Dez anos de vida, dois no vício do crack


Fabiane Ziolla Menezes

A vida de Fábio* é composta por flashes, momentos dos quais ele não lembra muito bem. No encontro com a reportagem, dias atrás, não soube informar a própria idade. Fernando Gois, coordenador da Chácara Meninos de 4 Pinheiros, onde Fábio está há quase um ano, teve de interromper a entrevistar e dizer: 10 anos. Há dois, o menino começou a usar maconha. Passou pela cola de sapateiro e pelo solvente e experimentou o crack ao fugir de casa. Uma casa que não era sua, mas sim de pais adotivos que eram traficantes. “Meu ‘pai’ me batia porque queria que eu vendesse droga pra ele”, conta.

Fábio não sabe explicar muito bem por que e nem quando foi parar nessa casa. Algo a ver com a mãe não ter dinheiro para cuidar dele. Só sabe que fugiu e foi viver na rua, com um amigo diferente todo dia e a droga para compartilhar. “Antes de vir para cá ele não parava em nenhum lugar. A FAS (Fundação de Ação Social) o recolhia, mas ele fugia no dia seguinte. Mesmo aqui, logo no início, chegou a fugir algumas vezes para a BR (116, caminho para Mandirituba)”, conta Gois.

Ao que tudo indica, Fábio está encontrando seu caminho. Frequenta a escola, apesar de ter sido afastado algumas vezes por causa do comportamento inquieto e, por vezes, agressivo – motivo pelo qual toma remédios e passou a entrevista inteira batendo com uma caneta na mesa e o olhar baixo, vago. Também está retomando o contato com a mãe biológica e o irmão que ficou em uma cadeira de rodas depois de levar seis tiros por causa do envolvimento com o tráfico.

*nomes fictícios

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