou do “lobisomem amarelo” (o homem atingido pelas doenças) de José Lins do Rego – cresceu a um ritmo “chinês” atingindo 7.7% ao ano.

Em suma: vivemos num país melhor, mais justo e menos desigual.

*Francisco Carlos Teixeira Da Silva, professor da UFRJ, é autor, com Maria Yedda Linhares, de “Terra Prometida: uma história da questão agrária no Brasil”.

Fonte: Agencia Carta Maior

Responsabilidade pela vida





Escrito por D. Demétrio Valentini

Estamos no carnaval. São dias para expressar a alegria de viver. Assim deveria ser. Assim pode ser, se formos responsáveis em nosso proceder. Sobretudo se tivermos o cuidado pela vida. Ela é ao mesmo tempo preciosa e frágil.

Por mais que estejamos atentos, sempre são válidas as advertências, sobretudo em tempos como estes, em que o entusiasmo pela alegria de viver pode nos deixar desatentos aos perigos que sempre rondam a fragilidade da vida.

Cada ano, passado o carnaval, comparecem as tristes estatísticas, feitas de acidentes de trânsito, de desentendimentos, violências e assassinatos. Todos gostaríamos que estas cifras não existissem. Mas elas se repetem, ano a ano.

Resulta evidente a urgência de cultivarmos, conscientemente, a cultura do cuidado pela vida, da prevenção, e da redobrada atenção, sobretudo em tempos de carnaval, quando os acontecimentos podem surpreender, e colocar em risco a vida das pessoas.

Em recente artigo, o ministro Patrus Ananias trouxe dados colhidos pelo governo federal, que impressionam pelas cifras que apresentam. Em todo o Brasil, no ano de 2008, foram registrados 39.076 assassinatos. É um número que inquieta. Quantas tensões, desequilíbrios, excessos na bebida, perda de motivações salutares, abandono de perspectivas religiosas que dão sentido à vida, impasses mal resolvidos, que estão por trás dos tristes episódios que redundam em homicídios. Como faz falta o clima de fé, que aponta valores, que ilumina situações, que anima para a tolerância, para o bom senso, para o diálogo e para a superação dos conflitos!

Outro dado trazido pelo ministro: em 2008 foram registradas mais de 36 mil mortes em acidentes automobilísticos, perfazendo um total de 247 mil em sete anos.

Certamente são diversos os fatores que explicam esta incidência tão grande de mortes no trânsito. A extensão continental do país dificulta a manutenção das rodovias em boa qualidade. A rápida mudança vivida pela maioria da população brasileira, que passou diretamente do carro de boi ou da cavalgadura para os automóveis que convidam para a vertigem da alta velocidade, que surpreende os incautos e os desprovidos de reflexos adquiridos e assimilados, tudo isto ajuda a explicar. Mas deveria ajudar a prevenir. Toda vez que nos colocamos nas rodovias, em nosso país, deveríamos ligar o alerta máximo de atenção a todos os imprevistos, que nos fazem cuidar de nós, mas também dos outros, na tentativa de prevenir possíveis acidentes que podem acontecer por motivos muito variados.

Estas circunstâncias já servem de alerta. Mas elas necessitam da motivação maior e mais consistente, que resulta da consciência do valor da vida. É a vida que merece todo o nosso apreço, e todo o cuidado possível.

Ela é o ponto culminante da natureza. É o prodígio maior, que coroa a realidade existente no universo. A possibilidade de vida qualifica nosso planeta, e o constitui como referência entre bilhões de outros astros que o prodigioso universo é capaz de conter. Tirada a vida, o universo fica vazio e frustrado.

Mais ainda o prodígio da vida assume importância quando concretizado em forma humana, acolhido de maneira individual, resultando em pessoas capazes de dialogar com o universo e se posicionar de maneira consciente diante do mistério da vida, que assumem feições de interlocução pessoal, que se tornam a expressão mais sublime de toda a existência.

A percepção da singularidade da vida leva à consciência de sua sacralidade. A vida ultrapassa a unicidade de cada pessoa. Não somos donos da vida. Ela é um dom de Deus, que nos cabe acolher com respeito e gratidão, e administrar com responsabilidade.

O carnaval pode assumir o seu sabor melhor, na medida em que possibilitar um maior respeito pela vida, junto com o encantamento por seu mistério, que nos leva a colocar a vida como referência ética fundamental e indispensável para todos.

Com este espírito vale a pena viver o carnaval, a quaresma, e a páscoa inteira!

D. Demetrio Valentini é bispo da diocese de Jales

Ações pedem respeito aos direitos sexuais das mulheres


Durante o ano de 2010, a Anistia Internacional México realizará, em parceria com entidades que defendem os direitos sexuais e reprodutivos, ações de sensibilização sobre a violação destes direitos femininos e sua ligação direta com a pobreza. A promoção do acesso aos direitos sexuais e reprodutivos também é uma das finalidades da campanha que teve início no último dia 6 em Chiapas e Puebla.

As ações acontecerão em várias cidades do México com o intuito de convidar as mulheres a estarem vigilantes para os seus direitos e para as reformas que "atentam sobre sua vida, saúde e liberdade". As manifestações públicas também deverão pedir, entre outras medidas, a eliminação dos obstáculos para que as mulheres grávidas em virtude de violação, agressão sexual ou incesto possam interromper a gestação.

Outra solicitação é que estas mulheres que optaram pelo aborto tenham total atenção médica, acesso a medicamentos, assessoramento e apoio psicossocial e legal. Também é importante que seja oferecido apoio e informações para as vítimas de violação e para as que decidiram interromper a gestação. Contudo, isto só poderá ser feito mediante reforma urgente da legislação.

O respeito à liberdade feminina para decidir sobre sua vida e saúde é latente nas solicitações da Anistia Internacional. A entidade pede que seja "anulada toda legislação que permita encarcerar ou impor qualquer outra pena a mulheres por solicitar ou se submeter a um aborto, e qualquer outra lei que preveja prisão ou outras penas unicamente por informar sobre o aborto ou por praticar abortos".

Ainda sobre a polêmica questão do aborto é demandado que seja uma obrigação do Estado a oferta de "disponibilidade, acessibilidade, aceitabilidade e qualidade" nos serviços de aborto para as mulheres com casos específicos de violação, agressão sexual, incesto ou gestação de risco para a mãe.

O planejamento familiar também tem espaço nas reivindicações. Neste sentido, é pedido que homens e mulheres tenham acesso garantido a informações para decidir sobre sua vida sexual e familiar sem qualquer tipo de "coação ou discriminação". Contudo, não apenas na fase de decisão as famílias precisam de apoio. Por este motivo, também carecem ser reforçadas as assistências pré-natais, maternais e pós- nascimento, além de ajuda e apoio na criação dos filhos.

A luta de organizações e das mulheres mexicanas pelo respeito aos diretos sexuais e reprodutivos e por seu direito de decidir tem se intensificado com as constantes reformas nas leis locais. Após a aprovação de 17 modificações que defendem a vida desde o momento da fecundação, mais uma lei restringe os direitos e criminaliza o aborto.

Além de entrar em contradição com outras leis aprovadas recentemente em Chiapas, a legislação viola o direito à igualdade, à não discriminação, ao direito de receber educação laica desvinculada de qualquer religião e baseada no direito à liberdade, à proteção da saúde e à intimidade. Sendo que todos estes pontos estão garantidos na Constituição Política do México.

Por estas medidas consideradas de retrocesso e desrespeito, as defensoras dos direitos humanos e as profissionais da medicina exigem que seja assegurada a continuidade de seus trabalhos no sentido de alertar sobre os efeitos negativos da lei reformada e defender os direitos das mulheres.

Fonte: Adital

Praia da Estação, o mar revolto das Minas Gerais


O Belo Horizonte da capital mineira brilhava em sol escaldante naquele primeiro sábado de fevereiro. Munidas de seus biquínis, protetor solar, esteiras, cangas, bóias e outros apetrechos, as moças de Minas, conhecidas pela sua beleza, foram curtir mais um dia de praia. Saindo de várias partes da cidade, se dirigem até a Praça da Estação. É tradição secular mineira pegar o trem que sai dali para o litoral capixaba. No último mês, porém, o trajeto não precisa ser percorrido. A praia é na Praça.

Desde o dia em que o prefeito da cidade, Marcio Lacerda, soltou o decreto proibindo qualquer evento naquele espaço, Belo Horizonte viu nascer a mais criativa, irreverente e envolvente rebelião dos últimos anos. O decreto nº13.798 tem apenas uma frase: "Fica proibida a realização de eventos de qualquer natureza na Praça da Estação, nesta Capital" (DOM 2010). Uma frase que vem causando muita confusão. Por quatro sábados seguidos jovens se banharam na praça para promover uma verdadeira desobediência civil, lírica, lúdica, bela, ousada e singela. Uma alegre forma de se encontrar e de uma geração inventar novas formas de lutar.

A Praça que viu milhões pedirem Diretas Já e cantarem Lula-lá, não aceitou se calar. Se espreguiçando e sambando, sem lenço, nem documento a galera tomou conta do pedaço. Lutando com novas armas, se mobilizando pelo twitter, lançando manifesto em blogs, se comunicando por sms, postando vídeos no Youtube. Em comum com a geração dos pais, os cabelos longos, as barbas mal feitas, as cangas coloridas, o violão que de vez em quando entoa as mesmas canções de esperança de outrora geração.

Não-praça

A justificativa apresentada pela Prefeitura é que a publicação do decreto visa preservar o bem público. Um argumento que só serve para alguém que não conhece o local, pois a Praça sofreu uma grande reforma no início da década, onde criou-se um amplo vazio, uma quase não-praça, justamente para abrigar grandes eventos, como prova o decreto publicado em 2001, época de sua re-inauguração. Texto diz: "a revitalização do espaço público, dotando-o de infra-estrutura adequada para manifestações culturais com grande aglomeração de pessoas" (DOM de 2001).

O lado autoritário do prefeito de Belo Horizonte, que ficou conhecido na campanha de 2008 quando disse ter vontade de pisar no pescoço dos adversários, voltava à tona. Acostumado com a vida empresarial, jamais pensaria Lacerda que tal atitude geraria tanta revolta. No meio da semana passada, o mandatário teve que anunciar um recuo. Como de praxe, montou uma burocrática comissão para analisar o caso. Entre os membros, nomes da administração sem um único representante da sociedade civil, o que se tornou mais um motivo de atrito com os manifestantes.

Urbanidades

Antes das manifestações, conta o jornalista Luther Blissett, um coletivo já se reunia mensalmente embaixo do Viaduto de Santa Tereza para debater entre outros papos a ocupação dos espaços urbanos. “Realizávamos alguns encontros aqui na Praça da Estação e este ano descobrimos a proibição imposta pelo decreto”. O resto da história nem precisou contar.

Para uma jovem que protege o corpo branco com uma canga colorida, a medida do prefeito só vem piorar a cena cultural de BH que é carente de locais de exibição e aglomeração. “Belo Horizonte falta espaço para eventos e a Prefeitura acaba com este. A verdade é que criamos um grande encontro cultural aqui na Praia da Estação. Todo sábado tá rolando algo de novo. Sábado passado teve uma roda de capoeira, hoje contamos com a presença de uma escola de samba”, conta a jovem que também se chama Luther Blissett.

A escola de samba em que se refere é a Cidade Jardim, a mais tradicional do carnaval belo-horizontino. Não por coincidência, os foliões estavam ali também naquele sábado. A Escola tem sido perseguida pela Prefeitura nos últimos anos e conhece bem o lado repressivo da administração. A agremiação foi despejada da sua própria quadra que ocupa há mais três décadas. “Nós também consideramos um absurdo este decreto”, diz o diretor da Escola, Eric Maciel. “Estamos aqui para lutarmos juntos, esta galera que está batendo tambor também é prejudicada por este autoritarismo”. “A Praça é do Povo”, completa o carnavalesco Eric Maciel.

Praia mineira

Mesmo quem já percorreu areias banhadas por muitos oceanos se surpreende com a beleza daquela Praia criada em cima daquele concreto. “É a melhor praia que já fui em minha vida, e olha que já conheço muitas”, conta o professor de geografia Léo Dasantiga. Um pouco acima da fase etária predominante no protesto, ele justifica “só fica velho quem quer” e completa, “temos que cobrar nas próximas manifestações é a areia, que é obrigação do prefeito, pois ele que criou esta situação”, discursa em voz alta o professor, que concluiu “eu estou aqui só porque é errado”.

Quando o sol esquenta pra valer os miolos, uma jovem com um chapéu de praia começa a recolher tostões dos banhistas para contratar um caminhão pipa e refrescar a galera. Em poucos minutos, os 150 reais estão na mão e em outros minutos estaciona na Avenida Andradas, que margeia a praia, digo Praça, o mar belo-horizontino em forma de um caminhão tanque. Este esforço não seria necessário se não fosse a pequenez do prefeito Marcio Lacerda, que desde o primeiro protesto suspendeu o funcionamento da fonte que fica ligada habitualmente.

Mar caipira

Quando todos se preparavam para um mergulho, eis que surgem dois policiais militares. Os comedidos banhistas, no intuito de manter o caráter pacífico do manifesto, resolvem não ir para o confronto e pedir ao motorista que dê uma volta no quarteirão para despistar os oficiais. Plano cumprido e logo jorrava água da mangueira em direção à multidão que eufórica recebia a água como se estivesse no Deserto do Sahara.

E para quem pensava que nesta manifestação irreverente não existem as palavras de ordem, escutem estas pérolas guardadas de cabeça pela reportagem, pois o bloco de papel com a caneta ficou longe para que o repórter também se refrescasse naquelas águas. “Eh polícia, a praia é uma delícia”, “Salvador é paia, quem foi que disse que mineiro não tem praia?”, “Ei Lacerda, seu decreto é uma merda”.

O jagunço Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa, ensinava que o “real não está nem na saída, nem na chegada. Ele se coloca pra gente é no meio da travessia”. Parece que para aqueles jovens pouco importa o destino do maldito decreto. O que importa é a forma nova de luta e de vida que Belo Horizonte experimenta. Até mesmo porque eles já são vitoriosos, A PRAÇA NUNCA FOI TAO LIVRE!!!!!

Aviso aos navegantes: Para os desavisados que não entendem porque alguns os personagens desta reportagem têm o mesmo nome, saibam que os organizadores, que não aceitam esta definição também, preferem se identificar com o “pseudônimo coletivo“ de Luther Blisset. O pseudônimo multi-usuário surgiu na europa na década passada e serviu de inspiração para os mineiros. Na página do personagem no Wikipedia, ele é assim definido: “uma identidade em aberto, adotada e compartilhada por centenas de hackers, activistas e operadores culturais em vários países, desde o verão de 1994”.

De Belo Horiozonte,
Luther Blissett

Em defesa dos Direitos Humanos





Escrito por Margarida Genevois

Há uns anos atrás, na década de 90, ouvi na TV, durante campanha eleitoral, um candidato a deputado dizer: "Se eu for eleito, vou combater os direitos humanos". Este absurdo inacreditável, que em qualquer sociedade democrática seria repudiado, aparentemente não causou maiores comoções; entre nós, Direitos Humanos (DH) eram – e ainda são – lamentavelmente mal entendidos, por desinformação ou má fé.

Para muitos, DH eram considerados como "direitos de bandidos" ou artimanhas dos "subversivos". No período da ditadura militar, a repressão (assassinatos, torturas, "desaparecimentos") atingiu opositores membros das classes médias, como professores e estudantes, advogados e jornalistas, artistas e religiosos, além dos suspeitos de sempre, como ativistas e sindicalistas da cidade e do campo. A maioria, que nunca tinha visitado prisões, passou a sentir na pele a situação desumana dos ditos "presos comuns", estes oriundos das classes populares. Passou também a constatar a tragédia do sistema prisional e a inoperância dos órgãos do judiciário. A partir daí, a defesa dos direitos humanos passou a ser confundida como luta pelos direitos dos presos, e não em nome da dignidade de toda pessoa humana, conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a grande conquista moral do século XX diante das atrocidades cometidas durante a segunda guerra mundial.

Os defensores dos DH foram testemunhas da forma como foram torturados os opositores do regime de exceção, instaurado em 1964, e os presos políticos. Ficamos conhecendo o pau de arara, a cadeira do dragão, sufocamentos, queimaduras com cigarros, afogamentos. Evidentemente, tais notícias não saíam nos jornais, eram contadas pelos advogados, por parentes das vítimas. Mas a maioria das pessoas simplesmente se recusava a acreditar e dizia: "Isso é mentira, coisas de extremistas. O brasileiro é profundamente bom – nunca faria essas barbaridades."

Com o processo de democratização em andamento, as entidades da sociedade civil mais atuantes no campo dos DH, assim como ex-presos políticos e familiares – movidos por convicção de justiça, por sentimentos cristãos ou por ambos – passaram a concentrar sua luta na defesa dos direitos de todos, sobretudo daqueles "que não têm voz", a começar por aqueles esquecidos e mal tratados nas delegacias e nas prisões. O reconhecimento da dignidade da pessoa humana, independentemente do crime e do julgamento moral, é o fundamento da defesa. Os que cometem crimes devem ser julgados de acordo com a lei e, se condenados, devem cumprir a pena, mas não podem ser torturados e humilhados.

Passadas mais de duas décadas – e já 10 anos no novo século – a questão dos direitos humanos ressurge com a polêmica provocada pelo PNDH 3. Hoje não mais se diz cruamente que DH são direitos de bandidos; de certa forma, é sabido que DH são exigência da democracia, são direitos amplos para uma vida digna a todos, e não apenas para uma minoria privilegiada: direitos civis e liberdades individuais, direitos sociais e econômicos, direitos culturais e ambientais. Isto é, saúde, educação, moradia, segurança, trabalho, seguridade social, lazer, participação política, informação e comunicação.

O Programa Nacional de Direitos Humanos 3 abrange o conjunto desses direitos, dando ênfase a situações específicas dos grupos mais vulneráveis na sociedade, como crianças e adolescentes, deficientes físicos, idosos, indígenas, trabalhadores rurais, migrantes, negros e as demais vítimas de preconceitos por orientação sexual ou condição social.

Ao que parece, as propostas do Programa – na sua maioria já afirmadas na Constituição de 1988! – incomodam, pois provocaram reações raivosas até mesmo de algumas pessoas bem informadas, no meio jurídico, na academia, na política, nos meios de comunicação. Ficamos com a impressão de que certas pessoas ou grupos temem ser prejudicados se os direitos dos outros forem respeitados.

Na verdade, pouca gente leu o Programa, o que não impediu que o acusassem de ser "ditatorial". A maioria dos opositores não sabe ou continua sem querer saber que a preparação do texto decorreu do processo de 27 encontros em 20 estados, com diferentes segmentos representativos da sociedade civil. As conclusões desses encontros, exaustivamente discutidas, foram levadas à 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos em Brasília, em dezembro de 2008.

É importante lembrar que este novo Programa dá continuidade aos dois primeiros, publicados e iniciados no governo de Fernando Henrique Cardoso (1996 e 2002), mas pouca gente por eles se interessou. Hoje, em ano eleitoral, a questão dos direitos humanos entra no jogo das disputas partidárias. Ora, Direitos Humanos estão acima de partidos e interesses particulares, são a base da paz, da justiça e da democracia.

A criação da Comissão da Verdade vem sendo duramente criticada. Durante a ditadura militar cerca de 400 brasileiros foram mortos ou estão desaparecidos. Suas famílias procuram, até hoje, onde eles foram sepultados. Esses crimes não podem ser esquecidos. Se a verdade não vier à tona ficará a idéia de que os militares têm medo e preferem proteger um grupo extremado que torturou e matou. As respeitáveis Forças Armadas, das quais nos orgulhamos, não podem ser respingadas com crimes de alguns, a verdade tem que aparecer.

Comissões da Verdade foram criadas nos países irmãos, onde também imperaram ditaduras militares; aqueles responsáveis pelas violações de direitos humanos foram identificados, muitos foram julgados e condenados. Por que só no Brasil não podemos conhecer a verdade? Não se trata de "revanchismo" – como a crítica alega – pois cabe à Comissão apenas conhecer os fatos e não retribuir o mal que foi feito, sendo que eventuais punições, rigorosamente dentro da lei, caberão ao Poder Judiciário.

O PNDH é um programa para alcançarmos "uma sociedade livre, justa e solidária", como afirma o art. 3º de nossa Constituição. Suas propostas se coadunam com as metas do milênio propostas pela ONU, visando diminuir a miséria do mundo. O PNDH identifica e enfrenta problemas sérios da nossa sociedade, com coragem e determinação. É obrigação moral de todo cidadão brasileiro, que quer o bem do seu país, conhecer, debater, ampliar essas propostas e lutar pela sua execução.

Margarida Genevois, 86, socióloga e ex-presidente da Comissão Justiça e Paz de São Paulo.

Rap responde a Boris Casoy

Rap responde a Boris Casoy

Excelente rap em resposta ao “comentário infeliz” de Boris CCCasoy – aquele jornalista muito conhecido que na juventude fez parte do grupo fascista Comando de Caça aos Comunistas (CCC), como mostra a revista O Cruzeiro (clique aqui).

:: Direção, imagens e edição: Maia
:: Voz e letra: Garnett
:: Selo: Pegada de Gigante
:: Assistência/Criação: Robson Ribeiro, Evelyn Albuquerque, Douglas Campolim, Marcos Maia e Daniel Olmedo
:: Direitos de Imagem gentilmente cedidos por: Bruno Ruguê, Diogo “Jhow” Castilho, Hion Silva, Rafael Dan, Rafael Scotto, Rudão Brandolin

Fonte: Conexão Brasília Maranhão