Nos casos de crianças acolhidas que contam com interferência da Justiça, o que se encontra são famílias desestruturadas. “Os pais perdem totalmente a noção de cuidados com os filhos, se largam em ‘mocós’ para fumar o crack e esquecem da vida”, relata a juíza da 1.ª Vara da Infância e Juventude de Curitiba, Lídia Munhoz Mattos Guedes. “No convívio com eles, crianças muito pequenas, de 3 ou 4 anos, nos contam como a droga é usada e a chamam pelo nome.”
Entre adolescentes, é cada vez maior o envolvimento com a droga. Meninas usuárias engravidam de namorados também usuários. Vão para hospitais sob efeito da droga, provocando o acolhimento institucional do bebê. “Atendi um caso assim na semana passada. Uma menina de 17 anos, com família estruturada, se envolveu com um namorado drogado. Perdeu a filha para o abrigamento, mas se recusa a procurar tratamento”, conta a juíza.
Desespero
Por dia, a chácara Meninos de 4 Pinheiros, em Mandirituba, na região metropolitana de Curitiba, recebe 20 ligações de pais querendo abrigar os filhos. “Uma parte é de famílias de classe média, mas minha prioridade são os mais pobres. Como não posso deixá-los desamparados, marco um encontro e converso com eles, passo uma orientação, que em famílias mais estruturadas tende a funcionar”, diz o coordenador da chácara, Fernando Gois.
Uma das primeiras iniciativas é o estímulo ao sonho.“Trabalho há 30 anos com moradores de rua (de 80 assistidos, 16 são moradores de rua) e a primeira coisa que percebo quando os meninos chegam é que eles não têm objetivo de vida algum”, conta Gois. “Na primeira conversa tentamos incentivá-los a pensar em uma profissão, uma meta.” Um painel pendurado no refeitório retrata desejos para o futuro. Em pequenos bilhetes, as mãos que manipularam a droga começam a formalizar metas através de palavras. “Todo dia pergunto para eles como vai o sonho. Isso faz com que eles tenham um objetivo a cada passo do dia”, diz Gois. O contato com a família também é importante. “Às vezes levamos vários meses para localizar um pai ou uma mãe”, revela o coordenador.
Para a juíza Lídia Guedes, o crack revela um grande problema: as pessoas não têm ideia do que é ter um filho e educá-lo. “Se eximem da responsabilidade dizendo que precisam trabalhar e depois pedem ao conselho tutelar e à Vara de Infância que cuidem de seus filhos.” Para ela, as crianças devem passar mais tempo na escola e os pais devem aprender o que é cuidar de um filho. “Não podem ensinar o que não aprenderam”, justifica.
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