MV Bill : Militância musical e social

Hip Hop. Cantor, produtor e escritor, MV Bill fala sobre a carreira, o trabalho social e explica porque diz não à política

Igor Costoli
Especial para O Tempo

Há 11 anos, MV Bill lançava seu primeiro álbum, "Traficando Informação", em uma época especial para o rap brasileiro. "A cena dos anos 90 foi um momento em que o rap nacional ganhou o Brasil de forma definitiva", lembra.

O discurso político e social permanece atual, mas amadureceu muito, nas palavras do próprio rapper. "O ‘Traficando’ traz músicas que eu preparei a vida inteira. Nele, eu é que não tinha oportunidade, amplificação da voz, encontrava as portas sempre fechadas", explica. "Hoje não posso mais ser o ‘reclamão’. Tenho que propor soluções", afirma.

Bill se refere ao que ele chama de retrocesso no hip hop brasileiro. "Deu uma estagnada em 2002 e 2003, porque se criou uma linguagem viciada, todos imitavam o que deu certo. Muitos grupos acham que quanto mais marginal, mais pinta de criminoso, melhor. Eu já falei muito de crime, mas isso não é base para o sucesso nem para uma boa música. Tem uma molecada confundindo isso, e isso é ruim", explica.

Situação parecida passa o hip hop norte-americano, em que a denúncia e o protesto perderam espaço para letras que falam de dinheiro, mulheres e violência. "Os norte-americanos entraram nessa. Quando começou o rap de putaria, de sacanagem, aí eles falaram pra maioria", diz.

Mas, segundo o rapper, não há motivo para desânimo. "A verdadeira semente do hip hop está plantada no mundo inteiro. Em todo lugar onde há gente sofrendo racismo na pele, haverá um bom hip hop", afirma. Segundo ele, também há o que comemorar no rap brasileiro. "De 2008 pra cá, a fórmula voltou a se renovar. Surgiram grupos com seu sotaque, sua regionalidade e, principalmente, com originalidade". Dentre os novos e bons nomes do rap nacional, ele destaca Lindomar 3L, de Uberaba, Rapadura (que mistura rap, embolada e repente), do Ceará.

Bill explica que a participação em projetos sociais fez amadurecer seu discurso. Em parceria com seu produtor, Celso Athayde, o rapper escreveu três livros sobre a situação emergencial dos jovens que vivem nas favelas cariocas, rodou um documentário ("Falcão - Meninos do Tráfico") e criou a Cufa (Central Única das Favelas). A organização não-governamental possui hoje bases de trabalho em várias partes do Brasil, e visa promover a produção cultural das favelas, através de atividades nos campos da cidadania, educação, esportes e cultura.

"Tudo que se transformou em ‘Falcão’ e que depois virou documentário, livro, projeto, veio da música ‘Soldado do Morro’. A gente gravava o clipe e via a realidade pela frente, nos sentimos na necessidade de criar condições pra que os jovens não seguissem por aquele caminho. Então a Cufa surgiu paralelamente", lembra Bill. "Ali, no clipe, era a minha voz. Achamos que seria interessantíssimo saber a voz daqueles jovens, o que os levou até ali. Saber porque isso acontecia talvez ajudasse a impedir que mais jovens seguissem por esse caminho".

Política? No início do ano, o cantor Caetano Veloso apareceu com uma ideia inesperada: sugeriu publicamente que MV Bill concorresse ao Senado Federal. "O Caetano é maluco, inventou esse trem de senador, e muita gente achou que eu deveria concorrer".

Mas a ideia cresceu, e uma pesquisa mostrou que, se concorresse, o rapper teria perto de 2 milhões de votos. "Foi bom saber que existem pessoas que acompanham e acreditam nas nossas ideias, mas nunca quis isso, por causa da poucas possibilidades de mudanças", explica Bill, que pretende continuar seu trabalho nas comunidades e com a sua música. "Acho que de forma apartidária eu consigo ser mais efetivo", afirma. Alguém duvida?

Agenda
O Que: Show do rapper MV Bill
Quando: Quarta, dia 29, às 22h
Onde: Roxy Club (rua Antônio de Albuquerque, 729, Savassi). Informações: (31) 3269-4410
Quanto: R$ 25 feminino e R$ 40 masculino


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