Saúde mental e crianças e adolescentes em situação de rua



Maria Cláudia Baima

“Saúde mental e criança e adolescente em situação de rua” foi o tema da palestra do Professor Doutor Walter Ferreira de Oliveira, da Universidade Federal de Santa Catarina, durante o I Fórum Regional Criança e Adolescente em Situação de Rua e Trabalho Infantil – Experiências, Perspectivas e Desafios, que aconteceu nos dias 4, 5 e 7 de agosto, na Câmara Municipal de São Vicente, São Paulo.

O Professor começou sua palestra citando uma frase do psiquiatra inglês Ronald David Laing: “toda vez que nasce uma criança renasce a possibilidade de perdão” e outra frase do educador Paulo Freire: “temos que ser impacientemente pacientes”. Segundo ele, a essência desses pensamentos é bem oportuna para os profissionais que lidam com saúde mental de crianças e adolescentes em situação de rua e/ou de trabalho infantil, pois problemas complexos exigem soluções complexas.

Ao afirmar que cada criança e/ou adolescente é uma vida única e deve ser entendida e tratada como tal, o Professor Walter Oliveira convida a platéia a se perguntar se a psiquiatria é o canal certo para resolver problemas mentais. Será que é o único canal?

De acordo com Oliveira, na lógica da psiquiatria as pessoas com doença mental não têm cura. “Hoje, o grande movimento da saúde mental é desconstruir essa lógica antiga. Saúde mental está contida em um contexto muito mais amplo que o canal da psiquiatria, que só prescreve medicação e internação. Saúde mental hoje é um movimento social de cidadãos que entendem a amplitude desse contexto”, diz ele.

Sabemos que as instituições psiquiátricas no Brasil seguem, historicamente, o paradigma da exclusão. Esse é, segundo o palestrante, o paradigma da chamada escola de “higiene mental” do começo do século XX, cujas idéias se afinam com o conceito de eugenia, ou seja, da raça pura, na qual o anormal é visto como doença, como perigoso. Mas hoje, diz ele, o tema predominante da saúde mental moderna é a auto-estima da pessoa.

Para o Professor, o perigo que corremos no atendimento de crianças e adolescentes é nos limitarmos à visão clínica. E isso, no Brasil, segundo Oliveira, é mais perigoso pois ainda não temos campos de estudo nessa área. “Nos Estados Unidos, por exemplo, existe o campo de estudo sobre o desenvolvimento da juventude. O mesmo acontece na Holanda, na Espanha. Precisamos criar campos de saber que fujam dessa lógica de diagnóstico, medicação, tratamento com internação e encontrar a lógica da subjetividade capaz de olhar, de fato, para o outro”, afirma.

Os perigos dessa visão clínica são, na opinião do palestrante, a atitude de ver o outro não como pessoa, mas como doente, e assim passar a acreditar que essa pessoa é irrecuperável, improdutiva e perigosa. “Os profissionais que atuam somente com essa visão clínica agem como controladores sociais para atender ao clamor da exclusão que emana da sociedade”, diz Oliveira.

Para concluir sua fala o Professor recorre a Edgar Morin quando ele diz que “o fortalecimento das comunidades é nossa única saída. E questiona: “quem somos nós? Somos cidadãos que podem sentir orgulho da nossa nação? Somos orgulhosos da forma com que cuidamos das crianças?”

Deixando essas questões para reflexão individual, o palestrante lembra um pensamento presente na cultura africana: “criar uma criança é algo que depende de toda a comunidade”.

Confira a apresentação:

“Saúde mental e criança e adolescente em situação de rua”,

obs: o texto acima foi adaptado da palestra proferida no I Fórum Regional Criança e Adolescente em Situação de Rua e Trabalho Infantil, dia 07/08/09, na Câmara Municipal de São Vicente, SP.

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