Alcides*, 58 anos, usuário de crack há 15 e em tratamento há 45 dias
Experimentei o crack em uma noite com mulheres, com 43 anos, depois de usar muita maconha, cocaína e outras drogas. O plano era usar ecstasy, mas acabou e elas tinham a pedra. Caí no crack por problema financeiro. O crack é a droga mais barata, mais fácil de encontrar. É só ver um cara mais novo, meio alucinado, numa esquina. É o “trafiquinho”, o cara que tem a pedra. Se você usar duas vezes, está perdido. Você esquece de tudo, se apaixona por aquela fumaça. O crack veio para arrebentar o povo – quem tem dinheiro usa cocaína e ecstasy.
Eu cheguei a roubar até comida e produtos de limpeza de casa para comprar crack. Na favela quem vende a droga são as famílias, tanto faz trocar por dinheiro ou um quilo de sabão em pó. Quando você quer fumar, manipula de todo jeito para conseguir. Fiquei algumas vezes preso, mas por pouco tempo. Minha família descobria onde estava, dizia que eu estava em tratamento e o delegado me liberava. Com a cocaína eu conseguia viver, mas o crack me deixa de joelhos. Cheguei a ficar seis meses morando na Praça Eufrásio Correia.
Minha vida não é normal. Fico cada dia na casa de um filho. É clínica, é hospital, é tratamento de várias sequelas. Tomo oito tipos de remédio todos os dias. Não peguei HIV por Deus mesmo. Não trabalho, mas recebo uma porcentagem da lanchonete da família. Se sair do tratamento, eles me mandam embora. Não ando com dinheiro para não correr o risco de comprar. Faço oficinas e curso de panificação, porque penso nisso o tempo todo. Nesses dias tive que usar cocaína duas vezes para não usar o crack.
* Nome fictício
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