Patrícia Scofield
Foto: Arquivo Pessoal
A arte delicada de tecer tapetes passou a fazer diferença no cotidiano de detentos da Penitenciária de Segurança Máxima Nelson Hungria, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte. A ideia partiu do artista plástico Ivã Volpi, que ao criar a técnica de tramar tapetes sem fazer o nó, imaginou que a tarefa “demorada” poderia transformar o ambiente “frio” de uma prisão. “Percebi o quanto o meu trabalho seria importante ali dentro, pois quando você tece, relaxa, fica em contato consigo mesmo, reflete e se entusiasma ao criar uma peça”, destaca. A autorização para concretizar esse sonho veio em 1999, quando Ivã ficou conhecido em Contagem pela oficinas de tapetes com sacos de aniagem - linho cru - ministradas por ele nesse município.
Na penitenciária, Ivã passou a ensinar para turmas de oito detentos, uma vez por semana. Já nas primeiras aulas, ele substituiu a aniagem por telas furadas, chamadas talagarças, e ensinou aos novos artistas a técnica de criar tapetes. Da segunda aula em diante, eles trabalhavam na produção das peças, montando desenhos na tela com retalhos doados por fabricantes de confecções da região. Com os produtos prontos, Ivã organizou a Mostra de Tapetes Estive Preso e Viestes me Visitar. “O pessoal fez um trabalho tão bacana, e tão rápido”, afirma, orgulhoso.
Mineiro de Papagaios, cidade a 144km da capital, o artista plástico alia suas criações à reciclagem de materiais não aproveitados por indústrias, além de preocupar-se em desenvolvê-los junto à comunidades. Ele se diz incomodado com o desperdício, e acredita que como artista, tem uma função social: “Eu não queria ficar com essa arte para mim. Queria ensinar pessoas e vi uma possibilidade para dar certo. Se tem material de sobra e mão-de-obra, por que não criar?”, ressalta Ivã. Nas cidades de Capim Branco, Matozinhos, Sete Lagoas, Nova Lima e Mateus Leme, Ivã também desenvolveu, desde os anos 1980, outras oficinas de tapetes ou de bandeiras com a população local, por meio da cooperativa Mão Poderosa, criada por ele.
Atualmente, o artista plástico está em Palmas, no estado do Tocantins, pesquisando, há um mês, a viabilidade de trabalhar com o buriti - espécie de palmeira -, em oficinas para comunidades locais. Ele conta que vê possibiliaddes para ajudar os artesãos de lá a aprimorarem suas técnicas, para refinar as peças fabricadas. No que depender de Ivã, disposição não vai faltar: “Aqui é um lugar novo para mim, tenho um material novo, novas pessoas, então vamos lá, não é?”, diverte-se.
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