Thaís Pacheco - Estado de Minas
Atenção trabalhadores da cultura: há vagas. Vários projetos em BH estão de braços abertos para receber novos artistas e ajudá-los a começar a mostrar a cara e o talento. As iniciativas partem de ações privadas ou de equipamentos dos governos municipal e estadual. “Gente que teve por onde não precisa de mim”, brinca Bruno Golgher, proprietário do Café com Letras, ao ser perguntado se quem o procura são artistas talentosos que não tiveram onde mostrar o trabalho. Conhecido agitador cultural da cidade, o Café com Letras, localizado no coração da Savassi, promove diversos eventos protagonizados por artistas que ainda circulam longe dos holofotes. No espaço há apresentações de bandas de jazz e DJs, exposições de fotógrafos, individuais ou coletivas, concurso de design, além dos constantes lançamentos de livros, “principalmente de autores independentes”, como garante Bruno. Outro projeto é fazer com que a arte vire renda para seus produtores. O Café criou uma parceria com o instituto Cidades Criativas (do qual Bruno é presidente) e está se tornando uma editora que já tem oito livros lançados. Em breve eles vão produzir e lançar discos. Na exposição em cartaz no espaço, Fotografe jazz, as imagens vão virar cartões-postais e, se vendidas, o valor arrecadado será dividido com o artista. A atual exibição mistura fotógrafos amadores e profissionais, escolhidos por concurso aberto e democrático. Para fazer a curadoria, Bruno conta com o apoio de amigos especialistas, que formam bancas. As razões que o levam a manter as iniciativas culturais desde 1996 são, para ele, naturais: “Faço porque é legal. Parece-me a coisa certa a ser feita”. Ele garante que a ação é boa para o estabelecimento e acredita que seja interessante também para os artistas. Cor local Do outro lado da cidade, no Centro de Cultura Lagoa do Nado, a chefe do departamento, Elke Houghton, garante que, como equipamento municipal, abrir esse espaço é função primordial. “Os centros de cultura seguem a política cultural de cidade de democratização do acesso aos bens culturais. Hoje, temos cerca de 17 centros culturais, sem contar os museus”, contabiliza. “Por estar próximos à população, os centros têm algumas especificidades. Além de trazer atividades, têm necessidade de abrir o espaço para a população. A função não é apenas participar dos eventos culturais, mas mostrar os talentos locais”. O Centro Lagoa do Nado completa 18 anos em 23 de dezembro e recebe, em média, 70 mil pessoas por ano, que consomem cerca de 500 atividades no período. Entre elas, exposições, mostras de filmes, shows, peças de teatro, performances e até atividade ligada à gastronomia mineira. Há projetos voltados para a memória e patrimônio cultural e uma biblioteca com 7 mil títulos. Além disso, o centro fica dentro de um parque. “Queremos unir os dois conceitos de diversidade: cultural e ambiental. Nos editais há dois documentos básicos, a Agenda 21 ambiental e a Agenda 21 da cultura”, conta Elke. Os editais para apresentação no Centro da Lagoa do Nado são abertos a todos e para todas as apresentações. “Em todos os editais é o mesmo valor. Cada projeto aprovado recebe R$ 800 como premiação. A gente acha que o valor ainda não é o ideal, mas é dentro dos nossos recursos”, explica a diretora. Atualmente, o Centro de Cultura Lagoa do Nado está com as portas abertas para seleção de exposições, espetáculos de artes cênicas e apresentações musicais. As regras estão em www.pbh.gov.br/cultura – no link Licitações e Editais. Poesia livre No Centro da cidade, nos jardins do Palácio das Artes, o governo estadual abriu as portas para o poeta Wilmar Silva. Em parceria com a Fundação Clóvis Salgado, ele realiza o projeto Terças poéticas. Para Wilmar, abrir portas é condição primária do evento. “Acho que abrir espaço é condição de qualquer projeto, seja de poesia ou outra manifestação artística, e não ficar repetindo a mesma coisa, por mais genial que seja. Não há como pensar, por exemplo, as diferenças entre gerações quando não reconhecemos que há diferenças”, define. No Terças poéticas também há curadoria. Isso é necessário porque o fato de o poeta ser novo ou desconhecido não tem ligação com a qualidade do trabalho. “Se entrasse qualquer coisa, cairia no discurso de que tudo é arte. Tudo pode? Sim, mas nem tudo é arte. Aqui, o que determina uma obra de arte é a linguagem. Há de ter um relativo rigor estético, de linguagem”, justifica Wilmar. No Terças poéticas, o trabalho também pode ser oferecido e vendido ao público, além de gerar visibilidade. “O poeta vai participar de um projeto que tem solidez, que ocorre dentro do Palácio das Artes, que ganha espaço na mídia e com público formado e assíduo”, garante o organizador. Também há pagamento para custear despesas. Os valores variam de acordo com a localização do poeta convidado, se é da capital ou se vem de outro município ou estado. Os valores variam entre R$ 178 e R$ 534. “No caso de poesia, se considerarmos o histórico, qualquer valor é uma remuneração”, conta Wilmar. Também no Palácio das Artes, a primeira apresentação deste ano da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais cedeu o lugar mais importante para um estreante. Em março, o solista da apresentação foi o violoncelista Lucas Barros. O detalhe é que Lucas tem 13 anos. Foi convocado depois de vencer o 1º Concurso Jovens Solistas da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, na categoria cordas. O concurso foi público e aberto. A preocupação em abrir espaço para grandes musicistas é defendida pelo maestro Roberto Tibiriçá, que reconhece a falta de espaço para esses talentos, especialmente os mais jovens. O que o artista precisa – além de um bom trabalho – é disposição de procurar as possibilidades e nenhuma timidez para entregar uma amostra do que produz a quem aponta com essa possibilidade. Seja entregando um CD na mão do dono do Café com Letras, enviando um e-mail para o Wilmar Silva (wilmarsilva@wilmarsilva.com.br) ou se inscrevendo em um dos vários editais disponíveis. Não há mágica. Além de inspiração, é preciso um pouco de transpiração. |
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